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sábado, 1 de agosto de 2015

Fantasia para fim de tarde


Hipnotizo as chamas do poente
Quando horas vagas passeiam pelas ruas
Lançando sombras de recortes trémulos
Na cal rachada das paredes nuas.

As labaredas sabem o meu nome
E nunca sobem mais do que eu permito
Embora nasçam do ventre da Loucura
E se alimentem da luz do Infinito.

Guardo-as no bolso e volto para casa,
O fim de tarde como passadeira.
E nessas noites antes de dormirmos
Há mais magia no lume da lareira.

19/4/2015

Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Reflexões a propósito do Domingo de Pentecostes

«Fazer pouco da Filosofia é, veramente, filosofar.»
Blaise Pascal



INTRODUÇÃO




Nós seremos breve e leve. Ao longo do nosso labor, nós hemos de aventar: é frutífera, na fronde, é frutífera Éfrata. E vamos, então, ao missal e à messe do Messianismo. Todas as religiões são raios do mesmo Sol que eduzem, conduzem, ao divo e a Deus. A Deus elas conduzem por palavras diferentes. Ou melhor, seguindo e segundo William Blake, o Inglês, todas elas são expressões do «Génio poético» de cada povo, cultura, e civilização. Elas diferem, apenas, devido ao espaço e ao tempo, que são princípios «a priori» da sensibilidade.

Apela, o espaço, à Geografia, e diz respeito, o tempo, à História das palavras. Quando os homens preenderem, ou compreenderem, este facto e o feito, cumprir-se-ão, alfim, as profecias de Isaías, sobre o Templo e o tempo do milenarismo: «Das espadas fabricarão enxadas, e das lanças farão foices. Nenhuma nação pegará em armas contra outra, e ninguém mais vai treinar-se para a guerra.» «Porque nasceu para nós um menino», continua o Poeta, ‘um filho nos foi dado: sobre o seu ombro está o manto real, e chama-se «Conselheiro Maravilhoso», «Deus Forte», «Pai para sempre», «Príncipe da Paz.»’

E citemos, mais uma vez, o filho de Amós: «O lobo será hóspede do cordeiro, a pantera deitar-se-á ao lado do cabrito; o bezerro e o leãozinho pastarão juntos, e um menino os guiará; pastarão juntos o urso e a vaca, e as suas crias ficarão deitadas lado a lado, e o leão comerá feno como o boi. O bebé brincará no buraco da cobra venenosa, a criancinha enfiará a mão no esconderijo da serpente.» E esta, pra mim, é a Liberdade. E esta é a doutrina da não-violência. Fiéis, dessarte, aos seus Profetas, cumprimentam-se, os Israelitas, dizendo, e proferindo, a palavra «Shalom»: significa ela «Paz» em seu sentido pleno. Mas em vez do exílio, isto é, em vez de a procurarmos fora de nós, começa sempre aqui, começa sempre, a Paz, em nosso coração.



TESE



Que o Nazareno é Nazarita e por isso o Nazireu. E sejamos aticista, e no orbe, e urbano, não mataremos, nós outros, ninguém, por ele não professar o «querigma» do Cristo. E do «querigma», e do carisma, trataremos aqui. Se a linguagem, para Heidegger, é a Casa do Ser, façamos, da Escritura, a habitação de Deus, a choruda «Shekiná»: nas águas de Hipocrene, é chama e é chamada a «Sophia» perene. Que a língua liga, e é apanágio dos colegas. É apanágio do ledor. E agora vamos, entanto, às palavrinhas. Por as palavras cria o homem o sobremundo da cultura que o separa e aparta duma animalidade. E quanto ao Pentecostes?, pergunta o leitor. «Pentecostes», do grego «Pentekosté», significa «quinquagésimo».

Quero eu dizer, finalmente: se memora e comemora, a festa pentecostal, sete semanas depós da Páscoa. E por isso ela é chamada de Festa das Semanas, Festa das Primícias, ou Festa das Colheitas. Tem ela a voz, e a vez, 50 dias depois da Festa dos Ázimos. E temos, então, que o número 5 ( não olvidemos que é marcante, na Bíblia, a numérica, etérica, simbologia ), o número 5 nos remete, por isso, ao Quinto Império, ao Éter, à celeste quintessência. Como adiante aduziremos, esse é o culto, imperial, do Espírito Santo. Se «Belém» significa a «Casa do Pão», esse é o rito, o ritual, da Paz e dos pães da proposição.

