Esta solidão, eu mesmo a procurei,
Mas posso, ao revés, de perto, ouvi-la,
Como se fosse partitura de intimidade:
A soberana execução de certas horas.
Se, neste momento, eu perecesse,
A tudo e a todos, e ao meu próprio tronco,
Coisa pouca ainda me rimaria com seiva,
Pois à minha’alma não estranha a quieta relva.
Em noite de inverno, tudo se encolhe
Ao reino mineral, no silêncio das raízes.
Posso senti-las, latentes nos meus dedos,
Conscientes, no escuro pulsante dos desejos.
Os cães rejeitaram o doméstico agasalho.
Preferiram, lá fora, os montes de entulho.
E os meus caracóis prediletos? Mistério,
Mas, virão, sem ânsia e com mais idade.
Novos dias hão de ver. As chuvas são alhures.
Apenas foram advir, de se molhar em outros ares.
Elas são, assim, índole de idas e voltas,
Dança líquida, de tango com nevoeiros.
Ao meu lado, docemente alguém ressona.
Neste exato quarto, um sino seria incômodo.
Mas, uma doce campainha traz-me incenso,
Aroma de interior, de vento em copa de amendoeira.
Luiz Martins da Silva (Brasil)
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