segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Aniversário Natalício de minha querida mãe, ontem, Dia de Natal

 

Num DIA de NATAL nasceu minha muito querida mãe, no ano de 1909. Foi ONTEM que recordei a minha «Carta-Memória à Mãe», ao relê-la, como sempre com um sentimento de consternação ou de contrição e, ao mesmo tempo, com a alegria de a ver ali, ainda cheia de uma memória encantatória, aquela que eu deixei escrita nos últimos dias da sua vida e naqueles que se seguiram à sua morte (carta começada em 1 de Julho e terminada a 3 de Novembro de 1990):
«Só. Como coração gemendo a angústia do impossível desta ponte tombada em ruínas, sem fé, sem espera, sem uma estrela na escuridão maior. E tudo se perdeu e se fez nada... Amanhã. Até amanhã...» (Teresa Bernardino, Carta-Memória à Mãe, Lisboa, 2000, p. 50).

Teresa Ferrer Passos

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

NATAL / 2022


Presépio da nossa casa

"Então o lobo habitará com o cordeiro e o leopardo deitar-se-á com o cabrito; o novilho e o leão comerão juntos, e um menino os conduzirá".
                                                                     Is. 11, 6





"O Senhor diz:

«Olhai: coloco em Sião uma pedra-testemunho,
 uma pedra angular, preciosa, de base:
Aquele que confiar nela não tropeçará»"
                                                            Is. 28, 16



"Para seguirmos o exemplo de Maria, para deixar Deus entrar
 e agir na nossa vida, temos de Lhe abrir a porta. Maria pôs-se 
ao dispor de Deus. Isto é que é acreditar! A fé implica-nos."

        Twitter, 2021
                                   Cardeal Manuel Clemente



                                                   

A VIDA SILÊNCIO AZUL


a água escorre do céu aos tropeções,
desliza célere sobre o deserto das almas
e as casas perdem-se de si na procura das mesas
onde havia o pão e o leite e a fruta.
exaustas, já gastas e enlameadas,
sentem-se perto do dilúvio.
a água intrépida, incontinente,
alaga os corações suspensos
como se fosse um trovão a descer com raios fulminantes,
os raios do mal. E tudo à volta é abatido.
a água vem do alto sem um suspiro de dor,
tudo retira dos lugares que pareciam inamovíveis.
resta apenas uma pequena faúlha: o sóbrio bem.
sustenta-o a audácia grácil e uma língua de azul
emerge das negras nuvens apagando-as.
a vida resiste. Resiste mais uma vez,
como um silêncio imaculado e sem fim.

13/12/2022

                                          Teresa Ferrer Passos





AS ORIGENS DO NATAL

“Que cansaço estar sempre aqui em cima –
Os seres humanos parecem-me formigas,
As formigas parecem-me micróbios,
E não tenho amigos nem amigas.
 
Gostava de poder brincar –
Às escondidas, por exemplo.
Ninguém me ia encontrar
Se me escondesse no meu Templo!
 
Gostava de não ser omnipotente –
Ter de pedir que me levassem pela mão
A ver o sol poente
No final de uma tarde de Verão.
 
Gostava sobretudo de ter mãe –
Que me passasse a mão pelos cabelos com meiguice,
Mas que me ralhasse também
Se eu fizesse uma tolice.
 
Gostava de não ser omnisciente –
Não conhecer o meu destino
E só saber que tinha de ir em frente.”
 
… E assim Deus se fez menino.


In Fernando Henrique de Passos, Breve Viagem nas Margens do Mistério, Hora de Ler, Leiria, 2018, pág. 12. 





Um dos presépios da Exposição da ALDEPA, em Alcantarilha

O MAGO DA ETIÓPIA

«Este é o Filho do homem, ao qual a justiça pertence, o qual revelou todos os tesouros do que é escondido»(1)


o olhar do mago das terras da Etiópia
fixava-se no céu, havia muito tempo. Procurava
onde morava a justiça, a verdade tão ausente
e onde se escondiam os mistérios da vida.
o mago de rosto queimado queria tudo desvendar.
olhava as estrelas que brilhavam e não lhe respondiam.
pedia-lhes que revelassem um só segredo que fosse,
a elas, sábias, que tudo conheciam.
Numa noite mais escura do que era costume
viu uma estrela de pouco brilho.
que estranha, tão apagada! e movia-se
─ coisa mais estranha ainda ─
para um deserto vasto, o deserto do Sinai.
Com as pálpebras avermelhadas de cansaço,
o mago daquelas terras áridas e secas
aventurou-se a segui-la. Que largo caminho à sua frente…
E de novo um deserto, o de Neguev e outro ainda, o de Judá!
Aqui chegado, a estrela quase a apagar-se,
mostrou-lhe um pequeno lugar: Belém.
Aí, viu um estábulo que deixava transparecer
um Menino, todo feito de luz.
e essa luz que emanava tudo lhe revelou.

