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domingo, 10 de abril de 2016

O princípio da incerteza




«Nada permanece. Nada é inflexível. Tudo é um desespero ou uma esperança. As contradições sucedem-se. As dúvidas tornam-se uma certeza. As certezas deixam-se amesquinhar com dúvidas enormes. Nada é fixo nestes instantes de princípio e irreprimíveis.»

Teresa Ferrer Passos, Um Cientista e uma Folha de Papel em Branco, Chiado editora, Lisboa, 2015, p. 332.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Actualidade de Santa Teresa do Menino Jesus

Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face

«A dolorosíssima doença não a consegue esmorecer. Não vacila. E é em pleno sofrimento que escreverá a sua pequena doutrina, um dos seus pequenos caminhos, a que não falta a novidade de um cristianismo terra a terra, revestido de pequenas acções, de pequenos gestos de amor, muito mais do que alicerçado em longas teorias fundamentadas em sofisticadas erudições!»
  
Teresa Ferrer Passos, "A Actualidade de Santa Teresa do Menino Jesus" in Revista de Espiritualidade (Edições Carmelo), nº 87, Julho/Setembro, 2014, p.314.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A propósito de um novo romance...

"UM CIENTISTA E UMA FOLHA DE PAPEL EM BRANCO"



Aqui ofereceremos, cada dia, até ao seu lançamento, uma passagem de Um Cientista e uma Folha de Papel em Branco de Teresa Ferrer Passos. Trata-se de um romance sobre a sociedade materialista ocidental contemporânea - «fantástica viagem pelo mundo do irreal». A narrativa desdobra-se em duas partes: a 1ª, centra-se no cientista confrontado com a sua ambição e os enigmas da sua mente toda-poderosa; a 2ª, sobre a angústia do cientista perante a matéria, a ideia de Deus e o enigma da sua Origem.
    




O lançamento deste livro será no próximo dia 10 de Outubro, na Fnac do C. C. Colombo, em Lisboa, pelas 18h30. A Apresentação da obra está a cargo do Professor António Cândido Franco da Universidade de Évora.




«E duvida do sentido de todas as coisas. Ao mesmo tempo, sente no seu coração uma grande certeza: a sua espera remonta ao princípio do mundo e irá prolongar-se até à própria eternidade.»

«Mas, de súbito, teme a verdade como uma tragédia. O olhar imobiliza-o. As mãos pousam sobre a folha de papel e o lápis rola sobre a mesa. A respiração é ofegante. Depois, lenta. Demasiado lenta. O pensamento faz um silêncio.»

«Taoj sente perderem-se lentamente os rumos interrompidos das suas reflexões, essas reflexões que orientam e equilibram, mas também desesperam. (...) No seu olhar de dor adormece todas as noites»


À entrada do seu escritório

«Na realidade dos possíveis, vê a folha de papel em branco com os olhos apagando-se na palidez do impossível (...). 
Que caminhada de renúncia se inscreve no seu horizonte. Que emoção ansiosa a vergar-se à serenidade das realidades profundas. Que oculto sentimento de resistência a mantê-lo numa expectativa de que qualquer coisa vai acontecer».

«Com que agilidade eu pensava e com que sentido crítico estudava e, afinal, onde está a minha cabeça? não está espelhada na folha de papel em branco... onde estou eu se perdi a minha cabeça pensante? quando a perdi? há quanto tempo? perdi-me dela ou foi ela que se perdeu de mim?»

«Mas o que é mais estranho em tudo isto é que, ao fim de tantos anos, sente, pela primeira vez, que deseja alguma coisa com determinação, e, até perscruta em si uma espera que lhe parece não poder ter fim.»


