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sábado, 28 de novembro de 2015

Um poema de Fernando de Paços (1923-2003)

"Mulher" P.A.Renoir (1841-1919)

Pra me curar,
mais fria, a brisa;
na minha mão a tua voz lisa;
chuva, sobre esta noite lunar.

Ficar prostrado no chão e arrefecer, 
Tudo afastar, tudo esquecer.
Apenas tu,
vestindo o meu corpo nu
da tua ansiedade de viver.

Fernando de Paços, O Fértil Jardim, 1953, Edições Távola Redonda (poema 12).

domingo, 7 de junho de 2015

«Prelúdio» num dia do Corpo de Deus...



«Correm no campo as ondas das searas,
Fogem as nuvens da manhã
No Céu...
E alguém dá
Às searas
O pão que já lhes deu.

Abrem-se as portas dos casais
E a vida recomeça
Para o povo.
Como se fora, essa,
A mais
Pródiga manhã de um dia novo.

A terra chama o homem. Ele canta,
Canta na luta,
Até ao pôr do Sol.
Cada planta
O ouve e lhe dá a fruta
Ao estender os ramos para o Sol.

Como o rosto de um Deus belo e parado,
O Céu mostra-se calmo.
Na distância
Sinto eflúvios de um salmo
Quase meu. Calado,
Penso na minha infância.

- Visões de longe, formai ala
Ao longe... formai ala...

(Visões de longe formam ala
Ao longo de outro Céu.
E eu
Para que quero a vida
Senão para contá-la
A quem ma deu?)»

Poema inédito (escrito pelos dezanove anos) de Fernando de Paços (1923-2003)