Nasci no dia do Irmão António, a recolher-se jovem ao deserto das vertigens da África mediterrânica. Ao lado da dor da saudade pátria, a panaceia da sua santa idade a vazar-se ali e a ser futuro na Itália, sem retorno.
Nasci no dia do Santo António de Lisboa, como ele. Nesse dia em que, lembrei-me, minha mãe “celebrava o dia dos meus anos”. Nasci. E achei tudo o que a cercava bizarro. Procurei sair de imediato. Mas vi os seus olhos sedentos de mim. Tentei sorrir. Não fui capaz. Mirei-a. Com as lágrimas em torrente, meus olhos, mal abertos, viram as suas faces começarem a entristecer. Olhou o Santo, na paz da mesa de vinhático em frente ao berço. Orou, olhando-o. Fez um sinal enigmático sobre as minhas lágrimas.
Precisamente, naquele “dia em que celebrava o dia dos meus anos”, com o espanto a brotar do meu corpo tão pequeno, esbocei, com esforço, um sorriso só para ela. Ninguém o viu. Nem mesmo minha mãe ou só o Santo?
13 de Junho de 2012 (124 anos depois do nascimento de Fernando Pessoa)
Teresa Ferrer Passos
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