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quinta-feira, 14 de julho de 2016

Indícios


A forma invisível
Em torno da qual
Se enredam os teus sonhos

A falta de razão
Para um pôr-do-sol
Te parecer tão belo

A sombra rebelde do teu querer
Que te faz ir por outro lado
Diferente do que julgavas procurar

As palavras na música sem voz
Que te dizem aos ouvidos mil segredos
Que tu não tens palavras para repetir

:Eis alguns dos rostos
Do Senhor teu Deus

13/7/2016

Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

1º Centenário do Nascimento de Vergílio Ferreira

Casa onde nasceu Vergílio Ferreira, em Melo (Gouveia)

«Era a alegria, a vida inteira ali. Inteira perfeita, mas não eras só tu. O teu corpo não era só tu. Havia nele o mar e a areia e tudo o que convergia para a tua vitalidade a transbordar. Porque um corpo perfeito, querida, precisa de muito espaço à volta para irradiar a sua perfeição. Deus está em todo o lado por isso. Havia uma ligação de ti com as coisas, com as mais distantes, para se cumprir a tua divindade.»

Vergílio Ferreira, Em nome da terra, Bertrand Editora, Lisboa, 1990, p. 56.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Deus

Miguel Trigueiros

Atei os meus braços com a tua Lei, Senhor,
E nunca os meus braços chegaram tão alto!
Ceguei os meus olhos com a tua Luz, Senhor,
E nunca os meus olhos viram tão longe!
Só desde que Te dei a minha alma, Senhor,
Ela é verdadeiramente minha.

Por isso, hei-de subir até à Vida,
Despedaçando o corpo na subida.
Por isso, hei-de gritar, de porta em porta,
A mentira das noites sem estrelas;
Hei-de fazer florir açucenas nos meus lábios;
Hei-de apertar a mão que me castiga;
Hei-de beijar a cinza dos escombros;
Hei-de esmagar a dor
E hei-de trazer, aqui, sobre os meus ombros,
A tua cruz, Senhor!

                                     Miguel Trigueiros*

* Este poema foi publicado no livro com o mesmo título, em 1944, por Miguel Trigueiros (1918-1999), hoje um poeta desconhecido. Entre outros, foi autor de Resgate, livro de poemas publicado, em 1939 (Prémio Antero de Quental). Fez parte do grupo dos “Cadernos de Poesia” (1942-44) que procurou criar uma nova corrente poética na linha da Presença de José Régio (1927), chamada “Poesia Nova”, conforme ao ideal presente num grupo de jovens poetas colaboradores do Suplemento “Seiva Nova” do Notícias de Viana (anos de 42 e 43), em que se integrou ativamente o poeta Fernando de Paços (1923-2003). Este daria à estampa o livro de poemas Fuga (1944) na Coleção publicada pela “Poesia Nova” de que Miguel Trigueiros era o principal dinamizador, em Lisboa.
                                                                    T.F.P.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Se Deus interviesse...

                      Etty Hillesum (1914-1943 em Auschwitz)


«Deus não é o artesão do mundo. Ele não o fabricou como um relojoeiro o seu relógio. Ele não constrói coisas que ficam logo prontas.

Pelo contrário, Ele retira-Se para que surjam de si mesmos e por si mesmos os seres que Ele suscita…

Se Deus interviesse para que fossem evitadas as desordens, as resistências da inércia, os maremotos, as epidemias, o mundo seria para Ele como um objeto que se pode manipular.

A nossa imaginação, deslizando para o infantilismo, veria nisso um maior amor, sem dúvida. Mas Deus não ama como nós quereríamos que Ele amasse quando projetamos n’Ele os nossos sonhos.»

     Etty Hillesum, Diário 1941-1943 (excerto)

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A lógica de Deus

(1515-1582)

a ser verdadeiro
o Princípio do Terceiro Excluído
excluiria do mundo a Santidade
que se situa na Terra de Ninguém
entre o Possível e o Impossível


11/11/2014

                      Fernando Henrique de Passos

sábado, 8 de novembro de 2014

Do Deus de Einstein ao Deus dos cristãos




ao meu Pai, que hoje faria 91 anos, e que me falava muito de Deus,
mas também me falava de Einstein, de Newton e de Arquimedes

Durante dezenas de anos, incluindo um longo período de agnosticismo, sempre achei absurda a forma como Einstein falava de Deus, parecendo identificá-lo com a harmonia das leis do universo, ou com qualquer coisa de ainda mais vago e abstracto. Foi o livro Einstein and Religion, de Max Jammer, que me fez perceber melhor a sua atitude face à religião. (Obrigado ao Paulo Martel pelo oportuno presente!)

