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quinta-feira, 16 de abril de 2015

A última poesia de Camilo Pessanha


Penetro no centro oco do mistério.

Sinto no escuro a contracção de nervos
Mas não sei se são os meus nervos que se crispam
Ou as raízes húmidas da gruta
Pois já a custo me distingo dos muros que me cercam.

Procuro o réptil responsável,
O longilíneo primevo encantador,
O Rei das Trevas, senhor da ilusão
Que me fez prisioneiro de mim mesmo.

Escuto o longínquo gotejar do tempo
Disfarçado de passos femininos
Que se aproximam por longas galerias.

Se foi aqui que tudo começou,
Será também aqui o desenlace:

Dirijo-me ao encontro da serpente.

16/4/2015
                  Fernando Henrique de Passos

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Quinta-feira da espiga


Toma o tempo que quiseres.
Senta-te aqui e deixa-te arrastar
Pela contemplação desse mistério,
O grande torvelinho imóvel que te sorve,
Que te arranca as camadas do corpo e, uma a uma,
As recoloca depois na ordem certa.
Toma o tempo que quiseres, mas não perguntes
Que faço aqui no meio das papoilas?
Aguarda apenas que os sons do campanário
Deixem de ser exactos algarismos,
E que o óleo de novo se torne em aguarela
Na hora plena das doze badaladas
Fundidas num único sol-posto,
Prenúncio da derradeira madrugada,
Aquela que nunca terá fim.


29/9/2014

Fernando Henrique de Passos

domingo, 30 de dezembro de 2012

Pergunta



Paro à entrada da pergunta
Caverna tão vazia que a custo tem paredes
Povoada de palavras errantes no seu erro
Tão vazias como a própria caverna que as alberga
Cada uma contendo apenas mais palavras
Soltas ocas e distantes

Desolação
Sonho de respostas sob a forma
De grandes galerias resguardadas
Forradas do musgo de redes de palavras
Se houvesse palavras com sentido

Paro à entrada da pergunta
E todo o frio do universo me congela os lábios
E as galáxias são cemitérios de frases e cristais

Bastava entrar lá dentro
Atravessar a atmosfera rarefeita
Escutar os ecos das estrelas

Paro à entrada da pergunta
Não vou em frente
Seria preciso conseguir falar
Sem proferir palavras

E o mistério permanece
Esperando quem saiba interrogar o silêncio com silêncio
Para revelar a resposta oculta atrás do nada

29/12/2012

Fernando Henrique de Passos