quinta-feira, 18 de julho de 2013

As Ilhas Selvagens, o eco-sistema planetário e Portugal

Ilha Selvagem Pequena, região a 300 Km a Sul da Madeira
e o ponto mais a Sul de Portugal

1. No 50º aniversário da 1ª Expedição Científica às Ilhas Selvagens, o Professor Cavaco Silva, Presidente da República, tomou a iniciativa de comemorar a efeméride com uma visita integrada na missão de carácter cientifico, que se está a efectuar nas Ilhas Selvagens. Esta missão deseja aplicar a capacidade tecnológica de Portugal para defender as metas da ecologia, na vertente da defesa da bio-diversidade à escala global.

2. A preservação do ambiente, já tão agredido por muitos países com governos com um fraco sentido da responsabilidade, implica a revalorização de toda uma economia marítima, pois os recursos que o mar ainda suporta são indispensáveis para a reconversão do eco-sistema do planeta Terra. À defesa do ambiente do mar e, assim, à defesa da vida, está associada a importância geo-estratégica destas ilhas; a esta importância acrescenta-se o incremento de uma macro-economia baseada nas pescas e nos portos e na implementação da produtividade destes sectores com vista à exportação. 

3. Localizadas a uma distância de 1000 km de Portugal, estas pequenas ilhas foram descobertas por um italiano, em 1364. Foram nomeadas e baptizadas em 1438 (como era costume entre os navegadores portugueses) à passagem da caravela de Diogo Gomes (de Sintra), também descobridor das ilhas de Cabo Verde, rios da Guiné, etc. O navegador Diogo Gomes, homem ousado da escola dos navegantes sob o comando do Infante D. Henrique, deixou-nos importantes informações sobre as viagens marítimas em que participou e em que estas Ilhas Selvagens se delineavam no mar como um farol do futuro.

4. Integrando-se no arquipélago da Madeira, as Selvagens e os seus ilhéus formam um subarquipélago. O Presidente da República, nesta conjuntura política de grave crise nacional, desloca-se a este torrão do mar que pertence à soberania portuguesa e que lhe poderá garantir a maior Zona Económica Exclusiva da União Europeia. Esta Plataforma Continental garantida pela distância a que as Ilhas Selvagens estão de Portugal tem, nos tempos conturbados do mundo contemporâneo, um valor incalculável, que os descobridores nunca supuseram naquela época de grandes ilhas e de longos litorais onde desembarcavam com palavras e gestos de paz.

5. O Professor Cavaco Silva está a avivar no espírito dos portugueses aquilo que ainda podemos ter, distante mas nosso, e que tantas vezes desprezamos como não valendo  a pena. As Ilhas Selvagens podem garantir a Portugal mais 2,15 milhões de quilómetros quadrados de território marítimo, se Portugal vir reconhecida pelas Nações Unidas, entre 2014 e 2015, a sua jurisdição plena, naquela que passará a ser a maior Zona Económica Exclusiva da Europa.

18 de Julho de 2013

Teresa Ferrer Passos

terça-feira, 16 de julho de 2013

O vento e as pedras

Era Céu, era Serra.
Uma Cruz, uma Rosa.
E eu vi, sob a terra,
Uma lapa, uma lousa.

Era Céu, era flava.
Pela cava, Zulmira.
E a aragem tocava
Uma corda, uma Lira.

Algo é verde, ela é vedra.
É do Bel. Qual adobe?
É o Vento, que é pedra.
E é Alma, que sobe.

Algo é vau, que ela é vela.
É o Espírito e roca......
Uma nave, uma Bela,
Uma Rosa na boca.

AD MAJOREM DEI GLORIAM

Paulo Jorge Brito e Abreu

domingo, 14 de julho de 2013

Caderno Íntimo


«Os pensamentos que lhe percorreram a alma, a mais retirada das moradas, estão nas folhas deste caderno íntimo. E precisamente para os oferecer à Virgem Maria que lhe sorri e, desse modo singelo, lhe mostra que a quer escutar, que a quer pronta a dialogar com ela.»

Teresa Ferrer Passos, Santa Teresa do Menino Jesus e a Força dos seus Pequenos Caminhos, Edições Carmelo, 2013, p.14.

sábado, 13 de julho de 2013

Meu Deus, lembrai-lhes...

