sábado, 30 de julho de 2022

 

Pormenor do retábulo do altar-mor da igreja
da Misericórdia, Alcantarilha

«Um Deus tão distante da transparência da chuva, tão longínquo do azul do céu, do calor do sol, da brandura das árvores, da proximidade dos montes, dos caminhos múltiplos dos vales, era difícil de entender. Com estes pensamentos a fustigarem as raízes da sua alma, uma nostalgia imensa crescia nele. Com um manto de trevas a caírem no seu espírito com mais peso, a cada instante que passava, Joaquim desejava retirar-se o mais depressa possível daquela escadaria de mármore cor-de-rosa e laivos cinzentos, fugir às nuvens de cinza densa que passavam tão rápidas quanto o vento uivante das colinas mais elevadas.»

Teresa Ferrer Passos, S. Joaquim - Uma alma à Procura de Deus (romance inédito escrito a partir de um facto insólito na vida de S. Joaquim e Santa Ana, pais de Maria e avós de Jesus).

quarta-feira, 20 de julho de 2022

No 29º aniversário do nosso conhecimento pessoal:

Jardim da F. Gulbenkian com dois gansos dos Egito

SILÊNCIOS QUE FALAM


Deixa-me descer até ao centro
do teu coração de silêncio
e aí te farei oferenda das palavras
que venho guardando há quase 30 anos
à espera do momento de as dizer
esse momento que chegou
pois agora já sei dizê-las sem falar.
 
Deixa que o meu coração de silêncio
se abeire do teu coração de silêncio
e deixemo-los trocarem
as palavras que só eles podem ver
e então eu chorarei quando tu chorares
e tu chorarás quando eu chorar
e ambos riremos quando virmos
o mesmo sol nascer.
 
Deixa-me descer até ao centro
do teu coração maravilhoso
e conta-me de novo a história antiga
dos dois estranhos que um dia se encontraram
no centro de um jardim abençoado
e foram de mãos dadas pelo mundo
entrelaçando as vozes nos silêncios
ouvindo os sorrisos das estrelas
cantando os sonhos das palavras.
 
20/7/2022
                               Fernando Henrique de Passos


PEQUENO SONHO
 

Nos passos ao de leve soletrados

desci à biblioteca. Aí,  descobri as tuas entrelinhas

a inscreverem-se na viagem de um pequeno sonho.

Li com espanto todas as linhas apagadas.

Vogais brotavam assombradas.

Pareciam flores a desenhar uma dor antiga.

E as páginas amarelecidas de poeira pronunciavam

trinados obscuros. Despertavam largas sombras crivadas de medo.

Um silêncio de morte bramia, aterrador.

Uma luz delirante iluminou-nos.

A vibração do amor tocava de mansinho, o sonho delia-se.

O silêncio serenou-nos. A eternidade soava docemente.  

 

20 de Julho de 2022

Teresa Ferrer Passos    

terça-feira, 19 de julho de 2022

NOTA PARA UMA PUBLICAÇÃO CATÓLICA A DENEGRIR OS SANTOS QUE FIGURAM NAS IGREJAS CATÓLICAS:

Comentário enviado para a revista internética "Mensageiro de Santo António" e também para o Facebook e Linkedin:

Primeiro romance histórico de Nicola Vegro sobre o Santo, escreve-se em "Mensageiro de Santo António". Esta revista internética não conhece o "Santo António" de Agustina Bessa Luís, publicado, em 1973, pela Guimarães Editores? A frase do argumentista de filmes e documentários Nicola Vegro, extraída do livro "António Secreto" (tradução publicada recentemente, em Portugal, pelas Paulinas), não podia revelar melhor a intenção subreptícia do seu autor. Passo a transcrevê-la: "A imagem dos santos (...) com as suas atitudes patéticas, aquele ar melancólico, aquele toque anémico e evanescente que emana de todo o seu ser, como se fossem eunucos". Esta expressão de carácter negativo para denegrir os santos (imagens das igrejas) não podia ser mais insultuosa para as figuras a que se refere (patéticas, melancólicas, anémicas e até parecendo eunucos)! A editora Paulinas gosta de se revelar muito avançada em termos religiosos, de nivelar a pureza pelo impuro, e, ser, na verdade, uma editora que prima pelo populismo ou por aquilo que dá mais lucro. É assim que o cristianismo soçobra, definha, porque o que é preciso nesta sociedade vazia é agradar às massas populares que procuram que o espírito seja tragado pela matéria e esta passe a ter o exclusivo da existência humana.
19/7/2022

Teresa Ferrer Passos

RESPOSTA DA REVISTA “Mensageiro de Santo António” na rede social Linkedin:

O problema não são os santos, que, cada um na sua época e de acordo com o próprio carisma, procuraram viver com radicalidade a Boa Nova do Evangelho... O problema somos nós que os pintamos e deformamos tornando-os fofinhos e angélicos... assim não temos que nos comprometer no caminho duro da justiça e da paz. Como precisamos todos de olhos puros para ver um pouco mais além, olhando a realidade como ela é, sem a deformar pela lente das nossas verdades construidas no conforto do sofá e no abrigo do genuflexório.



Resposta de Teresa Ferrer Passos:

Esta resposta da revista "Mensageiro de Santo António" está eivada de uma má intenção intrínseca ao acusar as pessoas de "os pintarem e deformarem tornando-os fofinhos e angélicos". Mas o que é isto? Ser angélico também é mau?! Não foi uma figura angélica que Anunciou a Maria que iria ser a Mãe do Salvador? E conclui a revista que essas pessoas - o que é, à partida, abusivo dizer - assim não têm de se "comprometer no caminho duro da justiça e da paz", Em 2º lugar, a revista usa outro argumento demasiado mesquinho. É uma outra acusação da revista, não menos mal intencionada, afinal, como a primeira, refere-se à "deformação da realidade" que é o santo ser visto "pela lente das nossas verdades construídas no conforto do sofá e no abrigo do genuflexório". Mas quem lhes disse que essas pessoas não têm "olhos puros para verem um pouco mais além"? O que aqui foi escrito não passa de uma forma de ridicularizar quem não se conhece, pois é dito que "essas verdades foram construídas no conforto do sofá e no abrigo do genuflexório". Têm a certeza disso?! Como acusar, usando uma argumentação que ridiculariza quem não pensa como nós? E como estes procedimentos têm muito pouco de cristão!

20/7/2022

T. F. P.

segunda-feira, 11 de julho de 2022

SAUDOSA MEMÓRIA DE MINHA MÃE

Natércia e Teresa na casa de seus avós 
em Alcantarilha

MÃOS DE MÃE

                                 Na memória do dia 11 de Julho de 1990

 

Na amarga sensação da ausência

os olhos embaciam-se de uma chuva rara:

uma chuva de calor elevou-se no ar pesado

e à procura de um gole de água fresca.

Partiste. Era Julho. E a secura do vento secou-me a garganta.

Que contraste com aquele dia de Agosto em que

as tuas mãos me abraçaram

no parapeito da janela da casa dos avós

para uma fotografia forrada de amanhã:

estares junto de mim nesse dia dos meus anos.

 

11 de Julho de 2022

                                             Teresa Ferrer Passos












quarta-feira, 6 de julho de 2022

O dia do meu batismo

 Faz hoje 73 anos que fui batizada na igreja de Nossa Senhora dos Anjos, em Lisboa. E a missão maravilhosa começava com o sal e a água a ser o bálsamo da fé que haveria de crescer em mim.

T.F.P.

Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, Lisboa