E na festa, sideral, da Colheita do Pão, assumindo, assimilando, o Pão da Palavra, as primícias da Colheita, elas vão para o Senhor – e assim o professa o Levítico literal. Quero eu dizer: no elemento, ou alimento, do Pão quotidiano, se acura, e acrisola, o sentido de Aliança com o «Abba» e o Paizinho – e o Pão da Aliança é celebrado, adrede, em crisol, e cristológica, Eucaristia. 
Pois a apresentação, do Pão, a Deus Padre, é rito antigo, avito, e deveras arcaico; usando, Melquisedeque, o pão e vinho, Abraão, o hebraico, era alçado e abençoado, e se o nativo é nutrice, caminha, a nutrição, a par da adoração – e a Palavra é deveras medicamento e alimento. E se a Justiça se une à Paz, era Melquisedeque, afinal, o Rei de Salém, o Sacerdote, no altar, do Deus Altíssimo. E do colaço e colação, e da Colheita do Trigo, no Antigo Testamento, se passa, nos Apóstolos, à colecta, e à Colheita, do Espírito Santo. Ele é a signa, a bandeira, o sinal, da universalidade, do arcano, e Cristiano, Catolicismo – e são por isso alteadas as línguas de Fogo. E são por isso orações, e duas ilações se tiram na lição.

E eis a prima, a primeira, e a primordial: a Boa Nova é doutrina pra todo, e todo o mundo, não há, na Boa Nova, a discriminação. Que evangélico e angélico, tem, o Salmista, as portas e janelas todas abertas. Pois não há, para a Verdade, nem grego, nem judeu, nem escravo, nem homem livre, e nem doutor, nem a estultícia – e é a encíclica, na verve, a enciclopédia, e somos todos invitados para o Banquete nupcial. E a sagrada, e a segunda, proposição: o Pentecostes narrado nos «Actos dos Apóstolos» é deveras sacrossanto, ele significa, ou dignifica, o início, caroal, da Igreja cristã. Mas agora, esquadrinhemos: se o Fogo apareceu na Aliança, ou liança, do Monte Sinai, quero eu dizer, na sarça ardente, o Fogo nos aparece, no «liber» de Lucas, qual simpósio e o cenáculo da Fraternidade. E difundindo, e defendendo, a «communio» da eclésia, S. João Crisóstomo chama aos Actos, deveras, o Evangelho, e a Palavra, do Espírito Santo.

O Espírito que atende, ampara e preside à Igreja Cristiana. Pois nos «Actos dos Apóstolos», ouçamos o discurso do Apóstolo Pedro: «Nos últimos dias, diz o Senhor, Eu derramarei o meu Espírito sobre todas as pessoas. Os vossos filhos e filhas vão profetizar, os jovens terão visões e os anciãos terão sonhos. E, naqueles dias, derramarei o meu Espírito também sobre os meus servos e servas, e eles profetizarão. Farei prodígios no alto do céu e sinais em baixo na terra: sangue, fogo e nuvens de fumo.» Ou cotejando, novamente, com o Antigo Testamento, em Génesis, por isso, se narra a história dos homens que, levados pela «húbris», construíram, dessarte, a Torre de Babel: eles queriam ser famosos e chegar até ao Céu, mas seu orgulho, desmedido, deu origem à queda, e à confusão das línguas. E se o «Homo», por isso, vem do humo, quem se humilha será exaltado, quem se exalta, em diabril, será humilhado. Ou no lance e lição: comunicar, no sentido pragmático, ele é qual charla, o boato, e a denotação – mas o comunicar, poeticamente, é qual a Nova, e a «communio», da conotação.

