CARTA ABERTA
A tua jornada em direcção ao centro de ti mesmo
A tua jornada em direcção a Deus
A tua jornada em direcção aos outros
– Três nomes diferentes para a mesma jornada
Papa Francisco,
poderia abordar a questão da
falta de rigor da tua expressão “Deus dos filósofos”. Poderia dizer que não
existe tal coisa, mas apenas, na melhor das hipóteses, um Deus para cada
filósofo que falou sobre Deus. Mas percebo o que querias dizer. Muitas vezes o
que queremos dizer não coincide exactamente com a forma das palavras que usamos
para dizer o que queremos. Além do mais, não foi isso o que me perturbou. O que
me perturbou foi tu dizeres que não gostas dele, desse tal “Deus dos
filósofos”. E isso perturbou-me porque me parece que, num mundo tão
desesperadamente materialista como é o mundo actual, não devemos “fechar ao
trânsito” uma única via que possa conduzir a Deus, por mais esburacada que
seja, ou mal iluminada, ou sinuosa, ou até mal frequentada.
A Razão sequestrou o Coração de
muitos irmãos nossos, e não os deixa olhar e escutar as imagens, o vocabulário
e os símbolos da tradição cristã sem um sentimento de troça e de repulsa. É
preciso seduzir de novo a Razão, para que ela volte a permitir aos seus
Corações o acesso à Palavra do Senhor. E só se pode seduzir a Razão (e, mesmo
assim, muito a custo) com o Deus abstracto dos filósofos e, se necessário, até
com a linguagem dos cientistas.
(A propósito, acho que devias
obrigar todos os estudantes de teologia a terem cadeiras de física teórica e de
matemática pura. Não tanto pelos factos concretos que iam aprender, mas porque
o contacto com certo tipo de relações entre certo tipo de entidades abstractas
ajuda a perceber que o absurdo pode ser compatível com a lógica e pode
estimular a imaginação no sentido de encontrar novas soluções para velhos
problemas. Claro que os mistérios serão sempre mistérios, pelo menos nesta
nossa forma transitória de existência, mas algumas contradições aparentes
poderiam passar a ser muito menos chocantes.)
Papa Francisco, por favor, muitos
irmãos nossos talvez precisem do Deus difuso dos filósofos para chegar a
Cristo. Eu sei que isto é exactamente o contrário do que devia ser, mas desta
vez o Demónio deu um nó muito bem dado!
19/6/2014
Fernando Henrique de Passos
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