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domingo, 4 de setembro de 2016

PARA QUEM O TRABALHO, OU A NOVA POBREZA…*

Aqui publico um texto que escrevi em 1998,
numa Pequena Homenagem a Madre Teresa de Calcutá,
neste dia 4 de Setembro de 2016,
em que é Canonizada pelo Papa Francisco 

Madre Teresa de Calcutá com os pobres

  «Tive fome e deste-me de comer»
Jesus Cristo

   Missionárias da Caridade - uma Ordem Religiosa fundada por Madre Teresa de Calcutá, em 1950. Por estes anos do Pós-Guerra, o pobre torna-se o centro das preocupações da sua fundadora.
   Missionárias em busca dos que sofrem para lhes dar mais do que alimentos para o corpo, também alimento espiritual de que não eram menos carecidos. Cinquenta anos decorreram desde o lançamento deste projecto de ligação ao pobre - «no pobre, Cristo é pobre»1.
   A entrega das Missionárias da Caridade ao serviço dos pobres significa que no pobre Cristo, vivem. No pobre - o pobre que significa aquele que precisa de pão, mas que está igualmente ávido de apoio espiritual - está o Cristo vivo, o Cristo a viver connosco todos os dias sem que demos pela sua presença.
   Numa sociedade mundializante e todos os dias a criar novos reforços para a totalização dessa mundialidade (vivemos, no momento, o exemplo da União Europeia), a Ordem das Missionárias da Caridade não perdeu o sentido, não se tornou mais uma congregação humanitária; pessoas como as Missionárias fundadas por Madre Teresa de Calcutá são progressivamente mais necessárias.
   A sociedade da abundância, provocou uma  explosão de pobres (a quem nem sequer se inclui entre as estatísticas dos desempregados), envergonhados, silenciosos, que nada reclamam, a quem algumas horas em serviços a prazo ou sem contrato consolam da sua desdita. O que na verdade esses pobres se julgam é inábeis, incapazes de saber viver (a par dos empregados sempre vistos como os mais aptos, os bem sucedidos).
   Pelas Índias das castas, às quais os miseráveis não repugnam; pelas Áfricas em que as crianças subalimentadas são o espectáculo masoquista e, em simultâneo, motivo da indiferença dos que, na certeza da segurança, não se interessam pela incerteza do futuro dos outros (designadamente os Estados poderosos); pela Europa das Uniões Económico-Financeiras, ufana de um igualitarismo propagado até à exaustão em que explodem promessas eleitoralistas ou para-eleitoralistas de novos empregos e de mais trabalho para todos - por todos os continentes, em suma, grassa a hipocrisia dos governos ao serviço e a servirem-se dos grandes grupos capitalistas e das maiorias populares.
   Em todo este mundo, sem compreender a sua própria realidade social, nem sequer tentar auscultar-lhe as deficiências lesivas das minorias sem ruído, há uma frenética ânsia de dar a imagem de um planeta a caminho do progresso, sem recuos ou máculas - um progresso fundado na esperança ou na espera de mais segurança, mais emprego, mais abundância e bem-estar social.
   Em Portugal os exemplos abundam: novos cursos superiores, mais democratização do ensino com a abertura de mais vagas, mais escolas, mais, sempre mais vias para mais postos de trabalho. «O emprego espera por vós», parece ser constantemente afirmado. E  todos, todos têm a espera, talvez uma esperança vã  pela frente.
   Escritores um pouco por todo o mundo e, mais perto de nós, nos países da Europa de que fazemos parte - e refiro-me àqueles que ainda pensam, são capazes de olhar o outro, ou aquele que passa a seu lado, sem se deixarem vender às maiorias dominantes e, não raro, dominadoras (as ditaduras surgem das maiorias que esmagam as minorias, em vez de as libertarem) - estão a alertar para o perigo de se estar a enganar o tecido social da maioria votante (que dá o voto para ser governada, na espera de dias melhores, como lhe prometem), com toda uma falaciosa realidade que já nada tem de real. Trata-se de toda uma propaganda política ligada aos grandes monopólios económicos mundiais - privados e dos estados -, sempre a intervir com a reafirmação da criação de mais emprego. A verdade é que tudo isto não passa de uma falaciosa esperança. O emprego será cada vez mais desnecessário num mundo profusamente maquinizado, tecnicizado.
   A viabilidade de conseguir mais trabalho para todos os que ainda estão à espera, é praticamente nula, se essas margens que são já milhões de pessoas em termos mundiais, não fugirem ao esquema actual do sistema e àqueles que se preparam para manter esses indigentes do trabalho - silenciados, como numa culpabilização generalizada pelos insucessos individuais.
   Nasce, assim, uma das maiores injustiças sociais da época contemporânea: a desigualdade camuflada de igualdade; a submissão  ocultada sob uma pretensa  liberdade; a oligarquia plutocrata e a ditadura mascaradas de democracia.
   Neste contexto mundializante (e que se estende cada vez mais a Portugal), Madre Teresa de Calcutá e as suas Missionárias almejaram um sentido mais vivo e mais fundo. Resta, aos que sofrem na desilusão e na descrença de si próprios, ainda quem se coloque do seu lado, como as Missionárias  da Caridade. Mas outros estão a usar outros meios: a palavra escrita e propagada através do livro.  
   A situação não está a passar-se sem que haja quem se aperceba da farsa social que são, designadamente em Portugal, as chamadas Acção Social, Segurança Social, Luta contra a Droga ou as leis favoráveis à desagregação da família - edifício ético sobre o qual deve assentar uma sociedade psiquicamente saudável.
   As Missionárias da Caridade que Madre Teresa de Calcutá dirigiu até à sua morte, em 1997, estão, não no mundo, mas num mundo incluído num outro mundo, que não está perplexo, que não está a fazer uma autocrítica dos seus actos, mas que apenas procura ludibriar a situação degradante de muitos indivíduos. É um facto que «vendeu a alma» ao poder.
   Afirmava Madre Teresa: «Se não estivéssemos profundamente convencidas de que Cristo permanece oculto no rosto dos deserdados deste mundo, a nossa Missão não se justificaria». A situação é grave. Na verdade, as consequências psicológicas e morais (o suicídio e as doenças mentais), atingem  indivíduos, ou seja, pessoas, que se distinguem de massas anónimas.
   O cidadão, ou é considerado por si próprio ou a sociedade perde o seu sentido essencial. O Poder não pode ter em vista apenas fins, sem olhar aos meios, sob pena de se tornar imoral.
                                                           Teresa Ferrer Passos






