sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Neste dia

Fotógrafo numa rua de Lisboa em 1948

Olha:
Entre as palavras desmanchadas de um poema anónimo
(Agosto é um lago no meio dos lírios)
Brotou uma nascente de água fresca
(Delírios de luz a lavar Lisboa)
És tu – nasceste

Vejo-te em sucessivas idades sobrepostas
(Num largo parado à espera de vento)
Tens quinze anos e vejo-te dançar
(Grandes monumentos projectando sombra)

É noite – é ontem – a pura nudez da vinda ao mundo
(Agosto é parar, respirar murmúrios)

Vejo-te nos sucessivos delírios da luz desta jornada
(Agosto é um lago liberto das margens)
Na sombra estreita das ruas de Lisboa quando são duas da tarde
(Secreta viagem ao centro do tempo)
E na resposta a todas as perguntas mais antigas:
Nasceste – é hoje – és tu

9/8/2013

(Poema inédito)

              Fernando Henrique de Passos

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