Se tentarmos isolar a essência do sentimento religioso, talvez encontremos isto: a consciência de que são os nossos medozinhos ridículos e os nossos desejozinhos ridículos que nos tornam infelizes, e de que eles não são nada ao pé de uma certa realidade gigantesca, esmagadora, abrasadora, cuja existência pressentimos, mesmo que às vezes não a consigamos definir, identificar, localizar. Era neste sentido que Einstein era religioso. 

Einstein não era religioso no sentido de acreditar em certos factos espácio-temporais como, por exemplo, “Deus entregou as tábuas da lei a Moisés no Monte Sinai” ou “Jesus ressuscitou ao terceiro dia”. Ser religioso, no sentido lato da palavra, é muito mais e muito menos do que isso. Há pessoas que acreditam nesses factos e que levam vidas tão miseráveis como qualquer materialista. Essas pessoas serão mais ou menos cristãs do que Einstein o foi? A que distância se encontrava Einstein de ser cristão?

Deixemos que seja Deus a julgar e abstenhamo-nos de tentar responder. Mas não nos abstenhamos de perguntar: “em que é que a Fé em Nosso Senhor Jesus Cristo muda a minha vida?” Ser religioso é ver a realidade de uma forma diferente, mas não é só isso ─ é deixar também que essa forma de ver a realidade transforme a nossa forma de a viver. O que também pode ser dito de outro modo: se a nossa forma de ver a realidade não traz automaticamente novidade à nossa vida, então é porque não estamos a ver a realidade de uma maneira realmente diferente, apenas julgamos que o fazemos.

Deus entregou as tábuas da lei a Moisés no Monte Sinai! Jesus ressuscitou ao terceiro dia! Estes factos não são só importantes; estes factos são decisivos. Mas não serão decisivos, nem sequer importantes, se eu ficar pela sua casca espácio-temporal e me esquecer do que eles procuram revelar acerca daquela realidade assombrosa da qual por vezes se tornam uma manifestação quase insignificante (dependendo do modo como são olhados e vividos), sobretudo se já passaram 2000 ou 3000 anos sobre a sua ocorrência e, pior, se as escassas dezenas de anos da minha própria vida, em vez de dedicadas a desenterrá-los das profundidades da História, ainda os vieram cobrir com as teias de aranha da rotina, com a qual o meu egoísmo tão sensatamente (do seu ponto de vista) me protege de desafios e sobressaltos.

Sobressaltos? Sim: a vida, a morte e a Ressurreição de Jesus Cristo devem ter sido para os seus contemporâneos como a explosão de uma supernova. E se, ao fim de vinte séculos, só restam dessa explosão as brasas quase extintas do rescaldo de um incêndio, há mesmo assim a possibilidade, soprando as brasas, de atear chamas que ameacem devorar todo o conforto em que a minha autocomplacência deixou que eu me instalasse.

8/11/2014
                                                        Fernando Henrique de Passos


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A moral da história



1 – Como caçar um macaco

Ponha um amendoim dentro de uma jaula que tenha as grades suficientemente apertadas para que a mão do macaco passe à justa entre elas. Quando o macaco vir o amendoim, irá meter a mão pelas grades para o agarrar, mas quando quiser tirar a mão outra vez de dentro da jaula, o punho fechado não conseguirá passar e o macaco ficará preso. Por estranho que pareça, o macaco não perceberá que se largar o amendoim ficará de novo livre.

2 – O Tempo e a Eternidade

Penso que quase todos nós imaginamos a vida eterna como qualquer coisa que vem depois da vida terrena, tal como o emprego vem depois dos estudos, ou como a reforma vem depois dos anos de trabalho. No entanto, esta forma de ver a eternidade coloca-a na categoria das coisas temporais, o que não faz muito sentido.