*  Stella (revista) Set/Out 1998, nº579, pp.22 e 26.
1 José Luís González-Balado, Madre Teresa  dos  Pobres mais Pobres, Edições Paulistas, Lisboa, 1991, p.41.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

A Eucaristia é para os pecadores



«Ainda há bem pouco tempo, o Papa Francisco exortava a aprender que "a Eucaristia não é um prémio para os bons, mas é força para os fracos".»

Darci Vilarinho, in Fátima Missionária, Junho/2016, p.5.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A mundanidade destrói a identidade da família cristã

Sagrada Família

«Impressionou-me sempre que o Senhor, na Última Ceia, naquela longa oração, rezasse pela unidade dos seus e pedisse ao Pai que os libertasse de todo o espírito do mundo, de toda a mundanidade, porque a mundanidade destrói a identidade; a mundanidade leva ao pensamento único»


«À semelhança de uma grande árvore, nascida de uma simples e minúscula semente, o mesmo pode acontecer com a cultura predominante, que se impõe e seca tudo o que está ao seu redor.»

                            Papa Francisco (excertos da homilia na Missa de 19/11/2015)

domingo, 18 de outubro de 2015

RECONHECIDOS SANTOS: O CASAL ZÉLIE E LOUIS MARTIN


O Papa Francisco canonizou hoje, no Vaticano, os pais de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, Louis Martin e Zélie Guérin Martin. Este casal, modelo do amor conjugal, tal como Jesus o enunciou claramente, foi o primeiro casal a ser canonizado em conjunto, com exceção dos casos de martírio.

