quinta-feira, 27 de junho de 2013

Maria José Nogueira Pinto – Uma Vida Invulgar


Foi ontem lançada no Museu de S. Roque uma monografia histórica sobre Maria José Nogueira Pinto, antiga Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, deputada pelo CDS e, mais recentemente, como independente, nas listas do PSD. A obra, de carácter biográfico, foi construída por Maria João da Câmara, através de depoimentos de colaboradores, amigos e de sua família de que destacamos seu dedicado marido Jaime Nogueira Pinto, escritor e político.
A obra foi apresentado por Manuela Ferreira Leite que elogiou “a forma e o ritmo” da autora. Referindo-se a Maria José Nogueira Pinto recordou a sua “capacidade de analisar problemas e de nunca desistir”.
 O Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Pedro Santana Lopes, salientou a grande força anímica de Maria José Nogueira Pinto, a quem a ex-ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite caracterizaria deste modo singelo: "Experimentem ser como ela".

27 de Junho de 2013
 Teresa Ferrer Passos



sábado, 22 de junho de 2013

Por Ocasião dos 100 Dias do Pontificado de Francisco


ACERCA do DIREITO de RECEBER o BATISMO 

Papa Francisco na Capela da Casa de Santa Marta 


     «Pensai numa mãe solteira que vai à Igreja, à paróquia e diz ao secretário: Quero batizar o meu menino. E quem a acolhe diz-lhe: Não tu não podes porque não estás casada. Atentemos que esta mãe que teve a coragem de continuar com uma gravidez o que é que encontra? Uma porta fechada. Isto não é zelo! Afasta as pessoas do Senhor! Não abre as portas! E assim quando nós seguimos este caminho e esta atitude, não estamos fazendo o bem às pessoas, ao Povo de Deus. Jesus instituiu 7 sacramentos e nós com esta atitude instituímos o oitavo: o sacramento da alfândega pastoral. (...) Quem se aproxima da Igreja deve encontrar portas abertas e não fiscais da fé!»

Missa em 25/5/2013                                                                                   
                                                                    Papa Francisco



     Nem todos os padres se comportam com essa atitude de fazer os filhos pagarem pelos actos dos pais. Contudo, é bom que o Papa Francisco lembre estes casos que não obedecem a uma norma da Igreja, mas continuam a depender do critério de cada Padre de Paróquia. É urgente que a atitude de intransigência (de responsabilidade pessoal) deixe de ser possível. As palavras do Papa Francisco são bem reveladoras do que um padre deve fazer em relação a uma mãe solteira que deseja batizar o seu filho(a).

                                                    22/6/2013

                                                                                               Teresa Ferrer Passos

O laboratório no deserto



A boca ressequida da loucura.
A pele gretada.
Um olhar quebradiço
De capa de revista abandonada
Quebra o feitiço
Que mantinha em suspenso a madrugada.

Lucubrações.
A luz castanha de uma vela.
Paredes cobertas de escaninhos
Guardam a razão negramarela
Da noite enovelada em torvelinhos
Transformando em óleo a aguarela.

O laboratório no deserto.
As moscas de metal.
O espaço totalmente desconexo
Do rodapé de um manual
Reflecte perplexo
Os fulgores de um ocaso matinal.

O riso solto e sem medida.
O alambique.
A luz é destilada gota a gota
E o sol a pique
Viola a madrugada desgrenhada e rota
E espera que o sangue o purifique.

A cadência exacta do metrónomo.
O pó de areia.
O pensamento desdobrável do deserto
Converte o meio-dia em lua cheia
E dissolve o contorno quadricular e certo
De cada nova ideia.


21/6/2013

Fernando Henrique de Passos

terça-feira, 18 de junho de 2013

Amor celeste



(invoco, para o mar, o Arcano da Estrela)

Em Númen´s multicores, em nobreza,
Marinela de plantas se vestia,
E as Graças, os Cupidos, a magia,
Nos seus cabelos eram a lindeza.

Mansíssima oração, alada deusa,
Coa Lua vens silente em Poesia.
Bendita sejas tu, bendito o dia
Em que o Vate a ti veio com pureza.

Em ti bailam as flores da floresta,
Em ti cessa o meu mal por que eu me afoite.
Bendita sejas tu, ó meiga mesta,

Bendito seja o ventre em que me acoite.
Maria, Mãe das flores, vem qual Vesta,
Maria, Mãe dos astros e da Noite.

