quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Da Esquerda à Direita


Nos tempos que correm, Esquerda e Direita não são assim  tão diferentes: falam a mesma linguagem e formulam as mesmas perguntas, apenas lhes dando respostas diferentes. Por outras palavras, só se preocupam com problemas materiais.

27/8/2015

                                               Fernando Henrique de Passos

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Espírito de partilha, onde está?

Populações fugitivas amassadas num barco, a cruzar as águas do Mediterrâneo

A Europa deve decidir no mais breve espaço de tempo, as quotas a atribuir a cada país da União Europeia, para receber, finalmente, e com urgência, receber os milhares de refugiados migrantes.

Estão a chegar em catadupa às fronteiras da Europa do Sul, fugindo da aterradora miséria que os consome, das perseguições inclementes, da guerra devastadora e desenfreada que sacrifica crianças, jovens, mulheres e homens, populações inteiras do Norte e do Centro de África, do Próximo e do Médio Oriente.

Fogem rumo a uma terra de paz, em que ainda restam umas migalhas de pão e de esperança para a sua vida. Esperam, no seu desespero, pela solidariedade, pela boa vontade dos europeus, abonados pela sorte de tantos bens à sua disposição.

A força do espírito de partilha com os pobres, os mais pobres que, quase já sem norte, indagam uma pequena luz para sobreviver, se ainda for possível sobreviver, neste mundo onde nasceram.Isto é o mínimo que se deve oferecer a essas gentes para que vivam, e vivam com aquilo em que, talvez, já nem acreditem.

25 de Agosto de 2015

                     Teresa Ferrer Passos

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Visões


Não acredites se um dia te disserem
Que o horizonte não existe.
De facto não é uma ilusão
A sagrada união de Terra e Céu.
Ilusório, sim, é crer que não há Alto,
E que o espaço vazio é frio e desolado
E fechado sobre nós qual mausoléu.


11/5/2015

               Fernando Henrique de Passos

domingo, 23 de agosto de 2015

Peregrinação


Mergulha os pés no chão ao caminhar.

Deixa que a terra, as pedras, o caminho
Subam por ti até que apaguem
O incêndio de sombras que te agita
E te esconde dos outros quando falas
E te esconde de ti próprio quando olhas
E julgas ver-te ali onde não estás.

Mergulha os pés no chão ao caminhar
E a cidade antiga que procuras, 
Vê-la-ás nascer dentro de ti.

23/8/2015
                       Fernando Henrique de Passos

sábado, 15 de agosto de 2015

Assunção de Maria ao Céu



No coração todo puro de uma Mulher,

o Espírito Santo viu a Sua Casa.

A Casa era bela e ofereceu-A ao mundo.
O mundo que A desconhecia, entrou n'Ela.

E logo viu a Salvação
num pequenino, de nome Jesus,
todo divino e a nascer num tosco casebre.

Mas, ó maravilha inesperada!
O nascimento era numa mulher
de coração todo puro,
O seu nome, Maria.

15/Agosto/2015
                                 Teresa Ferrer Passos

domingo, 9 de agosto de 2015

Presente de Aniversário


Há estátuas de jade, de marfim,
De bronze, de mármore, de basalto;
Mas eu não queria dar-te nada assim,
Eu queria chegar muito mais alto!

Eu queria dar-te
No dia dos teus anos
Esta impensável obra de arte:

Uma escultura esculpida no amor!
Mas esses não eram os planos
Do nosso Criador.

E Ele, que tudo determina,
Determinou que este novíssimo escultor
Não desse formas à matéria-prima:
Recebe então intacto o meu amor…

9 de Agosto de 2015

                     Fernando Henrique de Passos

sábado, 1 de agosto de 2015

Fantasia para fim de tarde


Hipnotizo as chamas do poente
Quando horas vagas passeiam pelas ruas
Lançando sombras de recortes trémulos
Na cal rachada das paredes nuas.

As labaredas sabem o meu nome
E nunca sobem mais do que eu permito
Embora nasçam do ventre da Loucura
E se alimentem da luz do Infinito.

Guardo-as no bolso e volto para casa,
O fim de tarde como passadeira.
E nessas noites antes de dormirmos
Há mais magia no lume da lareira.