                              «Fazei-vos servos uns dos outros pela caridade»
                                                                S. Paulo Gál. 5, 13

Encandeados pelas cores do pó
no olho nu desarmado, a apagar-se,
riem com riso irrisório
e correm
no sonoroso palmilhar do negro alcatrão…
não se vêem nem se sabem,
não são?

Entre nebulosas de pó verde, vermelho, amarelo,
eclipsam as identidades cheias de dádiva,
aniquilam a vontade pura de dar
e ampliam o absurdo em que correm
com vozes gritantes
a parecerem mendigos de atenção…
e não, não servem a ninguém,
nem tão pouco a eles próprios
nem tão pouco...

Meu Deus, Pai de todos nós,
lembrai-lhes o que é servir,
o verdadeiro dar e receber,
o que é dividir tudo na fraternal idade.

Meu Deus, Pai de todos nós,
lembrai-lhes o equívoco dos vendilhões do Templo,
lembrai-lhes que a nódoa das pistolas de tinta colorida
não são também senão equívoco ainda
e agora a servir-se do vosso dar
para vender um produto barato
e esvaziado das razões do que é mesmo o servir…

Meu Deus, Pai de todos nós,
lembrai-lhes a felicidade
de servir os outros, perdidos,
abandonados, sem afecto,
e não estes que só se identificam
por oferecer prazeres breves e cheios de nada.

Lembrai-lhes meu Deus, Pai de todos nós,
lembrai-lhes o que é o verdadeiro servir,
que alegria é ir  até ao solitário,
ao triste, ao sem arrimo, ao sem eira nem beira…
e só assim chegarão mesmo, muito para além de si próprios!

11 de Julho de 2013



                                                         Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Personalidade para o diálogo...


«Desde que exista, à partida, vontade e espírito de cooperação entre os partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento, e desde que estes coloquem o interesse nacional acima dos seus próprios interesses, creio que não será difícil definir o conteúdo em concreto desse entendimento. Mais ainda, um acordo desta natureza não se reveste de grande complexidade técnica e poderá ser alcançado com alguma celeridade, podendo recorrer-se a uma personalidade de reconhecido prestígio que promova e facilite o diálogo.»*
                   Excerto da Comunicação ao país do Presidente da República em 10/7/2013


* Segundo consta, essa personalidade poderá ser o General António Ramalho Eanes. Se for essa a escolha do senhor Presidente da República, damos-lhe o nosso pleno apoio. (T.F.P.)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Que alegria dividir


«Como é agradável dar o que temos dentro do nosso ser. Dividir com aqueles que estão mais ou menos próximos é uma obsessão para Teresa do Menino Jesus. Que alegria dividir aquilo que passa pelas suas emoções. Que conforto dividir os seus sentimentos, as suas lágrimas de dor ou de alegria.»

Teresa Ferrer Passos, Santa Teresa do Menino Jesus e a Força dos Seus Pequenos Caminhos, Edições Carmelo, 2013, p.9.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade

UMA MULHER DE MÃOS ESCANCARADAS* 



O Papa Francisco reconheceu hoje (5 de Julho de 2013) as “virtudes heróicas” da portuguesa Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade, fundadora da Congregação das Concepcionistas ao Serviço dos Pobres que poderá, a partir de agora, ser beatificada, quando for reconhecido um milagre por sua intercessão junto de Deus.


O desenho do branco desenha-se na larga e seca planície. A forma das pequenas casinhas caiadas confunde-se com a claridade branca do Sol. No Monte do Torrão, aldeia de Santa Eulália (a poucos quilómetros de Elvas), onde nasceu, em 1889, Maria Isabel recebera as palavras do Evangelho desde a infância. Uma fascinação pelas artes toca o coração de Maria Isabel. Com uma cuidada educação dada por seus pais, inscreve-se na Escola de Belas-Artes de Lisboa. Mas a arte de amar é mais forte. Regressa ao seu solitário Alentejo. Em 1912, tem vinte e três anos. É, então, que contrai matrimónio com João Pires Carneiro, lavrador abastado. Vão viver para S. Domingos, também a pouca distância de Elvas. O amor ao esposo é agora a sua meta e o seu contentamento.

Generosa, tudo dá de si porque dar é a sua vocação maior. Os anos passam na serenidade das soalheiras e das sombras macias dos sobreiros. Sem filhos, dedica-se inteiramente ao marido que, entretanto, adoece, sem sinais de recuperação. Com extremoso amor, Maria Isabel oferece-lhe o melhor de si. O agravamento do seu estado de saúde, debilita-a. Quer parecer forte ao olhos do esposo.

