quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Encarnação divina


Maria e o Menino Jesus
«Uma nova Jerusalém aproxima-se. Temos de estar preparados, pensava Maria, cada vez que na sua memória afloravam as palavras do anjo. É preciso cuidarmos do nosso destino. Que na hora do nascimento deste filho, a ser em potência uma encarnação em que só o Espírito Santo e eu participámos, o corpo e o espírito estejam preparados para o receber... Que jubiloso tempo, como me exalta o corpo, como me eleva o pensamento, dizia para si própria, sempre que se sentia inquieta com a grande ventura... ela que aceitara a Vontade de Deus!»

               Teresa Ferrer Passos, Anunciação (romance), Universitária Editora, 2003, pág. 104.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Pensamento

Cortelha, Alportel
Num sinal do vento,
Numa água turva,
Num espelhar do Sol,
Numa luz ardente,
Num som de regato,
Vejo-te ao ler o meu pensamento.

És bordão de amparo,
És o meu sentimento.
És a alma da minha alma sem sossego.
És o rio da carícia sem par, sem tamanho.
És a folha que esvoaça e em que me deito.
Vejo-te quando escuto o meu pensamento.

Com o teu alento, caminho no caminho
Sem que a esperança se apague.
No teu respirar, respiro a força de ânimo,
Consigo caminhar ainda e depois.
Vejo-te na voz do meu pensamento.

29 de Outubro de 2013

(Poema inédito)
                               Teresa Ferrer Passos

Segredos



Só eu conheço o teu olhar de rapariga alegre
Pois só a mim tu o revelas.
(E ver-te alegre vale muito mais
Que mil palavras belas.)

Só tu me lês na confusão das entrelinhas
Pois só a ti eu dei meu alfabeto.
(E que ninguém se meta de permeio
No nosso pacto secreto.)

Só nós sabemos tudo o que Deus por nós tem feito –
Não há ninguém que o pague.
(Mas o que ainda um pelo outro nós faremos,
Nem nós sabemos – só Deus sabe.)


29/10/2013

(Poema inédito)

                             Fernando Henrique de Passos

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

À pobreza condenados?




«A nossa sociedade tem-se mostrado incapaz de um uso racional e sustentável dos seus recursos. Há programas muito bonitos e compromissos formais de organizações mundiais e nacionais, mas não passam do papel, e a pobreza aumenta e impõe a todos nós fortes interrogações. Para onde nos levará um desenvolvimento descontrolado?»

Darci Vilarinho, «Civilização em Perigo» in Fátima Missionária, Novembro/2013

domingo, 27 de outubro de 2013

Clarões



(A foto da manhã seguinte era um buraco na folha do jornal.
Ninguém podia olhar sem cair lá dentro.)

flash!

Pedaços de um sonho
No meio da noite

O asfalto molhado
A chuva miúda

E eu de pijama
No centro do medo
Debaixo do néon
No gelo da luz

flash!

Os faróis de um carro
(Restos de outros sonhos)

Relâmpagos mortos
Silêncios aquosos
Sem luz os semáforos

Há um cruzamento
Na esquina das horas

Choque de minutos
Na urbe deserta

flash!

E passam destinos
Nas luzes do céu
(Luzes de avião?
Rastos de cometa?)

Trovões muito ao longe
Nuvens soterradas
Espasmos do negrume

flash!

Faróis de outro carro
E o som ancestral
E reconfortante
Dos pneus embebidos
Da água da estrada

flash!

Luz de uma lanterna
Ronda do acaso
Pisando palavras
Rostos desbotados
Flocos de papel

flash!

Um ponto vermelho
Brasa de um cigarro
Alguém que vem lá

flash!

A luz que me cega
Que estala no ar
Bate nas paredes
Faz fendas no chão

A fúria do vento
A água que fere
Os gritos do céu
A terra a uivar

Luz por todo o lado
Luz que faz doer
Nas casas nas portas
Janelas jardins

flash!

Um túnel na luz
Um golpe no espaço
Luz que é mais que luz
O Sol a um passo

FLASH!


27/10/2013

(Poema inédito)

      Fernando Henrique de Passos

Materno e terno


 (invoco, para a Madre, o Arcano e Arcaico do Sápido Sol)

Brincando Amor na relva e sobre o solo,
Era Amor o mistério da quimera,
Afastando Amor meu de mim a Fera
Pra Zeus brincar na flor, de pólo a pólo.

E crendo Amor em mim eu era Apolo
Morando em Nova, sim, e em Citera,
Amando a minha flor como quem espera
Ser deus em nuvens d'ouro, ou no seu colo.