A escrever no computador

«Silenciando o medo, Taoj sente que algo muda no seu modo de interpretar os possíveis objetivos daquele estranho computador. Como por encanto, Taoj refugia-se mais na caverna fragmentada de si mesmo, como se uma grande calma a inventasse»

«Então, Taoj sente-se uma raiz de felicidade-em-si porque nenhuma dúvida vive nele; as redes da Internet seriam o rumo certo, mesmo que um grande sofrimento, uma forte dor, uma inevitável derrota, o esperasse na procura, na procura sem limites. E que rapidez espantosa para qualquer comunicação com pessoas, objetos, e, até com todos os mundos, que desconhecia»

«Sentados, ao lado de um pequeno rochedo batido por ondas, a desfazerem-se em bolhas de espuma lilás ou roxa (não se discerne com clareza), dois homens parecem conversar com vivacidade. Taoj reconhece o perfil de um deles. Sente que o reconhece. Já o viu em alguma galeria de arte, na contracapa de um livro ou numa desconhecida rua de grande cidade»

Com António Cândido Franco e José Augusto Mourão
na Livraria Escolar Editora, em 2003

«Nesse instante, Taoj escuta a voz de Ulisses. Depois, parece ouvir de novo aquela voz de mulher ténue e distante tão distante e a sussurrar palavras que ele procura esquecer porque é, claramente, uma voz que o engana, que só pode existir em sonho, não, não pode ser verdadeira».

«O mistério como que dilui a espera de Taoj, perturbado demais para a pressentir. Sente uma náusea de susto. Não há imagens para além da aparência. Nem há vida para além do verbo. Um silêncio estende-se como um céu sem astros»

«Pressente à distância, fogos acesos e sem chamas, melodias divinas e a vibrar toda a simplicidade de um leve roçar de vida. Como podem fogos de vibrações sonoras devorar toda a procura, sem serem vistos pelo corpo acéfalo de Taoj e mesmo assim extenuado de sonhos?»


Com João Carlos Raposo Nunes na livraria Uni Verso
em Setúbal, em 1999, no lançamento de Álbum de Amor.

« − A liberdade é a água que corre em todos os recônditos lugares do teu corpo − escuta Taoj, com nitidez.

Quem diz estas palavras? (...) Assustado, o seu coração palpita com mais impetuosidade. Depois, o seu inconsciente extrai das nuvens negras e densas da memória o nome do filósofo grego, que desoculta no canto superior esquerdo do ecrã do computador»


«Entre os sábios gregos, muitos amigos tornaram-se meus adversários e tive de separar-me daqueles a quem a amizade me ligava mais. Seduzia-me descobrir toda a verdade sobre as origens do mundo, essa maravilha que me cercava e de que eu próprio fazia parte. Procurar a verdade sem falsidades, sem desvios artificiosos. Estudar a natureza na sua realidade pura, sem sofismas, sem vantagens fúteis na sua verdade íntima e a transparecer de beleza.»

«Como é espantosa a matéria, sempre a querer valorizar-se aos nossos olhos. A matéria constrói-se a si própria na ânsia de se regenerar até ao seu limite. Apetece-me dizer infinito, mas não gosto da palavra infinito, porque, quem pode entender essa palavra?»


Em 2004, na sua antiga casa de S. Braz de Alportel 

«Procurar, procurar, torna-se-lhe um caminho agora irreversível. O verdadeiro sentido da sua vida, conforme uma multiplicidade de sonhos lhe desocultara numa só noite, a parecer-se com os segredos do universo.»

«Nunca enviou um sinal,uma simples mensagem, um breve aviso. Inundado de caos, Alfa simula um real transcendente, em busca de um santuário consagrado ao deus da luz imperecível.

"A solidão, só a solidão me acompanha"

"E se pudesses dizê-lo a quem te criou?"»


No Jardim da Verbena, S. Brás de Alportel (2004)

«Uma espantosa coragem de avançar está inscrita em cada um daqueles irreverentes absurdos que esperam nascer, talvez um dia, e brilhar até ao infinito de todos os espaços ainda por criar.
Mais do que tudo, esperam romper todo o mundo precário e irreal em que Alfa vegeta perdido de qualquer referência ou vislumbre de direção.»

«Alfa não pode confiar senão no seu mundo pequenino, estreito, vadio e sem emoção. Nada o faria acreditar no valor de confiar e, muito menos, confiar nas palavras carregadas com o peso de uma mentira inglória!»