Sua Santidade declarou que os novos santos "viveram o serviço cristão na família, construindo dia após dia um ambiente cheio de fé e amor; e, neste clima, germinaram as vocações das filhas, nomeadamente a de Santa Teresinha do Menino Jesus".

Esta canonização homenageia o casal exemplar. Um amor a viver por Louis Martin para além da morte de Zélie Martin. A cerimónia aconteceu durante o Sínodo dos Bispos sobre a família, que decorre até ao próximo dia 25, e no Dia Mundial das Missões, de que Santa Teresa do Menino Jesus é padroeira.

Teresa do Menino Jesus com o pai

Excertos da monografia de Teresa Ferrer Passos intitulada
Santa Teresa do Menino Jesus e a Força dos seus Pequenos Caminhos,
Edições Carmelo, 2013, pp. 51, 67 e 72:

«Atormentada pela doença, a procura das memórias maravilhosas da sua infância, acentua-se. Escrevia no poema "O Cântico de Celina" datado de 1895: "Oh como eu amo a recordação / Dos dias abençoados da minha infância" (Santa Teresa do Menino Jesus, Obras Completas, p.710). (...)»

«O olhar, a voz, o perdão, e, finalmente, o repouso, a decorrer de tanto ter sido amado [Jesus] na fidelidade e na confiança de Teresa. Eis o amor esponsal a atingir a sacralidade, a chegar ao Céu, a subir com os braços de Jesus às moradas divinas. Este amor superior que Teresa vive na mais mística e na mais pura das paixões pode encontrar os seus fundamentos no próprio casal Martin − essa mãe carinhosa e tão cedo morta, e, esse pai bom, sempre a condescender e sempre sofredor até à prolongada doença que o conduziria à morte.(...)»

«A memória dos anos que se seguiram à morte da mãe tinham ainda viva a comunhão carnal com a mater originalis, essa mãe que numa das suas cartas datada de 4 de Março de 1877, não pára de falar daquela filhinha de respostas inteligentes e com "um olhar" em que lhe notava "qualquer coisa de celestial" que "a encantava" (Obras Completas, p.86). Ao lado das irmãs, estava a figura amada do pai que constitui, também ele, mais um resquício da memória da mãe. Mas, a afectividade inexcedível do pai com Teresa, "a sua rainhazinha" avivava sempre a imagem da maternal imagem presente na senhora Zélia Martin.(...)»

terça-feira, 28 de julho de 2015

A nova Paixão de Cristo


A Paixão de Cristo oferecida ao Papa Francisco, uma escultura segundo a interpretação paradoxal de Evo Morales, Chefe de Estado da Bolívia. A cruz, símbolo de tortura, há dois mil anos, foi substituída pela foice-e-martelo, símbolo de torturas infligidas em regimes comunistas do século XX. O insulto de identificar Cristo, que pregou o espírito e o amor, com uma ideologia que prega o amor à matéria.

2 de Julho de 2015

Fernando Henrique de Passos



quarta-feira, 15 de julho de 2015

Harmonia na paz



«Muitas pessoas experimentam um desequilíbrio profundo, que as impele a fazer as coisas a toda a velocidade para se sentirem ocupadas, numa pressa constante que, por sua vez, as leva a atropelar tudo o que têm ao seu redor. Isto tem incidência no modo como se trata o ambiente. Uma ecologia integral exige que se dedique algum tempo para recuperar a harmonia serena com a criação, reflectir sobre o nosso estilo de vida e os nossos ideais, contemplar o Criador, que vive entre nós e naquilo que nos rodeia e cuja presença "não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada"».

