terça-feira, 28 de maio de 2013

Um poema de Mia Couto



Identidade

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Mia Couto*, Raiz de Orvalho e Outros Poemas
(1ª edição em Moçambique em 1983).


*Mia Couto (nome literário) nasceu, em 1955, em Moçambique. Filho de pais portugueses, acaba de ser galardoado com o Prémio Literário Camões, o mais importante da criação literária da língua portuguesa. A sua obra romanesca foi “muito valorizada pela criação e inovação verbal, mas tem tido uma cada vez maior solidez na estrutura narrativa e capacidade de transportar para a escrita a oralidade”.



quinta-feira, 23 de maio de 2013

Os Espelhos do Amor





“A vida me ensinou que as pessoas são amigáveis​​, se eu sou

amável, que as pessoas são tristes, se estou triste,

que todos me querem, se eu os quero,

que todos são ruins, se eu os odeio,

que há rostos sorridentes, se eu lhes sorrio,

que há faces amargas, se eu sou amargo,

que o mundo está feliz, se eu estou feliz,

que as pessoas ficam com raiva quando eu estou com raiva,


que as pessoas são gratas, se eu sou grato.

A vida é como um espelho: se você sorri para o espelho,

ele sorri de volta. A atitude que eu tome perante a vida é a

mesma que a vida vai tomar perante mim.”

                                Mahatma Gandhi (1869-1948)
*

* Esta reflexão foi extraída do Blogue «Carvão em Fundo Branco»

quarta-feira, 22 de maio de 2013

As Misericórdias, a Lei e o Voluntariado

Rainha D. Leonor
(Fundadora das Misericórdias em 1498)

A Lei de Bases da Economia Social aprovada, por unanimidade, na Assembleia da República, em 15 de Março de 2013, "estabelece as bases gerais do regime jurídico da economia social", "confere às Misericórdias o destaque que merecem no sector, autonomizando-as no elenco das entidades que integram a economia social". 
Jorge Gaspar 

"Num período de profunda crise, com uma economia anémica e com fortes sinais de depressão, o setor social tem de ser capaz de se renovar, de alterar hábitos de trabalho e de gestão".
Paulo Moreira 

"O voluntariado não pode ser visto como uma moda, pois a moda passa e a missão tem de continuar".
Joaquim Caetano (Coordenador do Voluntariado do Montepio)

"A grande maioria dos currículos dos jovens de outros países europeus apresenta o voluntariado como experiência."
Rui Pontes (Voluntário do Montepio)

in jornal Voz das Misericórdias, Abril 2013

domingo, 19 de maio de 2013

A Propósito da Descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos



“O Espírito Santo faz-nos entrar no mistério do Deus vivo e salva-nos do perigo de uma Igreja gnóstica e de uma Igreja narcisista, fechada no seu recinto; impele-nos a abrir as portas e sair para anunciar e testemunhar a vida boa do Evangelho, para comunicar a alegria da fé, do encontro com Cristo. O Espírito Santo é a alma da missão”.

Homilia no Dia Comemorativo de Pentecostes 
Roma, 19 de Maio de 2013 

Papa Francisco

Subitamente surge. Tem o teu rosto


O paraíso terrestre é uma flor verde.
As árvores abrem-se ao meio.
O que é sucessivo perde-se.
Se o tempo modifica os seres e os objectos
eu sinto a diferença e gasto-me.
O sol é um erro de gramática, a luz da madrugada
uma folha branca à transparência da lâmpada.
Soam então os barulhos. Soam
de dentro das janelas,
de dentro das caixas fechadas há mais tempo,
de dentro das chávenas meias de café.
É tarde e és tu,
acima de tudo,
entre a manhã e as árvores,
à luz dos olhos,
à luz só do límpido olhar.

In Obra Poética (1972-1985)

                                               Nuno Júdice*

* Nuno Júdice foi galardoado no dia 16 de Maio de 2013 com o XXII Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, atribuído pelo Património Nacional espanhol e pela Universidade de Salamanca. Em 2003 o mesmo prémio foi atribuído a Sophia de Mello Breyner Andresen.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Lei para adopção de crianças por casais homossexuais?

Rita Lobo Xavier, especialista em Direito da família:
O projecto de lei aprovado esta sexta-feira no Parlamento que prevê a co-adopção por casais do mesmo sexo desvirtua a finalidade da adopção, que seria a de criar um vínculo semelhante à filiação natural”.(…) “É de uma grande violência para o instituto da adopção" ligar "uma criança à fragilidade do vínculo" entre duas pessoas "que nunca poderiam ser os progenitores naturais daquela criança".

Manuel Braga da Cruz, ex-reitor da Universidade católica:
O que hoje se passou é um passo mais na degradação moral de Portugal”.
“Lamento que o Parlamento português tenha tomado uma decisão que considero gravosa para a sociedade portuguesa. Nós estamos a assistir há um tempo a esta parte a um plano inclinado, decisão após decisão”.

Federação Portuguesa pela Vida:
O princípio da vida está necessariamente ligado à união entre um homem e uma mulher, e todos os diplomas que tenham o efeito de deturpar este dado da natureza são perniciosos e ofendem a dignidade da pessoa humana".

Padre Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa:
Independentemente do resultado das votações que hoje tiveram lugar na Assembleia da República, a Igreja reafirma, por motivos simplesmente antropológicos, que a adoção de uma criança não é um direito de qualquer pessoa adulta, solteira ou casada, heterossexual ou homossexual”.


