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segunda-feira, 11 de maio de 2015

Ao telefone com o Professor Maquinal



- Bom dia. Estou a falar com O Senhor Professor Maquinal?
- … 
- Como está? Daqui fala o José Ideal. O Senhor Professor não se deve lembrar de mim, mas, se me desse um minuto, gostava de lhe dar uma palavrinha.
- …
- Obrigado. É o seguinte. Há coisa de uns dois anos tivemos uma pequena discussão.
- …
- Percebo o seu espanto. Como é que podemos ter discutido se não nos conhecemos? Eu explico. Foi num daqueles fóruns que alguns canais de televisão promovem. O Senhor Professor tinha lá ido falar do seu último livro. No fim da entrevista abriram a antena a qualquer telespectador que lhe quisesse colocar questões.
- …
- Sim, foi aí mesmo, vejo que se lembra. Eu tinha ficado um pouco espantado pelo à vontade com que o Senhor Professor dizia que somos todos robots e tentei provar-lhe que estava errado, mas o Senhor Professor começou a ficar muito nervoso, e disse que se sentia ofendido por eu estar a pôr em causa o trabalho de milhares de cientistas em todo o mundo que lutam incessantemente para implementar sistemas de inteligência artificial indistinguíveis do ser humano
- …
- Claro que sim, claro que sim, mas eu na altura pensava de outro modo, era completamente insensato, e é por agora o reconhecer que lhe estou a telefonar. Na realidade queria apenas apresentar-lhe as minhas desculpas por aquele incidente de há dois anos e dizer-lhe que, graças ao seu livro, que acabei por comprar, me converti plenamente às suas teses. Agora também acredito ‒ melhor, tenho a certeza ‒ que sou um robot.
- …
- É isso, é isso, não sei como alguma vez pude duvidar.
- …
- Exactamente. E eu por acaso até me lembro de ter pensado na altura, na minha insensatez, qualquer coisa deste género: “já vi muitos filmes de ficção científica em que há robots que ficam desesperados quando lhes revelam que não são seres humanos, mas nunca tinha visto um robot ficar ofendido por alguém lhe dizer que ele é uma pessoa!”

(continua)


TEXTO COMPLETO AQUI
10/5/2015

Fernando Henrique de Passos

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Cosmogonia Moderna



COSMOGONIA MODERNA

No princípio há Deus e o Diabo. No princípio o Diabo lança sobre Deus a membrana do espaço-tempo para o aprisionar. No princípio Deus tenta libertar-se da membrana e irrompe através dela em múltiplos pontos, mas não a consegue furar em nenhum desses pontos.

(O Universo que conhecemos é a membrana do espaço-tempo com as múltiplas protuberâncias provocadas pelo esforço de Deus para se libertar. Algumas dessas protuberâncias, uns biliões, são os seres humanos. Os actuais, o que já existiram, e os que ainda vão existir. O Diabo procura fazer crer aos seres humanos que cada um é independente dos outros e incute-lhes desejos egoístas que acabam por os virar uns contra os outros. O que lhe convém, porque só a união de todas as protuberâncias permitiria a Deus furar a membrana que o aprisiona.)

No princípio há um rasgão numa dada zona da membrana. No princípio Deus sente-se rico. Muito mais rico do que se não houvesse aqueles biliões de seres humanos e todas as demais protuberâncias. E cada ser humano, dos muitos biliões de seres humanos, concorda que é verdade.

16/5/2014

Fernando Henrique de Passos