O cansaço abate-a, mas não a faz desistir de lutar. De têmpera combativa, procura o auxílio da oração. Suporta a cruz com abnegação. Mas o esposo sucumbe. A sua morte aparece-lhe como um fim inevitável. Na hora do seu falecimento fica paralisada, não sabe que sentido tem a sua vida sem aquele amparo que durara dez anos, sem ter recebido a dádiva de um filho. Sente a solidão na sua alma generosa, pronta para servir. Tem trinta e três anos. Corria o ano de 1922. Inconformada com o falecimento do esposo ainda tão jovem, ao longo de onze anos dá apoio à Igreja de Santa Eulália. Em 1934 entra nas Dominicanas de Clausura de Azurara, mas a falta de saúde leva-a a regressar à terra natal. Pouco tempo depois, em 1936, a Casa de Retiros em Elvas é-lhe entregue pelo arcebispo de Évora. A partir da atribuição desta responsabilidade, Maria Isabel vai doando generosos bens a essa obra. 

A guerra civil espanhola prolongava-se pelo ano de 1939. Em Espanha, as Ordens Religiosas eram perseguidas pelas forças comunistas. As Irmãs Concepcionistas de Clausura de Santa Beatriz da Silva refugiam-se na zona de Santa Eulália. Tomando conhecimento da sua situação, logo Maria Isabel oferece as suas casas para as acolher. Dialogando longamente com as Irmãs daquela Ordem sente que a vontade do Pai devia ser o grande guia das acções humanas porque «só devemos querer uma coisa: que se cumpra em nós a sua santíssima vontade».

Pela primeira vez desde a morte do marido, sente-se fortemente ligada a uma comunidade monástica. Presta toda a atenção às palavras sábias das Irmãs de Santa Beatriz da Silva. Escuta os seus pontos de vista sobre a Ordem a que pertencem, sobre os seus objectivos. Sabe que a Imaculada Conceição é um alento maravilhoso para o culto divino. As palavras das Irmãs espanholas da Imaculada Conceição de Santa Beatriz mostram a Maria Isabel que a Ordem podia ser mais activa, mais dinâmica se tivesse a dimensão humana de auxiliar os pobres, os mais desamparados na sociedade.

Na verdade, a Ordem de Santa Beatriz era de cariz contemplativo. Juntar à oração a acção, a prática do auxílio material, seria alargar a construção da Casa do Espírito Santo. Os pobres precisavam, nestas paragens alentejanas, de bem mais assistência. A seara de Jesus exigia esse serviço. «Ninguém nos pode tirar Deus dos nossos corações; e com Deus nunca seremos pobres nem abandonados» escreveria Maria Isabel.

A vida de Maria Isabel orientava-se, agora, no sentido da dádiva dos seus bens aos pobres desse Alentejo solitário e pouco afortunado. Por que não fundar uma Ordem que unisse o espírito contemplativo ao da acção? «É certo que nada vales, mas comigo, tudo vencerás», eis as palavras que escutava bem dentro do seu coração. Unido a ela, Jesus dava-lhe a esperança de conseguir lançar uma nova Ordem. A cada instante, sentia Jesus incutindo-lhe perseverança apesar das dificuldades a vencer.

Agora sentia-se uma mulher capaz de renascer se fosse possível lançar os fundamentos de uma Ordem de Nossa Senhora da Conceição ao Serviço dos Pobres, tudo conforme o espírito de S. Francisco de Assis. As dificuldades não se fizeram esperar. Mas, «o sacrifício dará fruto a seu tempo», pensa Maria Isabel nas horas de desalento.

Uma excepcional força anímica vivia ainda em Maria Isabel para não vacilar ante os obstáculos. Acredita, com firmeza: «A oração dispõe-nos para a Graça»*. Em 1939, a Congregação das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres estava já a erguer-se. Construção lenta, mas fundada na esperança que não se deixa vergar pelos tempos nefastos. De facto, só a 5 de Julho de 1955, o Papa Pio XII aprovava a fundação do novo instituto religioso. É nesse mesmo ano que Madre Isabel faz a sua Profissão Perpétua.

Vencendo quem se opunha aos seus desígnios, a Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade, assim rebaptizada na religiosa senda, realizava o último e grande sonho da sua vida: entregar aos pobres todos os seus bens e com esses bens formar uma Congregação para os servir. Ao criar a Congregação das Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, as suas riquezas multiplicavam-se, todo o património de que era detentora foi entregue à nova comunidade religiosa. Os bens doados foram a terra fértil para concretizar o sonho de Maria Isabel: servir o Pai mesmo para além da planície larga desse Alentejo em que nascera.

