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domingo, 3 de abril de 2016

A culpa e o seu Sentido

Franz Kafka (1883-1924)

«O pretenso Klamm poderá não ter o menor ponto de comum com o verdadeiro Klamm, a semelhança poderá existir apenas aos olhos de Barnabás cegos de emoção, poderá ser o mais inferior dos funcionários, poderá até não ser sequer funcionário, mas alguma função terá ali junto daquela estante, alguma coisa ele há-de ler no seu enorme livro, alguma coisa há-de sussurrar para o escrivão, alguma coisa há-de pensar quando lá de longe em longe o seu olhar pousa em Barnabás; e mesmo que nada disto seja verdade e que nem ele nem os seus actos tenham o menor significado, alguém o pôs naquele lugar e com isso devia ter alguma coisa em vista. Com tudo isto quero eu dizer que alguma coisa existe, alguma coisa foi oferecida a Barnabás, pelo menos alguma coisa, e que é culpa de Barnabás se com isso nada mais consegue além de dúvida, medo e desesperança.»

Franz Kafka, «O Castelo», Europa-América, Lisboa, s/d, p. 206

A propósito desta postagem de F. H. P. , duas nótulas no Facebook: 

Alguma culpa temos nós todos.
Alguma culpa
porque não vemos,
porque não sabemos,
porque não esquecemos?

3/4/2916                   T.F.P.


Penso ser esse o sentido das palavras de Kafka:
o simples facto de existirem mistérios
dá-nos razão para ter esperança
de que eles escondam o almejado
Sentido; é culpa nossa se caímos no desespero.

3/4/2016                                              F.H.P.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Carta ao Professor Maquinal

Caro Professor Maquinal

A nossa conversa telefónica de há dias[1] fez-me cair em mim e perceber que continuo seu adversário ‒ tão seu adversário como de todos os outros fundamentalismos religiosos. Repare que lhe chamo “fundamentalismo”, e não “fundamentalista”, porque não combato pessoas, apenas ideias e, na verdade, o senhor não passa de uma ideia criada por mim, pois não há nenhum materialista tão estúpido como o Professor Maquinal.

Pedir-lhe-ia desculpa de o ter chamado a uma existência tão breve e tão despida de sentido, não se desse o caso de o senhor parecer regozijar-se com a falta de sentido que julga descobrir na existência, o que o levará certamente a não lamentar o facto de a sua própria existência se reduzir à exiguidade de um telefonema e de uma carta. Como julgo conhecê-lo bem, presumo, no entanto, que não aprecie a inclusão que faço do seu nome no rol dos fundamentalismos religiosos, pelo que passo de seguida a justificar-me.

(continua)

Fernando Henrique de Passos

VER TEXTO COMPLETO AQUI

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sentido



Abre os portões da tua casa
E não voltes a fechá-los nunca mais

Deixa a tua alma tornar-se igual à rua
E o teu respirar passar a ser o vento

Rasga essa membrana imaginária
Que te faz repetir desde que acordas
“Este sou eu, lá fora são os outros”

E quando a tua missão estiver cumprida,
Abre os braços, recebe a chuva branda,
Dissolve-te nas gotas indistintas,
Torna-te parte de algum rio,
Deixa-te arrastar até à foz
E mergulha enfim no vasto mar
Que és tu, que é Deus, que somos todos nós


24/6/2014

Fernando Henrique de Passos