Precursora da Nova Evangelização do mundo*
Os Manuscritos Autobiográficos (1) de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face foram elaborados por sugestão de sua irmã Paulina (Madre Inês de Jesus) entre os 21 e 24 anos de idade (ano da sua morte). Com uma linguagem extremamente simples, oferecem-nos um pensamento espiritual de fundo teológico de clara feição precursora para o seu tempo. Estes Manuscritos não eram dirigidos a uma comunidade monástica (neste caso, Carmelita); procuravam chegar mais longe, chegar ao mundo, aos sacerdotes e aos leigos, aos crentes de outras religiões ou aos ateus.
Sem Teresa do Menino Jesus se aperceber, anunciaram, de modo subtil, qualquer coisa nova para o mundo. Nas margens das suas palavras simples, erguia-se um edifício para uma sociedade sem diferenças entre bons e maus, sem estigmas sociais de natureza jurídica, sem distâncias relativas a culturas diferentes, sem distinção entre pequenos e grandes. Há, pois, aqui, um pensamento que se antecipa ao nosso tempo: ela tem a ousadia de fazer a crítica a princípios dogmaticamente aceites desde há muitos séculos pela Igreja. Vejamos os mais importantes: A critica à existência do purgatório, lugar onde se inscreviam castigos como sendo uma terapia regeneradora do pecado; a crítica do inferno, lugar onde se era lançado sem resgate ou perdão.
Sem Teresa do Menino Jesus se aperceber, anunciaram, de modo subtil, qualquer coisa nova para o mundo. Nas margens das suas palavras simples, erguia-se um edifício para uma sociedade sem diferenças entre bons e maus, sem estigmas sociais de natureza jurídica, sem distâncias relativas a culturas diferentes, sem distinção entre pequenos e grandes. Há, pois, aqui, um pensamento que se antecipa ao nosso tempo: ela tem a ousadia de fazer a crítica a princípios dogmaticamente aceites desde há muitos séculos pela Igreja. Vejamos os mais importantes: A critica à existência do purgatório, lugar onde se inscreviam castigos como sendo uma terapia regeneradora do pecado; a crítica do inferno, lugar onde se era lançado sem resgate ou perdão.
Para Teresa do Menino Jesus, estes princípios entravam em contradição com o Deus de Amor de que o rosto humano de Jesus era a expressão. “Os sofrimentos eternos são inúteis” e entram em contradição com o Deus-Amor; também a lei da pena de morte não permitia o arrependimento nem a reabilitação: «Quis a todo o custo impedi-lo (ao criminoso Pranzini) de cair no inferno» (2); a condição da mulher, mesmo conventual, a mulher sujeita ao desprezo, às proibições: «Ah, pobres mulheres, como são desprezadas» (3); os costumes, como a mortificação nos conventos: «Nunca fiz nenhuma» (4).
Estas críticas, deram ensejo a Teresa do Menino Jesus para lançar as bases de uma renovação da teologia da Igreja, toda construída a
partir de caminhos muito pequeninos. Assim, nascia uma pequena teologia para o tamanho do mundo: os seus pequenos caminhos são os atalhos para um outro
pequeno caminho que se eleva como o vértice de todos: a fraternidade ou o
encontro de todos com todos. O objectivo maior da encarnação de Deus em Jesus
fora precisamente a Fraternidade. Esses pequenos
caminhos de Santa Teresa de Lisieux têm uma matriz singular, o Amor: «A ciência do Amor, ah sim! esta palavra ressoa docemente ao ouvido da minha alma, não desejo senão essa ciência» (5).
O Amor traçava-se em cada um dos pequenos caminhos: um gesto de atenção ao outro, uma palavra carinhosa, um sacrificiozinho por alguém, um sorriso, uma palavra de paz, a procura do solitário, a confiança no próximo, o pedido de misericórdia a Jesus pelos pecadores... Tantos pequenos caminhos! E, precisamente os pequenos caminhos, enlaçados no caminho do Amor, iriam realizar, no mundo, o supremo caminho da Fraternidade. Essa Fraternidade que hoje continua a ser, dia após dia, esmagada pelo egoísmo, o orgulho, a ambição, a inveja, muitas das perversões do mundo contemporâneo.
O Amor traçava-se em cada um dos pequenos caminhos: um gesto de atenção ao outro, uma palavra carinhosa, um sacrificiozinho por alguém, um sorriso, uma palavra de paz, a procura do solitário, a confiança no próximo, o pedido de misericórdia a Jesus pelos pecadores... Tantos pequenos caminhos! E, precisamente os pequenos caminhos, enlaçados no caminho do Amor, iriam realizar, no mundo, o supremo caminho da Fraternidade. Essa Fraternidade que hoje continua a ser, dia após dia, esmagada pelo egoísmo, o orgulho, a ambição, a inveja, muitas das perversões do mundo contemporâneo.
Na linha de rumo traçada pelos pequenos caminhos, o Papa Francisco na sua 1ª Exortação Apostólica (2013) ensinava:
«Trata-se de aprender a descobrir Jesus no rosto dos outros e aprender também a
sofrer quando recebemos agressões injustas ou ingratidões, sem nos cansarmos
jamais de optar pela fraternidade» (6). Neste documento, Francisco faz mesmo referência a um caso passado com
Santa Teresa de Lisieux (7): Estando ela a fazer companhia à Irmã S. Pedro,
cuja doença lhe dava um deplorável aspecto, começou a pensar numa cena alegre de
um baile; de súbito, ouvindo-a gemer e vendo aquele rosto de dor, sentiu nesses momentos muito
mais felicidade do que ao lembrar-se das imagens felizes do seu passado. E o Papa Francisco sublinha: «O modo de nos relacionarmos com os outros é uma fraternidade que
sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser
humano» (8).
O caminho do
Amor, esse caminho pequeno, possui, ao mesmo tempo, uma força avassaladora. Sem todos os pequenos caminhos de Santa Teresa de
Lisieux − a mais jovem
Doutora da Igreja −, a Fraternidade
continuará, nos nossos dias, adiada. Por quanto tempo?...
30 de Maio de
2014
Teresa Ferrer Passos
* Este texto foi escrito por ocasião do lançamento do livro da autora, Santa Teresa do Menino Jesus e a Força dos seus Pequenos Caminhos, Edições Carmelo, na Livraria da Universidade Católica de Lisboa, em 30 de Maio de 2014.
(1) Estes Manuscritos (1895-1897) vulgarizaram-se, após a sua morte, com o nome de História de uma Alma (1ª edição,1898).
(2) Manuscrito A, fl.45v.
(3) Manuscrito A, fl.66v.
(4) Manuscrito A, fl.68v.
(5) Manuscrito B, fl.1.
(6) Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, Paulinas Editora, 2013, p. 68, Parágrafo 91.
(7) Idem, Ibidem, Parágr. 91, nota 69; Manuscrito C, fl.29v-30.
(8) Evangelii Gaudium, Parágr. 92.
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