quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Ana Plácido e a alma de Camilo

Ana Plácido
«Recordo as palavras de Ana escritas no romance Adelina. Num baixo conceito se observa, lúcida e louca, amante e sem amar, alma elevada e a espelhar-se na poeira mais insignificante e redutora. "Foi na noite maldita daquele baile". Anota Camilo em 1857. Esta frase parece a confissão de um arrependimento. A realidade é-lhe atroz. O desespero habita-o. »
         

Teresa Ferrer Passos, O Segredo de Ana Plácido,
Edições Gazeta de Poesia, 1995, p.19

Nota: Foto retirada do Blogue "Combustões".

domingo, 8 de setembro de 2013

Vigília pela paz na Praça de S. Pedro


«Queria pedir ao Senhor, nesta noite, que nós cristãos, os irmãos de outras religiões, todos os homens e mulheres de boa vontade gritassem com força: a violência e a guerra nunca são o caminho da paz! Que cada um olhe dentro da própria consciência e escute a palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o teu coração, supera a indiferença para com o outro que torna o teu coração insensível, vence as tuas razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação: olha a dor do teu irmão e não acrescentes mais dor, segura a tua mão, reconstroi a harmonia perdida; e isso não com o confronto, mas com o encontro! Que acabe o barulho das armas!»
   
Vaticano, 7 de Setembro de 2013
Papa Francisco

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Florestas a perder de vista, para quê?


«Será que existe neste País alguma política para o Mundo Rural, para a floresta, para o ordenamento do território, para o combate à desertificação do interior, para a fixação das populações, para o reequilíbrio entre o interior rural e o litoral urbano, para o combate às desigualdades e às assimetrias regionais, para a diversificação da base económica do País?»


Luís Monteiro Pereira, «Um País a arder» in A Avezinha Jornal Algarvio (5/Setembro/2013)

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Rumo à paz


O Papa Francisco decidiu enviar a toda a Igreja, ao mundo não católico e a todos os homens de boa vontade,  um convite para, no próximo dia 7 de Setembro, se realizar uma jornada de oração e jejum pela paz na Síria, no Médio Oriente e no mundo inteiro, entre as 19h e as 24h (18h e  23h em Portugal continental).

               

                              

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O idoso não pode emigrar...


«Se o Estado quer poupar, deve fazê-lo renegociando as Parcerias Público-Privadas (PPP)», porque «quando somos jovens e não temos emprego, emigramos», mas «quem é idoso não pode trabalhar nem emigrar. Fica no mesmo sítio, só não se sabe é qual e quem trata dessa pessoa»

Pedro Santana Lopes, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, na Universidade de Verão do PSD em Castelo de Vide (Agosto/2013).

O Papa Francisco e a guerra civil na Síria

O Papa Francisco, num encontro com os reis da Jordânia, Abdullah II e Raina, defendeu a urgência da paz na flagelada Síria, acossada por uma terrível guerra civil que procura derrubar o Presidente da República Bashar al-Assad.
Só através da via do diálogo, haverá uma "opção” sensata para pôr fim ao conflito.
No início de Setembro, vai realizar-se em Amã, capital da Jordânia, uma conferência sobre os desafios que se põem aos cristãos que vivem no Próximo Oriente. Desafios que devem enfrentar, nestes tempos de instabilidade socio-militar e de revoluções políticas, com a paz nos corações.

                               
Vaticano, 29/8/2013

O contestado Presidente Bashar al-Assad



domingo, 25 de agosto de 2013

Síria: Agora ataque químico, de quem?



«Apelo à comunidade internacional para que se mostre mais sensível perante esta trágica situação e coloque todo o seu empenho para ajudar a amada nação síria a encontrar uma solução para uma guerra que semeia destruição e morte»

«O aumento da violência numa guerra entre irmãos, com a multiplicação de massacres e actos atrozes, que todos pudemos ver também nas imagens terríveis destes dias, leva-me mais uma vez a levantar a voz para que se cale o barulho das armas»

25/8/2013
                                                                     Papa Francisco

sábado, 24 de agosto de 2013

Incendiários sem controle


Enquanto não se tomarem medidas de ordenamento do território com vista a diminuir áreas florestais demasiado extensas, enquanto se mantiver a evolução no sentido da desertificação das aldeias, das quintas, dos montados, enquanto houver uma floresta com largas zonas de difícil acesso, enquanto não houver corporações de guardas florestais suficientemente treinados para detectar os incendiários, o nosso país vai sendo devastado e consumido. As vítimas são, em primeiro lugar, as populações resistentes do interior e os soldados da paz, os bombeiros, que combatem os fogos, depois de um alarme chegar para, eles sim, os defrontarem "in extremis".