Natal/2022
Teresa Ferrer Passos


(1) Livro de Hanokh (versão etíope, copta), 300-200 a.C.(?), Capítulo 46, 2.




Menino Jesus de um dos presépios da Exposição
da ALDEPA, em Alcantarilha


UMA JANELA SOBRE O VENTO Num impulso violento, Mas simultaneamente terno, Abriu-se uma janela sobre o vento, Talvez no Solstício de Inverno, E os ouvidos de Deus escutaram o lamento Do frágil ser que queria ser eterno. Deus, tendo pena do tal ser, Fez-se menino num estábulo em Belém; Vieram bichos para o aquecer, Que o estábulo era frio, e húmido também; O vento uivava como que a dizer Que aquele menino ia ser alguém. O menino cresceu até ser vendaval, E soprou, e soprou, e virou do avesso O ser miserável, débil e mortal. Deu-lhe um novo alento, deu-lhe um recomeço, Deu-lhe a vida eterna, livrou-o do Mal. Mas o ser humano – é mesmo verdade! – Preferiu o Mundo à Eternidade. 24 de Dezembro de 2022 Fernando Henrique de Passos




UM NATAL NA ALEGRIA DE CRISTO!
                                                                 

sábado, 10 de dezembro de 2022

Papa Francisco e D. José Tolentino de Mendonça
na Biblioteca do Vaticano

JOSÉ TOLENTINO DE MENDONÇA, perfeito do Dicastério para a Cultura e Educação do Vaticano, em entrevista à RR, após apresentação do seu livro «Metamorfose Necessária» em 9 de Dezembro de 2022, na Fundação C. Gulbenkian:

A EUTANÁSIA... “uma visão errada daquilo que pode ser o contributo das sociedades em relação ao percurso do ser humano que deve ser amparado desde o início até ao fim”.
"Uma grande derrota de civilização que entristece".
"Uma derrota daqueles valores que colocam no centro a pessoa humana”.
“Escolher a eutanásia ou propor a eutanásia como possibilidade de resolução da vida, sem dúvida que é uma redução da esperança”.


Comentário no Facebook (10/12/2022):

Na Europa só 4 pequenos países praticam a eutanásia: Holanda, Bélgica, Luxemburgo e Suiça; na América do Norte só 5 estados dos Estados Unidos e o Canadá; e na América do Sul só a Colômbia. É UMA PERCENTAGEM MÍNIMA em relação aos 200 países do mundo que não a aprovaram. SE A LEI DA EUTANÁSIA FOR APROVADA EM PORTUGAL SERÁ A PROVA DE QUE PORTUGAL SE ACHAVA NUMA SITUAÇÃO DE GRANDE ATRASO EM RELAÇÃO AO RESTO DO MUNDO E ERA URGENTE A SUA APROVAÇÃO?!
                                                                                                              Teresa Ferrer Passos

domingo, 4 de dezembro de 2022

UM POEMA de FERNANDO HENRIQUE DE PASSOS:



RETRATAÇÃO DO SOL PERANTE OS PLANETAS


Perdoai-me as sombras que provoco
Nas vossas faces ocultas e secretas
E que vos fazem orbitar em meu redor
Como fantasmas notívagos de insetos
Presos em redes invisíveis,
Como farrapos flébeis do crepúsculo
Sorvidos por vórtice de pez.
Perdoai-me, deixai-me libertar-vos
E parti pelo espaço à aventura!

In «Ecos Abaixo do Audível«, Hora de Ler, Leiria, 2020, pág. 26.

Comentário:

Entre ciência, filosofia e religião, inscreve-se uma magnífica construção poética em que perpassa a vida de toda a existência dos seres menores, só menores nas dimensões...

                                                                        Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

A RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA


 

A RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL em 1640, no dia primeiro de Dezembro, após 60 anos de dominação espanhola, a data inesquecível do Povo Português. Este Povo que nunca aceitou o colapso da Pátria no fatídico ano de 1580 - o ano da morte de Camões, o Poeta que com excelência cantou nos seus versos a História dos insubmissos Lusíadas, dos arrojados Lusitanos.