Que Amor seja o meu preito e seja a palma,
A c'roa, a glória minha e do meu bem.
Sangra Amor no meu peito e na minh'Alma,

Sagrado é ser candor, calor a quem
Diz o sim como Alguém. Na noite calma
Serenamente dorme, ó minha Mãe.

Tomar, 09/ 05/ 1993

AMOR MAGISTER EST OPTIMUS


Paulo Jorge Brito e Abreu

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O amor está no agir ou não existe


«Neste êxtase de amor, Teresa aproveita para lembrar uma frase de S. João da Cruz, místico que relê sempre com enlevo desmedido: " 'O mais pequeno movimento de PURO AMOR lhe é mais útil do que todas as outras obras conjuntas' ". Contudo, vai mais longe, num arrojo de humildade, ao pressupor a atitude da tão abundante e fértil misericórdia de Jesus: "Sinto que por impossível se encontrasses uma alma mais fraca, mais pequena do que a minha, te deliciarias a cumulá-la de favores ainda maiores, se ela se abandonasse com inteira confiança à tua misericórdia infinita".
Na espiritualidade teologal da Irmã Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, a humildade é a suprema lei do amor. O amor nela se projectava como um espaço infinito. Com Jesus, as condições passaram a existir para a humanidade conseguir crescer até ao seio do Eterno. Estava ao alcance dos mais "pequenos" a comunhão entre eles e o Pai. O amor de Deus pelos seus filhos fora dado a conhecer por Jesus, num testemunho sublime de vida e de morte.»

Teresa Ferrer Passos, Santa Teresa do Menino Jesus e a Força dos seus Pequenos CaminhosEdições Carmelo, 2013, pp. 56-57.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Alice Munro, Nobel da Literatura/2013



ALICE  MUNRO, Nobel da Literatura, aos 82 anos

                      "A originalidade de um autor depende menos
 do seu estilo do que da sua maneira de pensar."
Anton Chekov

    O Nobel da Literatura da Academia Sueca foi atribuído à escritora canadiana Alice Munro. Autora de numerosos livros de contos (só escreveu um romance), foi considerada como uma contista na linha de Anton Chekov, notável contista russo (1860-1904).
  Os seus contos apresentam-se como narrativas de questões quotidianas, mas levantam, inesperadamente, problemas da existência humana. Nascida, em 1931, em Ontário, Alice Munro frequentou a universidade nas áreas de jornalismo e de língua inglesa.
   Casou em 1951, ano em que interrompeu os seus estudos universitários. Mudou, então, para a cidade de Victoria, na Columbia Britânica. Aqui, com seu marido, abriu uma livraria. O seu mais recente livro de contos intitulou-se Dear Life (2012). 

21/10/2013
                                                                         Teresa Ferrer Passos





domingo, 20 de outubro de 2013

Agora já falta pouco



Entremos nesse bosque
O chão é fofo
A luz abre arestas de prazer no ar vibrante
O doce cansaço das árvores contagia
O som de um regato brincalhão distrai o tempo
Que então se esquece de passar
Entremos nesse bosque
Clarividentes
Esperando o Rei dos Reis
Que em breve vai chegar

19/10/2013

(Poema inédito)

                            Fernando Henrique de Passos

sábado, 19 de outubro de 2013

Subátomos



Subtis restos de brumas e fantasmas
Sombras de seres que não existem
Espíritos perdidos pelo mundo
Perdidos entre coisas
Aprisionados na gelatinosa rede formada pelo espaço

Presságios não escutados pelos homens
Indícios de um tesouro desprezado
Por quem só sabe ver em toda a parte
Matéria matéria e mais matéria


19/10/2013

(Poema Inédito)
                                      Fernando Henrique de Passos

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Sociedade a esvair-se lentamente...



    O principal mal da sociedade global está no facto de os seus políticos esquecerem que uma sociedade que não salvaguarda os princípios fundamentais da moral, esvai-se lentamente, como uma pessoa ferida de morte.


18/10/2013
                                                           Teresa Ferrer Passos 

Acerca do poema "Quando a luz escorrega sob os pés descalços"


“(...) E da Lua os longos cabelos prateados
Escorrendo sobre o seu corpo de mulher
Reflectiram os rostos das crianças
Que procuravam de onde vem o medo”
16/10/2013
                  Fernando Henrique de Passos


     “De onde vem o medo?”, pergunta pertinente de Fernando Henrique de Passos. “Reflectiram os rostos das crianças”, a perguntar, cada vez mais e com mais força, a perguntar! Pergunta pertinente, na voz do Poeta. Pergunta a reflectir o drama do sentimento do medo com que se confrontam tantas crianças, vítimas da crueldade, da perfídia, ou da insensatez dos adultos. Adultos que não aprenderam a cuidar delas, adultos sem escrúpulos, indiferentes à sua fragilidade e pureza.