Lisboa, 10/ 01/ 1991

AMOR MAGISTER EST OPTIMUS

                                                 PAULO JORGE BRITO E ABREU

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Academia de Estudos Misericordianos



"O Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) aprovou recentemente a criação da Academia de Estudos Misericordianos. Por iniciativa e proposta de Manuel Ferreira da Silva, fundador do jornal Voz das Misericórdias, a Academia pretende ser um fórum de estudo e reflexão sobre as Misericórdias e todas as dinâmicas que as envolvem e caraterizam." 
                              Jornal Voz das Misericórdias, Maio de 2013

sábado, 15 de junho de 2013

À Bout de Souffle



Um salto no espaço aberto no livro
Nas ondas no rio no meio das casas
Os prédios de letras desfazem-se em números
Os símbolos vagos são gotas de chuva
O vento é vertigem ruína de ideias
Conceitos castelos que se desmoronam
A lava das ruas sobe à superfície
A água fervilha e desfolha páginas
Um arranha-céus faz de secretária
A luz de um relâmpago faz de candeeiro
Um salto no espaço no buraco negro
Futuro nas frases nas linhas quebradas
No papel molhado na caneta húmida
Nos cálculos lúbricos e nos teoremas
E na enxurrada de premissas falsas
O vento na cara o livro de rojo
A racha no muro a mesa entornada
Há teses hipóteses planos imperfeitos
Torrente de símbolos dilúvio de ideias
Letras a boiar números desbotados
Sucessão de casas ondas a ruir
Um salto no espaço aberto no cérebro
No círculo certo no centro do mundo
E no convergir de todos os arcos
Arquejar dos astros tempestade cósmica
Golfada de vento espasmo universal
Um salto no centro da falta de fôlego
De um deus quase à beira de criar alguém
E que pára à espera de ouvir o silêncio
No fundo do vento no fundo da chuva
Para lá da lama em fechando o livro
Mas o livro ri-se
Grossas gargalhadas bátegas de riso
Bailam sobre as águas comandam o vento
Saltam no vazio no espaço deixado
Pela falta de ar do sopro de Deus
Preso ao turbilhão da ideia de ser
E do movimento a que deu início
E não quer parar não sabe parar
Não pode parar
Enquanto houver letras enquanto houver livro
E o livro for lei


14/6/2013
                                Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 13 de junho de 2013

No Aniversário Natalício de Fernando Pessoa


               «Acima da verdade estão os deuses.
                A nossa ciência é uma falhada cópia
                Da certeza com que eles
                Sabem que há o Universo.

                Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,
                Não pertence à ciência conhecê-los,
                Mas adorar devemos
                Seus vultos como às flores,

                Porque visíveis à nossa alta vista,
                São tão reais como reais as flores
                E no seu calmo Olimpo
                São outra Natureza.»*

                                     * De uma Ode de Ricardo Reis

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Santo António e o povo de Lisboa

«Durante a sua vida, não há notícia de que S. António tivesse feito milagres. Mas, depois de morrer, porque a dor, a carência do seu afecto pretendem algo que o continue, a fé nasce no coração daqueles que dantes só o admiravam ou o amavam demasiado humanamente.»



«Mas quando S. António morreu, de repente, tudo se modificou. É então que ele é revelado aos seus contemporâneos, é revelado no vazio que ele lhes deixa.»


«É então que o espanto domina essa multidão até aí tão segura num amor que era quase obstáculo da fé.»


«Então ela compreendeu que é a fé que readmite a grandeza do amor, que lhe dá vida, que tem o poder de conter os vivos na perpétua união com a vida. E foi quando os milagres começaram.»*


* Excertos do livro Santo António de Agustina Bessa Luís, pp. 229-230.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Psicanálise sideral



Um sono pesado do lado estranho da montanha
De pé no estrado por cima do rio
Na mão o machado sobre a lenha
O fio da lâmina metalizando o frio

O peso do castelo no ângulo azul do horizonte
A massa de argila lodosa ao pé do barro
A água suspensa do escorregar da fonte
O caminho estreito do burro atrás do carro

A taça que cintila no estalar da luz no arvoredo
O delírio do ídolo das fadas no terraço:
Varandas penduradas sobre os mundos imensos do segredo:
Terror nocturno da solidão do espaço


10/6/2013

Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Uma psico-biografia de Santa Teresa do Menino Jesus

Edições Carmelo acabam de publicar uma obra
 sobre Santa Teresa do Menino Jesus


«Se a paz habitar o nosso espírito, abre-se a porta para o caminho da perfeição. Porque onde habita o Amor, aí vive a paz.»

