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domingo, 5 de janeiro de 2014

Morreu EUSÉBIO

Eusébio, de Moçambique para Portugal, de Portugal para a Europa e para o mundo...



Conquistador das asas da vitória nas competições em que participou ao serviço de equipas portuguesas de futebol, o desporto mais glorioso do mundo.    



Uma força na vontade e na emoção cresce com o seu coração, o coração simples do herói.



Morreu hoje, mas viverá na memória da sua Pátria Lusíada, Moçambique e o mundo. 


Lisboa, 5 de Janeiro de 2014


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Um destino feito da forma das palavras
















De que palavras é feito o azul do mar?
Que sons conduzem ao fio do horizonte?
Que lendas dormem à espera de acordar
No dia em que a pena de um poeta as conte?

De que palavras é feito o cheiro a sal?
Qual é a cor dos sons que escorrem dos navios?
Que praia estenderá seu areal
Aos que um dia enfrentarão os céus sombrios?

Que alma habita a névoa leve, a rocha dura,
Com força de animal, ternura mais que humana?
– É a palavra passada e que é futura,
É o grito, é o langor, da língua lusitana…

27/11/2012

Fernando Henrique de Passos

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A propósito de «Orpheu, Portugal e o Homem do Futuro»

-  LEMBRANÇA DE
DALILA PEREIRA DA COSTA (1918-2012)





«Num sentimento de febre
de ser para além doutro Oceano»
Fernando Pessoa,
“Para Além Doutro Oceano” (poema), 1917
  