É verdade que a nossa mente está feita de tal modo que não conseguimos deixar de projectar a ideia de tempo em tudo aquilo que imaginamos ou consideramos mas, mesmo assim, auxiliados pela nossa capacidade de abstracção, devemos fazer um esforço para contrariar esta tendência, e podemos até contornar a dificuldade combatendo o tempo com as suas próprias armas.

Recorramos assim ao conceito temporal de simultaneidade, para dizer que a eternidade não é anterior nem posterior à existência terrena, antes lhe sendo simultânea. (Do mesmo modo, a jaula e a selva onde se pode ser livre e feliz são duas possibilidades que se oferecem ao macaco em simultâneo, a cada instante.)

Digamos então que tempo e eternidade são apenas duas maneiras diferentes de ver a mesma realidade, ou, talvez melhor, duas maneiras diferentes de a viver. Jesus Cristo veio explicar-nos isto e dar-nos o segredo que permite optar pela maneira certa de viver a realidade, embora a acção permanente do Espírito Santo, desde o princípio dos tempos, já tivesse levado gente sábia de diversas culturas a intuições parciais desta verdade.

A verdade é que é o nosso egoísmo que nos amarra ao tempo, o nosso egoísmo traduzido na obsessão em nos sentirmos bem, traduzido na multidão de medos e desejos mesquinhos pelos quais nos deixamos governar a cada instante. E as leis da moral, na sua origem, propunham-se apenas serenar este revolto mar interior que nos precipita no Tempo, que é o Tempo, mas que, uma vez serenado, se transforma no infinito mar da própria Eternidade.

3 – Moral da história

As leis morais não são o capricho de um Deus sádico, que se compraz em proibir-nos as coisas que nos dão prazer. Pelo contrário, as leis morais são simplesmente um “mapa do tesouro”, um caminho secreto para o Bem Supremo, uma pista que conduz do Tempo à Eternidade. Por isso, se alguém nos vier dizer para não nos preocuparmos mais com as velhas leis da moral, temos tanta razão para agradecer como o macaco a quem foram dizer que não largasse o amendoim.

22/10/2014


Fernando Henrique de Passos

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Perante uma comunidade cristã?


Papa Francisco

«A divisão é um dos pecados mais graves numa comunidade cristã, porque a torna sinal, não da obra de Deus, mas da obra do diabo»
«O diabo é aquele que separa, destrói as relações, semeia preconceitos».
«Deus quer que cresçamos na capacidade de nos acolhermos, perdoarmos e amarmos, para nos parecermos cada vez mais com Ele que é comunhão e amor».
Audiência na Praça de S. Pedro em 26 de Agosto de 2014
                                                                            Papa Francisco


***

Breve reflexão

       Nunca é demais o Papa Francisco voltar ao tema do mal no mundo e, particularmente, ao mal espalhado nas próprias comunidades cristãs.

     Jorge Bergoglio sabe que há cristãos que se afrontam, como se não pertencessem a uma fraternidade. Que se denunciam, como se fosse necessária a denúncia para sobreviverem. Que entram em conflitos movidos pela inveja, pelo medo de serem ultrapassados.

       O Papa fala com a clareza que reveste a dor. Ele sabe que o diabo não está à porta. O diabo está dentro dos corações. O diabo habita bem dentro de uma comunidade cristã que, de acordo com a letra, é fiel a Jesus Cristo, mas não o é, de acordo com o espírito.
27/8/2014 
                                                                     Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sentido



Abre os portões da tua casa
E não voltes a fechá-los nunca mais

Deixa a tua alma tornar-se igual à rua
E o teu respirar passar a ser o vento

Rasga essa membrana imaginária
Que te faz repetir desde que acordas
“Este sou eu, lá fora são os outros”

E quando a tua missão estiver cumprida,
Abre os braços, recebe a chuva branda,
Dissolve-te nas gotas indistintas,
Torna-te parte de algum rio,
Deixa-te arrastar até à foz
E mergulha enfim no vasto mar
Que és tu, que é Deus, que somos todos nós


24/6/2014

Fernando Henrique de Passos

sexta-feira, 20 de junho de 2014

A mesma jornada

CARTA ABERTA

A tua jornada em direcção ao centro de ti mesmo
A tua jornada em direcção a Deus
A tua jornada em direcção aos outros
– Três nomes diferentes para a mesma jornada

