sábado, 28 de novembro de 2015

Um poema de Fernando de Paços (1923-2003)

"Mulher" P.A.Renoir (1841-1919)

Pra me curar,
mais fria, a brisa;
na minha mão a tua voz lisa;
chuva, sobre esta noite lunar.

Ficar prostrado no chão e arrefecer, 
Tudo afastar, tudo esquecer.
Apenas tu,
vestindo o meu corpo nu
da tua ansiedade de viver.

Fernando de Paços, O Fértil Jardim, 1953, Edições Távola Redonda (poema 12).

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Ramalho Eanes, o 25 de Novembro e o Prémio Internacional da Paz

O Presidente da República Ramalho Eanes na Posse do 1º Governo
Constitucional (1976), chefiado por Mário Soares 

Como diz o general Ramalho Eanes "momentos fracturantes não se comemoram, recordam-se". Porque são momentos fracturantes há que recordá-los como momentos exemplares de dignidade e justiça cívicas.

Na verdade, as comemorações ficam-se só por um folclore exterior e é como uma festa em que depois de se deitarem foguetes, os ares se silenciam. O 25 de Novembro foi uma data que repôs o estado de direito em Portugal, que quase sossobrava. Que todos o recordem em silêncio, pois o merece.

Lembremos, hoje, Ramalho Eanes porque receberá, (precisamente no dia em que faz anos ter chefiado um movimento de reposição em Portugal da ordem democrática instaurada em 25 de Abril de 1974), o Prémio Internacional da Paz (o mais prestigiado do continente asiático e que se destina a distinguir personalidades que em todo o mundo se destacam em diversas áreas da sociedade).

O Prémio é-lhe atribuído em Manila, capital das Filipinas. Este Prémio da Paz da Ásia corresponde ao Prémio Nobel da Paz da Europa.

25 de Novembro de 2015
                                                       Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A mundanidade destrói a identidade da família cristã

Sagrada Família

«Impressionou-me sempre que o Senhor, na Última Ceia, naquela longa oração, rezasse pela unidade dos seus e pedisse ao Pai que os libertasse de todo o espírito do mundo, de toda a mundanidade, porque a mundanidade destrói a identidade; a mundanidade leva ao pensamento único»


«À semelhança de uma grande árvore, nascida de uma simples e minúscula semente, o mesmo pode acontecer com a cultura predominante, que se impõe e seca tudo o que está ao seu redor.»

                            Papa Francisco (excertos da homilia na Missa de 19/11/2015)

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A cartografia da verdade

Esquerda ou Direita? - A Verdade não pode caber apenas em metade da realidade.


Agora que se formam barricadas, deixem-me falar da terra de ninguém. De um e de outro lado as vozes são tão certas que quem as ouve, de um e de outro lado, só pode por seu lado ter uma só certeza: de lado algum se ouve a inteireza plena da verdade.

É como se a verdade fosse uma superfície curva – pensemos por exemplo no globo terrestre – e cada qual procurasse representar os pormenores dessa superfície curva em cima de uma folha de papel. (E não há nada menos curvo do que a planura de uma folha de papel.)

Se apenas quisermos representar na folha de papel uma porção muito pequena do globo terrestre, então podemos fazê-lo, e fá-lo-emos apenas com impercetíveis desvios em relação à realidade. Mas quanto maior for a área do globo terrestre que pretendermos abarcar, então tanto maiores serão as incorreções do nosso mapa plano.

É o que acontece aos que estão nas barricadas. E quem está entre ambos, apenas pode adivinhar a forma da verdade juntando pequenas porções – de um e de outro lado − de tudo aquilo que lhe vai chegando aos ouvidos.

11/11/2015

Fernando Henrique de Passos

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Da fotossíntese à respiração


Penso melhor ao pé das árvores:
as raízes trazem-me os sonhos
da terra e das sementes;
as folhas bêbedas de luz
contam-me os segredos das estrelas;
os troncos verticais são mais direitos,
na sua perfeita imperfeição,
que as retas dos geômetras;
as flores têm toda a sabedoria
do tempo e da mulher;
e os frutos são de uma certeza tão límpida e desperta
que envergonha o sonolento teorema dos sólidos perfeitos.

Penso melhor ao pé das árvores,
onde quase não separo o pensamento
do suave tumulto dos átomos gasosos
transportando até aos meus pulmões
o verde aroma fresco
do bosque que amanhece.

15/10/2015

Fernando Henrique de Passos

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Do Gênesis ao apocalipse


O que é realmente importante na Bíblia: só o princípio e o fim? Poderia parecer, de facto, que a lenda de Adão e Eva explica como o Tempo se separou da Eternidade, enquanto o Apocalipse explica como voltará o Tempo a ser absorvido pela Eternidade, de modo que tudo o que está “no meio” seriam apenas acidentes, os acidentes próprios do Tempo. Mas dá-se o caso de a Eternidade participar ativamente em todos esses acidentes do Tempo, com vista ao desenlace final. Daí a importância de TODA a Bíblia, com especialíssimo destaque para os Evangelhos, que narram a descida da própria Eternidade ao seio do Tempo.