Ao Serviço dos Pobres nada se perde, tudo é restaurado e dá fruto até ao fim dos tempos. Sete anos após a aprovação papal, Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade terminava a sua obra nessas terras de trigais a perder de vista. A morte punha fim aos seus incansáveis trabalhos, a favor dos mais abandonados, no ano de 1962. Em 1998, foi pedida a sua beatificação.

As orações daqueles que nela esperaram auxílio, na doença ou na pobreza, têm sido escutadas. No reino do Espírito Santo terá continuado a velar pelos mais desprotegidos. A beatitude revelara-a já em vida. Revestida de beatitude continuará no céu, nesse céu donde Jesus lhe sussurrava a Sua Vontade. E que era, afinal, a maior ambição de Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade: ajudar os pobres. Como ela soube pôr em prática aquilo que Jesus dissera ao homem rico: «vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu» (Mc 10, 21). Como ela terá meditado nas Bem-Aventuranças do Sermão da Montanha, das quais lembramos apenas uma das que mais a terá sensibilizado: «Bem-aventurados os mansos porque possuirão a terra» (Mt 5, 5). 

Teresa Ferrer Passos

* Este texto, escrito em 28 de Dezembro de 2009, foi publicado na Seara dos Pobres (Out/Nov/Dez 2011), jornalinho da Congregação das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres (todas as citações foram retiradas da Novena à Serva de Deus Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade, Évora, 2008).

sábado, 29 de junho de 2013

Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa, em breve Cardeal




       Neste Dia de S. Pedro e S. Paulo (29 de Junho), o recém-nomeado Patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente recebeu o pálio, a insígnia litúrgica que simboliza o serviço de Patriarca e, por tradição inerente, de Cardeal, o mais alto cargo da Igreja Católica depois do Papa, que lhe será atribuído na próxima reunião do Sacro Colégio Pontifício. A insígnia, desde já, de Patriarca, foi entregue a Manuel Clemente das mãos do próprio Papa Francisco. Depois, Manuel Clemente prestou o juramento de fidelidade à Igreja e ao Papa. O pálio, uma faixa ou estola de lã branca de cordeiro, é o símbolo de Jesus, o Bom Pastor. A lã felpuda da faixa é decorada com seis cruzes pretas de seda que representam, por sua vez, o compromisso de ser capaz de dar a vida pelas mansas ovelhas que vai conduzir.

       Neste ensejo, lembramos o que Joseph Ratzinger escreveu no livro Jesus de Nazaré: «Alguém demonstra que é um verdadeiro pastor, quando entra através de Jesus visto como porta; é que, deste modo, Jesus permanece substancialmente o pastor: só a Ele “pertence” o rebanho». (Ob. cit., 2007, p.346). D. Manuel Clemente recebeu, ao ser investido do pálio, a responsabilidade de continuar o ofício de servir o Bom Pastor, seguindo o amor que o Bom Pastor, com quem Jesus se identifica, tem pelo seu “rebanho”.

       Ao assumir este cargo eclesial, Manuel Clemente coloca-se no número daqueles que, em breve, na qualidade de cardeal não só escolherá, em conclave, o sucessor de cada Papa, como ele próprio se coloca entre aqueles que poderão vir a ser sucessores de Pedro, como agora o foi o Cardeal Jorge Mario Bergoglio, com o nome de Papa Francisco. Na verdade, como Jesus disse, impõe-se no plano de Deus “haver um só rebanho e um só Pastor”.

       Os Cardeais podem vir a ser sucessores de Pedro a quem Jesus confia a missão indo ao ponto de ser capaz de dar a vida pelas Suas ovelhas. Na 1ª Carta de Pedro aos pagãos, estão escritas palavras orientadoras para os futuros continuadores da missão evangélica: «Aproximai-vos d’Ele, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. E vós mesmos, como pedras vivas, entrai na construção de um edifício espiritual, por meio de um sacerdócio santo» (I Ped 2, 4-5). Nesta breve 1ª Carta do Apóstolo, vemos Pedro fazer uma magnífica oração dirigida aos povos estrangeiros, junto de quem exaltava a maravilha de anunciar «as virtudes d’Aquele que os chamou das trevas para a Sua Luz admirável» (I Ped 2, 9). Ainda no mesmo documento relevamos a importância que Pedro atribui já aos presbíteros (título eclesial da época), nestes tempos primitivos do Cristianismo.
    