Papa Francisco, Encíclica Laudauto Si, Parágrafo 225 (2015)

domingo, 15 de março de 2015

A pedofilia: um problema grave





«Destruir uma criatura é horrível, é horrível»

«A nova comissão criada para estas situações tem como objetivo a proteção do menor, a prevenção, e não o tratamento de cada caso»
«O problema do abuso de menores é um problema grave»
«O padre tem a obrigação de fazer crescer este menino, esta menina, na santidade, no encontro com Jesus. E o que faz é destruir o encontro com Jesus»
«Os abusadores são “antropófagos” que destruíram os menores.»
                                                         Papa Francisco (excertos de uma entrevista no dia do 2º aniversário da sua eleição, a 13 de Março de 2015)

segunda-feira, 9 de março de 2015

A humildade de Deus

Papa Francisco na Capela de Santa Marta
(ao lado a imagem da Virgem e do Menino)

«O estilo do bom Deus não é dar show: Deus atua na humildade, no silêncio, nas coisas pequenas. (...) é possível observar isso em toda a história da salvação, a partir da Criação, em que o Senhor não pegou “a varinha mágica”, mas criou o homem com o barro.

Quando Ele quis libertar o seu povo, libertou-o pela fé e a confiança de um homem, Moisés. Quando Ele quis fazer cair a poderosa cidade de Jericó, o fez através de uma prostituta. Também para a conversão dos samaritanos, pediu o trabalho de outra pecadora. 

Quando Ele enviou David para lutar contra Golias, parecia loucura: o pequeno David diante do gigante, que tinha uma espada, tinha muitas coisas, e David apenas uma funda e pedras. Quando disse aos magos, que tinha nascido o Rei, o Grande Rei, o que eles encontram? Uma criança, uma manjedoura. As coisas simples, a humildade de Deus, este é o estilo divino, jamais um show.» 

                             Papa Francisco (Missa de 9 de Março de 2015 na Capela de Santa Marta)

quinta-feira, 5 de março de 2015

Padre António Vieira para o Papa Francisco



Uma delegação da Universidade de Lisboa ofereceu ontem a Obra Completa do Padre Jesuíta António Vieira aproveitando a ocasião do aniversário, no próximo dia 13 de Março, da eleição de Mario Bergoglio para Papa com o nome de Francisco. 
«Quatro séculos antes, Vieira criticou a inveja e a corrupção, como grandes males do mundo. No sermão de Santo Santo António aos Peixes - cujo título os portugueses tão bem conhecem - Vieira denunciou a corrupção, "os protocolos feudais que aprisionavam as nossas instituições, contrapondo que a verdadeira fidalguia está na ação; criticava a desvalorização que é feita em Portugal dos seus talentos e dos seus valores, sendo mais fácil quem nasce nesta terra encontrar reconhecimento e valorização no estrangeiro; acusava a mesquinhez e a maledicência sistemática que dificulta e desestimula quem empreende e faz o que deve ser feito". Este sermão foi pregado no Brasil, em São Luís do Maranhão em 1654.»





sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A força do Espírito Santo


«Podes fazer mil cursos de catequese, mil cursos de espiritualidade, mil cursos de ioga, zen e todas essas coisas. Mas tudo isso nunca será capaz de te dar a liberdade de filho (...)».
«Só o Espírito Santo é que move o teu coração para dizer “Pai”. Só o Espírito Santo é capaz de saciar, de romper esta dureza de coração», tornando um coração doente num coração «dócil» a Deus e «à liberdade do amor»
       Vaticano, 9 de Janeiro de 2015
Papa Francisco

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

NATAL 2014

O TEMPO DO NATAL 



NASCEU-NOS UM SALVADOR,

JESUS






«E Jesus vem, não como um capitão, um general do exército, um governante poderoso, não, não; vem como um rebento», «humilde» e «manso» para «os humildes, para os mansos», trazendo a salvação «aos doentes, aos pobres, aos oprimidos».
«A grandeza do mistério de Deus» conhece-se unicamente na identidade de Jesus, que é a do «abaixamento, da aniquilação, da humilhação».
                    Papa Francisco (excerto da Homilia na Missa de 2/12/2014)








MENINO DO NATAL


Pintura de Rafael (1483-1520)
Menino do Natal ‒
Deus feito bater de coração,
Ternura em busca de um bafo de animal
Na neve da nossa tradição.

Menino do Natal ‒
Vindo de tão longe, vindo do Além,
Deus sem pompa, até sem enxoval,
Amor que se abandona num amor de mãe.

