«A
vida transforma os segredos possuídos
pela
sociedade em perigo como um voto de
advertência. A realidade do mundo obstina-se
em
fugir à compreensão do corpo amado»
Nuno Júdice, Obra Poética (1972-1985)
Toda a criança tem geneticamente um pai
e uma mãe. Como se pode defender que a criança seja adoptada por dois homens – dois
pais –, ou por duas mulheres – duas mães
–, desde os seus primeiros anos de vida?
Se nesta faixa etária não se pode pergunta
à criança se concorda ou não com aquela adopção, nem tão pouco explicar porque vai
ser inserida numa família só com dois pais, ou só com duas mães, o que se está a
fazer?
Em primeiro lugar, oferece-se uma
mentira à criança, uma mentira sobre a sua origem genética, sobre a sua origem
existencial. Na verdade, a criança não merece que lhe “mintam” (no sentido de
omitir a verdade) sobre as suas raízes de vida, sobre os autores do seu
nascimento, tão estruturantes da personalidade.
A verdade é que toda a criança teve um
pai e teve uma mãe. Não pode nascer de outro modo. Perdoará ela, um dia, a
falsidade, o desrespeito pela sua verdade originária, o ponto mais alto da sua dignidade
humana? E, além disso, não soçobrará a sua vida bamboleante numa personalidade
desestruturada, com os emergentes conflitos quase insuperáveis no seu carácter?
A criança é um ser frágil que
necessita de ser muito amado, mas não se deve fazê-la alcançar essa finalidade,
sem ter em conta a sua própria palavra. Não é legítimo usar a criança indefesa
para satisfazer interesses imediatos de uma sociedade à beira de se auto-aniquilar,
qual Sísifo, na busca sem travão da felicidade.
17 de Maio de 2013
Teresa Ferrer Passos
* O projecto
de lei n.º 278/XII do PS foi aprovado na generalidade com 99 votos a favor
e 94 contra, além de nove abstenções.
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