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sábado, 1 de agosto de 2015

Fantasia para fim de tarde


Hipnotizo as chamas do poente
Quando horas vagas passeiam pelas ruas
Lançando sombras de recortes trémulos
Na cal rachada das paredes nuas.

As labaredas sabem o meu nome
E nunca sobem mais do que eu permito
Embora nasçam do ventre da Loucura
E se alimentem da luz do Infinito.

Guardo-as no bolso e volto para casa,
O fim de tarde como passadeira.
E nessas noites antes de dormirmos
Há mais magia no lume da lareira.

19/4/2015

Fernando Henrique de Passos

quarta-feira, 4 de março de 2015

Trilogia de Helgoland

Ilha de Helgoland (Alemanha)

O sms SECRETO DE BOHR A HEISENBERG
QUANDO ESTE SE ENCONTRAVA EM HELGOLAND

As raízes da razão mergulham na loucura
Como tentáculos descendo um precipício:
A primeira esteve no início
E a segunda estará no fim desta procura.

Não esperes clarões nem fogo-de-artifício:
A gruta da serpente é infinitamente escura
E deverás proceder ao sacrifício
Do resto de luz que em ti perdura.

9/1/2015

ÀS PORTAS DO MISTÉRIO

Estou na superfície do sol e chove intensamente.

Termina aqui o mapa que encontrei
Quando passeava no sótão de um chalé
Onde memórias de laços e de rendas
Jogavam uma partida de canasta
Entre teias de aranha e maços de jornais
Com numerações mais baixas do que o zero.

A mensagem cifrada fala em caves
Onde se guardam bibliotecas
De livros interditos a adultos.

Presumo então que devo mergulhar
E procurar debaixo das lagoas
Onde borbulha o ouro liquefeito
A sombria raiz do arco-íris.

12/1/2015

À TRANSPARÊNCIA

A madrugada despe-se dos medos.
Vejo-a pela praia entreaberta,
Quase ao alcance dos meus dedos,
Já só coberta
Por translúcidos sussurros e segredos.

A brisa está alerta
E a água que corre entre os rochedos
Aguarda a hora ‒ imprevisível e contudo certa ‒
Em que os meus sonhos serão como brinquedos
Nas mãos da luz então por fim desperta.

14/1/2015

Fernando Henrique de Passos

sábado, 22 de junho de 2013

O laboratório no deserto



A boca ressequida da loucura.
A pele gretada.
Um olhar quebradiço
De capa de revista abandonada
Quebra o feitiço
Que mantinha em suspenso a madrugada.

Lucubrações.
A luz castanha de uma vela.
Paredes cobertas de escaninhos
Guardam a razão negramarela
Da noite enovelada em torvelinhos
Transformando em óleo a aguarela.

O laboratório no deserto.
As moscas de metal.
O espaço totalmente desconexo
Do rodapé de um manual
Reflecte perplexo
Os fulgores de um ocaso matinal.

O riso solto e sem medida.
O alambique.
A luz é destilada gota a gota
E o sol a pique
Viola a madrugada desgrenhada e rota
E espera que o sangue o purifique.

A cadência exacta do metrónomo.
O pó de areia.
O pensamento desdobrável do deserto
Converte o meio-dia em lua cheia
E dissolve o contorno quadricular e certo
De cada nova ideia.


21/6/2013

Fernando Henrique de Passos