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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Do nada o tudo

Perto das portas da Promessa
À esquerda o rio
A água espessa
O espaço frio
E o ângulo da cinza submersa:
Campo baldio
Que se atravessa
Até à berma do Vazio

(Imensidão de um vale de nebulosas
Laranjais à espera da manhã
Silêncio de virgem cortejada
Ensaiado langor de cortesã)

23/12/2014

Fernando Henrique de Passos

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Ex nihilo


Núcleos de vento testando a solidez
Da estrutura pálida do nada
(Borbulhar nocturno de perguntas
Em torno de casa abandonada).

Sombras de luz, aceno do Amor
Ao desígnio imóvel do vazio;
Eco da primeira madrugada;
Primeiro movimento, fugaz como arrepio.

Condensação da névoa matutina:
Barro depois, primeiro lodo;
Depois a vida, a dor e a alegria,
As novas formas que assumiu o Todo.

1/12/2014

Fernando Henrique de Passos

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Vazio de mãe


«Na casa há vozes de silêncio. Não se escutam. Não alertam. Não dão as mãos. Nem a boca para o suave beijar. As mãos, a boca, os lábios estão vazios de palavras ditas, reditas sem cessar. E a doçura é amarga sensação de tortura ou náusea ou dor sofrida, magoada. Só. Aqui. Entre móveis paredes objectos emudecidos pela tua ausência» (1 de Julho de 1990)

                Teresa Bernardino (ortónimo de Teresa Ferrer Passos) in Carta-Memória à Mãe, 2000 (por ocasião do 10º aniversário da morte de Natércia Paz Ferrer, minha mãe)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Estilhaços de amor


Francisco de Assis com o lobo

Estilhaços de amor cravados nas estrelas
salpicam-nos e trazem-nos lágrimas transparentes à
superfície dos olhos.
O caos cresce nos nossos corpos sem as sementes
do amor.
As horas extinguem-se nos corações vazios de amor.
Nascem desertos dentro dos nossos músculos,
dentro das nossas veias, dentro dos nossos ossos,
onde não sopra o vento manso do amor.
Tudo se esvai e desvanece quando nos esvaziámos
dos sinais vivos de amor.
Tudo se estilhaça de encontro às faces estranhas
de quem está connosco.
Soltam-se estilhaços do rosto dos desamparados sem um olhar de amor a alguém, a um simples alguém.
O vazio segue e o nosso caminho fica inseguro e árduo.
O vazio segue-nos, desfeito em nada,
sem procurar mesmo que sejam só uns estilhaços de amor. 

Nós olhámos para trás e pegámos-lhe na mão.
Restava-nos ainda um estilhaço de amor.

8 de Abril de 2013
                                                   Teresa Ferrer Passos