1/Dezembro/2022

T.F.P.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Um poema do livro de Teresa Ferrer Passos, MEMÓRIA DE PAZ, Hora de Ler, Leiria, pp. 9-10:


RÉSTIA DE PAZ

As estevas brancas e o joio
cresciam lado a lado.
Entre amores-perfeitos e estrelas-do-egipto
nada se distinguia com nitidez.
De mãos entrelaçadas, esperávamos
as horas silenciosas do crepúsculo.
Inflamados pelas cores azuladas das alcachofras,
esperávamos a hora nova ou do nunca.
Depois, pela janela larga e debruçada da casinha
enquadrada na serra enevoada,
víamos crescer o sol,
de cansaço prostrado aos nossos pés.
Abismados, os nossos olhos sucumbiam naquela visão
procurando ainda uma réstia de paz.
Firme como no primeiro dia,
vimos o sol brincar às escondidas
com os contorcidos troncos
e as folhinhas da velha oliveira.
Como a sorver uma grande paz,
desvendámos aqui o segredo da vida:
verdes rebentos brotavam, com audácia,
da sua escavada carcaça,
inquebrantáveis de força!

domingo, 27 de novembro de 2022

«MEMÓRIA DE PAZ», Hora de Ler, Leiria, 2022, pág. 7:



Árduos são os tempos e os lugares que semeiam os finos arcos da poesia. A poesia a irromper nos dias que vivi na fadiga dos momentos, em que cresci devagar num canteiro de interrogações brutais e quiméricas. A busca da paz introduz-se em cada verso, livre de intenções ou de projetos. Em cada página, as palavras rodam entre luz e sombra, como um carrossel. E tudo coado por nuvens transparentes ou pesadas como uma chuva que não chega ao nosso olhar. Em cada página vibra uma torrente de memórias a soltarem-se, precipitadas e urgentes, em datas inesquecíveis, com os seus sentidos e os seus sentimentos a brotar como um rebento de minúsculo malmequer do campo. E tudo isto enleado nos dramas de uma sociedade lançada num pântano obscuro e, ao mesmo tempo, a penetrar em ideias edificadas sobre falhas que se julgam edénicas, de súbito. A poesia eclode como um sussurro incandescente, uma imagem do divino ausente ou enternecido, um verbo conjugado com a força de caminhos desconhecidos, mas prontos a serem trilhados. A poesia perfila-se como uma paz que tudo sustenta, vagarosa e sólida, que gira em torno de um real que se esconde e se descobre, sem eu ou tu, mas a espraiar-se no grande enigma de sermos nós.

Setembro de 2022

Teresa Ferrer Passos

sábado, 19 de novembro de 2022

UM POEMA do livro «MEMÓRIA DE PAZ», Hora de Ler, Leiria, 2022, pp. 11-12:

Alcantarilha antiga vista do lado nascente

 

MEMÓRIA DE ALCANTARILHA


Ali, ao crepúsculo, vibrava o espaço numa sinfonia
Imensa. Os sons, irreconhecíveis, prolongavam-se
Na minha alma cansada e ansiando paz.

Ali, ao crepúsculo, o piar do cuco tímido e choroso
Fazia-me pensar em todas as solidões do mundo.
Mas, os sinos da igreja desviavam-me o pensamento.

Ali, ao crepúsculo, esquecia-me de mim,
Extasiada pelo colorido azul-róseo do céu
A convocar-me a um cântico novo ao criador.

Ali, ao crepúsculo, esvoaçavam os pássaros
Com trinos rápidos, na excitação pelo fim do dia.
E as árvores inclinavam-se às verdes folhas paradas.

Ali, ao crepúsculo, via passar, de súbito, a cegonha,
Pesada de esperança nas asas ávidas de vida.
E, sem olhar para trás, rumava ao alto ninho.

Ali, ao crepúsculo, descia à terra o silêncio.
Então, frente à beleza do cenário,
Parecia-me que, sem saber, rezava.

Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Excerto da obra de Teresa Ferrer Passos «São Joaquim - uma Alma à Procura de Deus» ( narrativa ficcional em elaboração):


S. Joaquim, imagem barroca


«Naquele paradisíaco ambiente humano, Joaquim era pródigo a fazer perguntas a si próprio. Quem será essa mulher predileta do criador dos altíssimos pináculos e das muralhas invencíveis do céu? E essa mulher, será capaz de fazer estremecer o reino diabólico do mal? Será capaz de elevar a cabeça das frágeis criaturas humanas, semelhantes a efémeros malmequeres espalhados entre as ervas daninhas dos largos campos? Como irá Deus escolher entre todas as jovens da Palestina, uma jovem assim tão perfeita que estará acima das mais perfeitas?»

Fernando Hen


sábado, 5 de novembro de 2022



NO PRESENTE SE ESCREVE O ANTES

                   Lembrança do dia de noivado, há 29 anos

no presente construo a chegada contigo a meu lado.
E vejo um mar de amor que nunca se quebra
uma vereda invisível a romper os agrestes caminhos
um golpe de vento a lançar flores em vez de um suspiro.
A memória do tempo revela todo um antes presente
e as nossas mãos se cruzam como almas ardentes.
uma palavra a emergir e a nascer da vida


5 de Novembro de 2022

                                              Teresa Ferrer Passos


***

DESFILADA

Vamos em dois cavalos à desfilada
Mas mesmo assim vamos de mão dada.

Tudo em nós é horizonte,
Vale após vale e monte após monte.

E nas cores de incêndio deste fim de tarde
É o nosso amor a chama que arde.

É o nosso amor a luz que nos guia,
Para além das trevas, para além do dia.

Desabam palácios quando nós passamos?
Não queremos saber! Não nos importamos!

Já não tenho medo, tu nunca o tiveste;
A minha coragem, tu é que ma deste.

Vamos de mão dada e olhamos em frente
E a marcha do tempo é rumo ao presente.

Um presente eterno chega à desfilada
Na hora em que o tudo eclode do nada.

E as cores do ocaso brilham na distância
E sabem que a paz vai seguir-se à ânsia.

Vamos a galope, vamos de mão dada,
E tudo é presente, e tudo é chegada…

5/11/2022

                            Fernando Henrique de Passos

sábado, 29 de outubro de 2022

A propósito do 29º aniversário do nossa namoro


SEM PALAVRAS


uma cidade ergue-se nas colinas
desavindas com a tua doçura ardente de mago.
a cavalgares um destino abundante de inclemência
descobres-me um dia a tropeçar em desditas
a apagar-me em sementes envelhecidas
a não ter sentido algum numa terra
a evadir-se de si
sem palavras de amanhã.
Foi a hora. O meu amanhã nasceu.
Era a hora da tarde.


29 de Outubro de 2022
                                                Teresa Ferrer Passos

***

UM BOSQUE NO OUTONO

A cidade que eu via como triste e feia
Albergava uma donzela
Bondosa e bela.
E eu vi-a e amei-a.
 
E dos canteiros de lírios espezinhados
Nasceram rebentos de arbustos que cresceram
E num dia se fizeram árvores que aprenderam
A dar frutos no Outono, redondos e dourados.

E a cidade tornou-se um bosque colorido
Pela magia da donzela boa.
A cidade é a vida, além de ser Lisboa,
E a vida desde então passou a ter sentido.
 

29/10/2022
                                       Fernando Henrique de Passos

UM POEMA

 SILÊNCIO INÉDITO


no momento estranho do silêncio
crescem raízes amargas como fel,
surgem árvores e ervas no pinhal
no momento estranho do silêncio,
as farpas atravessam as inter-redes da quimera
e cravam-se no peito brando do inocente
de coração prenhe de ingenuidade e bem querença
no momento estranho do silêncio
quebram-se os grilhões, abate-se a espera
e a vida ainda com explosões de verdade
sussurra devagar crepita ainda
num fogo já apagado

29/10/2022 (poema acabado de escrever)

Teresa Ferrer Passos

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

MEMÓRIA


O Professor Adriano Moreira (1922-2022) cuja morte nos surpreendeu, apesar de já contar 100 anos de idade, marcou a política portuguesa com chave de ouro. Sem dúvida que o autor de «Ciência Política» (1979) e de «O Novíssimo Príncipe» (1977), ficará na história como um grande teórico português do pensamento político. Atravessando dois períodos antagónicos de governação em Portugal - o regime do Estado Novo e o regime instaurado em 25 de Abril de 1974 - soube manter uma coerência e uma integridade de ação político-social exemplar. O seu nome manter-se-á vivo para além dos séculos XX-XXI em que viveu! Por isso, estará sempre perto de nós.

