As árvores abrem-se ao meio.
O que é sucessivo perde-se.
Se o tempo modifica os seres e os objectos
eu sinto a diferença e gasto-me.
O sol é um erro de gramática, a luz da madrugada
uma folha branca à transparência da lâmpada.
Soam então os barulhos. Soam
de dentro das janelas,
de dentro das caixas fechadas há mais tempo,
de dentro das chávenas meias de café.
É tarde e és tu,
acima de tudo,
entre a manhã e as árvores,
à luz dos olhos,
à luz só do límpido olhar.
In Obra Poética (1972-1985)
Nuno Júdice*
* Nuno Júdice foi galardoado no dia 16 de Maio de 2013 com o XXII Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, atribuído pelo Património Nacional espanhol e pela Universidade de Salamanca. Em 2003 o mesmo prémio foi atribuído a Sophia de Mello Breyner Andresen.
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