«E a paz surge em quem sabe "dar" o Amor, da mesma maneira que o sabe "receber".»

«A paz que começa no nosso coração transmite-se aos outros corações. A paz é o fim último do "viver de Amor"»

        Teresa Ferrer Passos «Poética do Sofrimento e do Amor em Santa Teresa de Lisieux» in revista Faces de Eva, nº16, 2006, p.59.

sábado, 1 de junho de 2013

No Dia Mundial da Criança - Pequena Homenagem

Nuvem Pequenina de Céu

      No átrio de uma escola, onde não se lembrava de alguma vez ter entrado, Beatriz viu um letreiro que dizia: «Nuvem pequenina de céu». Ficou pasmada. Nem queria acreditar. Como podia estar a ver ali um recreio de uma escola?! Correra tão depressa e chegara, sem dar por nada, àquele lugar?! Só tinha a certeza de não querer encontrar qualquer outra escola.

      Afinal, ali havia também uma escola?! Como, estando tão distante da sua escola, entrara numa escola que lhe parecia a mesma? Ela, que fugira de uma escola por não gostar de lá estar, que penetrara num mundo livre de maldade e logo entrava, de novo, numa escola? «Só pode ser igual à outra!», gritou desesperada. As escolas não eram todas iguais? Se todas eram escolas, todas deviam ser iguais, pensava com uma grande desilusão a percorrer todo o seu corpo encharcado pela água gelada do rio, mas cheio de uma nova esperança.

      A sua cabecinha, estonteada por uma fuga tão vertiginosamente rápida, sentia-se demasiado confusa e estranha. Ali, naquela escola via tantos meninos e meninas correndo, jogando, rindo. Mas como fora ali parar?! Quem a empurrara para aquele lugar que só lhe trazia terríveis lembranças de um tempo horrível e tão próximo? Precisamente, o lugar que ela tanto desejara esquecer para sempre, aparecia-lhe, inesperadamente, no fim do mundo?!

      De súbito, Beatriz pensou que talvez se tivesse enganado na direcção que tomara. Tal a sua precipitação na fuga, tal o desejo de não voltar à escola… Devia ter seguido por um caminho errado… Mas, como se enganara?! Haveria mais do que um caminho? E ela que julgava só haver um destino por aquele rumo…

      Restava-lhe fugir de novo, sair dali. Mas como fazê-lo? Não via uma porta, nem um portão, não via uma rua, nem uma estrada. Estava dentro de um recinto aberto e, na verdade, completamente fechado. Naquele lugar, onde todos pareciam brincar divertidamente, também não descobria uma janela, sequer uma estreita fresta. Onde chegara, afinal?! O ambiente tão natural numa escola parecia-lhe idêntico ao da escola tenebrosa donde fugira. Encontrava-se numa escola, era iniludível. Ora, isto só poderia ser o começo de um novo suplício…

      Agora que escolhera a liberdade de ser outra criança, a liberdade de ter o seu próprio destino, acabava de entrar ainda, outra vez, numa escola?! Quanto tempo desejara ver-se livre daquele recreio onde os meninos da sua turma lhe batiam todos os dias, como se ela estivesse ali a mais, estivesse ali sem dever, como se ela fosse um empecilho, um estorvo ou um bocadinho de lixo abominável. E, depois da fuga salvadora, caíra numa armadilha… Tinha a certeza. Entrara de novo numa escola!

     Sem ela ter tido tempo de procurar uma eventual saída, duas meninas e um menino saíram do grupo em que brincavam e, olhando-a, disseram em uníssono: «Anda Beatriz, vem brincar connosco». Estupefacta ante o simpático convite, respondeu toda a tremer: «Brincar com vocês? Vocês não são como os outros?!». «Vem, não tenhas medo. Somos teus amigos». «Meus amigos, como?», interrogou Beatriz, sem acreditar na sinceridade das suas palavras.

     «Aqui, numa pequenina nuvem de céu, todos são amigos e, por isso, ninguém fica de fora da amizade», disseram a sorrir. «Mas eu devo ficar como sempre fiquei! Sempre fui vista na escola como um verme, um verme repelente…», insistiu Beatriz, sem acreditar no que lhe diziam. Seria um embuste para a apanharem? Iria cair numa nova armadilha? Ou, pelo contrário, estavam a dizer-lhe a verdade?! Mas como podia Beatriz acreditar?!

