quinta-feira, 16 de abril de 2015

A última poesia de Camilo Pessanha


Penetro no centro oco do mistério.

Sinto no escuro a contracção de nervos
Mas não sei se são os meus nervos que se crispam
Ou as raízes húmidas da gruta
Pois já a custo me distingo dos muros que me cercam.

Procuro o réptil responsável,
O longilíneo primevo encantador,
O Rei das Trevas, senhor da ilusão
Que me fez prisioneiro de mim mesmo.

Escuto o longínquo gotejar do tempo
Disfarçado de passos femininos
Que se aproximam por longas galerias.

Se foi aqui que tudo começou,
Será também aqui o desenlace:

Dirijo-me ao encontro da serpente.

16/4/2015
                  Fernando Henrique de Passos

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