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domingo, 23 de novembro de 2014

O mar e a poça


A casa velha, parada,
Desolada, milenar,
Tem aranhas na entrada
Onde ninguém quer entrar.

Tem uma poça cá fora
Onde se pode brincar.
Ninguém sabe quem lá mora
Nem ninguém lá quer morar.

Todos brincamos na poça,
Mesmo suja e lamacenta,
E fazemos até troça
De quem disso se lamenta.

Houve em tempos quem dissesse
Que a casa levava ao mar
A quem quer que se atrevesse
A abrir a porta e entrar.

Mas é tão triste a fachada
Da casa que leva ao mar,
Que a poça mais desgraçada
Lhe usurpa o justo lugar…

22/11/2014

Fernando Henrique de Passos

(também em Outras Direcções, neste blogue)

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A Igreja precisa do testemunho

Estêvão, 1º mártir do Cristianismo, dava testemunho de Jesus pelas acções quotidianas

«Quando a Igreja se fecha sem dar testemunho, torna-se estéril»
Papa Francisco

  
A Igreja deve ter um posicionamento frontal nas relações humanas; tratar as pessoas com doçura, na sinceridade, sem desprezar, sem complexos de superioridade sobre os outros. Muitos sacerdotes e leigos da Igreja fazem, com frequência, artigos para revistas, conferências e homilias encapotadas em saberes muito acima da média cultural. A confusão gera-se com o avanço de teorias desconhecidas, a propósito até de dogmas de fé.   Também há leigos com funções religiosas nas paróquias que são de difícil trato, falando aos outros com as suas decisões indiscutíveis porque, julgam, têm a graça de Deus com eles.
  
Há intelectuais ligados à Igreja com comportamentos narcísicos o que invalida as abordagens das temáticas religiosas; é notório o modo soberbo com que se debruçam sobre santos que não atingiram a sua craveira intelectual. Julgam que o saber desses santos, feito de sensibilidade e experiência, sem um alto fundamento de erudição, não é valioso, afinal, não é mais do que nocivo. Nos seus estreitos ângulos de visão, só a erudição é sábia e, assim, dá estatuto, perante Deus e os homens.

Apresentam-se santos mais eruditos, outros nem tanto. Logo, merecem menos atenção, menos destaque. Ora o Cristianismo passa, como considera e muito bem o Papa Francisco, pelo testemunho que oferece o contacto humilde com o próximo, o modo de cada um ser na vida de relação; não basta mostrar conhecimentos interpretativos rebuscados, frases de estranho significado, discursos exaustivos a afundarem-se em complexos vocábulos que ninguém conhece.

É assim que, sacerdotes e leigos ligados à Igreja de Cristo, querem dar testemunho? Julgam que, assim, dão testemunho? Não. Reduzem a missão apenas a uma insípida explanação de ostentatória e estéril linguagem, propagam uma religião hermética, sem comunicação com o que está fora, o que devia ser procurado, como fazia Jesus. Esta Igreja redutora julga não precisar de mais nada para ganhar o céu. Esquece que se equivoca. O testemunho é exigente. Não o é a exibição de qualquer título eclesiástico e académico. Muito menos é Igreja, um padre receber de costas voltadas ou a ler o jornal da paróquia, aquele que está à porta a tentar aproximar-se, a procurar uma ajuda.

O testemunho implica dar o exemplo de estar pronto para socorrer aquele que está desempregado, aquele que vive solitário porque perdeu a família, aquele que tem mais de cinquenta anos e é tratado como se fosse um velho, ao tirarem-lhe a esperança de ser testemunho do Evangelho, gratuitamente. A vida de todos os dias é rica em muitas pequeninas coisas na relação com os outros. Só nessas ocasiões se é chamado a dar testemunho de Jesus; e isto é seguir Jesus no servir o irmão que está à nossa frente. O testemunho é difícil porque a Igreja se esquece da «construção do Reino de Deus». Como disse Jesus, os que o querem seguir devem começar pela construção do Reino, depois «tudo virá por acréscimo».

A pregação de Jesus foi directa à acção. As acções é que serão avaliadas no Juízo Final, não o que ficou pelas extensíssimas arengas, pela erudição cultivada nas academias pedagógicas que publicam interpretações infindáveis. A isto resta ficar escondido nos sótãos dos séculos. Sem respirar com Jesus Cristo o ar da simplicidade e do fraterno encontro, a Igreja fica estéril. Para essa Igreja, o racionalismo ainda impera: assim, ou a religião se racionaliza ou a religião tem apenas uma dimensão ignara, onde se instala a torpe devoção popular, sem qualidade superior, sem qualidade de sábios.
      