     O Apóstolo, na humildade de servir a Jesus o Cristo, acentuava nesta missiva que ele próprio era um presbítero como eles. Exortava-os ainda a dar a maior relevância a princípios de ordem moral, conforme os caminhos traçados por Jesus: «Apascentai o rebanho que Deus vos confiou, velando por ele, não constrangidos, mas de boa vontade; não por um sórdido espírito de lucro, mas com dedicação; não como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas como modelo do vosso rebanho. E quando o Príncipe dos pastores aparecer, recebereis a coroa de glória que jamais se ofuscará» (I Ped 5, 2-4). Nos nossos dias, o recém-eleito Papa Francisco procura seguir estas linhas de rumo do Apóstolo que Jesus escolheu para O representar na terra, em que se inscrevem as palavras de Jesus: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei».

       Com a sua conhecida simplicidade, com uma personalidade frontal, com o seu entusiasmo, o Patriarca D. Manuel Clemente vai ser, acreditamos, um escrupuloso discípulo de Pedro. Ele é a pessoa indicada, nos nossos dias, para redimensionar, na linha da predicação do Papa Francisco, uma Igreja ainda demasiado apagada, pouco interventiva na sociedade materialista do mundo Ocidental. Uma Igreja sem as ousadias da redescoberta daquela Igreja primitiva, essa Igreja do tempo de Pedro e de Paulo, não será capaz de redescobrir o mundo nem que o mundo a redescubra.

       Que o Patriarca (em breve, Cardeal) Manuel Clemente edifique uma nova e grande fé na Ecclesia de Deus. Impõe-se salvar da tempestade a barca das palavras de Deus encarnado em Jesus. É preciso repor o exemplo como guia de vida para os que ainda não crêem ou aqueles que deixaram de crer. A D. Manuel Clemente, auguramos, parafraseando Santa Teresa do Menino Jesus –Padroeira das Missões e Doutora da Igreja –, um caminho movido pela força arrasadora e súbita dos pequenos caminhos, esses mesmos que oferecem às criaturas humanas os caminhos do Pai, do Filho, do Espírito Santo.    

29 de Junho de 2013

Teresa Ferrer Passos*
*Historiadora

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Maria José Nogueira Pinto – Uma Vida Invulgar


Foi ontem lançada no Museu de S. Roque uma monografia histórica sobre Maria José Nogueira Pinto, antiga Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, deputada pelo CDS e, mais recentemente, como independente, nas listas do PSD. A obra, de carácter biográfico, foi construída por Maria João da Câmara, através de depoimentos de colaboradores, amigos e de sua família de que destacamos seu dedicado marido Jaime Nogueira Pinto, escritor e político.
A obra foi apresentado por Manuela Ferreira Leite que elogiou “a forma e o ritmo” da autora. Referindo-se a Maria José Nogueira Pinto recordou a sua “capacidade de analisar problemas e de nunca desistir”.
 O Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Pedro Santana Lopes, salientou a grande força anímica de Maria José Nogueira Pinto, a quem a ex-ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite caracterizaria deste modo singelo: "Experimentem ser como ela".

27 de Junho de 2013
 Teresa Ferrer Passos



sábado, 22 de junho de 2013

Por Ocasião dos 100 Dias do Pontificado de Francisco


ACERCA do DIREITO de RECEBER o BATISMO 

Papa Francisco na Capela da Casa de Santa Marta 


     «Pensai numa mãe solteira que vai à Igreja, à paróquia e diz ao secretário: Quero batizar o meu menino. E quem a acolhe diz-lhe: Não tu não podes porque não estás casada. Atentemos que esta mãe que teve a coragem de continuar com uma gravidez o que é que encontra? Uma porta fechada. Isto não é zelo! Afasta as pessoas do Senhor! Não abre as portas! E assim quando nós seguimos este caminho e esta atitude, não estamos fazendo o bem às pessoas, ao Povo de Deus. Jesus instituiu 7 sacramentos e nós com esta atitude instituímos o oitavo: o sacramento da alfândega pastoral. (...) Quem se aproxima da Igreja deve encontrar portas abertas e não fiscais da fé!»