24/8/2013

                                                                                            Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O amor aproxima


«A pequenez a que sempre se reduziu Maria de Nazaré, apesar de ter sido a eleita para Mãe do Filho de Deus, conforme a anunciação do anjo, era fascinante para a Irmã Teresa do Carmelo de Lisieux. O amor aproxima e dá intimidade mesmo ao mais distante, mesmo ao mais alto dos seres. Eis por que Maria estende os seus braços aos pequenos, esses que não são mais do que os desprezados, os perseguidos, os ignorados. Lembremos estes versos: "Junto de ti, Maria, gosto de permanecer pequena". E também: "O teu olhar maternal desvanece os meus receios"»

Teresa Ferrer Passos, Santa Teresa do Menino Jesus e a Força dos seus Pequenos CaminhosEdições Carmelo, 2013, p.36.


terça-feira, 20 de agosto de 2013

A magia da dança?


«A maior revolução da História (…) tem sua maior razão na fatalidade mística que a arma, e que faz com que esta sociedade não queira ser salva.

E não o quer, porque tem, ela mesma, a consciência da necessidade do seu fim. Ela sente que deve desaparecer (…) para que o mundo se purifique e adquira novas possibilidades de Beleza.

A sociedade morre dissolvendo-se na maior Dança macabra de que no mundo há memória, e ao pé do frenesi da qual as que os primitivos pintaram com esqueletos bailarins, não passam de brinco infantil.»
                          

                             Afonso Lopes Vieira, “A última encarnação do Encoberto” (1922)

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Irmã Lua



«Apertou-lhe a garganta a emoção. Lembrou-se das miríades de poemas em que a Lua passava como um barco a guiar cada palavra. Lembrou-se dos contos da sua infância em que a Lua era a defensora dos bons. Escutou, na amargura do seu coração, Francisco de Assis a louvar a irmã Lua. Um silêncio emudecido no céu, ouviu assustada.»*
                                               
*Excerto do conto inédito «Ouviu-se a lua chorar» 
                                                                                                                                                          Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O Papa Francisco e a Assunção de Nossa Senhora


«Ela, é claro, entrou definitivamente na glória do Céu. Mas isso não significa que Ela esteja longe, que esteja separada de nós; na verdade, Maria nos acompanha, luta connosco, sustenta os cristãos no combate contra as forças do mal. (…) O Terço, também tem essa dimensão “agonística”, ou seja, de luta, uma oração que dá apoio na luta contra o maligno e seus aliados.»
               

Papa Francisco (Missa da Assunção de Nossa Senhora ao Céu, Roma, 15/8/20013)

No dia da Assunção de Maria ao Reino de Deus


«Que esta Mater purissima que garantiu, mesmo humanamente, a cada cristão o modelo da existência do amor imaculado, seja também até ao fim dos tempos a Mater dolorosissima, é o que proclama a visão do Apocalipse, mas também a reflexão sobre a sua unidade com o Espírito Santo sofrendo nos corações dolorosos. Quer como pessoa individual (Maria) quer como "pessoa colectiva" criada (Ecclesia), ela está aos pés cruz (...), porque é somente na figura da cruz e na experiência da cruz que o pecado se transformou, e se transforma sempre, em puro amor.»

Hans Urs von Balthasar, De l'intégration, pp. 85-86

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Do pacifismo


«De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o
mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.»
in «Evangelho Segundo São João»

Sou da Barca da Aliança,
E contra a guerra que fizerem 
Os nossos jovens criminosos,
Ergue-se o grito da Temperança,
O latir de cães raivosos
Em lampejar do Meio-Dia:

Contra os raios do Sol,
Está quem no alumia...........