24 de Outubro de 2022
Teresa Ferrer Passos

domingo, 23 de outubro de 2022

A PROPÓSITO DO DIA MUNDIAL DAS MISSÕES



Uma breve passagem de «São Joaquim, uma alma à procura de Deus» de Teresa Ferrer Passos, obra ainda inédita:

«Pregava, sem rodeios, desassombradamente, com uma expressão de aramaico culto, as frases curtas, o pensar rápido, tudo era proferido com autoridade. Falava das virtudes, dos bons costumes, da pureza de alma, do desprezo dos bens materiais, da perseverança, mesmo no meio do sofrimento, pois este decorria da precariedade e do caráter efémero da vida e trazia, em primeiríssimo lugar, a recompensa de se descobrir mais do que nunca na presença de Deus; o caminho certo era a esperança que conduzia à serenidade; a grande alegria do ser humano era a fidelidade a si próprio e ao seu próximo.»

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

POR OCASIÃO DO MEMORÁVEL 200.º ANIVERSÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, EM 7 DE SETEMBRO DE 1822

Excerto de um artigo que publiquei no «Diário de Notícias», em 26/6/1988, sob o ortónimo de Teresa Bernardino:


"Em 1822 rebentou uma revolta contra o domínio português, que D. Pedro conseguiu dominar, e, no mês de Abril, o jornal Revérbero propôs ao Regente que fosse “o fundador do novo Império”. Pouco depois, a Maçonaria com o apoio do Senado e do Conselho de Procuradores-Gerais das Províncias ofereceu a D. Pedro o título de Protector e Defensor Perpétuo do Brasil, que ele aceitou a 13 de Maio, dia do seu aniversário.

A agitação nas províncias era incrementada pelo confronto entre os partidários da autonomia (personificada por D. Pedro) e aqueles que desejavam obedecer às determinações das Cortes Constituintes da metrópole. O Brasil estava dividido entre as duas facções, sendo a mais popular contrária à Assembleia Legislativa de Lisboa, que só humilhava a tão venerada emancipação. Eram recebidas como ordens afrontosas a continuação de D. Pedro como “Regente até à publicação da Constituição, mas sujeito ao rei e às Cortes” e a instauração de um processo ao governador de S. Paulo por ter pedido a permanência do príncipe no Brasil.

As instruções das Cortes de Lisboa foram interpretadas como uma interferência abusiva no poder do regente por vários conselheiros, que o consideraram mesmo “prisioneiro das Cortes”, instituição que mostrava tentar “escravizar o Brasil”.

Era o dia 7 de Setembro de 1822 e D. Pedro encontrava-se nas proximidades do pequeno rio Ipiranga quando alguns emissários lhe deram conhecimento destas últimas decisões oriundas de Lisboa. Resolvido a não continuar sob a tutela da revolucionária Assembleia liberal portuguesa, D. Pedro proclamou a ansiada “Independência ou morte”, que o iria ascender a primeiro Imperador do Brasil. Aclamado e Coroado Imperador na Capela Imperial do Rio de Janeiro, no dia 12 de Outubro de 1822 (o príncipe dera o mais lato sentido à decisão tomada a 9 de Janeiro de 1821, pela qual desobedecia às Cortes, ao ficar em terras do Brasil).

Em carta justificativa desse ato, afirmava que se saísse do Brasil, logo este se tornaria independente, enquanto se ele aí permanecesse, o território não se separaria de Portugal. A sua convicção maior era a de que a força das armas não podia impedir a independência, mas sim “o comércio e o brio da reciprocidade”, porque ambos “são as duas molas reais sobre que deve trabalhar a monarquia luso-brasílica”.

A ideia de conservar a ligação entre as duas Cortes é incontestável em numerosas cartas dirigidas pelo Imperador D. Pedro I a D. João VI, mas as fortes pressões internas por parte de instâncias políticas e sociais, a prepotência das Cortes constitucionais, que procuravam retirar ao território a autonomia alcançada ao longo da permanência de D. João VI na colônia, as honras e os títulos que os brasileiros lhe outorgaram, com o cognome de Defensor Perpétuo do Brasil, foram os principais fatores da mudança. Esta está patente nas cartas posteriores ao mês de Maio de 1821. Era, de fato, inegável o seu exultante entusiasmo ao escrever que tratava os brasileiros não só como fi lhos “como V. M. me recomendou, mas também como amigos”.