19/4/2015

Fernando Henrique de Passos

Educar crianças das favelas da capital do Bangladesh


«Foi um pouco a pensar no meu passado, que alguém me tinha ajudado e a diferença que isso tinha tido na minha vida. Pensei que se eu fizesse a mesma coisa pelas crianças de Daca (favelas) no Bangladesh, elas podiam chegar onde eu cheguei» diz Maria do Céu da Conceição que conta 37 anos. 

Maria da Conceição decidiu deixar a vida de hospedeira de bordo e dedicar-se às crianças pobres, desde que as viu nos bairros pobres de Daca. Criou, então, a Fundação Maria Cristina, cujo nome se deve à homenagem que quis fazer a sua mãe adotiva, Maria Cristina que sendo uma viúva, fazendo limpezas, com seis filhos a cargo, ainda deu casa e comida a uma sétima criança, a própria Maria da Conceição.

Para angariar fundos para a sua Fundação, criada por amor à educação das crianças, Maria da Conceição tem desenvolvido atividades desportivas, como a subida ao pico do monte Everest. Recentemente, Maria da Conceição lançou o livro Uma Mulher no topo do Mundo. Que o produto da sua venda ajude a Fundação Maria Cristina a salvar ainda muitas crianças da miséria que as condena à ignorância, uma pobreza a irradicar de todo o mundo.

1 de Agosto de 2015
Teresa Ferrer Passos

terça-feira, 28 de julho de 2015

A nova Paixão de Cristo


A Paixão de Cristo oferecida ao Papa Francisco, uma escultura segundo a interpretação paradoxal de Evo Morales, Chefe de Estado da Bolívia. A cruz, símbolo de tortura, há dois mil anos, foi substituída pela foice-e-martelo, símbolo de torturas infligidas em regimes comunistas do século XX. O insulto de identificar Cristo, que pregou o espírito e o amor, com uma ideologia que prega o amor à matéria.

2 de Julho de 2015

Fernando Henrique de Passos



sexta-feira, 24 de julho de 2015

Eficaz terapia contra o cancro descoberta em Coimbra

Cientista Luís Arnaut 


Vários estudos e experiências realizadas em ratinhos, entre 2011 e 2014, provaram a eficácia da molécula Redaporfin", descoberta na Universidade de Coimbra, para o tratamento de diversos tipos de cancro, "através de terapia fotodinâmica" (tratamento inovador que "permite eliminar células cancerígenas de forma precisa"), afirma-se numa nota hoje divulgada.

De acordo com os ensaios realizados, "86% dos ratinhos com tumores diversos que foram tratados com esta tecnologia, seguindo exigentes protocolos de segurança, ficaram curados". Não se observaram efeitos secundários, como acontece com os tratamentos convencionais, como a quimioterapia. A equipa de investigadores da Universidade de Coimbra é dirigida pelo Professor de Química Medicinal Luís Arnaut.

24/7/2015

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Palavras impossíveis

Cafetaria da Fundação Gulbenkian

os nossos olhos vítreos brilhavam devagar
nos contornos do chão liso e suspenso.
ali não havia mais que espaço e procura.

a serenidade infiltrada nas árvores
descia até ao fundo do nosso abismo,
dos nossos líquenes embebidos em vento.

Todas as folhas se vergavam ao nosso olhar
e desciam até às nossas almas a sibilar
um espanto único de palavras impossíveis. Ainda.

20 de Julho de 2015 (foi há 22 anos que nos conhecemos)

                                        Teresa Ferrer Passos

A persistência das imagens na retina

Jardim da Fundação Gulbenkian

Jardim assim frondoso,
Jamais o esquecerei.
Não sei se havia água
Contudo ouço-a correr.
Não sei se era no céu
Mas vejo tudo azul.
Não sei se eras princesa
Mas vejo-me correndo
Pisando nuvens leves
Macias como seda
Entrando num castelo
Subindo escadarias
Mais altas do que a lua
Entrando numa sala
Tão vasta como o mundo
Caindo de joelhos
Pedindo a tua mão
A qual foi concedida
(Jamais o esquecerei!)
Por mais do que algum Rei –
A bênção de te ter
Foi graça recebida
Do próprio Rei dos Reis!