MISERANDO ATQUE ELIGENDO


Paulo Jorge Brito e Abreu

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Neste dia

Fotógrafo numa rua de Lisboa em 1948

Olha:
Entre as palavras desmanchadas de um poema anónimo
(Agosto é um lago no meio dos lírios)
Brotou uma nascente de água fresca
(Delírios de luz a lavar Lisboa)
És tu – nasceste

Vejo-te em sucessivas idades sobrepostas
(Num largo parado à espera de vento)
Tens quinze anos e vejo-te dançar
(Grandes monumentos projectando sombra)

É noite – é ontem – a pura nudez da vinda ao mundo
(Agosto é parar, respirar murmúrios)

Vejo-te nos sucessivos delírios da luz desta jornada
(Agosto é um lago liberto das margens)
Na sombra estreita das ruas de Lisboa quando são duas da tarde
(Secreta viagem ao centro do tempo)
E na resposta a todas as perguntas mais antigas:
Nasceste – é hoje – és tu

9/8/2013

(Poema inédito)

              Fernando Henrique de Passos

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Abraçar a humanidade


«É como ser humano que Deus se revela, não na sua Majestade divina; é o recém-nascido que se apresenta ao mundo, através da estrela condutora dos pastores da Judeia e dos magos do Oriente. Esse Filho de Deus que, carregando, nos braços, a cruz sacrificial dos pecadores, é ainda ele que, na hora do seu nascimento, estende os bracinhos e estica as suas mãozinhas para abraçar a humanidade, como uma qualquer criança carecida de amor.»

              Teresa Ferrer Passos, Santa Teresa do Menino Jesus e a força dos seus pequenos caminhos, Edições Carmelo, 2013, pág.47.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Coragem sem fim


“Aos 73 anos, Maria do Céu Sales ainda gosta de aprender com o silêncio. (…) Encerrada há sete anos com a mãe (de 101 anos) no mesmo quarto, continua a sonhar com as borboletas, os passarinhos e os formigueiros que fizeram parte da sua infância, por terras alentejanas. E, mais importante – como faz questão de sublinhar – continua a manter um diálogo permanente com Deus. Pode soar a devaneio, mas a lucidez e a clareza com que expõe as suas ideias demonstram que se trata de convicção, de uma forma determinada e genuína de viver a fé.”

Francisco Pedro, Fátima Missionária, Agosto/Setembro 2013

domingo, 28 de julho de 2013

"IDE, SEM MEDO"


"Ide, sem medo, para servir"

"A única maneira de fazer avançar a vida dos povos é a cultura do encontro, a atitude aberta que definiria como humildade social"

"A fé é uma chama que se faz tanto mais viva, quanto mais é partilhada, transmitida"

"O futuro exige hoje a tarefa de reabilitar a política.
Reabilitar a política que é uma das formas mais altas da humanidade"

                                                                                    Papa Francisco 
                                                    (Jornadas Mundiais da Juventude no Brasil, 2013)            

sábado, 27 de julho de 2013

Um Caminho no Meio dos Caminhos



Deve haver um caminho entre as palavras,
Entre as palavras, as coisas, as pessoas:
A maneira certa de existir.
Um caminho em que se deixe de pensar
Na maneira certa de existir
E se caminhe entre os caminhos
Sem pisar nenhum:
Deve haver um caminho no meio dos caminhos.
Um caminho que não conduza a mais lugares
Pois não será preciso
E todos os lugares serão presentes.
Um caminho onde só estar
Seja o mesmo que percorrer todo o caminho.
E todas as metas virem ter connosco.
Um caminho em que olhar seja chegar
E em que todo o esforço para alcançar esse caminho
Seja tão só o esforço de deixar de fazer esforço.
Porque já estamos lá – resta sabê-lo.


27/7/2013

(Poema inédito)
                                Fernando Henrique de Passos

sexta-feira, 26 de julho de 2013

A Propósito dos Painéis de Nuno Gonçalves

Painéis de Nuno Gonçalves

Pormenor: O Povo
Os painéis de S. Vicente de Fora, obra-prima da pintura portuguesa, da autoria de Nuno Gonçalves (2ª metade do século XV). Aqui, o pintor português representou, de modo genial, toda a sociedade portuguesa (nobreza, clero e povo) do Século de Ouro dos Descobrimentos. Ainda hoje, este políptico, em madeira policromada - uma preciosidade actualmente no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa - continua a ser o símbolo vivo da gesta marítima que o Povo Português traçou para além dos mares e dos mundos conhecidos da Europa, nos confins de continentes ignorados e detentores de fabulosas e inesperadas culturas.  

Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O Papa Francisco no Santuário de Nossa Senhora de Aparecida, Brasil


"A Igreja quando busca Cristo bate sempre
à porta da Casa da Mãe"

                    "Também eu venho bater à porta da Casa de Maria"

                                24 de Julho de 2013
                                                                                                Papa Francisco

sábado, 20 de julho de 2013

Sol Nascente

Jardins da Fundação Gulbenkian


Num olhar negro, sem olhar, um café,

uma mesa entre livros com folhas de jardim,

uma hora a tremer de vento, uns dedos magros de sono,

um caminho estreito, uns troncos molhados de verde,

uma sombra, um banco de pedra...

A vir de longe, ouvi a tua voz a entoar um olhar novo,

e, em frente, parecia-me ver, obscuro, um Sol Nascente.

20/ Julho/2013

(Poema inédito)

                                                     Teresa Ferrer Passos

Nos vinte anos do nosso primeiro encontro

Flor dos jardins da Fundação Gulbenkian

Foi um jardim
A sala de visitas do destino.
Passeámos no meio dos canteiros,
Falámos de poesia,
Sem nos sabermos ainda passageiros
Do trem que partia nesse dia.

E esse dia, porque era tão diferente?
Era Julho, era sol,
Era luz, era haver tempo;
Não sei se era calor ou sombra acolhedora,
Nem se era o paraíso
Ou se era território português –
Mas isto é certo – Era uma vez…


20/7/2013

(Poema inédito)

                    Fernando Henrique de Passos

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Uma nova solidariedade entre cidadãos

Manuel de Lemos recebe das mãos do Presidente da República
a insígnia de grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique
«Vivemos um tempo muito difícil e não será nem em 2013, 14, ou 15 que a situação vai melhorar em termos globais. As pessoas e as nossas Misericórdias vão continuar a sofrer e a palavra de ordem vai ser aguentar a todo o custo. Mas os rigores da austeridade – que, fora das demagogias partidárias, todos percebemos serem necessários – não podem de modo algum cegar-nos às noções mais essenciais de humanidade e solidariedade entre cidadãos, entre compatriotas, entre aqueles que, por pertenceram à mesma pátria, partilham o passado, o presente e o futuro.»
                                                                    Manuel de Lemos
                                         Presidente da União das Misericórdias Portuguesas                                                                      In  Voz das Misericórdias, pág. 7 (Junho 2013)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

As Ilhas Selvagens, o eco-sistema planetário e Portugal

Ilha Selvagem Pequena, região a 300 Km a Sul da Madeira
e o ponto mais a Sul de Portugal

1. No 50º aniversário da 1ª Expedição Científica às Ilhas Selvagens, o Professor Cavaco Silva, Presidente da República, tomou a iniciativa de comemorar a efeméride com uma visita integrada na missão de carácter cientifico, que se está a efectuar nas Ilhas Selvagens. Esta missão deseja aplicar a capacidade tecnológica de Portugal para defender as metas da ecologia, na vertente da defesa da bio-diversidade à escala global.

2. A preservação do ambiente, já tão agredido por muitos países com governos com um fraco sentido da responsabilidade, implica a revalorização de toda uma economia marítima, pois os recursos que o mar ainda suporta são indispensáveis para a reconversão do eco-sistema do planeta Terra. À defesa do ambiente do mar e, assim, à defesa da vida, está associada a importância geo-estratégica destas ilhas; a esta importância acrescenta-se o incremento de uma macro-economia baseada nas pescas e nos portos e na implementação da produtividade destes sectores com vista à exportação. 

3. Localizadas a uma distância de 1000 km de Portugal, estas pequenas ilhas foram descobertas por um italiano, em 1364. Foram nomeadas e baptizadas em 1438 (como era costume entre os navegadores portugueses) à passagem da caravela de Diogo Gomes (de Sintra), também descobridor das ilhas de Cabo Verde, rios da Guiné, etc. O navegador Diogo Gomes, homem ousado da escola dos navegantes sob o comando do Infante D. Henrique, deixou-nos importantes informações sobre as viagens marítimas em que participou e em que estas Ilhas Selvagens se delineavam no mar como um farol do futuro.