Noutra passagem nota a necessidade de não inverter a evolução que os tempos e as conjunturas provocaram: “Sem igualdade de direito em tudo e por tudo, não há união”. Nessa disposição de espírito, propunha-se defender os direitos dos brasileiros, se necessário com o seu sangue “que não corre senão pela honra, pela Nação e por V. M.”. Para fundamentar a insubmissão perante as Cortes, escreverá ainda sobre a sua adesão à causa da “colônia”: “Não sou rebelde, como hão de dizer a Vossa Majestade os inimigos V. M., são as circunstâncias”.

O grito do Ipiranga culminara um longo processo não iniciado em 1820, como muitos afirmam, mas remontando à chegada de D. João VI e toda a Corte portuguesa ao Atlântico Sul. A revolução de Agosto de 1820, se trouxe a vantagem de fazer regressar o rei à Metrópole, teve na sua essência e como objetivo maior, recuperar os mercados brasileiros, tão preciosos à burguesia portuguesa (importação-exportação). Este móbil tornou as Cortes constituintes gravosamente hostis à comunidade brasileira, que já não podia aceitar a perda da larga autonomia política ou a fuga dos valores econômicos que estavam a fazer prosperar aquele extenso e rico domínio português.

A exigência do regresso do príncipe-regente, escolhido pelo rei de Portugal, numa difícil conjuntura interna do Brasil, em parte aderente às revoluções autonomistas e republicanas da América do Sul, foi o detonador de uma situação insustentável, quer para Portugal, quer para o Brasil.

Sem poder lutar contra as circunstâncias, como escrevia o Imperador D. Pedro I a seu pai, conseguiu, no entanto, não provocar o ódio ou até levantamentos de armas contra a Pátria lusa, que no ano de 1500 começou a desbravar e a engrandecer a futura grande nação da América Latina. Longos anos de permanência naquela terra promissora, deram a D. Pedro I a noção exata do seu glorioso porvir que ele quis ajudar a edificar.»


A MORTE DA RAINHA ISABEL II (8 de Setembro de 2022):

A Rainha Isabel II, uma mulher com uma personalidade fortíssima manteve-se igual a si própria durante 70 anos de reinado e 96 de vida; ainda incansável, apesar de já muito enfraquecida, na véspera da sua morte cumpriu ainda as suas funções - como ela diria o seu dever - de soberana, ao dar posse à nova Primeira Ministra do Reino Unido. Um exemplo de vida a recordar!


9/9/2022
Teresa Ferrer Passos

UMA GUERRA NUCLEAR GLOBAL?

1.

Estaremos à mercê de uma política internacional desvairada?
Não haverá uma incipiente, abúlica e até suicida política diplomática a favor da paz por parte da União Europeia e dos EUA, depois da Rússia ter iniciado uma operação militar contra a Ucrânia (24/2/2022)?
Onde repousam as sempre possíveis diligências da Diplomacia do Ocidente para pôr fim à guerra?
Uma retaliação nuclear para responder a um ataque nuclear da Federação Russa é a solução para o Ocidente?!

2.
"Após sete meses de hostilidades na Ucrânia, sejam usados todos os meios diplomáticos, mesmo aqueles que até agora eventualmente não foram utilizados, para pôr um fim a esta terrível tragédia. A guerra em si é um erro e um horror!" (Papa Francisco in Twitter, 2/10/2022)

3/10/2022 (in Facebook)

Teresa Ferrer Passos

NO 1º CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DA GRANDE ROMANCISTA PORTUGUESA AGUSTINA BESSA LUÍS (1922-2019):

 

Agustina Bessa Luís na sua casa do Porto

"É do rigor para com nós mesmos que nasce a crueldade para com os outros. Do abismo da culpa nascemos para o abismo da justiça. S. António era uma natureza subtil; fiel com as pequenas coisas, tornava-se por isso pacífico nas paixões; instruído de si próprio, não temia as surpresas, não combatia com inimigos obscuros. As nossas lutas são travadas com o que se ignora. Toda a vida de António resplandece de tranquilo saber e de inocência no saber."

Agustina Bessa Luís, "Santo António", Guimarães Editores, 1973, pp.118-119.

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

CAMINHAR SOBRE AS ÁGUAS (um poema)

Deixa a superfície do lago serenar.
Detém o vento.
Sustém o pensamento.
E depois caminha devagar.