Missa em 25/5/2013                                                                                   
                                                                    Papa Francisco



     Nem todos os padres se comportam com essa atitude de fazer os filhos pagarem pelos actos dos pais. Contudo, é bom que o Papa Francisco lembre estes casos que não obedecem a uma norma da Igreja, mas continuam a depender do critério de cada Padre de Paróquia. É urgente que a atitude de intransigência (de responsabilidade pessoal) deixe de ser possível. As palavras do Papa Francisco são bem reveladoras do que um padre deve fazer em relação a uma mãe solteira que deseja batizar o seu filho(a).

                                                    22/6/2013

                                                                                               Teresa Ferrer Passos

O laboratório no deserto



A boca ressequida da loucura.
A pele gretada.
Um olhar quebradiço
De capa de revista abandonada
Quebra o feitiço
Que mantinha em suspenso a madrugada.

Lucubrações.
A luz castanha de uma vela.
Paredes cobertas de escaninhos
Guardam a razão negramarela
Da noite enovelada em torvelinhos
Transformando em óleo a aguarela.

O laboratório no deserto.
As moscas de metal.
O espaço totalmente desconexo
Do rodapé de um manual
Reflecte perplexo
Os fulgores de um ocaso matinal.

O riso solto e sem medida.
O alambique.
A luz é destilada gota a gota
E o sol a pique
Viola a madrugada desgrenhada e rota
E espera que o sangue o purifique.

A cadência exacta do metrónomo.
O pó de areia.
O pensamento desdobrável do deserto
Converte o meio-dia em lua cheia
E dissolve o contorno quadricular e certo
De cada nova ideia.


21/6/2013

Fernando Henrique de Passos

terça-feira, 18 de junho de 2013

Amor celeste



(invoco, para o mar, o Arcano da Estrela)

Em Númen´s multicores, em nobreza,
Marinela de plantas se vestia,
E as Graças, os Cupidos, a magia,
Nos seus cabelos eram a lindeza.

Mansíssima oração, alada deusa,
Coa Lua vens silente em Poesia.
Bendita sejas tu, bendito o dia
Em que o Vate a ti veio com pureza.

Em ti bailam as flores da floresta,
Em ti cessa o meu mal por que eu me afoite.
Bendita sejas tu, ó meiga mesta,

Bendito seja o ventre em que me acoite.
Maria, Mãe das flores, vem qual Vesta,
Maria, Mãe dos astros e da Noite.

Lisboa, 10/ 01/ 1991

AMOR MAGISTER EST OPTIMUS

                                                 PAULO JORGE BRITO E ABREU

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Academia de Estudos Misericordianos



"O Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) aprovou recentemente a criação da Academia de Estudos Misericordianos. Por iniciativa e proposta de Manuel Ferreira da Silva, fundador do jornal Voz das Misericórdias, a Academia pretende ser um fórum de estudo e reflexão sobre as Misericórdias e todas as dinâmicas que as envolvem e caraterizam." 
                              Jornal Voz das Misericórdias, Maio de 2013

sábado, 15 de junho de 2013

À Bout de Souffle



Um salto no espaço aberto no livro
Nas ondas no rio no meio das casas
Os prédios de letras desfazem-se em números
Os símbolos vagos são gotas de chuva
O vento é vertigem ruína de ideias
Conceitos castelos que se desmoronam
A lava das ruas sobe à superfície
A água fervilha e desfolha páginas
Um arranha-céus faz de secretária
A luz de um relâmpago faz de candeeiro
Um salto no espaço no buraco negro
Futuro nas frases nas linhas quebradas
No papel molhado na caneta húmida
Nos cálculos lúbricos e nos teoremas
E na enxurrada de premissas falsas
O vento na cara o livro de rojo
A racha no muro a mesa entornada
Há teses hipóteses planos imperfeitos
Torrente de símbolos dilúvio de ideias
Letras a boiar números desbotados
Sucessão de casas ondas a ruir
Um salto no espaço aberto no cérebro
No círculo certo no centro do mundo
E no convergir de todos os arcos
Arquejar dos astros tempestade cósmica
Golfada de vento espasmo universal
Um salto no centro da falta de fôlego
De um deus quase à beira de criar alguém
E que pára à espera de ouvir o silêncio
No fundo do vento no fundo da chuva
Para lá da lama em fechando o livro
Mas o livro ri-se
Grossas gargalhadas bátegas de riso
Bailam sobre as águas comandam o vento
Saltam no vazio no espaço deixado
Pela falta de ar do sopro de Deus
Preso ao turbilhão da ideia de ser
E do movimento a que deu início
E não quer parar não sabe parar
Não pode parar
Enquanto houver letras enquanto houver livro
E o livro for lei


14/6/2013
                                Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 13 de junho de 2013

No Aniversário Natalício de Fernando Pessoa


               «Acima da verdade estão os deuses.
                A nossa ciência é uma falhada cópia
                Da certeza com que eles
                Sabem que há o Universo.

                Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,
                Não pertence à ciência conhecê-los,
                Mas adorar devemos
                Seus vultos como às flores,

                Porque visíveis à nossa alta vista,
                São tão reais como reais as flores
                E no seu calmo Olimpo
                São outra Natureza.»*

                                     * De uma Ode de Ricardo Reis

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Santo António e o povo de Lisboa

«Durante a sua vida, não há notícia de que S. António tivesse feito milagres. Mas, depois de morrer, porque a dor, a carência do seu afecto pretendem algo que o continue, a fé nasce no coração daqueles que dantes só o admiravam ou o amavam demasiado humanamente.»



«Mas quando S. António morreu, de repente, tudo se modificou. É então que ele é revelado aos seus contemporâneos, é revelado no vazio que ele lhes deixa.»


«É então que o espanto domina essa multidão até aí tão segura num amor que era quase obstáculo da fé.»


«Então ela compreendeu que é a fé que readmite a grandeza do amor, que lhe dá vida, que tem o poder de conter os vivos na perpétua união com a vida. E foi quando os milagres começaram.»*


* Excertos do livro Santo António de Agustina Bessa Luís, pp. 229-230.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Psicanálise sideral



Um sono pesado do lado estranho da montanha
De pé no estrado por cima do rio
Na mão o machado sobre a lenha
O fio da lâmina metalizando o frio

O peso do castelo no ângulo azul do horizonte
A massa de argila lodosa ao pé do barro
A água suspensa do escorregar da fonte
O caminho estreito do burro atrás do carro

A taça que cintila no estalar da luz no arvoredo
O delírio do ídolo das fadas no terraço:
Varandas penduradas sobre os mundos imensos do segredo:
Terror nocturno da solidão do espaço


10/6/2013

Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Uma psico-biografia de Santa Teresa do Menino Jesus

Edições Carmelo acabam de publicar uma obra
 sobre Santa Teresa do Menino Jesus


«Se a paz habitar o nosso espírito, abre-se a porta para o caminho da perfeição. Porque onde habita o Amor, aí vive a paz.»

«E a paz surge em quem sabe "dar" o Amor, da mesma maneira que o sabe "receber".»

«A paz que começa no nosso coração transmite-se aos outros corações. A paz é o fim último do "viver de Amor"»

        Teresa Ferrer Passos «Poética do Sofrimento e do Amor em Santa Teresa de Lisieux» in revista Faces de Eva, nº16, 2006, p.59.

sábado, 1 de junho de 2013

No Dia Mundial da Criança - Pequena Homenagem

Nuvem Pequenina de Céu

      No átrio de uma escola, onde não se lembrava de alguma vez ter entrado, Beatriz viu um letreiro que dizia: «Nuvem pequenina de céu». Ficou pasmada. Nem queria acreditar. Como podia estar a ver ali um recreio de uma escola?! Correra tão depressa e chegara, sem dar por nada, àquele lugar?! Só tinha a certeza de não querer encontrar qualquer outra escola.

      Afinal, ali havia também uma escola?! Como, estando tão distante da sua escola, entrara numa escola que lhe parecia a mesma? Ela, que fugira de uma escola por não gostar de lá estar, que penetrara num mundo livre de maldade e logo entrava, de novo, numa escola? «Só pode ser igual à outra!», gritou desesperada. As escolas não eram todas iguais? Se todas eram escolas, todas deviam ser iguais, pensava com uma grande desilusão a percorrer todo o seu corpo encharcado pela água gelada do rio, mas cheio de uma nova esperança.

      A sua cabecinha, estonteada por uma fuga tão vertiginosamente rápida, sentia-se demasiado confusa e estranha. Ali, naquela escola via tantos meninos e meninas correndo, jogando, rindo. Mas como fora ali parar?! Quem a empurrara para aquele lugar que só lhe trazia terríveis lembranças de um tempo horrível e tão próximo? Precisamente, o lugar que ela tanto desejara esquecer para sempre, aparecia-lhe, inesperadamente, no fim do mundo?!