4. Integrando-se no arquipélago da Madeira, as Selvagens e os seus ilhéus formam um subarquipélago. O Presidente da República, nesta conjuntura política de grave crise nacional, desloca-se a este torrão do mar que pertence à soberania portuguesa e que lhe poderá garantir a maior Zona Económica Exclusiva da União Europeia. Esta Plataforma Continental garantida pela distância a que as Ilhas Selvagens estão de Portugal tem, nos tempos conturbados do mundo contemporâneo, um valor incalculável, que os descobridores nunca supuseram naquela época de grandes ilhas e de longos litorais onde desembarcavam com palavras e gestos de paz.

5. O Professor Cavaco Silva está a avivar no espírito dos portugueses aquilo que ainda podemos ter, distante mas nosso, e que tantas vezes desprezamos como não valendo  a pena. As Ilhas Selvagens podem garantir a Portugal mais 2,15 milhões de quilómetros quadrados de território marítimo, se Portugal vir reconhecida pelas Nações Unidas, entre 2014 e 2015, a sua jurisdição plena, naquela que passará a ser a maior Zona Económica Exclusiva da Europa.

18 de Julho de 2013

Teresa Ferrer Passos

terça-feira, 16 de julho de 2013

O vento e as pedras

Era Céu, era Serra.
Uma Cruz, uma Rosa.
E eu vi, sob a terra,
Uma lapa, uma lousa.

Era Céu, era flava.
Pela cava, Zulmira.
E a aragem tocava
Uma corda, uma Lira.

Algo é verde, ela é vedra.
É do Bel. Qual adobe?
É o Vento, que é pedra.
E é Alma, que sobe.

Algo é vau, que ela é vela.
É o Espírito e roca......
Uma nave, uma Bela,
Uma Rosa na boca.

AD MAJOREM DEI GLORIAM

Paulo Jorge Brito e Abreu

domingo, 14 de julho de 2013

Caderno Íntimo


«Os pensamentos que lhe percorreram a alma, a mais retirada das moradas, estão nas folhas deste caderno íntimo. E precisamente para os oferecer à Virgem Maria que lhe sorri e, desse modo singelo, lhe mostra que a quer escutar, que a quer pronta a dialogar com ela.»

Teresa Ferrer Passos, Santa Teresa do Menino Jesus e a Força dos seus Pequenos Caminhos, Edições Carmelo, 2013, p.14.

sábado, 13 de julho de 2013

Meu Deus, lembrai-lhes...

                              «Fazei-vos servos uns dos outros pela caridade»
                                                                S. Paulo Gál. 5, 13

Encandeados pelas cores do pó
no olho nu desarmado, a apagar-se,
riem com riso irrisório
e correm
no sonoroso palmilhar do negro alcatrão…
não se vêem nem se sabem,
não são?

Entre nebulosas de pó verde, vermelho, amarelo,
eclipsam as identidades cheias de dádiva,
aniquilam a vontade pura de dar
e ampliam o absurdo em que correm
com vozes gritantes
a parecerem mendigos de atenção…
e não, não servem a ninguém,
nem tão pouco a eles próprios
nem tão pouco...

Meu Deus, Pai de todos nós,
lembrai-lhes o que é servir,
o verdadeiro dar e receber,
o que é dividir tudo na fraternal idade.

Meu Deus, Pai de todos nós,
lembrai-lhes o equívoco dos vendilhões do Templo,
lembrai-lhes que a nódoa das pistolas de tinta colorida
não são também senão equívoco ainda
e agora a servir-se do vosso dar
para vender um produto barato
e esvaziado das razões do que é mesmo o servir…

Meu Deus, Pai de todos nós,
lembrai-lhes a felicidade
de servir os outros, perdidos,
abandonados, sem afecto,
e não estes que só se identificam
por oferecer prazeres breves e cheios de nada.

Lembrai-lhes meu Deus, Pai de todos nós,
lembrai-lhes o que é o verdadeiro servir,
que alegria é ir  até ao solitário,
ao triste, ao sem arrimo, ao sem eira nem beira…
e só assim chegarão mesmo, muito para além de si próprios!

11 de Julho de 2013



                                                         Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Personalidade para o diálogo...