A devoção popular, com baixa cotação nas redes sociais da ciência, da tecnologia, da inteligência, torna-se sinónimo de mentecapta e obsoleta. Como considera o Papa Francisco, esta Igreja, formada por intelectuais – eruditos, sacerdotes ou leigos  tem de ceder muito terreno ao testemunho, mesmo que este implique o martírio. Se assim não acontecer, o risco de a Igreja se perder cada vez mais de Jesus, torna-se iminente.

O primeiro exemplo do testemunho, que tudo ultrapassou dando a própria vida, foi Estêvão, jovem discípulo da comunidade de Jerusalém. Foi ele que, com o seu ousado testemunho, mostrou que o perigo de perder a própria vida não o assustava. Diz-nos o memorial dos Actos dos Apóstolos que Jesus acabara de vencer a morte e o sepulcro, ressuscitando. Com este sentido novo da fé, Estêvão testemunhou e foi o primeiro mártir. O testemunho de Estêvão não era aceite pelos judeus mais cultos. Porém, ele não fugiu. Não mudou de comportamento. Não teve medo de desagradar. Logo, as pedras da perseguição atingiram-no, mas não o fizeram mudar. A morte não seria uma porta fechada porque outra porta abria-se-lhe no céu. 

8 de Maio de 2014
                                            Teresa Ferrer Passos

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Dia Mundial do Doente


A data foi instituída a 11 de Fevereiro de 1992, pelo Papa João Paulo II.
Na carta de instituição do Dia Mundial do Doente, João Paulo II lembrou que a data representa «um momento forte de oração, de partilha, de oferta do sofrimento pelo bem da Igreja e de apelo dirigido a todos para reconhecerem na face do irmão enfermo a Santa Face de Cristo que, sofrendo, morrendo e ressuscitando, operou a salvação da humanidade»

domingo, 7 de outubro de 2012

A 1ª República e a Igreja no Algarve



Dando continuidade a publicações de carácter histórico de alto rigor informativo, reunindo bibliografia e imagens iconográficas de grande interesse para a história da região do Algarve, o Padre Dr. Afonso da Cunha Duarte (irmão do Prior da igreja de S. Brás de Alportel) ofereceu-nos a obra A República e a Igreja no Algarve.
Este trabalho foi publicado em 2010, ano em que se comemorou o 1º centenário da implantação do regime republicano em Portugal, que punha fim ao regime monárquico instaurado com o nascimento de Portugal, no ano de 1143. Mas o total processo de legalização do novo país só seria concluído em 1179 pelo Papa Alexandre III (conforme era uso na Idade Média em relação aos reis cristãos da Europa).
Depois de uma abordagem histórica do papel da Igreja em Portugal desde o século XVIII, com especial destaque para o estabelecimento do Liberalismo em 1820 e consequentes guerras civis, trata com minúcia as diatribes que a Igreja algarvia defronta após a implantação da República.
“O fado anti-clerical” que percorreu todo o século XIX, atingiria o seu zénite nos anos posteriores ao 5 de Outubro de 1910. O padre Afonso da Cunha Duarte aponta, em particular, o cónego António Caetano da Costa Inglês perseguido pelo regime absolutista-Miguelista. E, logo a seguir, destaca o padre António Barbosa Leão, futuro Bispo do Algarve (desde 3 de Abril de 1908), sobre quem traça alguns dados biográficos preciosos.
Como escreve o padre Afonso da Cunha Duarte “D. António Barbosa Leão sofreu amargamente com a República devido à anarquia reinante” (p.58). A propósito deste condutor da igreja no Algarve, debruça-se sobre os malefícios da Lei da Separação da Igreja e do Estado “que seria responsável pelo controle do Estado sobre o funcionamento do seminário (em Faro), a nomeação de professores e dos livros adoptados”(p.48). O autor conclui este capítulo, realçando que “acabam assim os estudos preparatórios e os alunos (do seminário) são obrigados a frequentar o Liceu”(p.48).
Desvelando os avanços e recuos do anti-clericalismo nas cidades e vilas do Algarve, mostra, com importantes pormenores, “os conflitos pessoais e os distúrbios públicos como as igrejas assaltadas, a presença de arruaceiros nas procissões e algazarras dentro das igrejas” (p.29).
As perseguições a párocos, a desorganização do clero, as prisões de muitos clérigos, a fuga de outros, a ausência de homilias nas missas devido à ignorância de muitos padres, igrejas fechadas pela autoridade, o encerramento do seminário de Faro e a sua substituição por uma escola sacerdotal fundada em S. Brás de Alportel pelo cónego António Caetano da Costa Inglês, são apenas alguns dos contributos para a história da igreja no Algarve.
Livro publicado, em boa hora, pela Casa da Cultura António Bentes de S. Brás de Alportel. A história da igreja no Algarve durante a 1ª República fica assim enriquecida com este acervo histórico sobre os dezasseis anos desta conturbada época em que os políticos se digladiavam em nome da liberdade e da justiça.

5 de Outubro de 2012

Teresa Ferrer Passos