20/7/2015

                        Fernando Henrique de Passos

domingo, 19 de julho de 2015

Prémio na área da Física para cientista português

Nuno Loureiro

A Sociedade Americana de Física distinguiu agora Nuno Loureiro, investigador do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear do Instituto Superior Técnico de Lisboa, pela sua contribuição na área da física dos plasmas.

O Prémio Thomas H. Stix é um prestigiado galardão na área da física, que até hoje nenhum cientista português havia alcançado.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

O S.O.S. de Kafka

Um dia, um homem chamado Gregor Samsa acorda transformado numa gigantesca barata. No entanto, esta metamorfose não lhe suscita a mais leve interrogação. Não assoma aos seus lábios (?) um único “porquê?”. Apenas se preocupa com as coisas do quotidiano, como ir chegar atrasado ao emprego e ter de ouvir o chefe a ralhar com ele.

Gregor Samsa não vos lembra alguém?

A mim, Gregor Samsa lembra-me todos aqueles de nós que vivemos como se não fosse importante saber quem somos e o que fazemos aqui.

16/7/2015

Fernando Henrique de Passos

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Harmonia na paz



«Muitas pessoas experimentam um desequilíbrio profundo, que as impele a fazer as coisas a toda a velocidade para se sentirem ocupadas, numa pressa constante que, por sua vez, as leva a atropelar tudo o que têm ao seu redor. Isto tem incidência no modo como se trata o ambiente. Uma ecologia integral exige que se dedique algum tempo para recuperar a harmonia serena com a criação, reflectir sobre o nosso estilo de vida e os nossos ideais, contemplar o Criador, que vive entre nós e naquilo que nos rodeia e cuja presença "não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada"».

Papa Francisco, Encíclica Laudauto Si, Parágrafo 225 (2015)

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Que As Crianças Não Tenham Medo De Mim


Portugal dos Pequeninos
                                         (avoco, para a Musa minha, o Arcano da Estrela)

Crianças, não tenham medo de mim,
Não fujam, crianças, aproximem-se, cheguem-se:
Juntos construiremos uma bela casa,
Aquela casa azul e verde que se estende
Para os confins de além-mar e onde vocês
Jogam à bola - uma bola feita de trapos
E de açúcar, de mil delícias africanas
Que só vocês, em sonhos, podem construir:
É nessa casa que vos espero com olhos de girassol.

Lisboa, 25 / 09/ 1979

                                          SIC ITUR AD ASTRA

                                          Paulo Jorge Brito e Abreu

terça-feira, 7 de julho de 2015

Na morte de Maria Barroso Soares



Maria Barroso (1925-2015) - A memória viva

Maria Barroso Soares à saída da visita a José Sócrates.

No dia 18 de Janeiro de 2015, Maria Barroso Soares visita o ex-Primeiro-Ministro José Sócrates detido na prisão de Évora, sem culpa formada. Acreditando na sua inocência, Maria Barroso afirmou: "Estou triste por vê-lo nestas circunstâncias injustas e inacreditáveis". E acrescenta: "Eu tenho a certeza de que ele está inocente. Uma pessoa desta honestidade, desta qualidade, não pode deixar de estar inocente".

Assim, no seu espírito de solidariedade e comunhão com o próximo, Maria Barroso juntava-se então à visita de seu marido, o Dr. Mário Soares. Ambos, capazes de estender a mão a um amigo e correligionário, agora com graves acusações do Ministério Público e a viver as agruras de um prisioneiro.

Este o último, mas talvez também o mais alto ato público de Maria Barroso Soares, poucos meses antes da morte. A nossa homenagem à Mulher de alma de ouro.

7 de Julho de 2015
                                                      Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Vontades

LIÇÃO DE ARITMÉTICA

Aceita do mal apenas a dentada,
E nunca o unguento que faz passar a dor.

Recusa a passadeira de veludo,
O doce resvalar rumo ao inferno,
O conforto que embala e adormece
Para te acordar no outro dia
Nas masmorras de quem comprou teu nome
A troco de uma caixa de rapé.

Crê em mim ‒ tu vales mais que um espirro.