«Desde que exista, à partida, vontade e espírito de cooperação entre os partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento, e desde que estes coloquem o interesse nacional acima dos seus próprios interesses, creio que não será difícil definir o conteúdo em concreto desse entendimento. Mais ainda, um acordo desta natureza não se reveste de grande complexidade técnica e poderá ser alcançado com alguma celeridade, podendo recorrer-se a uma personalidade de reconhecido prestígio que promova e facilite o diálogo.»*
                   Excerto da Comunicação ao país do Presidente da República em 10/7/2013


* Segundo consta, essa personalidade poderá ser o General António Ramalho Eanes. Se for essa a escolha do senhor Presidente da República, damos-lhe o nosso pleno apoio. (T.F.P.)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Que alegria dividir


«Como é agradável dar o que temos dentro do nosso ser. Dividir com aqueles que estão mais ou menos próximos é uma obsessão para Teresa do Menino Jesus. Que alegria dividir aquilo que passa pelas suas emoções. Que conforto dividir os seus sentimentos, as suas lágrimas de dor ou de alegria.»

Teresa Ferrer Passos, Santa Teresa do Menino Jesus e a Força dos Seus Pequenos Caminhos, Edições Carmelo, 2013, p.9.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade

UMA MULHER DE MÃOS ESCANCARADAS* 



O Papa Francisco reconheceu hoje (5 de Julho de 2013) as “virtudes heróicas” da portuguesa Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade, fundadora da Congregação das Concepcionistas ao Serviço dos Pobres que poderá, a partir de agora, ser beatificada, quando for reconhecido um milagre por sua intercessão junto de Deus.


O desenho do branco desenha-se na larga e seca planície. A forma das pequenas casinhas caiadas confunde-se com a claridade branca do Sol. No Monte do Torrão, aldeia de Santa Eulália (a poucos quilómetros de Elvas), onde nasceu, em 1889, Maria Isabel recebera as palavras do Evangelho desde a infância. Uma fascinação pelas artes toca o coração de Maria Isabel. Com uma cuidada educação dada por seus pais, inscreve-se na Escola de Belas-Artes de Lisboa. Mas a arte de amar é mais forte. Regressa ao seu solitário Alentejo. Em 1912, tem vinte e três anos. É, então, que contrai matrimónio com João Pires Carneiro, lavrador abastado. Vão viver para S. Domingos, também a pouca distância de Elvas. O amor ao esposo é agora a sua meta e o seu contentamento.

Generosa, tudo dá de si porque dar é a sua vocação maior. Os anos passam na serenidade das soalheiras e das sombras macias dos sobreiros. Sem filhos, dedica-se inteiramente ao marido que, entretanto, adoece, sem sinais de recuperação. Com extremoso amor, Maria Isabel oferece-lhe o melhor de si. O agravamento do seu estado de saúde, debilita-a. Quer parecer forte ao olhos do esposo.

O cansaço abate-a, mas não a faz desistir de lutar. De têmpera combativa, procura o auxílio da oração. Suporta a cruz com abnegação. Mas o esposo sucumbe. A sua morte aparece-lhe como um fim inevitável. Na hora do seu falecimento fica paralisada, não sabe que sentido tem a sua vida sem aquele amparo que durara dez anos, sem ter recebido a dádiva de um filho. Sente a solidão na sua alma generosa, pronta para servir. Tem trinta e três anos. Corria o ano de 1922. Inconformada com o falecimento do esposo ainda tão jovem, ao longo de onze anos dá apoio à Igreja de Santa Eulália. Em 1934 entra nas Dominicanas de Clausura de Azurara, mas a falta de saúde leva-a a regressar à terra natal. Pouco tempo depois, em 1936, a Casa de Retiros em Elvas é-lhe entregue pelo arcebispo de Évora. A partir da atribuição desta responsabilidade, Maria Isabel vai doando generosos bens a essa obra. 

A guerra civil espanhola prolongava-se pelo ano de 1939. Em Espanha, as Ordens Religiosas eram perseguidas pelas forças comunistas. As Irmãs Concepcionistas de Clausura de Santa Beatriz da Silva refugiam-se na zona de Santa Eulália. Tomando conhecimento da sua situação, logo Maria Isabel oferece as suas casas para as acolher. Dialogando longamente com as Irmãs daquela Ordem sente que a vontade do Pai devia ser o grande guia das acções humanas porque «só devemos querer uma coisa: que se cumpra em nós a sua santíssima vontade».

