domingo, 26 de março de 2023

Passagem do livro «Um Cientista e uma Folha de Papel em Branco» de Teresa Ferrer Passos (2ª edição, Hora de Ler, Leiria, 2023, pág. 112):

«Os olhos cerrados de Taoj trazem a Protágoras a impressão do fim do Homem, exatamente esse Homem, medida maior e inexcedível de tudo o que existe. A medida é o humano. Nada o excede, nem os limites da selvajaria nem os da virtude. Nada se lhe assemelha, na crueldade nem na paixão. Tudo se lhe submete pela audácia e pela esperança ou pela cobardia e pela vergonha. Toda a matéria ganhou no humano a força da própria divindade, uma divindade que fala só por ações e por sons da natureza. O humano revelou-se o criador de linguagens novas a que a matéria se submete, na aceitação do diferente mesmo que a deforme. É aqui, nestas ideias que continua a viver Protágoras.»

Breves passagens do artigo publicado em Pastoral da Cultura (21/3/2023) de Domenico Marrone in «Settimana News » intitulado "Sínodo: A Igreja nasceu e renascerá dos debates. É preciso libertar a palavra e encorajar o pensamento":

«Os “estaleiros” sinodais contribuem para gerar uma cada vez mais espalhada prática da escuta.
Porém, pergunto-me: ao enfatizar a escuta (escutar, e escutar e escutar), não será possível que estejamos a ocultar também a nós próprios o défice de debate, de opinião pública na Igreja? Com efeito, regista-se a ausência de um verdadeiro debate intraeclesial. Uma ausência que, por sua vez, deriva da falta de uma autêntica opinião pública dos crentes católicos».
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«É verdade que, para que isto aconteça, é preciso que o outro se exponha. Tome posição. Afirme-se a si próprio. Exprima opiniões, ideias, análises. Não se limite a anuir, confirmar, calar. Antes explique, argumente, discuta.»
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«O problema é que, demasiadas vezes, o outro não existe. Se goza de poder formal, comanda. Mostra a posição, a divisa, o papel. Transmite, não comunica. Faz retórica. Passa “slogans”. Impõe-se: não fala, antes faz falar o título, o estatuto.»
...
«Todos os estímulos que poderiam vir, em particular, dos fiéis leigos são sufocados na origem e, quando alguém se comporta como cristão adulto e ousa pensar com a sua cabeça, eis que se desencadeia a reprimenda da parte de outros leigos que se erguem como juízes e defensores oficiais da tradição e da autoridade, quando em muitos casos são apenas defensores do hábito e do poder.»

sábado, 18 de março de 2023

Duas Memórias de CAMILO

A propósito do nascimento de Camilo Castelo Branco em Lisboa, a 16/Março/1825) 

1.

«(...) – Longe, longe de Lisboa, a cidade da minha infância, a cidade da casa onde nasci, mas de que mal me lembro. Recordo apenas o local onde ficava: a Rua da Rosa. De resto nunca me considerei verdadeiramente de Lisboa, ao contrário do meu amigo Eça de Queirós que, tendo nascido na Póvoa, só queria ser lisboeta, ou de preferência, creio (se lhe fosse dado escolher) parisiense. Eu nunca teria (nem tive) tal apetite, devo dizê-lo. Sou muito mais do Porto, apesar de nunca me terem aceite muito bem (...)»

Maria do Carmo Sequeira (excerto de post no Facebook, 16/3/2019)

2.
«Apesar das adversidades dos tempos e dos lugares, não é difícil Camilo ter-se visto como um homem mais do Porto (ou de Seide) do que de Lisboa. Esta é uma cidade que sempre sofreu de descaracterizações (tão almejada pelos que nela não tinham nascido, como Queirós...) e desprezou com frequência aqueles que nela nasceram, como se fossem estranhos. A sua falta de fronteiras humanas torna-a, ainda hoje (ou mais do que nunca, hoje) uma cidade para conquistar por estranhos ou para ser motivo de fuga dos seus naturais. O Porto é bem diferente: é mais coeso, mais íntimo, mais íntegro, para quem aí nasceu ou não. E como o escritor Camilo a isso foi sensível.»

Teresa Ferrer Passos (Facebook, 17/ 3/ 2019)

terça-feira, 7 de março de 2023

ABUSOS SEXUAIS SOBRE MENORES

D. Nuno Almeida
Bispo Auxiliar da Diocese de Braga

Afirmações do bispo auxiliar da diocese de Braga, D. Nuno Almeida, em texto de 6/3/2023:

«Não é possível manter a impunidade nem o silêncio», escreve.
«Entre as providências a tomar, perante as denúncias, estão “medidas de tipo administrativo contra a pessoa denunciada, que poderão levar a limitações no ministério”.
O texto sublinha que as “medidas cautelares” propostas pela Santa Sé admitem que a Igreja “poderá ou deverá ter de retirar o agressor identificado da atividade pastoral”, dado que as “medidas cautelares” preveem a possibilidade de afastamento ou proibição de exercício do ministério, enquanto decorre a “investigação prévia”, ou após a sua conclusão.»

Fonte: Ecclesia

***

A PROPÓSITO DO CRIME DE ABUSO DE MENORES

À ATENÇÃO DE PADRES DA IGREJA CATÓLICA

DISSE JESUS:

«Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem em mim, seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar.

Ai do mundo, por causa dos escândalos! São inevitáveis, decerto, os escândalos; mas ai do homem por quem vem o escândalo!»
São Mateus, 18, 6-7