Papa Francisco,

poderia abordar a questão da falta de rigor da tua expressão “Deus dos filósofos”. Poderia dizer que não existe tal coisa, mas apenas, na melhor das hipóteses, um Deus para cada filósofo que falou sobre Deus. Mas percebo o que querias dizer. Muitas vezes o que queremos dizer não coincide exactamente com a forma das palavras que usamos para dizer o que queremos. Além do mais, não foi isso o que me perturbou. O que me perturbou foi tu dizeres que não gostas dele, desse tal “Deus dos filósofos”. E isso perturbou-me porque me parece que, num mundo tão desesperadamente materialista como é o mundo actual, não devemos “fechar ao trânsito” uma única via que possa conduzir a Deus, por mais esburacada que seja, ou mal iluminada, ou sinuosa, ou até mal frequentada.

A Razão sequestrou o Coração de muitos irmãos nossos, e não os deixa olhar e escutar as imagens, o vocabulário e os símbolos da tradição cristã sem um sentimento de troça e de repulsa. É preciso seduzir de novo a Razão, para que ela volte a permitir aos seus Corações o acesso à Palavra do Senhor. E só se pode seduzir a Razão (e, mesmo assim, muito a custo) com o Deus abstracto dos filósofos e, se necessário, até com a linguagem dos cientistas.

(A propósito, acho que devias obrigar todos os estudantes de teologia a terem cadeiras de física teórica e de matemática pura. Não tanto pelos factos concretos que iam aprender, mas porque o contacto com certo tipo de relações entre certo tipo de entidades abstractas ajuda a perceber que o absurdo pode ser compatível com a lógica e pode estimular a imaginação no sentido de encontrar novas soluções para velhos problemas. Claro que os mistérios serão sempre mistérios, pelo menos nesta nossa forma transitória de existência, mas algumas contradições aparentes poderiam passar a ser muito menos chocantes.)

Papa Francisco, por favor, muitos irmãos nossos talvez precisem do Deus difuso dos filósofos para chegar a Cristo. Eu sei que isto é exactamente o contrário do que devia ser, mas desta vez o Demónio deu um nó muito bem dado!

19/6/2014


Fernando Henrique de Passos

terça-feira, 10 de junho de 2014

Como se tudo dependesse...


“Faz tudo como se tudo dependesse de ti e nada de Deus mas, confia como se tudo dependesse de Deus e nada de ti”
                                                        Santo Inácio de Loyola

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Cosmogonia Moderna



COSMOGONIA MODERNA

No princípio há Deus e o Diabo. No princípio o Diabo lança sobre Deus a membrana do espaço-tempo para o aprisionar. No princípio Deus tenta libertar-se da membrana e irrompe através dela em múltiplos pontos, mas não a consegue furar em nenhum desses pontos.

(O Universo que conhecemos é a membrana do espaço-tempo com as múltiplas protuberâncias provocadas pelo esforço de Deus para se libertar. Algumas dessas protuberâncias, uns biliões, são os seres humanos. Os actuais, o que já existiram, e os que ainda vão existir. O Diabo procura fazer crer aos seres humanos que cada um é independente dos outros e incute-lhes desejos egoístas que acabam por os virar uns contra os outros. O que lhe convém, porque só a união de todas as protuberâncias permitiria a Deus furar a membrana que o aprisiona.)

No princípio há um rasgão numa dada zona da membrana. No princípio Deus sente-se rico. Muito mais rico do que se não houvesse aqueles biliões de seres humanos e todas as demais protuberâncias. E cada ser humano, dos muitos biliões de seres humanos, concorda que é verdade.

16/5/2014

Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 20 de março de 2014

Começar a partir do sopé da colina ...

     
São Pedro Fabro (1506-1546)
     «Pede a Deus a graça do que é pequeno; assim, encontrarás graça para fazer o que é grande, para acreditar e esperar. Põe os teus olhos no mais pequeno, pensa-o e ama-o, para o realizar. Assim Deus te dará coisas maiores! Põe os olhos, dá-te totalmente naquilo que podes com a mais pequena graça de Deus e Deus te dará a grande graça com a qual poderás fazer o sobre-humano!»