4/11/2015

Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Rosas de Santa Teresinha



O RESGATE DE SANTA TERESINHA




O poema que ontem compusemos
Não foi escrito com tinta nem papel:
Escrevemo-lo no dia que acontece
Como quem reza baixinho alguma prece.

O poema que ontem compusemos
Não foi escrito com tinta nem papel:
Foi escrito em nós por quem jamais se esquece
De dar alento à luz sempre que a luz esmorece.

O poema que ontem compusemos
Não foi escrito com tinta nem papel:
Nasceu como fruto da memória
Do dia em que te dei um certo anel…


5/11/2015

                  Fernando Henrique de Passos




A MORTE DA ROSEIRA 




O dia era cinza nas nuvens disformes
a agitarem as gotas de chuva sobre a roseira,
a pender de rosas de Santa Teresa do Menino Jesus.

De súbito, agitado senti o coração. Que acontecia?
Cheguei à janela. Vi três jardineiros
a chegarem junto da bela roseira.
Levavam a máquina de cortar e as mãos
com luvas de proteção. A camioneta ao lado,
com as bermas descaídas esperava a roseira
a respirar vida.
O som da máquina trovejou. Os ramos tombaram
nas mãos inclementes.
As rosas choravam as gotas perdidas da chuva piedosa.
Pétalas sepultavam-se no relvado vermelho de revolta.
Os troncos abraçavam ainda as rosas.
Estavam a ser sepultadas na estupidez
de ordens superiores, dos grandes senhores...
Corri a dizer-te. E tu gritaste. Parem!
E nós, prostrados, chorámos
abraçados. Depois, a máquina emudeceu.
Voltamos à janela. Havia ainda uns fracos troncos.
Com rosas!
Os três jardineiros tinham desaparecido.
E chorámos de novo. De alegria. 

5 de Novembro de 2015 (no 22º aniversário do nosso noivado)

                                        Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Uma chuva de rosas para a Terra...



«Ó coração de Jesus, tesouro de ternura
Tu és a minha dita, a minha única esperança,
Tu que soubeste cativar a minha juventude
Fica ao pé de mim até à última tarde.
Senhor, só a Ti dei a minha vida
E conheces bem todos os meus desejos
É na tua bondade sempre infinita
Que desejo perder-me, ó Coração de Jesus!»

1895
               Santa Teresa do Menino Jesus
         (Do poema «Ao Sagrado Coração de Jesus» in Obras Completas, p.735)



segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A vida não passará...

A vida chama por nós,
como uma flor viva.
Se o nascimento é a vida a cobrir os novos seres,
a infância é todo um choro a sorrir,
um cântico à vida nova.

Porém, os velhos olham a vida como um tesouro perdido.
Sabem que a morte não lhes dará outra vez a vida,
igual a esta. Que incógnita!

Esquecem que uma outra vida, não efémera como esta, sempre à beira de findar, lhes está prometida se o Amor tiver sido, em todo o nosso caminhar, um farol sempre aceso, a brilhar.

Dia de Finados (2 de Novembro)
                                                              Teresa Ferrer Passos
  

domingo, 1 de novembro de 2015

S. João Batista no Dia de Todos-os-Santos


Logo que João Batista sabia da presença de Jesus nas proximidades, mandava os seus ouvintes ir ter com Ele, Ele é que era o Messias. E avisava que ele, João, nada mais era do que uma voz a «clamar no deserto» para que os que viviam no erro se arrependessem. Depois, seguirem o Messias. Ouvirem e receberem as palavras de Jesus e fazerem-nas suas. E que oportunidade! Ele estava ali tão perto, tão próximo de cada um, ali mesmo.

A Sua chegada parecia a João marcar o fim do seu trabalho preparatório, mas Jesus não pensava assim. Se tudo se devia cumprir como o Espírito Santo o revelara a seu pai Zacarias, Jesus tinha em grande apreço pregar ao lado do Seu Mensageiro, do Seu primeiro apóstolo (= enviado). Um, numa aldeia, outro em outra. 

Porém, a humildade de João levava-o a insistir junto do seu auditório: «Eu batizo em água; mas, no meio de vós, encontra-se (…) Aquele que vem depois de mim; e eu não sou digno de desatar a correia da Sua sandália»(1).

É nessas horas do princípio de Jesus ali, ali tão perto, que João proclama à multidão: «Este é aquele de Quem eu disse: “Depois de mim, virá Alguém que passou à minha frente, porque era antes de mim”»(2).

Depois, João Batista dá o testemunho maior sobre Jesus: «Vi o Espírito Santo descer do Céu como uma pomba e permanecer sobre Ele»(3).


                                                               Teresa Ferrer Passos

(1) Jo 1, 26.
(2) Jo 1, 29-30.
(3) Jo 1, 32.