Nas margens do tempo congelado
Tens a teus pés o tempo todo inteiro.
Guarda-o com cuidado num tinteiro
E reescreve no futuro o teu passado.

13/9/2022

Fernando Henrique de Passos

sábado, 13 de agosto de 2022

  AS MINHAS HORAS

 

Há horas, como as árvores,

não vergam com o vento.

Vejo-o nos dias em que o temporal

atinge as minhas horas.

Imprevistas.

A crua realidade parece consumir

a minha alma. Os instantes são breves.

Sufocada por momentos, sobrevive mesmo assim.

Permanece em busca do afago divino,

afinal, ali à beira.


13/8/2022
                                               T.F.P.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Poema inédito de aniversário



Apresentação de «O Retábulo», obra com duas partes,
uma de Teresa, outra de Fernando, em 2002, na Livraria
Caleidoscópio, em Lisboa.



CONFIRMAÇÃO

                            à Teresa pelo seu Aniversário

Gosto deste mês
Não por ser Agosto
Mas por tu vires dele.
Isto é ter bom gosto!
Gosto do que escreves,
Gosto do que dizes.
Horas a teu lado
São horas felizes.
Gosto dos teus beijos,
Da tua meiguice.
Gosto de te olhar,
Não sei se já disse.
Não sei se já disse
Que gosto de ti.
Gosto mesmo muito,
Desde que te vi.
Mas brinco pois sei
Que já to disse antes
E que o repeti
Em muitos instantes.
E também repito,
Hoje, no teu dia:
És o meu amor
E a minha alegria!

9/8/2022
                      Fernando Henrique de Passos

sábado, 6 de agosto de 2022

LEMBRANDO O MAIOR ATENTADO MORTÍFERO DA HISTÓRIA

NO DIA 6 DE AGOSTO DE 1945, OS E.U.A. LANÇAM A 1ª BOMBA ATÓMICA NUCLEAR SOBRE A CIDADE JAPONESA DE HIROSHIMA.


HIROSHIMA

O grito dos inocentes ainda ecoa nos corações.
O terror, em imagens nunca vistas, prolifera.
Mas imagens para quê? Elas são apenas um simulacro
da realidade criada no instante
em que o sol morreu em Hiroshima
e a humanidade, aí presente, ficou esfacelada.

Foi a hora em que uma grande nação, no auge da sua soberba,
usou, sem contrição, a força demoníaca da energia nuclear.

6/8/2022

Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

«Cada ser humano bom extrai o bem do bom tesouro do seu coração. Todos nós temos um tesouro, é o coração: a cultivar como um Éden; a gastar como um pão; a proteger com desvelo porque é a fonte da vida (cf. "Provérbios" 4, 23). Por isso, não sejas avaro com o teu coração: dá-o».

Ermes Ronchi, "Está escrito nas árvores: a lei da vida é dar" in Avvenire (25/2/2022)

«Somos uma geração de lamentos, que deixou de saber agradecer, que dissipou os profetas e poetas, os enamorados e os bons. E todavia são eles a parábola, o rebento, ramo de figueira ou de amendoeira do mundo salvado. São-no aqui e agora, sobre a Terra inteira e dentro da minha própria casa, como rebentos bons, embebidos de Céu, impregnados de Deus. Quem me quer bem é lâmpada para os meus passos.»

Ermes Ronchi, "Aprender da sabedoria das árvores" in Avvenire, 12/11/2021 [Fonte: Pastoral da Cultura]

sábado, 30 de julho de 2022

 

Pormenor do retábulo do altar-mor da igreja
da Misericórdia, Alcantarilha

«Um Deus tão distante da transparência da chuva, tão longínquo do azul do céu, do calor do sol, da brandura das árvores, da proximidade dos montes, dos caminhos múltiplos dos vales, era difícil de entender. Com estes pensamentos a fustigarem as raízes da sua alma, uma nostalgia imensa crescia nele. Com um manto de trevas a caírem no seu espírito com mais peso, a cada instante que passava, Joaquim desejava retirar-se o mais depressa possível daquela escadaria de mármore cor-de-rosa e laivos cinzentos, fugir às nuvens de cinza densa que passavam tão rápidas quanto o vento uivante das colinas mais elevadas.»

Teresa Ferrer Passos, S. Joaquim - Uma alma à Procura de Deus (romance inédito escrito a partir de um facto insólito na vida de S. Joaquim e Santa Ana, pais de Maria e avós de Jesus).