quinta-feira, 8 de maio de 2014

A Igreja precisa do testemunho

Estêvão, 1º mártir do Cristianismo, dava testemunho de Jesus pelas acções quotidianas

«Quando a Igreja se fecha sem dar testemunho, torna-se estéril»
Papa Francisco

  
A Igreja deve ter um posicionamento frontal nas relações humanas; tratar as pessoas com doçura, na sinceridade, sem desprezar, sem complexos de superioridade sobre os outros. Muitos sacerdotes e leigos da Igreja fazem, com frequência, artigos para revistas, conferências e homilias encapotadas em saberes muito acima da média cultural. A confusão gera-se com o avanço de teorias desconhecidas, a propósito até de dogmas de fé.   Também há leigos com funções religiosas nas paróquias que são de difícil trato, falando aos outros com as suas decisões indiscutíveis porque, julgam, têm a graça de Deus com eles.
  
Há intelectuais ligados à Igreja com comportamentos narcísicos o que invalida as abordagens das temáticas religiosas; é notório o modo soberbo com que se debruçam sobre santos que não atingiram a sua craveira intelectual. Julgam que o saber desses santos, feito de sensibilidade e experiência, sem um alto fundamento de erudição, não é valioso, afinal, não é mais do que nocivo. Nos seus estreitos ângulos de visão, só a erudição é sábia e, assim, dá estatuto, perante Deus e os homens.

Apresentam-se santos mais eruditos, outros nem tanto. Logo, merecem menos atenção, menos destaque. Ora o Cristianismo passa, como considera e muito bem o Papa Francisco, pelo testemunho que oferece o contacto humilde com o próximo, o modo de cada um ser na vida de relação; não basta mostrar conhecimentos interpretativos rebuscados, frases de estranho significado, discursos exaustivos a afundarem-se em complexos vocábulos que ninguém conhece.

É assim que, sacerdotes e leigos ligados à Igreja de Cristo, querem dar testemunho? Julgam que, assim, dão testemunho? Não. Reduzem a missão apenas a uma insípida explanação de ostentatória e estéril linguagem, propagam uma religião hermética, sem comunicação com o que está fora, o que devia ser procurado, como fazia Jesus. Esta Igreja redutora julga não precisar de mais nada para ganhar o céu. Esquece que se equivoca. O testemunho é exigente. Não o é a exibição de qualquer título eclesiástico e académico. Muito menos é Igreja, um padre receber de costas voltadas ou a ler o jornal da paróquia, aquele que está à porta a tentar aproximar-se, a procurar uma ajuda.

O testemunho implica dar o exemplo de estar pronto para socorrer aquele que está desempregado, aquele que vive solitário porque perdeu a família, aquele que tem mais de cinquenta anos e é tratado como se fosse um velho, ao tirarem-lhe a esperança de ser testemunho do Evangelho, gratuitamente. A vida de todos os dias é rica em muitas pequeninas coisas na relação com os outros. Só nessas ocasiões se é chamado a dar testemunho de Jesus; e isto é seguir Jesus no servir o irmão que está à nossa frente. O testemunho é difícil porque a Igreja se esquece da «construção do Reino de Deus». Como disse Jesus, os que o querem seguir devem começar pela construção do Reino, depois «tudo virá por acréscimo».

A pregação de Jesus foi directa à acção. As acções é que serão avaliadas no Juízo Final, não o que ficou pelas extensíssimas arengas, pela erudição cultivada nas academias pedagógicas que publicam interpretações infindáveis. A isto resta ficar escondido nos sótãos dos séculos. Sem respirar com Jesus Cristo o ar da simplicidade e do fraterno encontro, a Igreja fica estéril. Para essa Igreja, o racionalismo ainda impera: assim, ou a religião se racionaliza ou a religião tem apenas uma dimensão ignara, onde se instala a torpe devoção popular, sem qualidade superior, sem qualidade de sábios.
      
A devoção popular, com baixa cotação nas redes sociais da ciência, da tecnologia, da inteligência, torna-se sinónimo de mentecapta e obsoleta. Como considera o Papa Francisco, esta Igreja, formada por intelectuais – eruditos, sacerdotes ou leigos  tem de ceder muito terreno ao testemunho, mesmo que este implique o martírio. Se assim não acontecer, o risco de a Igreja se perder cada vez mais de Jesus, torna-se iminente.

O primeiro exemplo do testemunho, que tudo ultrapassou dando a própria vida, foi Estêvão, jovem discípulo da comunidade de Jerusalém. Foi ele que, com o seu ousado testemunho, mostrou que o perigo de perder a própria vida não o assustava. Diz-nos o memorial dos Actos dos Apóstolos que Jesus acabara de vencer a morte e o sepulcro, ressuscitando. Com este sentido novo da fé, Estêvão testemunhou e foi o primeiro mártir. O testemunho de Estêvão não era aceite pelos judeus mais cultos. Porém, ele não fugiu. Não mudou de comportamento. Não teve medo de desagradar. Logo, as pedras da perseguição atingiram-no, mas não o fizeram mudar. A morte não seria uma porta fechada porque outra porta abria-se-lhe no céu. 

8 de Maio de 2014
                                            Teresa Ferrer Passos

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