"Uma tempestade", pintura de Antonio Francesco Peruzzini |
NA
MINHA LÍNGUA, VIAJO NO MAR**
Perdido e sem sentido.
Mas nosso, o mar.
À sua beira, nos areais,
Tejo adentro,
crepita nos ares um cheiro
a perda,
a desconcerto, a
rompimento.
O povo pobre, disperso ou
em uníssono,
grita dentro de si um
arraial cheio de mares
descobertos e em ruínas.
Ninguém troca palavras de
esperança,
um desespero que toca as
raias do inferno
avança.
E os pobres não podem ser
dispensados
de contribuir para pagar a
dívida do estado,
que não teve norte e foi
injusto na governação.
Metam-se na barca e rompam
novos mares,
disse o primeiro-Ministro.
Os cofres estão vazios.
Os pobres, ao ouvirem isto,
responderam:
O mar é a nossa língua
cheia de naufrágios,
de caravelas e de
Adamastores medonhos.
Não teremos medo, largaremos
pelo salgado,
deixaremos este estado corrompido,
com tanta insensatez e
loucura.
Depois, ainda o primeiro-ministro
repetiu: Não, não temam
as saudades da natal
terra. Rumem ao mar.
Aí está a salvação. Depois
do temporal, regressem.
Portugal vai renascer.
Os pobres responderam: Iremos!
Levaremos o mar imenso da
nossa língua.
E no mar da nossa língua
em que viveremos
não se perderá do nome de
Portugal,
mesmo sendo nós pobres,
sacrificados de impostos
por governos que nos
defraudaram.
No mar, enfim, teremos
paz.
O mar é do povo que o
atravessou
no Século grande de
Quatrocentos.
O mar que nos levou a
outros mundos.
Esse mesmo mar será ainda
nosso,
como o foi de Vieira, de
Pombal ou de Pessoa.
O mar nos abraçará com as
suas infinitas ondas
e nos abrirá as portas do
mundo,
que nós escrevemos em
língua lusa.
Nessa língua lusa a
escrever-se,
a exaltar-se e a dobrar os
novos
e não menos difíceis Cabos
das Tormentas.
Ainda e sempre voltaremos,
disse o povo.
27 de Novembro de 2012/18 de Março de 2015
Teresa Ferrer Passos
** Foi publicada a 1ª versão deste texto no Blogue Harmonia do Mundo em 27/11/2012). Esta 2ª versão substituiu-a e é datada de 18/3/2015.
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