     Ao verem-na sem responder e com as faces incendiadas de medo, já nem conseguiam sorrir. Como a tinham magoado, afinal! Depois, viram-na a esconder-se por traz de um fiozinho de água de uma das fontes daquela escola, cheia de fios de água, plantas com frutos e relvados largos com pequenos esquilos, coalas e lémures a saltitar. Todos os animais que saiam das suas tocas tinham um pelo aveludado, olhos dóceis e patinhas felpudas.

     Entretanto, Beatriz começou a divertir-se com aqueles bichinhos inesperados. E, os três meninos saídos do grupo, não resistiram a chamá-la de novo: «Tu abandonaste o tempo da inimizade, rejeitaste o tempo da cólera, tu tiveste a coragem de escolher o tempo da harmonia e o tempo da paz. Aqui, encontras esse tempo em que nunca chegaste a viver. Nesta escola serás tratado por irmã». «Escolhi o único tempo em que eu podia viver, o tempo da amizade», respondeu Beatriz, já confiante e com um sorriso nos lábios.

     Naqueles momentos, a pequena Beatriz começou a sentir que podia haver escolas com meninos bem diferentes daqueles que estavam na escola donde fugira. Afinal, havia escolas com meninos amigos uns dos outros, sem marginalizados, sem os «fora do grupo», sem martirizados, só porque eram cheios de mansidão. Naquela escola, que estava numa pequenina nuvem do céu, não havia que ter medo de ficar lá, sempre a aprender novas coisas.

     Agora, Beatriz não pensava mais em fugir. Naquela escola, a amizade apagava a mais pequena sombra de violência. Ali, não havia meninos a provocarem sofrimento aos que tinham só afecto no coração. Neste lugar, em que tudo era movido pelo sentimento da fraternidade, Beatriz queria ficar, sem relutância, sem qualquer susto. Aqui, até poderia ter encontrado um lugar para sempre, mesmo sendo, e ainda sendo, um lugar chamado escola.*

Teresa Ferrer Passos

*Conto inédito

terça-feira, 28 de maio de 2013

Um poema de Mia Couto



Identidade

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Mia Couto*, Raiz de Orvalho e Outros Poemas
(1ª edição em Moçambique em 1983).


*Mia Couto (nome literário) nasceu, em 1955, em Moçambique. Filho de pais portugueses, acaba de ser galardoado com o Prémio Literário Camões, o mais importante da criação literária da língua portuguesa. A sua obra romanesca foi “muito valorizada pela criação e inovação verbal, mas tem tido uma cada vez maior solidez na estrutura narrativa e capacidade de transportar para a escrita a oralidade”.



quinta-feira, 23 de maio de 2013

Os Espelhos do Amor





“A vida me ensinou que as pessoas são amigáveis​​, se eu sou

amável, que as pessoas são tristes, se estou triste,

que todos me querem, se eu os quero,

que todos são ruins, se eu os odeio,

que há rostos sorridentes, se eu lhes sorrio,

que há faces amargas, se eu sou amargo,

que o mundo está feliz, se eu estou feliz,

que as pessoas ficam com raiva quando eu estou com raiva,


que as pessoas são gratas, se eu sou grato.

A vida é como um espelho: se você sorri para o espelho,

ele sorri de volta. A atitude que eu tome perante a vida é a

mesma que a vida vai tomar perante mim.”

                                Mahatma Gandhi (1869-1948)
*

* Esta reflexão foi extraída do Blogue «Carvão em Fundo Branco»

quarta-feira, 22 de maio de 2013

As Misericórdias, a Lei e o Voluntariado

Rainha D. Leonor
(Fundadora das Misericórdias em 1498)

A Lei de Bases da Economia Social aprovada, por unanimidade, na Assembleia da República, em 15 de Março de 2013, "estabelece as bases gerais do regime jurídico da economia social", "confere às Misericórdias o destaque que merecem no sector, autonomizando-as no elenco das entidades que integram a economia social". 
Jorge Gaspar 

"Num período de profunda crise, com uma economia anémica e com fortes sinais de depressão, o setor social tem de ser capaz de se renovar, de alterar hábitos de trabalho e de gestão".
Paulo Moreira 

"O voluntariado não pode ser visto como uma moda, pois a moda passa e a missão tem de continuar".
Joaquim Caetano (Coordenador do Voluntariado do Montepio)

"A grande maioria dos currículos dos jovens de outros países europeus apresenta o voluntariado como experiência."
Rui Pontes (Voluntário do Montepio)

in jornal Voz das Misericórdias, Abril 2013

domingo, 19 de maio de 2013

A Propósito da Descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos



“O Espírito Santo faz-nos entrar no mistério do Deus vivo e salva-nos do perigo de uma Igreja gnóstica e de uma Igreja narcisista, fechada no seu recinto; impele-nos a abrir as portas e sair para anunciar e testemunhar a vida boa do Evangelho, para comunicar a alegria da fé, do encontro com Cristo. O Espírito Santo é a alma da missão”.