      De súbito, Beatriz pensou que talvez se tivesse enganado na direcção que tomara. Tal a sua precipitação na fuga, tal o desejo de não voltar à escola… Devia ter seguido por um caminho errado… Mas, como se enganara?! Haveria mais do que um caminho? E ela que julgava só haver um destino por aquele rumo…

      Restava-lhe fugir de novo, sair dali. Mas como fazê-lo? Não via uma porta, nem um portão, não via uma rua, nem uma estrada. Estava dentro de um recinto aberto e, na verdade, completamente fechado. Naquele lugar, onde todos pareciam brincar divertidamente, também não descobria uma janela, sequer uma estreita fresta. Onde chegara, afinal?! O ambiente tão natural numa escola parecia-lhe idêntico ao da escola tenebrosa donde fugira. Encontrava-se numa escola, era iniludível. Ora, isto só poderia ser o começo de um novo suplício…

      Agora que escolhera a liberdade de ser outra criança, a liberdade de ter o seu próprio destino, acabava de entrar ainda, outra vez, numa escola?! Quanto tempo desejara ver-se livre daquele recreio onde os meninos da sua turma lhe batiam todos os dias, como se ela estivesse ali a mais, estivesse ali sem dever, como se ela fosse um empecilho, um estorvo ou um bocadinho de lixo abominável. E, depois da fuga salvadora, caíra numa armadilha… Tinha a certeza. Entrara de novo numa escola!

     Sem ela ter tido tempo de procurar uma eventual saída, duas meninas e um menino saíram do grupo em que brincavam e, olhando-a, disseram em uníssono: «Anda Beatriz, vem brincar connosco». Estupefacta ante o simpático convite, respondeu toda a tremer: «Brincar com vocês? Vocês não são como os outros?!». «Vem, não tenhas medo. Somos teus amigos». «Meus amigos, como?», interrogou Beatriz, sem acreditar na sinceridade das suas palavras.

     «Aqui, numa pequenina nuvem de céu, todos são amigos e, por isso, ninguém fica de fora da amizade», disseram a sorrir. «Mas eu devo ficar como sempre fiquei! Sempre fui vista na escola como um verme, um verme repelente…», insistiu Beatriz, sem acreditar no que lhe diziam. Seria um embuste para a apanharem? Iria cair numa nova armadilha? Ou, pelo contrário, estavam a dizer-lhe a verdade?! Mas como podia Beatriz acreditar?!

     Ao verem-na sem responder e com as faces incendiadas de medo, já nem conseguiam sorrir. Como a tinham magoado, afinal! Depois, viram-na a esconder-se por traz de um fiozinho de água de uma das fontes daquela escola, cheia de fios de água, plantas com frutos e relvados largos com pequenos esquilos, coalas e lémures a saltitar. Todos os animais que saiam das suas tocas tinham um pelo aveludado, olhos dóceis e patinhas felpudas.

     Entretanto, Beatriz começou a divertir-se com aqueles bichinhos inesperados. E, os três meninos saídos do grupo, não resistiram a chamá-la de novo: «Tu abandonaste o tempo da inimizade, rejeitaste o tempo da cólera, tu tiveste a coragem de escolher o tempo da harmonia e o tempo da paz. Aqui, encontras esse tempo em que nunca chegaste a viver. Nesta escola serás tratado por irmã». «Escolhi o único tempo em que eu podia viver, o tempo da amizade», respondeu Beatriz, já confiante e com um sorriso nos lábios.

     Naqueles momentos, a pequena Beatriz começou a sentir que podia haver escolas com meninos bem diferentes daqueles que estavam na escola donde fugira. Afinal, havia escolas com meninos amigos uns dos outros, sem marginalizados, sem os «fora do grupo», sem martirizados, só porque eram cheios de mansidão. Naquela escola, que estava numa pequenina nuvem do céu, não havia que ter medo de ficar lá, sempre a aprender novas coisas.

     Agora, Beatriz não pensava mais em fugir. Naquela escola, a amizade apagava a mais pequena sombra de violência. Ali, não havia meninos a provocarem sofrimento aos que tinham só afecto no coração. Neste lugar, em que tudo era movido pelo sentimento da fraternidade, Beatriz queria ficar, sem relutância, sem qualquer susto. Aqui, até poderia ter encontrado um lugar para sempre, mesmo sendo, e ainda sendo, um lugar chamado escola.*

Teresa Ferrer Passos

*Conto inédito