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domingo, 17 de abril de 2016

As palavras da vida...



«Há livros que falam baixinho, há livros que falam alto. Uns teem por si o encanto, outros a fôrça. Às vezes as palavras murmuradas impressionam mais: passado tempo ainda elas acordam em nós fibras adormecidas.»

«A educação que nos dão, o melhor que há a fazer é esquecê-la. E esquece-se porque ela nada tem com a vida, é uma coisa à parte. A que adquirimos à custa de nervos, de sangue, de suor, a que se aprende na peleja, essa acompanha-nos até ao túmulo. É a verdadeira»

                   Raul Brandão OS POBRES (Com Carta-Prefácio de Guerra Junqueiro), 3ª edição, Livraria Chardron, Porto, 1925, p.101 e 161.

sábado, 27 de julho de 2013

Um Caminho no Meio dos Caminhos



Deve haver um caminho entre as palavras,
Entre as palavras, as coisas, as pessoas:
A maneira certa de existir.
Um caminho em que se deixe de pensar
Na maneira certa de existir
E se caminhe entre os caminhos
Sem pisar nenhum:
Deve haver um caminho no meio dos caminhos.
Um caminho que não conduza a mais lugares
Pois não será preciso
E todos os lugares serão presentes.
Um caminho onde só estar
Seja o mesmo que percorrer todo o caminho.
E todas as metas virem ter connosco.
Um caminho em que olhar seja chegar
E em que todo o esforço para alcançar esse caminho
Seja tão só o esforço de deixar de fazer esforço.
Porque já estamos lá – resta sabê-lo.


27/7/2013

(Poema inédito)
                                Fernando Henrique de Passos

sábado, 4 de maio de 2013

Que palavra, Senhor?


Pequeno rio à volta de Alportel
  
As palavras crescem como mapas-mundo inomináveis,
crescem como rios cheios de viscosos laços,
crescem como martírios, Senhor!
Palavras em busca de palavras, não sabem ver-Te,
mesmo aqui!
Vem, Senhor, trazei-me a delícia das Vossas palavras
que as minhas… não!
Senhor vem, depressa, em meu socorro!
Dizei-me: Onde estais,
em que simples palavra?
Giro à Vossa procura, e procuro uma só palavra Vossa
e morro porque não a escuto, ela não está aqui!
Tende piedade, Senhor!
Na poeira de tantas palavras, não há senão palavras
que não são Vossas, mas vãs...
E procuro mesmo assim a palavra, arrastando a alma já caída
como um tronco de árvore entontecido de  amor
e sem palavras de céu, de oração!                              
Pobre, como eu, sem ter nada, nem sequer uma palavra
para Vos oferecer, Senhor…

20 de Abril de 2013

                                                        Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Para lá do espaço das palavras














Quase impossível

O som das palavras caindo uma após outra
Na superfície do lago subterrâneo
Gotas opacas
Calcário de palácios pré-humanos
Pré-história das amibas

Sei o caminho
Ao menos isso sei

Atravessar a maldição dos ecos
A luz fantasmagórica
As sombras nas paredes

Ao menos isso sei

Descer à pré-história das estrelas
Reflexos perdidos entre grutas
Milenar chão sedimentado
Pó de calcário
Pegadas de astronautas do passado

Ao menos isso sei

Conter o ímpeto de rasgar o espaço
Descer ainda
Procurar o centro da manhã
No reino onde o sol nunca nasceu
Palácios do tempo das fadas e dos reis
Gotas de calcário nas vidraças
O lençol de água sob a terra

Ao menos isso sei

Mergulhar
Nadar até ao fundo
Até à sombra dos reflexos
Centro da névoa naufragada

Voltar à tona d’água

Isso sei – daí para a frente não sei nada

20/4/2013

Fernando Henrique de Passos

domingo, 30 de dezembro de 2012

Pergunta



Paro à entrada da pergunta
Caverna tão vazia que a custo tem paredes
Povoada de palavras errantes no seu erro
Tão vazias como a própria caverna que as alberga
Cada uma contendo apenas mais palavras
Soltas ocas e distantes

Desolação
Sonho de respostas sob a forma
De grandes galerias resguardadas
Forradas do musgo de redes de palavras
Se houvesse palavras com sentido

Paro à entrada da pergunta
E todo o frio do universo me congela os lábios
E as galáxias são cemitérios de frases e cristais

Bastava entrar lá dentro
Atravessar a atmosfera rarefeita
Escutar os ecos das estrelas

Paro à entrada da pergunta
Não vou em frente
Seria preciso conseguir falar
Sem proferir palavras

E o mistério permanece
Esperando quem saiba interrogar o silêncio com silêncio
Para revelar a resposta oculta atrás do nada

29/12/2012

Fernando Henrique de Passos