Antes de pegar na sua "enxada" diária em 21 de Agosto de 2015
«O silêncio intromete-se num monólogo inconsciente. Lúcido e como se estivesse alucinado, Alfa questiona-se. Na angústia, enrola-se bem no fundo de si e adormece. É uma letargia sem horas. E espera que qualquer coisa aconteça.»

«Múltiplas imagens perturbam Alfa. Tudo é semelhantes às ruas entrecruzadas de uma qualquer cidade infernal, ensurdecida pelos ruídos de uma tecnologia que rejeitou a ciência e invadiu os corpos humanos. Corpos amolgados pelo bairros de lata e os uivos das mulheres agredidas e a criança violentada como se fosse o lodo dos pântanos.»

«Adormecido numa imobilidade que o perdia e anulava, nenhuma partícula podia sobreviver no seu mundo de engano. Uma mentira colossal estava dentro das suas portas»

Junto ao castelo de Ourém, em 2002

«Acho que a matéria quer ir sempre mais longe, mais além, numa criação repleta de imaginosas direções, em mutações imparáveis e desvios alienados de mim.»


«Alfa está a perder-se deste estranho e vastíssimo universo que cada vez mais se afasta do seu pequeno mundo. As partículas divertindo-se com o espaço e o tempo e as outras forças novas alienam-se, encobrem-se e fazem nascer embriões de fantásticas criaturas.»

«Alfa está frente à aventura do impossível.
 Desse impossível donde irrompe a matéria em átomos e mais átomos que se atraem ou se repudiam, que se amam ou se odeiam, que edificam mundos novos ou recusam a sua construção.
 No caos absoluto da matéria vão-se erguendo biliões de absurdos. A Esperança é um deles.»


Excertos do romance de Teresa Ferrer Passos, "Um Cientista e uma Folha de Papel em Branco", Chiado Editora, Lisboa, 2015, pp. 15, 17, 19, 24, 27, 35, 43, 48, 58, 67, 80, 92, 107, 123, 144, 152, 180, 211, 229, 256, 269, 280, 357, 394, 397.



Na Biblioteca Municipal da Amadora, ao lado de
um retrato de Fernando Pessoa, em 2008




sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Diálogos novos...


«Físico R4 - A nossa estação orbital pode estar a ser vítima de um ataque conjunto de países com uma ideologia diferente da nossa! podem querer acabar com a nossa civilização globalizante e, assim, utilizarem astros e vegetais ou máquinas e até o próprio conceito abstracto do tempo…

Matemático H30 - Ah, ah! como se o tempo fosse convertível em alguma coisa material… e conseguem, com os seus estratagemas, aparentar uma realidade concreta onde se encontra apenas uma de natureza espiritual, como é o caso do pensamento.

Informático E11 - Pela primeira vez, surgem no ecrã, e precisamente na maior auto-estrada de informação planetária, objectos, máquinas e astros conversando entre si e, desse modo, transgredindo pela primeira vez, todas as leis da física, da biologia, da engenharia tecnológica e do próprio mecanismo cerebral humano!»

(Do romance de Teresa Ferrer Passos, Planeta Joyce 8,
1ª edição, Harmonia do Mundo, 2007, pp.61-62)

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A ocultação do tempo...



«(a personagem) Tempo 01 -  Um mar sem direcção sou eu e também sou aquele que tudo envolve e ninguém conhece, até mesmo nos domínios do Império da Vigilância Superior, em que há máquinas para desocultar as mais pequenas coisas ou os mais escondidos segredos que habitam o pensamento da gente humana! por isso, tudo o que sinto ou quero, parece desintegrar-se de mim, como se tudo o que me respeita fosse toda uma ocultação, como se nada me pertencesse, apesar de tudo ser meu...»
                  
                               Teresa Ferrer Passos, Planeta Joyce 8, Harmonia do Mundo, 2007, p. 24.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Numa sociedade que repudia a diferença...