18/4/2015



VONTADE DE DEUS, VONTADE DO HOMEM

Acontecerá dentro de ti
Exatamente aquilo que deve acontecer,
Bastando apenas
Que o teu papel seja cumprido.
E o teu papel é só um
Mas bem mais duro
Do que a forma da frase que o descreve:
Deixar que isso aconteça.

9/4/2015

Fernando Henrique de Passos

Também em OUTRAS DIRECÇÕES, neste blogue

Os povos da União Europeia



Como resolver a grave crise económico-financeira do povo grego?

Os dirigentes da União Europeia podem fazer muito mais do que aconselhá-los a subir impostos!

Podem aconselhar os povos da União Europeia a fazer férias nas suas cidades, aldeias e tantas ilhas...

A comprar produtos da Grécia como sejam Cd's de música ligeira ou clássica de autores gregos.

A comprar obras literárias de autores gregos.

A escolher produtos agrícolas produzidos na Grécia...

3/7/20015                                            
                                                                                             T.F.P.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Revelação das almas ou o teatro




«Chamo teatro estático àquele cujo enredo dramático não constitui acção - isto é, onde as figuras não só não agem, porque nem se deslocam nem dialogam sobre deslocarem-se, mas nem sequer têm sentidos capazes de produzir uma acção; onde não há conflito nem perfeito enredo. Dir-se-á que isto não é teatro. Creio que o é, porque creio que o teatro tende a teatro meramente lírico e que o enredo do teatro é, não a acção nem a progressão e consequência da acção - mas muito abrangentemente a revelação das almas através das palavras trocadas e a criação de situações» 

                                                        Fernando Pessoa


Do intróito à peça O Marinheiro de Fernando Pessoa,1913 (revista por ele mais tarde), (in Obra em Prosa de Fernando Pessoa - Ficção e Teatro, Public. Europa-América, L. B. E.A, nº 470 p.153).

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Escrever, não escrever...

Gabriel García Marquez

«Nunca sei quanto vou poder escrever nem o que vou escrever. Espero que me ocorra alguma coisa e, quando me ocorre uma ideia que ache boa para a escrever, ponho-me a dar-lhe voltas na cabeça e deixo-a ir amadurecendo.

Quando a tenho terminada (e às vezes passam muitos anos, como no caso de Cem Anos de Solidão, que passei dezanove anos a pensar), quando a tenho terminada, repito, então sento-me a escrevê-la e é aí que começa a parte mais difícil e a que mais me aborrece.

Porque o mais delicioso da história é concebê-la, ir arredondando-a, dando-lhe voltas e mais voltas, de maneira que na altura de nos sentarmos a escrevê-la já não nos interessa muito, ou pelo menos a mim não me interessa muito; a ideia que dá voltas. »

Gabriel García Marquez (1927-2014), Eu não venho fazer um discurso

quarta-feira, 24 de junho de 2015

S. João Batista, o primeiro apóstolo de Jesus

A noite de S. João no Porto

«Nenhum dos Doze discípulos escolhidos por Jesus receberia tantos louvores Seus como João Batista. Esse que era «a voz que clama no deserto», que envergava como vestuário umas peles de camelo e se sustentava da frugal alimentação do deserto. Nenhum dos Doze, Jesus comparou a Elias, o profeta com mais prestígio na Palestina. Nenhum, Jesus elogiou como a João Batista. Nenhum, foi chorado por Jesus, na hora em que recebeu a notícia da sua prisão e, poucos meses depois, da sua condenação à morte. Uma amizade única nascera entre Jesus e o mais simples e sábio dos seus apóstolos, João Batista, apóstolo antes da Cruz e da Ressurreição. O maior «nascido de mulher», aquele que era «muito mais que um profeta», «o profeta do Altíssimo»: eis João Batista, a batizar no rio Jordão e a pregar o arrependimento para a conquista da eternidade do Homem»*

                                                              Teresa Ferrer Passos


* Excerto de uma palestra proferida pela autora (20/4/2015) no Centro de Espiritualidade e Cultura em Lisboa.

terça-feira, 23 de junho de 2015

A Parménides


Ficar parado ‒ imóvel até o pensamento ‒
Na contemplação magna do mistério
Da ilusão do movimento.