Menino do Natal ‒
Bem indefeso, esplendor da inocência,
Que vem propor aos seguidores do Mal
Que se deixem amar sem resistência.


21 de Dezembro de 2014

                                    Fernando Henrique de Passos




DA IMACULADA CONCEIÇÃO


( convoco, para a Madre, o Arcano e Arcaico da Estética Estrela )

de todo o coração, ao António de Macedo

I

Prà fome e sede da Via,
Prà Lusitânia, de Luz,
Existe um nome: Maria,
E o «Jovis Pater»: Jesus.

Prà sede e fome amorosa,
Que é festa e fogo, na Fé,
Existe a Rota, que é Rosa,
E o Valentin André.

II

Vede a mente e a mensagem,
O pentáculo, flamante,
Pentagrama, na viagem,
E Mercúrio, já diante.

No templar eu vejo o Canto,
Muita Luz, em toda a chuva:
É o Espírito e o Santo,
São os Filhos da Viúva.

Pois na verve e na divina, 
Na Comédia, que é fiel,
Vede a Cruz, e a matina:
São as Rosas d' Isabel.

Queluz, 03/ 12 / 2014

MISERANDO ATQUE ELIGENDO


                                           PAULO JORGE BRITO E ABREU







DIA DA IMACULADA CONCEIÇÃO



«Faz com que em nós, teus filhos, a graça prevaleça sobre o orgulho e possamos tornar-nos misericordiosos, como é misericordioso o nosso Pai celeste. Neste tempo que nos conduz à festa do Natal de Jesus, ensina-nos a andar contracorrente: a despojarmo-nos, a abraçarmo-nos, darmo-nos, a escutar, a fazer silêncio, a descentrarmo-nos de nós mesmos, para deixar espaço à beleza de Deus, fonte da verdadeira alegria. Ó Maria nossa Imaculada, ora por nós!»

           Oração do Papa Francisco (diante da imagem da Imaculada Conceição na Praça de Espanha em Roma, no dia 8 de Dezembro de 2014)






O NATAL E A ÁRVORE DA VIDA




Era adolescente, quando me emprestaram um livro que contava a história da árvore de Natal. Existirão muitas versões, pois trata-se de tema avançado no imaginário popular. A que li referia-se simplesmente à iniciativa de uma família que em busca de algum ornamento para a sala de visitas saiu, neve afora, comovendo-se especialmente de um pinheirinho sobrevivente do rigoroso inverno e ainda mais lindo depois de acomodado no aconchego doméstico e acercado pelas embalagens coloridas dos presentes a serem trocados na noite do nascimento do menino Jesus.

Tão radiante ficou o arvoredo, que os vizinhos imitaram o gesto e, no Natal seguinte, já eram muitas as famílias que iniciaram a tradição, hoje, desgarrada de sua simplicidade original e transformada no luxo e na grandiosidade vistos todo ano nos shoppings do mundo inteiro, ostentação por vezes objeto de concursos promovidos por associações para distinguir as melhores decorações do comércio no contexto das “Boas Festas" e do Ano Novo.

Existiriam, no entanto, razões afetivas profundas para esse gosto que veio a constituir prática quase indispensável: nos lares, nos templos, nas instituições, no comércio e onde quer que se queira marcar uma ambientação natalina, rivalizando apenas com os não menos populares presépios. Ou seja, algo não entra para o imaginário coletivo e para duas de suas fortes marcas – diferença e repetição –, se não reunir elementos enraizadores cuja explicação recorre a fundamentos da Psicologia Social.

E foi justamente nas lides com a literatura acadêmica que vim a estabelecer uma correlação entre a força primordial da “árvore da vida”, uma das mais antigas manifestações arquetípicas da produção humana de símbolos, e este patrimônio imagético e fantástico que é a ‘nossa’ tão estimada árvore de Natal. Da tradição ainda mais antiga, originária, ao que tudo indica, da cultura indo-europeia, a principal característica – que deslizou para a heráldica e seus brasonários –, é a concorrência de elementos laterais para a homenagem de um terceiro, este, ao centro e ao alto. Exemplo típico, dois pombinhos, face a face, cujos bicos se tocam e cujos contornos formam um coração. A própria estrutura do caduceu comporta toda uma variedade de enlaces que adornam um cetro. Vejamos, no entanto, se o mesmo não acontece com a ‘nossa’ arvorezinha.