Ana Augusta Plácido com Camilo Castelo Branco
e o primeiro filho, Manuel
«(...) sensível ao desprezo e ao desdém da sociedade, Ana agoniza a dor sem se queixar a Camilo. Ele dá pouca importância às suas mágoas, alcandora-se numa indiferença de palmeira desenraizada. As feridas que já vão atingindo também o corpo da amante, parecem não o tocar. O órgão que mais se ressente é o coração. A sociedade não lhe dá tréguas. E Ana é incapaz de ter o autodomínio necessário para se preservar dos golpes (...)»

     Teresa Ferrer Passos, O Segredo de Ana Plácido, Edições Gazeta de Poesia, Lisboa, 1995, 1ª edição, p. 233 (Romance publicado por ocasião do 1º Centenário da morte de Ana Augusta Plácido).

quinta-feira, 29 de maio de 2014

O pequeno e... grande caminho: o amor

Miosotis, uma das flores preferidas de Teresa do Menino Jesus


«"Viver de Amor, é enxugar-Te a Face" escreve Teresa. Enxugar essa Face de Jesus a gotejar suor e sangue e água, durante o tormento da via sacra e também nas horas que se seguiram. Essa Santa Face de Jesus, a espelhar toda a dor humana e todo a dor divina ante o pecado aviltante da humanidade, a indiferença que renegou Deus, que esqueceu o seu Amor de Pai. De facto, como acentua Emmanuel Levinas, "na expressão [da face], o ser que se impõe não limita, mas promove a minha liberdade, suscitando a minha bondade". O convívio, no próprio nome e na devoção, com a Face de Jesus gera mais uma fonte de santidade, fonte essa que provoca a mudança do ser imperfeito e o aproxima do Santo.»

           Teresa Ferrer Passos, Santa Teresa do Menino Jesus e a Força dos seus Pequenos Caminhos, Edições Carmelo, pp.62-63.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Lançamento de "Santa Teresa do Menino Jesus"

Nigela dos trigais, uma das flores predilectas de TMJ

  «O espaço sagrado crescia no imaginário de Teresa incessantemente. A realidade mostrava que ela se sentia "tão fraca, tão frágil", que só encontrava a força necessária para viver no sustentáculo sacro de Deus. Como ela "para sempre queria unir-se á Força Divina!...", como ela procurava no vasto oceano da divindade de Jesus umas gotinhas de água viva, regeneradora e revigorante.»
                                      
             Teresa Ferrer Passos, Santa Teresa do Menino Jesus e a Força dos seus Pequenos Caminhos, Edições Carmelo, p.57.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Liberdade da transcendência


« - No teu corpo, o amor transparece como uma pomba etérea! Tu és a cheia de paz! O Deus do Amor deu-te a alegria e fez de ti o seu sustentáculo… uma nova aliança acenderá o luzeiro do bem e arrasará a serpente no lamaçal do mal! és uma nova arca da aliança… sem os limites do tempo, sem as amarras do espaço, com uma liberdade outra, mais funda e perfeita! Na gestação de Jesus toda a liberdade do divino fez uma morada em ti e renasceste nos horizontes de uma total consagração - disse José, numa expressão eufórica.»
              
                  Teresa Ferrer Passos, Anunciação (romance), Universitária Editora, Lisboa,  2003, pág.157.

domingo, 8 de dezembro de 2013

No Dia da Imaculada Conceição



«O primeiro milagre de Jesus é, na verdade, um acto em que Sua Mãe orienta, indicando o Seu Filho, numa atitude de protecção e afecto. A alegria do matrimónio não devia sofrer qualquer per­turbação. E Maria interveio, aconselhando os donos da casa. Se precisassem de ajuda, deviam recorrer a seu Filho, que estava afinal ali, tão perto de todos. Por isso, aconselha: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Como salienta a Irmã Lúcia, eis a frase lapi­dar que indicou à família dos esposos de Caná o que deviam fazer para que aquela união fosse selada pela alegria, sem sombra de tristeza. Levar à confiança em Jesus, foi o objectivo de Sua Mãe.»