Pela primeira vez desde a morte do marido, sente-se fortemente ligada a uma comunidade monástica. Presta toda a atenção às palavras sábias das Irmãs de Santa Beatriz da Silva. Escuta os seus pontos de vista sobre a Ordem a que pertencem, sobre os seus objectivos. Sabe que a Imaculada Conceição é um alento maravilhoso para o culto divino. As palavras das Irmãs espanholas da Imaculada Conceição de Santa Beatriz mostram a Maria Isabel que a Ordem podia ser mais activa, mais dinâmica se tivesse a dimensão humana de auxiliar os pobres, os mais desamparados na sociedade.

Na verdade, a Ordem de Santa Beatriz era de cariz contemplativo. Juntar à oração a acção, a prática do auxílio material, seria alargar a construção da Casa do Espírito Santo. Os pobres precisavam, nestas paragens alentejanas, de bem mais assistência. A seara de Jesus exigia esse serviço. «Ninguém nos pode tirar Deus dos nossos corações; e com Deus nunca seremos pobres nem abandonados» escreveria Maria Isabel.

A vida de Maria Isabel orientava-se, agora, no sentido da dádiva dos seus bens aos pobres desse Alentejo solitário e pouco afortunado. Por que não fundar uma Ordem que unisse o espírito contemplativo ao da acção? «É certo que nada vales, mas comigo, tudo vencerás», eis as palavras que escutava bem dentro do seu coração. Unido a ela, Jesus dava-lhe a esperança de conseguir lançar uma nova Ordem. A cada instante, sentia Jesus incutindo-lhe perseverança apesar das dificuldades a vencer.

Agora sentia-se uma mulher capaz de renascer se fosse possível lançar os fundamentos de uma Ordem de Nossa Senhora da Conceição ao Serviço dos Pobres, tudo conforme o espírito de S. Francisco de Assis. As dificuldades não se fizeram esperar. Mas, «o sacrifício dará fruto a seu tempo», pensa Maria Isabel nas horas de desalento.

Uma excepcional força anímica vivia ainda em Maria Isabel para não vacilar ante os obstáculos. Acredita, com firmeza: «A oração dispõe-nos para a Graça»*. Em 1939, a Congregação das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres estava já a erguer-se. Construção lenta, mas fundada na esperança que não se deixa vergar pelos tempos nefastos. De facto, só a 5 de Julho de 1955, o Papa Pio XII aprovava a fundação do novo instituto religioso. É nesse mesmo ano que Madre Isabel faz a sua Profissão Perpétua.

Vencendo quem se opunha aos seus desígnios, a Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade, assim rebaptizada na religiosa senda, realizava o último e grande sonho da sua vida: entregar aos pobres todos os seus bens e com esses bens formar uma Congregação para os servir. Ao criar a Congregação das Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, as suas riquezas multiplicavam-se, todo o património de que era detentora foi entregue à nova comunidade religiosa. Os bens doados foram a terra fértil para concretizar o sonho de Maria Isabel: servir o Pai mesmo para além da planície larga desse Alentejo em que nascera.

Ao Serviço dos Pobres nada se perde, tudo é restaurado e dá fruto até ao fim dos tempos. Sete anos após a aprovação papal, Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade terminava a sua obra nessas terras de trigais a perder de vista. A morte punha fim aos seus incansáveis trabalhos, a favor dos mais abandonados, no ano de 1962. Em 1998, foi pedida a sua beatificação.

As orações daqueles que nela esperaram auxílio, na doença ou na pobreza, têm sido escutadas. No reino do Espírito Santo terá continuado a velar pelos mais desprotegidos. A beatitude revelara-a já em vida. Revestida de beatitude continuará no céu, nesse céu donde Jesus lhe sussurrava a Sua Vontade. E que era, afinal, a maior ambição de Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade: ajudar os pobres. Como ela soube pôr em prática aquilo que Jesus dissera ao homem rico: «vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu» (Mc 10, 21). Como ela terá meditado nas Bem-Aventuranças do Sermão da Montanha, das quais lembramos apenas uma das que mais a terá sensibilizado: «Bem-aventurados os mansos porque possuirão a terra» (Mt 5, 5). 

Teresa Ferrer Passos

* Este texto, escrito em 28 de Dezembro de 2009, foi publicado na Seara dos Pobres (Out/Nov/Dez 2011), jornalinho da Congregação das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres (todas as citações foram retiradas da Novena à Serva de Deus Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade, Évora, 2008).