Terrível superação e bendita, a de ser Pessoa o escolhido para abrir o caminho novo da pátria exausta, e, com ela, de todas as pátrias moribundas! Todas as pátrias a serem, no cume da montanha do tempo, uma só pátria a escrever-se na Europa apagada ainda por um mundo vil e degenerescente.
Num mar de oceanos múltiplos, cresceram os povos de tradições tão várias, a mudar com os séculos e os milénios, e, ao mesmo tempo, ensinando aos vivos identidades do presente e desvios da memória do passado.  Cada um, a ditar o cérebro sem amarras do homem-super, sem diferenças de rumos ou desigualdades insuperáveis.
Aqui, num sempre Portugal a respirar Pessoa, nasce o imenso futuro da ideia nova que é capaz da ousadia, mesmo da temeridade de um oceano longínquo e imortal, podendo transformar povos inteiros num povo redimido por essa  Europa a transbordar de espírito e de emoção, numa colheita imensa de sementes sábias.
Rumo à Europa dos novos descobridores de um mundo inteiro a dar-lhe a largueza dos mundos que o grego criou na Odisseia e na Ilíada mediterrâneas e que o português recriou nas navegações das Américas e do Índico e do Pacífico, essas geografias alheadas de si e sem saberem nada de quem chegava, urgente e inquieto.
Na oratória do Pessoa do Ultimatum (ass. pelo heterónimo Álvaro de Campos na revista Portugal Futurista, nº1 e único), datado de 1917, e do poema “Para Além Doutro Oceano” (revista Orpheu, nº 3, curiosamente também de 1917), Dalila Pereira da Costa vê o espectáculo pessoano das ondas, atravessadas com o lápis da cruz e da vitória, a inscrever-se no Velho continente das sabedorias e a elevar-se até à superação humana de Língua Portuguesa. Dalila vê a frota dos navegantes, como Pessoa, desde o estuário do Tejo até às margens do Danúbio.
Em Orpheu, Portugal e o Homem do Futuro, Dalila aborda a profecia do Ultimatum e de Para Além de Outro Oceano. Quando escreveu este opúsculo, no ano de 1977, viu uma Europa mundializada sob a égide da civilização luso-atlântica.
Hoje, numa perspectiva idêntica, vemo-la, contudo, diferente. Vemo-la agora Nova Civilização a renascer em novas literaturas sem papel, desenrolando-se em todo o papel invisível a circular, intenso e livre entre mares incomensuráveis. Agora, vislumbramos abismados os novos mundos da internética geração, dispersa e mesmo assim inteira, numa globalidade exaltante e, ao mesmo tempo, promissora via de espaços de muitos sentidos insuspeitáveis e cheios de novidade.
Uma Nova Civilização europeia começa, hoje, na tinta impressa nos ecrãs dos computadores e no olhar dos atlantes a sobreviverem num Portugal imerso em nevoeiro. E todos os navegadores da cabeça da Europa que é Portugal, essa janela aberta para as terras do longe atlântico, essa vontade de poder ainda a perecer, ressurgem das águas das salgadas marés, a espraiarem-se na voz emudecida e viva dos náufragos esgotados de sede e de ardor.
Com o Ultimatum nas mãos, Pessoa segue um rumo certo e intemerato entre linhas geométricas e astrolábios, junto a terras novas e secretas, pejado com todas as filosofias do conhecimento humano. Entre quadros negros de cálculos audazes de infinito a germinar na escola futurista de Sagres, os nautas do mar salgado de Quatrocentos unem-se hoje aos internautas dos espaços computacionais do futuro.
