sábado, 15 de junho de 2013

À Bout de Souffle



Um salto no espaço aberto no livro
Nas ondas no rio no meio das casas
Os prédios de letras desfazem-se em números
Os símbolos vagos são gotas de chuva
O vento é vertigem ruína de ideias
Conceitos castelos que se desmoronam
A lava das ruas sobe à superfície
A água fervilha e desfolha páginas
Um arranha-céus faz de secretária
A luz de um relâmpago faz de candeeiro
Um salto no espaço no buraco negro
Futuro nas frases nas linhas quebradas
No papel molhado na caneta húmida
Nos cálculos lúbricos e nos teoremas
E na enxurrada de premissas falsas
O vento na cara o livro de rojo
A racha no muro a mesa entornada
Há teses hipóteses planos imperfeitos
Torrente de símbolos dilúvio de ideias
Letras a boiar números desbotados
Sucessão de casas ondas a ruir
Um salto no espaço aberto no cérebro
No círculo certo no centro do mundo
E no convergir de todos os arcos
Arquejar dos astros tempestade cósmica
Golfada de vento espasmo universal
Um salto no centro da falta de fôlego
De um deus quase à beira de criar alguém
E que pára à espera de ouvir o silêncio
No fundo do vento no fundo da chuva
Para lá da lama em fechando o livro
Mas o livro ri-se
Grossas gargalhadas bátegas de riso
Bailam sobre as águas comandam o vento
Saltam no vazio no espaço deixado
Pela falta de ar do sopro de Deus
Preso ao turbilhão da ideia de ser
E do movimento a que deu início
E não quer parar não sabe parar
Não pode parar
Enquanto houver letras enquanto houver livro
E o livro for lei


14/6/2013
                                Fernando Henrique de Passos

Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixe aqui o seu comentário