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sábado, 30 de janeiro de 2016

Estação arqueológica


Pacato passeio entre cometas,
Chuva de estrelas ao retardador,
Caminho de pedras em lago de exegetas,
Rosas florindo num computador.

Calma estação do escrutinar noturno,
Telescópios apontando prata,
Verberações de Vénus e Saturno,
Trémulo delírio da Ciência Exata.

Doces camadas lânguidas de indícios,
Inúteis redundâncias do passado,
Já quase mostram o código aguardado
Do espaço dos sóis e precipícios.

 29/1/2016

Fernando Henrique de Passos

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Para lá do espaço das palavras














Quase impossível

O som das palavras caindo uma após outra
Na superfície do lago subterrâneo
Gotas opacas
Calcário de palácios pré-humanos
Pré-história das amibas

Sei o caminho
Ao menos isso sei

Atravessar a maldição dos ecos
A luz fantasmagórica
As sombras nas paredes

Ao menos isso sei

Descer à pré-história das estrelas
Reflexos perdidos entre grutas
Milenar chão sedimentado
Pó de calcário
Pegadas de astronautas do passado

Ao menos isso sei

Conter o ímpeto de rasgar o espaço
Descer ainda
Procurar o centro da manhã
No reino onde o sol nunca nasceu
Palácios do tempo das fadas e dos reis
Gotas de calcário nas vidraças
O lençol de água sob a terra

Ao menos isso sei

Mergulhar
Nadar até ao fundo
Até à sombra dos reflexos
Centro da névoa naufragada

Voltar à tona d’água

Isso sei – daí para a frente não sei nada

20/4/2013

Fernando Henrique de Passos

domingo, 10 de junho de 2012

O Tecido dos Séculos

A luz da tarde torna-se indecisa. 
Do céu, por entre a chuva, tombam séculos
Que se esboroam no verde-cinza das colinas.
Pela janela do palácio abandonado
A única habitante vê relâmpagos
Que trazem reflexos dos dias já passados,
Dos dias que havia antes de haver antes.

(Se dormisse ela veria, a única habitante do palácio,
Dentro dos seus sonhos as cores de outrora,
Frágeis estilhaços da realidade.)

A luz da tarde morre e, já sem luz,
O tempo hesita entre o ser e o não-ser,
Entre o não-ter-fim e o nunca-ter-principiado.

(A léguas do palácio, um príncipe galopa,
Perdido na borrasca, no tempo e suas tramas,
Sem capa, espada ou esporas.
A muitas léguas mais, vulcões e pó de chamas
Dão vida ainda às horas.)

10/6/2012


Fernando Henrique de Passos