                                            Pedro Fabro, Memorial

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Casamento cristão (1)


«Que deves tu dizer à tua mulher? Diz-lhe com muito carinho: “Eu escolhi-te, amo-te e prefiro-te à minha própria vida. A existência presente não é nada; por isso, as minhas orações, as minhas recomendações e todas as minhas ações, realizo-as para que nos seja concedido passarmos esta vida de tal maneira que possamos ficar reunidos na vida futura, sem mais nenhum medo da separação. O tempo que vivemos é curto e frágil. Se nos for concedido que agrademos a Deus durante esta vida, ficaremos eternamente com Cristo e um com o outro, numa felicidade sem limites.»

  De uma Homilia de S. João Crisóstomo (Doutor da Igreja) sobre a Epístola aos Efésios. 

sábado, 14 de dezembro de 2013

NATAL 2013


NATAL DE JESUS CRISTO
 em Belém na Judeia


«A Palavra fez-se pessoa e veio habitar no meio de nós».



«Ninguém jamais viu a Deus:
O Filho Único, 
que está no seio do Pai
é que O deu a conhecer»
Jo 1,18


Árvore de Natal no Vaticano sob o Pontificado de Francisco



«Não tenhas medo Maria, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo»

                            Lc 1, 30-31



As origens do Natal


          «Que cansaço estar sempre aqui em cima
          – Os seres humanos parecem-me formigas,
          As formigas parecem-me micróbios,
          E não tenho amigos nem amigas.

          Gostava de poder brincar –
          Às escondidas, por exemplo.
          Ninguém me ia encontrar
          Se me escondesse no meu Templo!

          Gostava de não ser omnipotente –
          Ter de pedir que me levassem pela mão
          A ver o sol poente
          No final de uma tarde de Verão.

          Gostava sobretudo de ter mãe –
          Que me passasse a mão pelos cabelos com meiguice,
          Mas que me ralhasse também
          Se eu fizesse uma tolice.

          Gostava de não ser omnisciente –
          Não conhecer o meu destino
          E só saber que tinha de ir em frente.»

          … E assim Deus se fez menino.

6/12/2013

                                       Fernando Henrique de Passos








Da palavra e Boa Nova

                                                «ex toto corde», ao caso e à causa do Papa Francisco
                   de todo o coração, ao Tobias Pinheiro

I

Langue é terra, e a matéria,
Sangra Amor no coração,
E eu vejo, em Sal etérea,
Rosa, alor e São João.

Langue é a carne, e langue o mundo,
Eis a pena e eis a espada,
E aqui eis, em Clarimundo,
Rosa em Deus, crucificada.

Que há um Menino, em bandolim,
Que é sagrado e é secreto:
É criança de jasmim,
O divino Paracleto.

II

Quando o pranto é sol e si
E o Espírito é o Santo,
Quem és Tu, que vens aqui
Numa Rosa de amaranto?

Na resposta, Ela relata
A Ideia. É Luz? É lis?
Numa Cruz, em «Maran Atha»,
O São Francisco de Assis.
              
                                           Queluz, 05/ 12/ 2013

MISERANDO ATQUE ELIGENDO

                               Paulo Jorge Brito e Abreu


P. S.: Por respeito para com o leitor, indicamos, aqui, uma coincidência significativa: «Rosa Perfeita, em Deus crucificada» é um verso da Autoria de Fernando Pessoa, in «No túmulo de Christian Rosencreutz»...........







UM PRESÉPIO NA CIDADE







Na aridez do deserto



«No caminho da ressurreição, tomei a minha cruz. Foi quando nasci. Era um curral despegado da casa. Uma subida em ziguezague lembrou-me a serpente. E enredei-me naquele paraíso perdido. Estava perto do deserto e da sua inocência. Era um estábulo de animais. O cheiro fez-me chorar, mas eu nascia sem medo do choro. Buscava, assim, a luz para a oferecer ao mundo. Tinha pressa, não podia deixar órfã uma nova criação. Só a luz que me conduzia cortaria as esparsas sombras, além dos desertos. Assim, nasci. Era um caminho fora dos muros da cidade. E o susto aflitivo de Maria envolveu-me numa lágrima larga como o mar que a alagava. Então, sustendo a respiração, o seu regaço maternal abraçou-me. Pelo postigo, lembrou-se da luz da madrugada. Era eu, o menino a quem chamaria Jesus. Dentro da alegria, Maria cobria-me com as palhas onde se aquecia o cordeiro e uma pequenina réstia de noite a cair naquela madrugada enregelada e à espreita de um nascer do sol. Neste improvável pensamento de antes, senti o madeiro a escorregar-me das mãos e a seguir atrás dos meus braços frágeis e das pernas flácidas, com os músculos à solta, a perderem fios de força e sem se conseguirem agarrar aos ossos.»