Homilia no Dia Comemorativo de Pentecostes 
Roma, 19 de Maio de 2013 

Papa Francisco

Subitamente surge. Tem o teu rosto


O paraíso terrestre é uma flor verde.
As árvores abrem-se ao meio.
O que é sucessivo perde-se.
Se o tempo modifica os seres e os objectos
eu sinto a diferença e gasto-me.
O sol é um erro de gramática, a luz da madrugada
uma folha branca à transparência da lâmpada.
Soam então os barulhos. Soam
de dentro das janelas,
de dentro das caixas fechadas há mais tempo,
de dentro das chávenas meias de café.
É tarde e és tu,
acima de tudo,
entre a manhã e as árvores,
à luz dos olhos,
à luz só do límpido olhar.

In Obra Poética (1972-1985)

                                               Nuno Júdice*

* Nuno Júdice foi galardoado no dia 16 de Maio de 2013 com o XXII Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, atribuído pelo Património Nacional espanhol e pela Universidade de Salamanca. Em 2003 o mesmo prémio foi atribuído a Sophia de Mello Breyner Andresen.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Lei para adopção de crianças por casais homossexuais?

Rita Lobo Xavier, especialista em Direito da família:
O projecto de lei aprovado esta sexta-feira no Parlamento que prevê a co-adopção por casais do mesmo sexo desvirtua a finalidade da adopção, que seria a de criar um vínculo semelhante à filiação natural”.(…) “É de uma grande violência para o instituto da adopção" ligar "uma criança à fragilidade do vínculo" entre duas pessoas "que nunca poderiam ser os progenitores naturais daquela criança".

Manuel Braga da Cruz, ex-reitor da Universidade católica:
O que hoje se passou é um passo mais na degradação moral de Portugal”.
“Lamento que o Parlamento português tenha tomado uma decisão que considero gravosa para a sociedade portuguesa. Nós estamos a assistir há um tempo a esta parte a um plano inclinado, decisão após decisão”.

Federação Portuguesa pela Vida:
O princípio da vida está necessariamente ligado à união entre um homem e uma mulher, e todos os diplomas que tenham o efeito de deturpar este dado da natureza são perniciosos e ofendem a dignidade da pessoa humana".

Padre Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa:
Independentemente do resultado das votações que hoje tiveram lugar na Assembleia da República, a Igreja reafirma, por motivos simplesmente antropológicos, que a adoção de uma criança não é um direito de qualquer pessoa adulta, solteira ou casada, heterossexual ou homossexual”.


17 de Maio de 2013 (Excertos da Comunicação Social)

Lei para adopção de crianças por casais homossexuais? *




«A vida transforma os segredos possuídos
pela sociedade em perigo como um voto de
 advertência. A realidade do mundo obstina-se
em fugir à compreensão do corpo amado»

Nuno Júdice, Obra Poética (1972-1985)


     Toda a criança tem geneticamente um pai e uma mãe. Como se pode defender que a criança seja adoptada por dois homens – dois pais –, ou por duas mulheres –  duas mães –, desde os seus primeiros anos de vida?

     Se nesta faixa etária não se pode pergunta à criança se concorda ou não com aquela adopção, nem tão pouco explicar porque vai ser inserida numa família só com dois pais, ou só com duas mães, o que se está a fazer?

     Em primeiro lugar, oferece-se uma mentira à criança, uma mentira sobre a sua origem genética, sobre a sua origem existencial. Na verdade, a criança não merece que lhe “mintam” (no sentido de omitir a verdade) sobre as suas raízes de vida, sobre os autores do seu nascimento, tão estruturantes da personalidade.

     A verdade é que toda a criança teve um pai e teve uma mãe. Não pode nascer de outro modo. Perdoará ela, um dia, a falsidade, o desrespeito pela sua verdade originária, o ponto mais alto da sua dignidade humana? E, além disso, não soçobrará a sua vida bamboleante numa personalidade desestruturada, com os emergentes conflitos quase insuperáveis no seu carácter?

