O RESGATE DE SANTA TERESINHA
O poema que ontem compusemos
Não foi escrito com tinta nem papel:
Escrevemo-lo no dia que acontece
Como quem reza baixinho alguma prece.
O poema que ontem compusemos
Não foi escrito com tinta nem papel:
Foi escrito em nós por quem jamais se
esquece
De dar alento à luz sempre que a luz
esmorece.
O poema que ontem compusemos
Não foi escrito com tinta nem papel:
Nasceu como fruto da memória
Do dia em que te dei um certo anel…
5/11/2015
Fernando Henrique de Passos
O dia era cinza nas nuvens disformes
a agitarem as gotas de chuva sobre a
roseira,
a pender de rosas de Santa Teresa do
Menino Jesus.
De súbito, agitado senti o coração. Que
acontecia?
Cheguei à janela. Vi três jardineiros
a chegarem junto da bela roseira.
Levavam a máquina de cortar e as mãos
com luvas de proteção. A camioneta
ao lado,
com as bermas descaídas esperava a roseira
a respirar vida.
O som da máquina trovejou. Os ramos
tombaram
nas mãos inclementes.
As rosas choravam as gotas perdidas da
chuva piedosa.
Pétalas sepultavam-se no relvado
vermelho de revolta.
Os troncos abraçavam ainda as rosas.
Estavam a ser sepultadas na estupidez
de ordens superiores, dos grandes
senhores...
Corri a dizer-te. E tu gritaste. Parem!
E nós, prostrados, chorámos
abraçados. Depois, a máquina emudeceu.
Voltamos à janela. Havia ainda uns
fracos troncos.
Com rosas!
Os três jardineiros tinham desaparecido.
E chorámos de novo. De alegria.
5 de Novembro de 2015 (no 22º aniversário do nosso noivado)
Teresa Ferrer Passos