                                                             Teresa Ferrer Passos
(Do romance inédito, Jesus até ao fundo do seu coração)








Presentes de Natal
  (Pequeno Teatro)

CENA I

Pai:
– Filho, quero de você um presente!
Filho:
– Não enche, velho.

[Mas, naquele Natal o “velho” não ‘encheu’ e o filho não se drogou].


CENA II

Esposa:
         – Amor! Posso lhe pedir um presentinho de Natal?
Esposo:
         – Pode, não!

[Mas, naquele Natal o marido ‘não bebeu’].


Cena III

Neto:
         – Vô, você vai aparecer na Noite de Natal?
Avô:
         – Querido, eu trabalho de Papai Noel...


[Mas, naquele Natal, o “bom velhinho” foi o próprio Vovô].


Cena IV

Namorado:
         – Amor! Neste Natal, adivinha o que eu quero!
Namorada:
         – Sem camisinha, não vai rolar!

[Mas, naquele Natal, fizeram um teste de HIV].


Cena V

Doente:
         – Na Noite de Natal, me dê um sonífero!
Enfermeira:
         – Pode deixar, você vai sonhar com Papai Noel!

[Mas, naquela Noite de Natal, houve confraternização no Hospital].


Cena VI

Assaltante:
         – Criança! Avise lá que o Papai Noel chegou!
Criança:
         – Mãe! Tem um homem lá fora, dizendo que ele é Papai Noel!

[Mas, naquela Noite de Natal, o assaltante virou convidado].


Cena VII

Carcereiro:
         − Indulto de Natal! Feliz Natal!
Preso:
         -- Adeus! Feliz Ano Novo!

[Mas, depois daquele “saidão”, o beneficiário retornou].



                                               Luiz Martins da Silva (Brasil)



NESTE NATAL, MUITA PAZ E AMOR






                        

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Espiga de trigo novo

Maria e José a caminho de Belém

«E sentiu-se cheia de paz e com uma alegria sem fim! Sentiu-se bem-aventurada porque descobria dentro da sua intimidade todo o contentamento das árvores floridas! Esse mundo de felicidade que, afinal, a procurara e lhe mostrara como podia ser verdadeiramente fiel ao Senhor, caminho de glória, caminho de heroísmo, caminho de vida.

A partir de agora sabia que o seu corpo se tornaria um celeiro onde uma espiga de trigo novo seria guardada para oferecer ao mundo um Filho humano, todo semelhante a ela e divino porque quem o visse veria o Pai. E Jesus brotando do seu ventre seria como o trigo puro, uma dádiva sempre disponível para o amor porque nascera por vontade do Deus do Amor Absoluto, numa aliança com ela e com José....


Que alegria, em cada dia, ver esse trigo crescer na sua carne para o oferecer ao mundo! E as faces de Maria pareciam cobertas de um sorriso infinito! Através de Jesus, o Senhor poderia dar a conhecer aos homens o Seu pensamento, sem os escandalizar com uma intervenção que infringisse todas as leis naturais!»

Teresa Ferrer Passos, Anunciação (romance),
Universitária Editora, 2003, pág. 96.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Deus à mão de semear

Jesus é o Espírito Santo (Deus) que encarnou sob a forma humana para poder falar aos seres humanos, para lhes poder assim ensinar a viver de acordo com o Bem que integra em si mesmo o Amor, de que esse Espírito Santo (Deus) é o símbolo absoluto. E, em consequência,  a Boa Nova de Jesus será para o ser humano que o quiser seguir. Aproxima-se assim, o ser humano, de tal modo do Espírito Santo (Deus), que dele não se distinguirá e, por isso, alcançará, em espírito-para-além-do-mundo-material-que-conhecemos, a vida eterna. O Espírito Santo (Deus) para se dar a conhecer à humanidade só o podia fazer através de uma encarnação humana.

13/7/2012

Teresa Ferrer Passos