        Teresa Ferrer Passos, "Apelos Sacros de Fátima", Revista de Espiritualidade, nº 58, 2007, p. 148.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Restauração da Independência

Monumento aos Restauradores da independência, em Lisboa
«E, se a cons­ciência de que o povo poderia ser o sustentáculo de uma Revolução se tornava nítida, a necessidade do braço armado dos nobres se levantar contra a tirania injusta, surgia como uma evidência.

Foi nesta ambiência que, após longas e reflectidas deambulações pelos serenos jardins do seu palácio, D. Antão e outros fidalgos começaram a planear os ca­minhos para a restauração da independência nacio­nal.

Inconformados com a subordinação ao estran­geiro, com a revolta latente nos corações, sentiam-se prontos para concretizar a acção que havia de derru­bar do trono uma soberania cada vez mais detestável.»

Teresa Ferrer Passos, A Restauração de 1640 e D. Antão de Almada, Universitária Editora, 1999, p.24.


***

Independência, hoje?


     Em 1 de Dezembro de 1640, os Portugueses repuseram a dignidade da sua Pátria, abatida pelo poder vergonhoso do estrangeiro dominador.

     Que hoje os nossos governantes não deixem aviltar-se por mais tempo a memória destes nossos antepassados.
     
     Há que reagir a uma submissão que nos silencia em questões de natureza interna, como a dos estaleiros navais de Viana do Castelo. Afinal,  Portugal faz parte de uma União Europeia que respeita as soberanias nacionais de todos os países que a constituem, ou está subordinado a uma União de países que nos emprestam, com juros mais ou menos altos, consoante aceitamos, ou não, as suas ordens sobre resoluções que deveriam respeitar apenas ao governo do Estado português?
     
     Com exigências desta ordem, a soberania nacional corrompe-se e o tecido social de Portugal vai-se desmoronando. Quem o reconstruirá?   

1 de Dezembro de 2013
                                                                   Teresa Ferrer Passos


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

À paz


Em grinaldas de flores secas está a paz.
Em troncos de pinheiro a crepitar na lareira,
Em flocos de neve a descer entre o nevoeiro,
No frio dissipado no aconchego do afecto.

A paz está onde nasce a alegria de oferecer,
A graça de não ter de fugir para viver,
De não ter de defrontar a morte para fugir à morte,
De salvar inocentes em vez de fazer deles a pira de culpados.

O fogo das chamas das torres apagou-se com água suave.
No incêndio dos corpos injustiçados, a paz está
A brotar. Mas com injustiças em nome da paz se desvanecerá.

Teresa Ferrer Passos, "À Paz" in Retábulo, Universitária Editora, 2002, pág. 28.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Espiga de trigo novo

Maria e José a caminho de Belém

«E sentiu-se cheia de paz e com uma alegria sem fim! Sentiu-se bem-aventurada porque descobria dentro da sua intimidade todo o contentamento das árvores floridas! Esse mundo de felicidade que, afinal, a procurara e lhe mostrara como podia ser verdadeiramente fiel ao Senhor, caminho de glória, caminho de heroísmo, caminho de vida.

A partir de agora sabia que o seu corpo se tornaria um celeiro onde uma espiga de trigo novo seria guardada para oferecer ao mundo um Filho humano, todo semelhante a ela e divino porque quem o visse veria o Pai. E Jesus brotando do seu ventre seria como o trigo puro, uma dádiva sempre disponível para o amor porque nascera por vontade do Deus do Amor Absoluto, numa aliança com ela e com José....


Que alegria, em cada dia, ver esse trigo crescer na sua carne para o oferecer ao mundo! E as faces de Maria pareciam cobertas de um sorriso infinito! Através de Jesus, o Senhor poderia dar a conhecer aos homens o Seu pensamento, sem os escandalizar com uma intervenção que infringisse todas as leis naturais!»