  22/6/2015
                            Fernando Henrique de Passos

segunda-feira, 22 de junho de 2015

«Só desse gesto ousado». Da Grécia frente à Europa, hoje...



Partenon, Atenas

«Doloroso é calar, aflige-me dizer
meu mal: de qualquer forma torturado sou.
Um dia, ao coração dos deuses foi bater
o ódio. E uma batalha acesa começou.
(...)
Logo que Zeus subiu ao trono paternal.
aos deuses distribuiu, conforme seu critério,
honras e privilégios, de uma forma tal,
que, sobre a hierarquia, bem firmasse o império.
Na pobre humanidade nem sequer pensou!...
Antes aniquilar sua raça imaginou,
para uma nova, então, a seu jeito, surgir.
Só eu - e ninguém mais - se opôs a tal projeto.
Só desse gesto ousado ao Homem pode vir
a salvação do golpe fulminante, abjecto,
que no Hades, fundo, em pó, o havia de engolfar.
Eis porque vergo no peso de uma dor assim -
tão triste de sofrer como de contemplar.
Tive dó dos mortais - ninguém tem dó de mim!
Pois bem! - o meu castigo, ignóbil, sem piedade,
trará desonra a Zeus - por toda a eternidade!»

Ésquilo (dramaturgo grego, sec.VI-V a.C.), Prometeu Agrilhoado

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Num tempo esquisito...

Daniel Oliveira

«Deixamos de precisar de reconhecimento dos outros quando atingimos um determinado estatuto sobre o que somos e o que valemos; e não falo de estatuto social.»

«Não vivi atormentado com a ideia de querer ser alguém na vida. O sucesso e a fama são efémeros e absurdos, não valem nada»

«Tenho imenso orgulho de ser filho de quem sou. Nunca quereria ser o filho de. (...) Não quero que a minha filha seja alguma vez a filha de Daniel Oliveira»

«É uma conquista fundamental ao longo da adolescência que todos fazemos: maldizer os nossos pais, destruí-los, para ganhar autonomia. É isso que nos permite amá-los o resto da vida»

          Excertos de uma entrevista de Daniel Oliveira (jornalista, autor de A Década dos Psicopatas) à revista "Tabu" in jornal Sol de 12 de Junho de 2015.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Deus joga às escondidas?


Há ateus que dizem não conseguir perceber este Deus que “joga às escondidas” com o ser humano, ora revelando-se, ora ocultando-se, e nunca se revelando de forma suficientemente clara, quando o faz. Percebo esta queixa, pois sinto muitas vezes o mesmo. Mas recentemente interroguei-me: é Deus que se esconde de mim, ou sou eu que me escondo dele?

A história de Adão e Eva não é para ser levada à letra, já todos nós sabemos. Mesmo assim, talvez seja ‒ de muito longe ‒ o episódio mais importante do Antigo Testamento, aquele que encerra a explicação que todos nós procuramos para o mistério da existência humana, embora o faça de maneira alegórica, cabendo à nossa imaginação adivinhar o que está a ser representado nessa alegoria. Para o caso presente, interessa-me apenas reter um ponto: a vergonha dos dois após terem sido descobertos.

Será a minha congénita vergonha-não-sei-de-quê ‒ a vergonha com que todas as crianças nascem, e que alguns de nós nunca perdemos completamente, a vergonha que faz com que me esconda constantemente dentro de mim mesmo ‒ será essa vergonha a responsável por este sentimento de que Deus joga às escondidas comigo? Será que, do meu esconderijo, tão fundo me enterrei que só vejo a realidade através de camadas quase opacas de medos e sentimentos de culpa?

Talvez só tenha de me envergonhar desse esconderijo, onde me cerquei de lentes que torcem a realidade, amplificando coisas insignificantes e desvanecendo o que tem significado. Talvez Deus se me ofereça, desde sempre, num gesto largo, rasgado e inequívoco, do qual eu não me apercebo, no entanto, senão como um sinal velado, que atribuo mais à minha vontade de crer do que à realidade dos factos.