Num percurso de novíssimas máquinas, com a inteligência a transcender-se para vencer toda a mística de um universo a ser decifrado pelos novíssimos mares augurados na Mensagem (1934), forjam-se altos desígnios a contornar todos os tempos abismados com o emergir do tempo novo do super-homem. E foi Pessoa quem, em 1917, recriou um Super-Homem perplexo com a complexidade, com o saber completo e a arte da harmonia.
Como profeta da Europa decadente e a renascer, Pessoa pré-anunciava o Super-Homem no Ultimatum, com a audácia da Raça dos Descobridores e a lucidez da loucura mais funda que os abismos marítimos. Em Orpheu, Portugal, e o Homem do Futuro, Dalila Pereira da Costa descobria e tocava o Pessoa ávido da força dos heróis e intérprete da história oculta a não iniciados da sua Pátria dispersa pelo mundo. Vendo nela todas as pátrias, vendo tudo com todos os olhares e com todas as almas, Pessoa ascende ao topo da totalidade do Super-Homem teorizado pelo filósofo alemão Nietzsche em Assim Falava Zaratustra, escrito entre 1883-85. Um Super-Homem todo a espargir os seus limites, superados enfim.
Orpheu, Portugal e o Homem do Futuro, escrito em 1977, é um pequeno ensaio em que Dalila Pereira da Costa, a filósofa mística do Porto, faz renascer a “pequena pátria lusitana” com as tintas da exaltação mística desse Pessoa  transfigurado no espantoso Ultimatum do ano de 1917. A esse expectante homem novo, prestes a eclodir numa Europa à procura de um Caminho para o realizar, em liberdade e na partilha fraternal, a Nova Civilização salta do seu visionarismo futurista, a alargar os braços até abraçar o mundo todo.
Ao lembrar este opúsculo da autora de O Exoterismo de Fernando Pessoa, alguns meses após a sua morte, sem ser morte verdadeira, pois Dalila aqui está viva na nossa lembrança, recordamos aquilo a que ela chamou a «suprema ascese de Pessoa visando a criação de um homem novo ou mundo novo (a partir da sua verdadeira Pátria, o mundo de Língua Portuguesa)». Como Dalila bem salienta também, Pessoa continuou a profética oratória do Padre António Vieira que, no século XVII, previa uma espantosa “História do Futuro” neste país herdeiro da mítica Atlântida, nesta escarpada costa marítima do Ocidente da Europa.
Escrevendo a pensar na gente lusa dos Descobrimentos para o mundo, o Ultimatum pré-anunciava, dezassete anos antes, o livro de poemas Mensagem publicado em 1934, apenas um ano antes da morte do “Super-Camões”. Os portugueses, como Dalila Pereira da Costa, ainda esperam pela realização dos vaticínios do Ultimatum. Esperam por um magnífico monarca, qual rei D. Sebastião, O Desejado, a arribar ao Tejo talvez n’ A Última Nau, poema profético dessa enigmática e imortal “hora”, que Pessoa nos anunciou numa hora incerta que não vamos esquecer.
Na verdade, Dalila Pereira da Costa também nunca a conseguiu esquecer, porque a “hora” para o mundo, precisamente de Língua Portuguesa virá, ainda que silenciosa, mas para ser no mundo uma «Gaia Ciência» a guiar os povos, cada um e todos a envolverem-se no magnífico Futuro da humanidade que se superou e construiu uma Civilização «realizada pela alma atlântica». Uma «Civilização universal vivificada pela seiva duma cultura cosmopolita», como acentuaria Dalila nas últimas páginas do opúsculo que recordámos neste ensejo.
A saudosa Dalila Pereira da Costa que se dedicou afanosamente ao mistério da portugalidade que Pessoa tanto escalpelizou. Na senda do Poeta dos heterónimos, Dalila viu Portugal a perecer e edificou a esperança. Fê-lo renascer na “hora”! A “hora” vaticinada pelo autor de Ultimatum a contemplar o Tejo no cais da partida «para além doutro Oceano».

