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sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Do Gênesis ao apocalipse


O que é realmente importante na Bíblia: só o princípio e o fim? Poderia parecer, de facto, que a lenda de Adão e Eva explica como o Tempo se separou da Eternidade, enquanto o Apocalipse explica como voltará o Tempo a ser absorvido pela Eternidade, de modo que tudo o que está “no meio” seriam apenas acidentes, os acidentes próprios do Tempo. Mas dá-se o caso de a Eternidade participar ativamente em todos esses acidentes do Tempo, com vista ao desenlace final. Daí a importância de TODA a Bíblia, com especialíssimo destaque para os Evangelhos, que narram a descida da própria Eternidade ao seio do Tempo.

4/11/2015

Fernando Henrique de Passos

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Deus joga às escondidas?


Há ateus que dizem não conseguir perceber este Deus que “joga às escondidas” com o ser humano, ora revelando-se, ora ocultando-se, e nunca se revelando de forma suficientemente clara, quando o faz. Percebo esta queixa, pois sinto muitas vezes o mesmo. Mas recentemente interroguei-me: é Deus que se esconde de mim, ou sou eu que me escondo dele?

A história de Adão e Eva não é para ser levada à letra, já todos nós sabemos. Mesmo assim, talvez seja ‒ de muito longe ‒ o episódio mais importante do Antigo Testamento, aquele que encerra a explicação que todos nós procuramos para o mistério da existência humana, embora o faça de maneira alegórica, cabendo à nossa imaginação adivinhar o que está a ser representado nessa alegoria. Para o caso presente, interessa-me apenas reter um ponto: a vergonha dos dois após terem sido descobertos.

Será a minha congénita vergonha-não-sei-de-quê ‒ a vergonha com que todas as crianças nascem, e que alguns de nós nunca perdemos completamente, a vergonha que faz com que me esconda constantemente dentro de mim mesmo ‒ será essa vergonha a responsável por este sentimento de que Deus joga às escondidas comigo? Será que, do meu esconderijo, tão fundo me enterrei que só vejo a realidade através de camadas quase opacas de medos e sentimentos de culpa?

Talvez só tenha de me envergonhar desse esconderijo, onde me cerquei de lentes que torcem a realidade, amplificando coisas insignificantes e desvanecendo o que tem significado. Talvez Deus se me ofereça, desde sempre, num gesto largo, rasgado e inequívoco, do qual eu não me apercebo, no entanto, senão como um sinal velado, que atribuo mais à minha vontade de crer do que à realidade dos factos.

10/6/2015

Fernando Henrique de Passos

também em Terra Atípica,
neste blogue

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Adão e Eva


Passais lentamente o corredor de espelhos,
O cheiro amargo da hera nas narinas,
O tapete de musgo sob os pés.
O labirinto de translúcidas molduras
Engana-vos de novo.
Os rostos ambíguos e estáticos
Trocam olhares em todos os sentidos
E sois atravessados por uma luz vegetal.
Os reflexos de cor das telas nas paredes
Perdem-se nas sombras de verde transparente
Que vós próprios projectais.
Um pouco mais e o ar ficará líquido
E nadareis na água doce e entre os limos
E a galeria de quadros madrepérola
Será soluto e vós solvente.
E, liquefeitos, cristalizareis
As cores azuladas do poente.

26/7/2012

Fernando Henrique de Passos