Ainda que se assemelhe a um triângulo, com a base para baixo, os dois lados da árvore de Natal convergem para o alto e, comumente, para uma estrela ao centro, homóloga à estrela dos Reis Magos. Triângulo, estrela, esferas e luzes combinam-se em tesouro ornamental, que tanto marca em diferença (em contraste com todas as outras árvores, ela é uma árvore sagrada) e em repetição: a eterna novidade, ao mesmo tempo antiga e renovada, simbolizando a vida, que também se renova, em gerações, significado e esperanças.


Luiz Martins da Silva*


* Luiz Martins da Silva, 64 anos, é poeta, jornalista e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, Brasil (UnB).







O CHORO DO MENINO JESUS



Apenas com oito dias,
lá estava Jesus, nos braços de sua Mãe.
Ao entrar no Templo, olhou, curioso, em redor.
Que pedras altas, altas...
Que pareciam elas, assim? Apenas, que estavam ali? 
Ou escondiam alguma coisa?
E o Menino Jesus intrigado, pareceu-lhe ouvir dizer:
Há pouco tempo aqui esteve, como tu, outro menino.
Outro menino?! Outro menino igual a mim?
Não bem igual, é verdade, responderam...
O seu nome, digam-me, que pode ser que eu conheça!
João, João foi o que ouvimos...
Ah, gritou Jesus, já sei quem é.
Nasceu para preparar os meus caminhos,
esses caminhos com que quero romper os difíceis desertos...
E o que são esses desertos, que desconhecemos,
perguntaram as pedras. 
São espaços cheios de gente que não o seguiu...
Ah, disseram as pedras, em uníssono,
mas a vós, Menino, a vós seguiram!
O  Menino começou a chorar.
Porque choras, Menino, perguntaram, aflitas.
É que a mim também não...


16 de Dezembro de 2014

Teresa Ferrer Passos









MATERNIDADE-NATAL



(convoco, para a Musa minha, o Arcano, o Arcaico do Sol)

de todo o coração, ao meu Irmão Luís André

I

Era chave, e Shambhala,
Era a flama, e o flogisto,
Ave e Eva, saravá,
E o coração de Cristo.

Pois do Homem filho e Frei,
Tu imanas Madalena,
Paulo Apóstolo e a Lei,
E a Torah, Sophia amena.

Velo d'Ouro, em parabém,
És o Canto e a Saudade,
Dás-me o Belo e dás Belém,
Dás-me a santa Liberdade.

II

Que és o carme e a Camena,
És o Tau e és actriz,
Nazarita, Nazarena,
Integral Imperatriz.

Pois ao longe, a Lisa lia
Salva, salsa e a camélia,
E olhei: era Maria,
Minha Mãe Maria Amélia...........

EPÍLOGO

São belos sobre as colinas os pés do Deus Menino; em Natal, acordo-acorde, Ele anuncia a Boa Nova. Não já espada, sim a foice. Não já lança, mas arado: Paz na terra, pão na boca, são meladas e ternas as armas da Paz...........


Queluz, 19/ 12/ 2014

MISERANDO ATQUE ELIGENDO


Paulo Jorge Brito e Abreu






A TERNURA DE DEUS



«O "sinal" é a humildade de Deus levada ao extremo; é o amor com que Ele, naquela noite, assumiu a nossa fragilidade, o nosso sofrimento, as nossas angústias, os nossos desejos e as nossas limitações. A mensagem que todos esperavam, que todos procuravam nas profundezas da própria alma, mais não era que a ternura de Deus: Deus que nos fixa com olhos cheios de afeto, que aceita a nossa miséria, Deus enamorado da nossa pequenez.»