Lisboa, 18 de Maio de 2012

Teresa Bernardino*

*Também assina Teresa Ferrer Passos

Publicado na revista Nova Águia, Nº 10 - 2º Semestre 2012, pp. 118-119.

sábado, 3 de novembro de 2012

Crise económica portuguesa e Lusofonia


«(...) Se, com efeito, Portugal sempre tivesse promovido os laços com os restantes países e regiões do espaço lusófono, teria hoje, mesmo no espaço da moeda única europeia, uma posição bem mais fortalecida. Agora, porventura, já será tarde. A História não volta atrás. Seja como for, Portugal terá sempre futuro e terá tanto mais futuro quanto mais assumir esse desígnio estratégico: “mais Lusofonia”. (...)»

3/11/2012

Renato Epifânio in "Milhafre" (blogue do Movimento Internacional Lusófono)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A União Económica Europeia e as Nações



A União Europeia tem os seus antepassados mais distantes no Império Carolíngio/Romano, centrado no reino dos Francos de Carlos Magno (século VIII-IX) até ao Sacro Império Romano-Germânico (a emergir no século XIV). Ambos redundaram em fracasso. Mas ambos começaram por ser o resultado de uma benéfica expansão económica dos países envolvidos no objectivo unificador.
Os progressos da economia europeia ao longo do século XIII permitiram que surgisse o sustentáculo financeiro (abundância de moeda) para não deixar regredir ou colapsar os avanços da riqueza provinda da produtividade manufactureira (industrial), comercial e agrícola. A criação das primeiras estruturas da Banca enriquece a emergente burguesia europeia. A Banca tornava-se agora o sustentáculo da produção de riqueza na Europa. As nações começavam a prosperar graças à interpenetração da Produção e da Banca (onde se depositam as poupanças para voltar a investir na produtividade).
Esta movimentação de capitais em dois sentidos – a alternância entre a poupança para produzir e a produção para a poupança – vai criar uma prosperidade nas nações que estará na base de um imponente comércio internacional. Vêem estas linhas a propósito da actualidade económica e financeira que se vive na Europa, em que Portugal se insere económica e monetariamente.
Pelo menos desde há dez anos, Portugal (integrado na União Económica e Monetária Europeia) começou a defrontar-se com uma grave crise de natureza económica que se acentuou com o governo de José Sócrates e que se transferiu para o de Pedro Passos Coelho. Este último tem tomado sucessivamente medidas para aumentar a receita e diminuir a despesa, mas logicamente sem êxito.
A verdade é que estamos neste momento com uma união económica e monetária a nível europeu e não nacional. A presença do FMI, do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia (vulgo Troika), que vigia e indica as linhas orientadoras da política nacional no plano económico e financeiro, não oferece margem de manobra ao governo português.
A dívida ascendeu a valores incomportáveis para o Estado mas este não pode desobedecer às instituições de vigilância da Europa (Troika). A economia portuguesa tem definhado nos últimos anos a um ritmo assustador. Por sua vez, o governo procura superar o impacto das leis europeias a que ficámos sujeitos, através de uma política de pesados impostos que fragmentam o tecido social através da subida dos índices de desemprego e de miséria dos velhos, dos doentes, dos despedidos por falência das empresas. Muitos protestam contra a pesada carga fiscal e o despedimento público. Outros vêem o seu poder de compra baixar, tendo dívidas por empréstimos contraídos aos bancos para aquisição de casa, carro, etc. Centenas de empresas abrem falência por ausência de incentivos e deslocam as suas sedes para o estrangeiro para sobreviver. As greves proliferam e provocam prejuízos graves ao estado já muito defraudado de riqueza. Os ministros da Economia e das Finanças são considerados incompetentes porque não lançam as bases do aumento da produção industrial e agrícola. O protesto generaliza-se.
Os governos, as democracias, os partidos maioritários, são responsabilizados pela crise do progresso e do enriquecimento dos estados europeus de economias mais débeis. Mas há um factor a que ninguém está a dar suficiente importância: esta grave crise das nações não pode ser resolvida, apenas e fundamentalmente, com as medidas limitadoras a que os seus próprios governos estão sujeitos.
Esta crise económica que limita o incremento da riqueza dos estados não respeita a nenhum destes estados. E, em consequência, nenhum ministro das Finanças ou da Economia pode resolver a crise. De facto, sem que os responsáveis europeus lhes dêem instruções num sentido que lhes seja favorável, vegetam as suas economias e as suas finanças.
Os países mais fracos da Europa que aderiram ao Euro – moeda única – na Europa dos 27, estão bloqueados por razões que os ultrapassam. Por mais competência que tenham os governos, nada podem adiantar ao que lhes é imposto. A impossibilidade de comprar e vender, de produzir o que a cada país interessa individualmente, está vedada desde que se deu a adesão à Comunidade Económica Europeia e, ainda mais, desde a adesão à moeda única.
Por muito eficazes que sejam as medidas financeiras, elas de nada servem sem uma substancial receita de capitais provinda da produção nacional. Como tudo depende da esfera imperial dos países mais ricos da Europa, a estes não convindo a ascensão dos estados mais pobres, irão manter-se os pobres, e cada vez mais pobres, se das esferas superiores europeias não vierem outras directivas.
Mas, o que é ainda mais arrasador são as recentes notícias sobre o que se está a passar com um banco europeu localizado na Suíça: este anunciou o despedimento de dez mil funcionários por defrontar dificuldades na manutenção do seu status financeiro. Ora, isto prenuncia que mesmo na banca poderosa dos países ricos, podem começar a abrir-se brechas, a surgir clivagens, desde logo anunciadoras de que, mais tarde ou mais cedo, os países mais ricos da Europa também poderão sucumbir.
E com o colapso desses grandes países, toda a Europa que quis reerguer-se, recuperando o tempo da ideia imperial, entrará em decadência. Na verdade, nunca a Europa conseguiu concretizar com carácter duradouro essa ideia. Em todas as tentativas feitas, desde o almejado Império Franco-Romano até ao Sacro Império Romano-Germânico, tudo ficou por realizar.
Nem, vários séculos mais tarde, Napoleão, nem Bismarck, nem Hitler alcançaram esse sonho quimérico de uns Estados Unidos da Europa sob a égide de um ou dois estados mais ricos. A diversidade, os antagonismos e a forte identidade dos países que formam a Europa, têm tornado impossível a realização de tão irrealista e maquiavélico objectivo.

31 de Outubro de 2012

Teresa Ferrer Passos