     A criança é um ser frágil que necessita de ser muito amado, mas não se deve fazê-la alcançar essa finalidade, sem ter em conta a sua própria palavra. Não é legítimo usar a criança indefesa para satisfazer interesses imediatos de uma sociedade à beira de se auto-aniquilar, qual Sísifo, na busca sem travão da felicidade. 

17 de Maio de 2013

                                                                                                    
Teresa Ferrer Passos


* O  projecto de lei n.º 278/XII do PS foi aprovado na generalidade com 99 votos a favor e 94 contra, além de nove abstenções.

terça-feira, 14 de maio de 2013

A Economia Social conquista força de lei


«A criação da Lei de Bases da Economia Social vem finalmente reconhecer o mérito e o trabalho deste setor e a sua aprovação, por unanimidade, na Assembleia da República é o melhor testemunho desse reconhecimento.»

«Pela primeira vez em Portugal é reconhecido com força de lei a  especificidade e autonomia das Misericórdias.»


«Destacamos o primado da pessoa e o respeito e promoção dos valores da solidariedade, da igualdade, da não discriminação, da coesão social, da justiça e da equidade, da transparência e da subsidiariedade.»

Mariano Cabaço, Voz das Misericórdias, Abril de 2013

domingo, 12 de maio de 2013

Ascensão de Jesus ao Céu


Após uma refeição improvisada com os apóstolos, estes perguntaram entusiasmados:
“Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?”.
(Act 1, 6)




Não confirmando a interrogação, como eles julgavam, Jesus respondeu que “uma força do Espírito Santo desceria sobre eles e seriam Suas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e até aos confins do mundo”. 
(Act 1, 8)




«Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem subtraiu-O a seus olhos»
(Act 1, 9)


«E eles, depois de O terem adorado, voltaram para Jerusalém com grande alegria»
(Lc 24, 52)


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Cartografia



Não esqueças o mapa das estradas,
O carreiro na orla dos carreiros,
As latitudes perturbadas,
Os labirintos estrangeiros.

Não esqueças o carro abandonado,
A inscrição no muro do convento,
O príncipe exilado,
Os murmúrios trazidos pelo vento.

E se te levam ao tesouro as várias pistas
Mas no cofre não há mais que um pergaminho,
Não desistas:
É outro mapa – retoma o teu caminho.

9/5/2013

Fernando Henrique de Passos

domingo, 5 de maio de 2013

A Nossa Senhora do Perpétuo Socorro



Mãe querida, desde a minha juventude
A tua doce Imagem encantou-me o coração
No teu olhar eu lia a ternura
E junto de ti achava a felicidade

                 Santa Teresa do Menino Jesus




As maias


(invoco, para a Lira, o Arcano e Arcaico do Sápido Sol)

às Mães e às mulheres do meu País

Tu nas águas apareces
E apareces nas ervas,
Nos raminhos e nas preces,
Nos veados e nas cervas.

És o verde, em toda a terra,
És a Madre, em todo o ló.
A Madrinha, pela serra,
E a Senhora do Ó.

Tu soergues o somenos
Numa barca de baunilha;
Eis que vem a flor de Vénus,
Primavera, tua filha.

E quando ela são palomas
Da Maria, ou do enfeite,
As amoras são as pomas
E a Senhora dá o leite.

Tomar, Cidade Templária, 01/ 05/ 2006

IN HERBIS ET IN VERBIS

Paulo Jorge Brito e Abreu

sábado, 4 de maio de 2013

Que palavra, Senhor?


Pequeno rio à volta de Alportel
  
As palavras crescem como mapas-mundo inomináveis,
crescem como rios cheios de viscosos laços,
crescem como martírios, Senhor!
Palavras em busca de palavras, não sabem ver-Te,
mesmo aqui!
Vem, Senhor, trazei-me a delícia das Vossas palavras
que as minhas… não!
Senhor vem, depressa, em meu socorro!
Dizei-me: Onde estais,
em que simples palavra?
Giro à Vossa procura, e procuro uma só palavra Vossa
e morro porque não a escuto, ela não está aqui!
Tende piedade, Senhor!
Na poeira de tantas palavras, não há senão palavras
que não são Vossas, mas vãs...
E procuro mesmo assim a palavra, arrastando a alma já caída
como um tronco de árvore entontecido de  amor
e sem palavras de céu, de oração!                              
Pobre, como eu, sem ter nada, nem sequer uma palavra
para Vos oferecer, Senhor…

20 de Abril de 2013

                                                        Teresa Ferrer Passos