Papa Francisco
(excerto da Homilia da Missa da Noite de Natal)

Após a belíssima Homilia do Papa Francisco, ouviu-se um excerto da Missa Solene em Dó Menor de Mozart (composta entre 1781 e 1782, em Viena, resultou de uma promessa pela cura da futura esposa Constanze. O trecho "Et incarnatus est" remete para o Prólogo do Evangelho segundo S. João: «O Verbo fez-se carne e habitou entre nós».


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Matrimónio em crise


«No nosso tempo, o matrimónio e a família estão em crise. Vivemos numa cultura do provisório, em que cada vez mais pessoas renunciam ao matrimónio como compromisso público.

Esta revolução nos costumes e na moral tem muitas vezes desfraldado a “bandeira da liberdade”, mas na realidade levou devastação espiritual e material a inúmeros seres humanos, especialmente aos mais vulneráveis.

É cada vez mais evidente que o declínio da cultura do matrimónio está associado a um aumento de pobreza e a uma série de numerosos outros problemas sociais que atingem em medida desproporcional as mulheres, as crianças e os idosos. E são sempre eles a sofrer mais, nesta crise.»

                        Discurso do Papa Francisco (excerto) na Audiência aos participantes no Seminário Internacional sobre “A complementaridade entre homens e mulheres” (17-19 de Novembro de 2014)

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Deus vai até ao fundo...



«Deus não se detém, Deus não vai até a um certo ponto, Deus vai até ao fundo, ao limite»

«O verdadeiro pastor, o verdadeiro cristão (…) não tem medo. Vai para onde deve ir. Arrisca a sua vida, arrisca a sua fama, arrisca perder a sua comodidade, o seu estatuto» 

«É muito fácil condenar os outros, como faziam os escribas e fariseus, é muito fácil, mas não é cristão. Não é de filhos de Deus.»
Papa Francisco
(Excertos da Homilia de 6/11/2014)

domingo, 19 de outubro de 2014

A caminho do perdão


Jesus em recolhimento
O mais importante nesta homilia (Missa da Beatificação de Paulo VI) do Papa Francisco é a ética que está subentendida no seu pensamento: a missão de evangelizar oferece a possibilidade do arrependimento e com ele a do perdão para o pecador se salvar e obter a grande recompensa. "Arrependei-vos", avisava S. João Batista. E Jesus: "Ide, fazei discípulos entre todos os povos". A salvação dos pecadores é a meta. A propósito, escreveu Joseph Ratzinger: "A dinâmica da missão não se pode traduzir na fórmula: Ide pelo mundo e tornai-vos também mundo e confirmai-o na sua profanidade! O contrário é que é verdadeiro. O «grão de mostarda» do Evangelho não se identifica com o mundo, mas destina-se a fazer fermentar todo o mundo" (in "O Caminho Pascal", 2000, pp. 162-163).

Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Perante uma comunidade cristã?


Papa Francisco

«A divisão é um dos pecados mais graves numa comunidade cristã, porque a torna sinal, não da obra de Deus, mas da obra do diabo»
«O diabo é aquele que separa, destrói as relações, semeia preconceitos».
«Deus quer que cresçamos na capacidade de nos acolhermos, perdoarmos e amarmos, para nos parecermos cada vez mais com Ele que é comunhão e amor».
Audiência na Praça de S. Pedro em 26 de Agosto de 2014
                                                                            Papa Francisco


***

Breve reflexão

       Nunca é demais o Papa Francisco voltar ao tema do mal no mundo e, particularmente, ao mal espalhado nas próprias comunidades cristãs.

     Jorge Bergoglio sabe que há cristãos que se afrontam, como se não pertencessem a uma fraternidade. Que se denunciam, como se fosse necessária a denúncia para sobreviverem. Que entram em conflitos movidos pela inveja, pelo medo de serem ultrapassados.

       O Papa fala com a clareza que reveste a dor. Ele sabe que o diabo não está à porta. O diabo está dentro dos corações. O diabo habita bem dentro de uma comunidade cristã que, de acordo com a letra, é fiel a Jesus Cristo, mas não o é, de acordo com o espírito.
27/8/2014 
                                                                     Teresa Ferrer Passos