 18/10/2013

                                                             Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Quando a luz escorrega sob os pés descalços


Rajadas de vento gelado no cimo da montanha
Esculpiram fantasmas nos rochedos
Cujos gritos despertaram a Lua adormecida
E da Lua os longos cabelos prateados
Escorrendo sobre o seu corpo de mulher
Reflectiram os rostos das crianças
Que procuravam de onde vinha o medo


16/10/2013

(Poema inédito)

                      Fernando Henrique de Passos

Uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, como passageira da TAP, alvo de escarnecimento no Facebook:


Uma imagem representativa de uma entidade que respeitamos, amamos, veneramos, não deve ser tratada como um objecto material, sem valor simbólico. Não fazia sentido colocar Maria, Mãe de Jesus Cristo, no porão do avião, como pareceu defender-se no Facebook.

O escárnio que se desenvolveu neste prestigiado meio de comunicação internético - devido a ser considerada uma honra a colocação da imagem de Maria num lugar ocupado por qualquer viajante - denota a grande falta de sensibilidade humana pelos sentimentos dos outros. As pessoas vivem centradas sobre si mesmas, ignoram ou escamoteiam os sentimentos alheios, ofendem os que têm fé só porque eles não têm fé.

Toda a imagem (escultura, pintura, retrato, etc) que representa uma ideia, um sentimento, uma comunhão, deve ser respeitada como algo de sagrado. É que possui uma dimensão maior do que o simples objecto. Por maioria de razão, Nossa Senhora de Fátima até nada de especial recebeu, ao ter sido colocada no lugar de um desconhecido passageiro da TAP...


 16/10/2013

                                                              Teresa Ferrer Passos

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Consagração do mundo a Nossa Senhora de Fátima



«(...) Cuida da nossa vida entre os teus braços; abençoa-nos e reforça todo o desejo de bem; reaviva e alimenta a fé; sustém-nos e ilumina a esperança; suscita e anima a caridade; guia-nos a todos no caminho da santidade. 

Ensina-nos o teu próprio amor de predilecção pelos pequenos e pobres, pelos excluídos e pelos que sofrem, pelos pecadores e os que têm o coração dilacerado: reúne-os a todos sob a tua protecção, e entrega-os ao teu dilecto filho, o Senhor Nosso Jesus. (...)»

13 de Outubro de 2013
                                                         Papa Francisco



segunda-feira, 14 de outubro de 2013

«Como se Deus tomasse carne em nós»



«(...) Maria primeiro concebeu Jesus na fé e, depois, na carne, quando disse «sim» ao anúncio que Deus lhe dirigiu através do Anjo. Que significa isto? Significa que Deus não quis fazer-Se homem, ignorando a nossa liberdade, quis passar através do livre consentimento de Maria, do seu "sim".

Entretanto aquilo que aconteceu de uma forma única na Virgem Mãe, sucede a nível espiritual também em nós, quando acolhemos a Palavra de Deus com um coração bom e sincero, e a pomos em prática. É como se Deus tomasse carne em nós: Ele vem habitar em nós, porque faz morada naqueles que O amam e observam a sua palavra.(...)»

Papa Francisco (Catequese Mariana
na Praça de S. Pedro em 12/10/2013) 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Camilo e as notícias dos jornais...

Pintura de autor desconhecido
«diariamente Camilo quer que ela lhe leia as notícias  dos jornais e gazetas que chegam do Porto, de Lisboa e de tantos outros lugares. Ouve-as, como se esperasse delas assunto para uma outra novela.(...) Com dolência, Ana lê, vai lendo sempre até Camilo dizer irado. Chega! Estou farto! as mesmas fanfarronices dos políticos, os mesmos casos de faca e alguidar! com o seu nervosismo atávico desconfia sempre que Ana lhe esconde precisamente a notícia que deseja ansiosamente escutar. Talvez uma descoberta científica, uma intervenção honesta na câmara parlamentar, uma qualquer renovação na Santa Sé...» 

                          Teresa Ferrer Passos, O Segredo de Ana Plácido, 1ª edição, Gazeta de Poesia, 1995, p. 80; 2ª edição (ass. pelo ortónimo Teresa Bernardino), Nova Vega, 2000.