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quinta-feira, 16 de abril de 2015

A última poesia de Camilo Pessanha


Penetro no centro oco do mistério.

Sinto no escuro a contracção de nervos
Mas não sei se são os meus nervos que se crispam
Ou as raízes húmidas da gruta
Pois já a custo me distingo dos muros que me cercam.

Procuro o réptil responsável,
O longilíneo primevo encantador,
O Rei das Trevas, senhor da ilusão
Que me fez prisioneiro de mim mesmo.

Escuto o longínquo gotejar do tempo
Disfarçado de passos femininos
Que se aproximam por longas galerias.

Se foi aqui que tudo começou,
Será também aqui o desenlace:

Dirijo-me ao encontro da serpente.

16/4/2015
                  Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Do Génesis ao Apocalipse

Passeiam serpentes aos pares pelas arcadas,
Longas e lentas ondas reluzentes
Ofuscando a noite das estradas
Com bátegas de cor e estrondo de acidentes.

Relâmpagos no mar, neve na areia,
Cristais em brasa sobre a rocha fria,
Reacção ácida que desencadeia
A congeminação de um novo dia.

Quando chega enfim a madrugada
Há restos de cobras entre a espuma
Que se dissolvem na nova luz criada
Pelos amores do Verbo com a Bruma.

26/11/2014

Fernando Henrique de Passos

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Génesis



No centro augusto do Mediterrâneo,
Num bafo de azul meridional,
Um subtil satã subterrâneo
Soltou as centopeias no quintal.

Um rectilíneo rasgão meridiano
Do arcanjo da luz patriarcal
Decepou da cobra por engano
O arranjo da sombra original.

Rangendo as rodas sobre os diamantes
Passou a quadriga triunfal.
As andorinhas voaram como dantes:
Só foram novas as novas do jornal.

3/2/2013

Fernando Henrique de Passos