sexta-feira, 17 de maio de 2013

Lei para adopção de crianças por casais homossexuais? *




«A vida transforma os segredos possuídos
pela sociedade em perigo como um voto de
 advertência. A realidade do mundo obstina-se
em fugir à compreensão do corpo amado»

Nuno Júdice, Obra Poética (1972-1985)


     Toda a criança tem geneticamente um pai e uma mãe. Como se pode defender que a criança seja adoptada por dois homens – dois pais –, ou por duas mulheres –  duas mães –, desde os seus primeiros anos de vida?

     Se nesta faixa etária não se pode pergunta à criança se concorda ou não com aquela adopção, nem tão pouco explicar porque vai ser inserida numa família só com dois pais, ou só com duas mães, o que se está a fazer?

     Em primeiro lugar, oferece-se uma mentira à criança, uma mentira sobre a sua origem genética, sobre a sua origem existencial. Na verdade, a criança não merece que lhe “mintam” (no sentido de omitir a verdade) sobre as suas raízes de vida, sobre os autores do seu nascimento, tão estruturantes da personalidade.

     A verdade é que toda a criança teve um pai e teve uma mãe. Não pode nascer de outro modo. Perdoará ela, um dia, a falsidade, o desrespeito pela sua verdade originária, o ponto mais alto da sua dignidade humana? E, além disso, não soçobrará a sua vida bamboleante numa personalidade desestruturada, com os emergentes conflitos quase insuperáveis no seu carácter?

     A criança é um ser frágil que necessita de ser muito amado, mas não se deve fazê-la alcançar essa finalidade, sem ter em conta a sua própria palavra. Não é legítimo usar a criança indefesa para satisfazer interesses imediatos de uma sociedade à beira de se auto-aniquilar, qual Sísifo, na busca sem travão da felicidade. 

17 de Maio de 2013

                                                                                                    
Teresa Ferrer Passos


* O  projecto de lei n.º 278/XII do PS foi aprovado na generalidade com 99 votos a favor e 94 contra, além de nove abstenções.

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