Contra a Marta, que labora, adora, e ora, a Maria do Evangelho; ela toma, pra Jesus, a melhor parte. Pois é da Poesia o «Dasein», o «Mitsein», e o fundamento do Ser, a porfiada atenção ao mundo do Ser. Quero assertar, e proferir: se é existir o «Dasein», será, o «Mitsein», o acompanhar, o estar junto, o coexistir. E por isso o comunal, e por isso os cristianos tudo punham em comum, e comungavam, «companions», do Verbo sideral e do Corpo do Senhor. E por isso, nós afirmamos, em celeste Firmamento: tomando parte, e participando, da unicidade da pessoa, professa o Cristiano a autêntica existência – mas aferrado ao véu de Maya, e ao mundo do ter, participa, o prosaico, da existência, anónima, do homem, dessarte, unidimensional. Mas revertendo, no lance, o Pai assume o Filho – e ao Filho, lilial, desce o Paracleto sob a forma de Pomba.

O mesmo Paracleto que, falante e aflante, Ele dá testemunho do Pai e do Filho – e com o Filho lavora, no escol e a escola da Nossa Senhora. Quero eu dizer: na eclésia, assembleia, e na egrégora do Cristo. Pura Poesia, afinal, o fanal, e o carisma, da cristificação – e no asmo, e entusiasmo, a parábola, e o Paracleto, do mitificar. Por isso o Vate é Vaticano, e no viático, ou vieira, o Poeta, e a Porta, é construtor de pontes – e eis o Jano e eis o Graal, esse o carme, e a cadeira, pontifical. Ou falando, agora mesmo, por tópicos e tropos: ao ser expressão do inconsciente ( e remembrando, aqui, a escada de Jacob ), também é, a Literatura, a cruzada e a carreira do sobrenatural. Parafraseando, aqui, o Hoené Wronski, não basta, ao homem, conhecer a Verdade – é preciso também criar essa Verdade verdadeira, e eis a escola e o escopo da especulação. Como eis, aqui, a crística lição. 


CONCLUSÃO


E hemos dito e aventado: é pronto e é preste, é preciso o teologúmeno. Álvaro Ribeiro, no lance, já nos tinha avisado: Filosofia sem Teologia não é, ela não é, Filosofia Portuguesa. Ou melhor: se o Deus, deveras, é o Alfa e o Ómega, não conhecer a Deus Pai é ser, na verdade, analfabeto. Se a prece é sobretudo uma Arte da Palavra, é precisa, dessarte, uma oração… do coração. Nos seja feito, por isso, de acordo com a nossa Fé: e surge aqui a Sorte, e surde aqui o querer consorciado com o crer. Pois no escol e na escola do Lusitanismo, a Ideia de Deus ela é, deveras, o arrimo e a base da Filosofia, ela é o fundo, o fundamento e o fundamental.

Em sua gnósica prosa, Fernando Pessoa, forte e fértil, ele tinha, dessarte, toda a razão: se interpretarmos, hermeneutas, os Evangelhos à letra, eles são adrede libertários, são pura e simplesmente anarquistas – e não remembras, aqui, o caso do Tolstoi??? Como quer que seja, seremos, nós outros, os discípulos do Cristo, conheceremos a Verdade, e a Verdade, alfim, nos libertará.

«Mas pra que serve, agora, a Teologia?», pergunta o ledor. Um rapsodo, que nos sopra, um rapsodo, que ressuma, nos dá a resposta. Na vez e na voz do Poeta João Belo, «Procurar o infinito é descobrir o impossível, saber que não se existe é conseguir a existência». É conseguir, deveras, o «Dasein», disserto eu. O desvelar, o alumbrar, o co-mover, uma «ek-stática» insistência na Verdade do Ser.

Queluz, 17/ 05/ 2015

AD MAJOREM DEI GLORIAM

PAULO JORGE BRITO E ABREU

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Oração superficial

Oh grandes peixes das águas profundíssimas,
O tesouro dos textos telepáticos
Que nos fazíeis chegar pontualmente
Perdido parece por agora
Nos limos e lodos deste grande lago.

No denso enredado das palavras ávidas
Que se propunham traduzir-vos
Perdida ficou vossa sageza antiga
Que nos falava com gestos de silêncio.

Perdoai a nossa tacanhez
Enviai novamente o vosso auxílio
Pois sufocamos já
Em estreitos canais de altura rasa
Onde insensatos julgávamos prender
O infinito o tudo o além-tudo
Mas só nos prendemos a nós próprios.


10/8/2014

Fernando Henrique de Passos