quarta-feira, 24 de abril de 2013

Para lá do espaço das palavras














Quase impossível

O som das palavras caindo uma após outra
Na superfície do lago subterrâneo
Gotas opacas
Calcário de palácios pré-humanos
Pré-história das amibas

Sei o caminho
Ao menos isso sei

Atravessar a maldição dos ecos
A luz fantasmagórica
As sombras nas paredes

Ao menos isso sei

Descer à pré-história das estrelas
Reflexos perdidos entre grutas
Milenar chão sedimentado
Pó de calcário
Pegadas de astronautas do passado

Ao menos isso sei

Conter o ímpeto de rasgar o espaço
Descer ainda
Procurar o centro da manhã
No reino onde o sol nunca nasceu
Palácios do tempo das fadas e dos reis
Gotas de calcário nas vidraças
O lençol de água sob a terra

Ao menos isso sei

Mergulhar
Nadar até ao fundo
Até à sombra dos reflexos
Centro da névoa naufragada

Voltar à tona d’água

Isso sei – daí para a frente não sei nada

20/4/2013

Fernando Henrique de Passos

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