17 de Maio de 2013 (Excertos da Comunicação Social)

Lei para adopção de crianças por casais homossexuais? *




«A vida transforma os segredos possuídos
pela sociedade em perigo como um voto de
 advertência. A realidade do mundo obstina-se
em fugir à compreensão do corpo amado»

Nuno Júdice, Obra Poética (1972-1985)


     Toda a criança tem geneticamente um pai e uma mãe. Como se pode defender que a criança seja adoptada por dois homens – dois pais –, ou por duas mulheres –  duas mães –, desde os seus primeiros anos de vida?

     Se nesta faixa etária não se pode pergunta à criança se concorda ou não com aquela adopção, nem tão pouco explicar porque vai ser inserida numa família só com dois pais, ou só com duas mães, o que se está a fazer?

     Em primeiro lugar, oferece-se uma mentira à criança, uma mentira sobre a sua origem genética, sobre a sua origem existencial. Na verdade, a criança não merece que lhe “mintam” (no sentido de omitir a verdade) sobre as suas raízes de vida, sobre os autores do seu nascimento, tão estruturantes da personalidade.

     A verdade é que toda a criança teve um pai e teve uma mãe. Não pode nascer de outro modo. Perdoará ela, um dia, a falsidade, o desrespeito pela sua verdade originária, o ponto mais alto da sua dignidade humana? E, além disso, não soçobrará a sua vida bamboleante numa personalidade desestruturada, com os emergentes conflitos quase insuperáveis no seu carácter?

     A criança é um ser frágil que necessita de ser muito amado, mas não se deve fazê-la alcançar essa finalidade, sem ter em conta a sua própria palavra. Não é legítimo usar a criança indefesa para satisfazer interesses imediatos de uma sociedade à beira de se auto-aniquilar, qual Sísifo, na busca sem travão da felicidade. 

17 de Maio de 2013

                                                                                                    
Teresa Ferrer Passos


* O  projecto de lei n.º 278/XII do PS foi aprovado na generalidade com 99 votos a favor e 94 contra, além de nove abstenções.

terça-feira, 14 de maio de 2013

A Economia Social conquista força de lei


«A criação da Lei de Bases da Economia Social vem finalmente reconhecer o mérito e o trabalho deste setor e a sua aprovação, por unanimidade, na Assembleia da República é o melhor testemunho desse reconhecimento.»

«Pela primeira vez em Portugal é reconhecido com força de lei a  especificidade e autonomia das Misericórdias.»


«Destacamos o primado da pessoa e o respeito e promoção dos valores da solidariedade, da igualdade, da não discriminação, da coesão social, da justiça e da equidade, da transparência e da subsidiariedade.»

Mariano Cabaço, Voz das Misericórdias, Abril de 2013

domingo, 12 de maio de 2013

Ascensão de Jesus ao Céu


Após uma refeição improvisada com os apóstolos, estes perguntaram entusiasmados:
“Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?”.
(Act 1, 6)




Não confirmando a interrogação, como eles julgavam, Jesus respondeu que “uma força do Espírito Santo desceria sobre eles e seriam Suas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e até aos confins do mundo”. 
(Act 1, 8)




«Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem subtraiu-O a seus olhos»
(Act 1, 9)


«E eles, depois de O terem adorado, voltaram para Jerusalém com grande alegria»
(Lc 24, 52)


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Cartografia



Não esqueças o mapa das estradas,
O carreiro na orla dos carreiros,
As latitudes perturbadas,
Os labirintos estrangeiros.

Não esqueças o carro abandonado,
A inscrição no muro do convento,
O príncipe exilado,
Os murmúrios trazidos pelo vento.

E se te levam ao tesouro as várias pistas
Mas no cofre não há mais que um pergaminho,
Não desistas:
É outro mapa – retoma o teu caminho.

9/5/2013

Fernando Henrique de Passos

domingo, 5 de maio de 2013

A Nossa Senhora do Perpétuo Socorro



Mãe querida, desde a minha juventude
A tua doce Imagem encantou-me o coração
No teu olhar eu lia a ternura
E junto de ti achava a felicidade

                 Santa Teresa do Menino Jesus




As maias


(invoco, para a Lira, o Arcano e Arcaico do Sápido Sol)

às Mães e às mulheres do meu País

Tu nas águas apareces
E apareces nas ervas,
Nos raminhos e nas preces,
Nos veados e nas cervas.

És o verde, em toda a terra,
És a Madre, em todo o ló.
A Madrinha, pela serra,
E a Senhora do Ó.

Tu soergues o somenos
Numa barca de baunilha;
Eis que vem a flor de Vénus,
Primavera, tua filha.

E quando ela são palomas
Da Maria, ou do enfeite,
As amoras são as pomas
E a Senhora dá o leite.

Tomar, Cidade Templária, 01/ 05/ 2006

IN HERBIS ET IN VERBIS

Paulo Jorge Brito e Abreu

sábado, 4 de maio de 2013

Que palavra, Senhor?


Pequeno rio à volta de Alportel
  
As palavras crescem como mapas-mundo inomináveis,
crescem como rios cheios de viscosos laços,
crescem como martírios, Senhor!
Palavras em busca de palavras, não sabem ver-Te,
mesmo aqui!
Vem, Senhor, trazei-me a delícia das Vossas palavras
que as minhas… não!
Senhor vem, depressa, em meu socorro!
Dizei-me: Onde estais,
em que simples palavra?
Giro à Vossa procura, e procuro uma só palavra Vossa
e morro porque não a escuto, ela não está aqui!
Tende piedade, Senhor!
Na poeira de tantas palavras, não há senão palavras
que não são Vossas, mas vãs...
E procuro mesmo assim a palavra, arrastando a alma já caída
como um tronco de árvore entontecido de  amor
e sem palavras de céu, de oração!                              
Pobre, como eu, sem ter nada, nem sequer uma palavra
para Vos oferecer, Senhor…

20 de Abril de 2013

                                                        Teresa Ferrer Passos