10/6/2015

Fernando Henrique de Passos

também em Terra Atípica,
neste blogue

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas


Nau no cais de Vila do Conde

CAMÕES


«(...) O mar entrou por ele dentro - e coube. Disso falam ainda os seus versos, com palavras eternas como as pirâmides. Tomou parte em guerras. Era português. Sofreu injustiças, ódios, erros próprios ou alheios, perseguições... e fome: Era o poeta maior da pátria. Também disso falam ainda os seus versos, com lágrimas que ainda hoje correm. Os seus versos falam de muita coisa! Quis vir morrer a Portugal, a quem trazia os Lusíadas. Quis escrever os Lusíadas - para que pelos séculos dos séculos todos os povos da terra soubessem da existência de Portugal. Morreu tão desgraçado, que ousou queixar-se de seus irmãos: Não mais, Musa, não mais... (...)»

                            José Régio (1901-1969) in revista Presença, nº 13, 13 de Junho de 1928.

domingo, 7 de junho de 2015

«Prelúdio» num dia do Corpo de Deus...



«Correm no campo as ondas das searas,
Fogem as nuvens da manhã
No Céu...
E alguém dá
Às searas
O pão que já lhes deu.

Abrem-se as portas dos casais
E a vida recomeça
Para o povo.
Como se fora, essa,
A mais
Pródiga manhã de um dia novo.

A terra chama o homem. Ele canta,
Canta na luta,
Até ao pôr do Sol.
Cada planta
O ouve e lhe dá a fruta
Ao estender os ramos para o Sol.

Como o rosto de um Deus belo e parado,
O Céu mostra-se calmo.
Na distância
Sinto eflúvios de um salmo
Quase meu. Calado,
Penso na minha infância.

- Visões de longe, formai ala
Ao longe... formai ala...

(Visões de longe formam ala
Ao longo de outro Céu.
E eu
Para que quero a vida
Senão para contá-la
A quem ma deu?)»

Poema inédito (escrito pelos dezanove anos) de Fernando de Paços (1923-2003)

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O Tempo e a Eternidade

Alguém consegue imaginar um mundo onde reinasse uma total ausência de conflitos?

Não me refiro apenas a guerras e atentados terroristas. Refiro-me a qualquer tipo de conflitos ou atritos, como o conflito no restaurante porque o bife veio muito passado e nós tínhamos pedido mal passado, mas o empregado diz que eu pedi bem passado, “não pedi nada, o senhor é que percebeu mal”, “o senhor é que se deve ter enganado e disse bem passado quando estava a pensar em mal passado”, etc.

Refiro-me a uma espécie de “Paraíso Hippie”, onde só houvesse amor, paz, sorrisos, flores e borboletas. Dito assim, é tão doce que até enjoa, não é verdade? Precisamos de atritos na vida como precisamos de sal e pimenta na comida. Nem o mais guloso dos gulosos concebe a ideia de passar o resto dos seus dias a comer apenas bolas de Berlim, mel e mousse de chocolate. Temos de discutir por causa de qualquer coisa, nem que seja o futebol, ou a falta de gosto da Fulana para se vestir. Quer dizer, então, que não fomos feitos para o Paraíso?

(continua)

Fernando Henrique de Passos

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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Carta ao Professor Maquinal

Caro Professor Maquinal

A nossa conversa telefónica de há dias[1] fez-me cair em mim e perceber que continuo seu adversário ‒ tão seu adversário como de todos os outros fundamentalismos religiosos. Repare que lhe chamo “fundamentalismo”, e não “fundamentalista”, porque não combato pessoas, apenas ideias e, na verdade, o senhor não passa de uma ideia criada por mim, pois não há nenhum materialista tão estúpido como o Professor Maquinal.

Pedir-lhe-ia desculpa de o ter chamado a uma existência tão breve e tão despida de sentido, não se desse o caso de o senhor parecer regozijar-se com a falta de sentido que julga descobrir na existência, o que o levará certamente a não lamentar o facto de a sua própria existência se reduzir à exiguidade de um telefonema e de uma carta. Como julgo conhecê-lo bem, presumo, no entanto, que não aprecie a inclusão que faço do seu nome no rol dos fundamentalismos religiosos, pelo que passo de seguida a justificar-me.

(continua)

Fernando Henrique de Passos

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