quinta-feira, 25 de maio de 2023

UM POEMA

RESTAM OS PÁSSAROS...


os pássaros cantam nesta manhã sob o azul das nuvens
e trinam curtos gorjeios a soarem àquela paz que conhecem bem
não tão bem como nós a conhecemos.
Sem demover os ruídos contínuos que deslizam e se misturam
nas ruas encavalitadas umas nas outras
e nos ensurdecem com buzinas frenéticas de ambulâncias
em busca de lugar num hospital sem macas
para receber um doente com o coração num silêncio
súbito, são indiferentes aos motores
das escavadoras de uma obra inacabada
às motas clamorosas demais e aos camiões
carregados de tóxicos metanos a transportar o perigo
à cidade. À cidade cansada de ouvir ensurdecedores
interrogatórios à procura da discórdia
com frenéticos gritos de gente à espera
de um momento de glória sob ávidas câmaras de televisões
ou rádios a vibrarem o desassossego que irradiam
as suas multidões de comentadores, de analistas e de especialistas.
Todos nada mais fazem do que criar situações ridículas
amesquinhar as criaturas apanhadas no laço dos sofismas
num espetáculo teatral que  faz todos os dias mais suspeitos,
mais caricaturas de humanos a escorregar nos passeios
envernizados de palavras a transpirar frustrações e mesquinhez.
Difundem-se as vozes a explodir raiva, a ardência chega à exaustão.
E que acontece? Nada. Porque aqui falta a ideia ou o simples sonho.
As vozes desencontram-se. Onde repousa o pensar?
Então que resta? Os pássaros para lembrar 
o caminho da paz.

26 de Maio de 2023

Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 24 de maio de 2023

A LIBERDADE EM QUESTÃO



«Somos mais do que aquilo que a história nos deu: somos o que escolhemos ser. O homem não é redutível a uma marioneta, manobrado por sabe-se lá que destino sádico e imperscrutável que nos alinearia a todos, conformados e obedientes à ditadura do pensamento único. O homem é mais do que uma fórmula matemática e a sua mente é mais do que um simples produto de um computador humano. O homem é muito mais e é precisamente o mistério insondável da sua liberdade que o torna único.»

Simone Olianti, "Tenho medo do teu julgamento", artigo publicado em Abril de 2023 e traduzido do italiano por «Mensageiro de Santo António, edição portuguesa», 24/5/2023.

domingo, 14 de maio de 2023

PALAVRAS DO PAPA FRANCISCO, ONTEM, 13 DE MAIO, a propósito de lei da eutanásia

 


«Estou muito triste porque no país em que apareceu Nossa Senhora vai ser promulgada uma lei para matar. Mais um passo na grande lista dos países que aprovaram a eutanásia».
(Palavras ditas de improviso à margem de um discurso proferido num encontro com representantes da União Mundial das Organizações Femininas Católicas, no Vaticano)

terça-feira, 9 de maio de 2023

Excerto do artigo «Oração, Palavra e Poder» de Joana Cavalcanti (9/Maio/2023)

Orquídea sapatinho

«No momento, a primavera está connosco e nos oferece as mais belas flores e todos os verdes, independentemente da guerra, das lutas ideológicas, do pessimismo, do desrespeito pela vida e pelo outro e de toda a precariedade humana; pois a natureza cumpre os seus ciclos de vida tal como deveria ser.

Embora seja verdade que, até nisso, o ser humano tem conseguido interferir de forma negativa, agindo de forma violenta ao colocar em risco o equilíbrio ambiental e de muitos outros sistemas; ainda assim, é possível apreciar a vida de forma positiva. Buscar soluções que nos mantenham com ânimo pode ser uma das mais potentes estratégias de resistência contra tudo que nos desumaniza.»

domingo, 7 de maio de 2023

Palavras do Papa Francisco (27/3/2023)




«A ausência de diversidade é ausência de riqueza, porque a diversidade impõe-nos aprender juntos uns dos outros e redescobrir com humildade o sentido autêntico e o alcance da nossa dignidade humana. Não esqueçamos que as diferenças estimulam a criatividade, criam tensão, e na resolução de uma tensão consiste o progresso da humanidade, quando as tensões se resolvem num plano superior, que não aniquila os polos em tensão, mas fá-los amadurecer.»

sexta-feira, 5 de maio de 2023

UM POEMA

RETRATO AMORFO  


Um pântano alaga os nossos dias à espera de um rio de águas

límpidas, transparentes, como os nossos corações expectantes,

ansiosos, destroçados talvez.

Aqui, entre gritos de crianças e aranzéis de adolescentes irados

sem motivo, a nossa esperança vive

entregue ao ruído das notícias inconsequentes,

abismadas de razão, perdidas da justiça.

Há comentadores sem juízo, repórteres extraviados

da verdade, populistas ávidos de poder gesticulando incoerência,

ignorando a ética de ter consciência, ainda.

Imersos em refregas assentes no ódio,

recusam a harmonia das partes, como se fosse um delito,

antes fazem coros nos protestos, depois desencontram-se

como se quisessem a santa paz.

A voracidade dos canibais ergue-se, então.

Parecem abutres esfaimados a atingir o auge do desespero

e perdidos de si próprios.

Usam as largas asas como se fossem espadas de guerreiros medievais,

enlaçando os grasnidos dos acusadores na rua, como se as tivessem à mão.

E, rapidíssimos, incensam os altares do seu fictício poder.

Exibem os tentáculos de ágeis polvos,

acreditam derrotar o adversário fragilizado.

De braços despidos, cansados de se abrirem sobre rochedos inventados,

esbracejam, revoltados, proferem insultos,

e sobem, sem vigor, amortecidos, aos palácios onde regurgitam

e esperam reconquistar a imagem do maquiavélico Príncipe.

5/5/2023

Teresa Ferrer Passos

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Acerca da CRISE TECNOLÓGICA, salientamos, pela sua atualidade, algumas palavras proferidas pelo Papa Francisco na Universidade Católica Péter Pázmány de Budapeste, Hungria (30/4/2023):



«Pensemos na falta de limites, na lógica do «se pode ser feito, é lícito (...) E pensemos depois na erosão dos laços comunitários, pelo que a solidão e o medo parecem transformar-se, de condições existenciais, em condições sociais. Quantos indivíduos isolados – muita rede social, mas pouco sociais – recorrem, como num círculo vicioso, às consolações da tecnologia para preencher o vazio que sentem, numa sociedade onde a velocidade exterior anda de mãos dadas com a fragilidade interior.»
Em suma, ensina o Papa Francisco, estamos perante uma «tecnologia onde, em nome do progresso, tudo é uniformizado: por toda a parte se proclama um novo «humanitarismo» que anula as diferenças, apagando as vidas dos povos e abolindo as religiões. Abolindo as diferenças, todas. Ideologias opostas convergem numa homogeneização que coloniza ideologicamente. Este é o drama: a colonização ideológica; o homem, em contacto com as máquinas, torna-se cada vez mais igual, enquanto a vida comum se torna triste e rarefeita.»

NOTA: Citações a partir da publicação «Santa Sé»