Teresa Ferrer Passos, Anunciação (romance),
Universitária Editora, 2003, pág. 96.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Encarnação divina


Maria e o Menino Jesus
«Uma nova Jerusalém aproxima-se. Temos de estar preparados, pensava Maria, cada vez que na sua memória afloravam as palavras do anjo. É preciso cuidarmos do nosso destino. Que na hora do nascimento deste filho, a ser em potência uma encarnação em que só o Espírito Santo e eu participámos, o corpo e o espírito estejam preparados para o receber... Que jubiloso tempo, como me exalta o corpo, como me eleva o pensamento, dizia para si própria, sempre que se sentia inquieta com a grande ventura... ela que aceitara a Vontade de Deus!»

               Teresa Ferrer Passos, Anunciação (romance), Universitária Editora, 2003, pág. 104.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Acerca do poema "Quando a luz escorrega sob os pés descalços"


“(...) E da Lua os longos cabelos prateados
Escorrendo sobre o seu corpo de mulher
Reflectiram os rostos das crianças
Que procuravam de onde vem o medo”
16/10/2013
                  Fernando Henrique de Passos


     “De onde vem o medo?”, pergunta pertinente de Fernando Henrique de Passos. “Reflectiram os rostos das crianças”, a perguntar, cada vez mais e com mais força, a perguntar! Pergunta pertinente, na voz do Poeta. Pergunta a reflectir o drama do sentimento do medo com que se confrontam tantas crianças, vítimas da crueldade, da perfídia, ou da insensatez dos adultos. Adultos que não aprenderam a cuidar delas, adultos sem escrúpulos, indiferentes à sua fragilidade e pureza.

 18/10/2013

                                                             Teresa Ferrer Passos

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Camilo e as notícias dos jornais...

Pintura de autor desconhecido
«diariamente Camilo quer que ela lhe leia as notícias  dos jornais e gazetas que chegam do Porto, de Lisboa e de tantos outros lugares. Ouve-as, como se esperasse delas assunto para uma outra novela.(...) Com dolência, Ana lê, vai lendo sempre até Camilo dizer irado. Chega! Estou farto! as mesmas fanfarronices dos políticos, os mesmos casos de faca e alguidar! com o seu nervosismo atávico desconfia sempre que Ana lhe esconde precisamente a notícia que deseja ansiosamente escutar. Talvez uma descoberta científica, uma intervenção honesta na câmara parlamentar, uma qualquer renovação na Santa Sé...» 

                          Teresa Ferrer Passos, O Segredo de Ana Plácido, 1ª edição, Gazeta de Poesia, 1995, p. 80; 2ª edição (ass. pelo ortónimo Teresa Bernardino), Nova Vega, 2000.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Uma tília do jardim


«de súbito a carruagem! (...) Cá fora Camilo agita as rédeas dos cavalos fogosos numa inquietação que lhe é tão habitual como a sombra da tinta nos seus escritos... ansiedade e determinação na hora do rapto com a experiência da atitude distante... mas eis que descortina Ana passando por trás de uma tília do jardim de acesso à Conceição»

Teresa Ferrer Passos, O Segredo de Ana Plácido,
 1ª edição, Gazeta de Poesia, 1995, p.97; 2ª edição (ass. pelo ortónimo Teresa Bernardino), Nova Vega, 2000.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Ecrã mágico


«Fora da esfera do ecrã mágico , a sociedade era imunda. Só a muito poucos era ainda possível dialogar fora das suas fronteiras. O ecrã assumia-se como o veículo em que podiam confiar; era mesmo um verdadeiro espelho, em que cada mensagem ganhava a dimensão décima sétima do sagrado, como se fosse a vida ou a eternidade»
Teresa Ferrer Passos, Planeta Joyce 8,
2007, pág. 90.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Sombras luminosas


Camilo (pintura de Roque Gameiro)
«Devagar contemplo o despertar das estrelas na vigília da minha alucinante certeza de conhecer todos os segredos de Ana. As velas que acendo à medida que se vão esgotando sentem como me é indiferente a sua luminosidade apesar de precisar da sombra que projectam para lançar no papel as ondas violáceas da perseverança perante a qual me inclino como um peixe à beira do mar depois da consumação da vida.»

Teresa Ferrer Passos, O Segredo de Ana Plácido,
Edições Gazeta de Poesia, 1995, p. 64