Dando continuidade a publicações de
carácter histórico de alto rigor informativo, reunindo bibliografia e imagens
iconográficas de grande interesse para a história da região do Algarve, o Padre
Dr. Afonso da Cunha Duarte (irmão do Prior da igreja de S. Brás de Alportel) ofereceu-nos a obra A República e a
Igreja no Algarve.
Este trabalho foi publicado em 2010,
ano em que se comemorou o 1º centenário da implantação do regime republicano em
Portugal, que punha fim ao regime monárquico instaurado com o nascimento de
Portugal, no ano de 1143. Mas o total processo de legalização do novo país só
seria concluído em 1179 pelo Papa Alexandre III (conforme era uso na Idade
Média em relação aos reis cristãos da Europa).
Depois de uma abordagem histórica do
papel da Igreja em Portugal desde o século XVIII, com especial destaque para o
estabelecimento do Liberalismo em 1820 e consequentes guerras civis, trata com
minúcia as diatribes que a Igreja algarvia defronta após a implantação da República.
“O fado anti-clerical” que percorreu
todo o século XIX, atingiria o seu zénite nos anos posteriores ao 5 de Outubro
de 1910. O padre Afonso da Cunha Duarte aponta, em particular, o cónego António
Caetano da Costa Inglês perseguido pelo regime absolutista-Miguelista. E, logo
a seguir, destaca o padre António Barbosa Leão, futuro Bispo do Algarve (desde
3 de Abril de 1908), sobre quem traça alguns dados biográficos preciosos.
Como escreve o padre Afonso da Cunha
Duarte “D. António Barbosa Leão sofreu amargamente com a República devido à
anarquia reinante” (p.58). A propósito deste condutor da igreja no Algarve,
debruça-se sobre os malefícios da Lei da Separação da Igreja e do Estado “que
seria responsável pelo controle do Estado sobre o funcionamento do seminário (em
Faro), a nomeação de professores e dos livros adoptados”(p.48). O autor conclui
este capítulo, realçando que “acabam assim os estudos preparatórios e os alunos
(do seminário) são obrigados a frequentar o Liceu”(p.48).
Desvelando os avanços e recuos do
anti-clericalismo nas cidades e vilas do Algarve, mostra, com importantes
pormenores, “os conflitos pessoais e os distúrbios públicos como as igrejas
assaltadas, a presença de arruaceiros nas procissões e algazarras dentro das
igrejas” (p.29).
As perseguições a párocos, a
desorganização do clero, as prisões de muitos clérigos, a fuga de outros, a
ausência de homilias nas missas devido à ignorância de muitos padres, igrejas
fechadas pela autoridade, o encerramento do seminário de Faro e a sua
substituição por uma escola sacerdotal fundada em S. Brás de Alportel pelo
cónego António Caetano da Costa Inglês, são apenas alguns dos contributos para
a história da igreja no Algarve.
Livro publicado, em boa hora, pela Casa
da Cultura António Bentes de S. Brás de Alportel. A história da igreja no
Algarve durante a 1ª República fica assim enriquecida com este acervo histórico
sobre os dezasseis anos desta conturbada época em que os políticos se
digladiavam em nome da liberdade e da justiça.
5 de Outubro de 2012
Teresa Ferrer Passos
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