sábado, 5 de abril de 2025

DIGRESSÃO NA ALEMANHA DE LÍDIA JORGE



"Misericórdia", uma obra que desenha uma das mais insensatas realidades da sociedade contemporânea. O cenário é um lar para a terceira idade. O romance oferece ao leitor uma das mais vergonhosas situações a que é exposto o idoso nos últimos anos da sua vida. O livro é apresentado na Alemanha. Uma justa homenagem à grande escritora Lídia Jorge.

5/4/2025
                                                                    Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 27 de março de 2025

NO DIA MUNDIAL DA ÁRVORE

ALTAR DIVINO



a leveza do fruto tão pequenino

tão cheio de sobriedade

a esconder-se na pinha que o resguarda

com um carinho de mãe. 

sôfrega dos seus filhos multiplica-os nas suas pregas

fortíssimas antes que caiam na terra.

essa mãe está atenta ao seu crescer

lento e manso.

e os pinhões ansiosos soltam-se

do pinheiro em instantes inesperados.

únicos. são filhos de um Deus imenso

de raízes transcendentes e capaz de os dotar 

de liberdade.

num abismo são projetados.

num mundo áspero ficam. a indiferença

é brutal, alheia ao destino dos pinhões.

que delícia se uma criatura os encontra entre

as folhas simples, essas agulhas verdejantes,

a distinguirem-se das folhas de todas as outras árvores.

na paradisíaca planície das areias macias, 

amarelecidas pelo sol ardente 

e poderoso como fantástica muralha

de denso mármore repousa o pinheiro.

oh idílica árvore que o vento verga até à terra

sem a fazer perder o altar divino do seu tronco 

e das suas agulhas de uma idade longa. sem conta.

 21/3/2025

                          Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 21 de março de 2025

RENASCER POÉTICO

A poesia renasce em cada hora que a tocamos.
Parece uma espuma consistente
e, ao mesmo tempo,
é demasiado leve quando a cavalgamos.
Nem o som de uma ventaria que aterroriza, é capaz 
de a despedaçar. E como esse som pode ser o sinal
de que tomba a raiz 
de uma esplêndida figueira secular.

21 de Março, Dia Mundial da Poesia
       
                                      Teresa Ferrer Passos



domingo, 2 de março de 2025

O CANTO DA PAZ  

um mundo em turbilhão sacode as mentes.
bruscamente.
o ânimo e a vontade vacilam.
a sociedade está desavinda.
palavras soltam-se esfomeadas como nunca antes,
comentadores de televisão esgrimem razões
marcadas de esterilidade.
ouço raras palavras lúcidas. sem eco.
o ambiente é todo obscuridade.
a ideia de paz desmorona-se na areia movediça
e cai num abismo mórbido.
como encontrar a paz perguntam alguns?
nos corações não se oculta 
como poderíamos acreditar.
as boas intenções começam
a perder-se de sentido
e os diálogos já não fazem
nascer o pão da espera.
novas discórdias erguem-se com vozes
a atropelarem-se. avança a dureza dos derrotados.
a beleza do bem é adiada. estão encerradas
as portas da paz. a guerra alastra. indiferente.
o nosso ser e a nossa confiança não se tocam.
será que a morte os viu algures?
dormem um sono sem regresso?
ou afastaram-se do mundo por cansaço?
para sempre? alguém o saberá?
...ouço em intervalos breves
o chilreio de um melro a cantar a paz.
cantava a saltitar num jardim da cidade 
habitada por gente arrogante que clamava:
armas, armas precisam-se!
só o som dos tambores da guerra soava
sem sombra de piedade.

2/Março/2025
                                     Teresa Ferrer Passos



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

 


“DEIXO-VOS A PAZ, DOU-VOS A MINHA PAZ”


                       No 31º aniversário do nosso casamento 

(O Tempo e a Eternidade olharam-se nos olhos.
O Tempo baixou o olhar para o chão, embaraçado.
A Eternidade sorriu para dentro dele.
Ele ergueu de novo o olhar para ela.)
 
Meu amor,
que duro tem sido para ti
conduzires-me através do meu próprio labirinto
desde a nascente da luz negra
até ao esplendor da luz divina,
ainda tão distante.
 
Meu amor,
dentro de mim
debatiam-se todas as guerras deste mundo;
dentro de ti
nascia o radioso sol do teu sorriso,
reflexo feminino do sorriso
do Cristo Salvador.
 
Meu amor,
o fragor da luta deixou-se enamorar
pela firmeza doce das reverberações da Paz
e assim pudemos dar início
ao paciente desenredar do meu novelo
de Medos e Paixões.
 
Agora,
mais de metade da estrada percorrida,
ignoramos ainda o desfecho da jornada,
mas não duvidamos já do poder infinito
do Amor.
 
(O Tempo e a Eternidade, de mãos dadas;
o Tempo e a Eternidade, olhando em frente;
o Tempo e a Eternidade, passo a passo,
a cada instante fazendo florir a Paz
e a magia da sua força imóvel.)
 
19/2/2025
                       Fernando Henrique de Passos

 


PÉTALAS VIOLETA

                            No 31º aniversário do nosso casamento

 

 nos dedos contorcidos de uma folha

arde a voz

que soa como um sino.

é a hora do meio-dia

infinita e branda.

é a hora do sol a pino

a espargir uma bênção inteira

no meu coração

morto e a ressuscitar.

que imagem de amor

gizada no quadro negro em que me inscrevia.

que imagem luminosa, a tocar-me, áurea demais.

que brisa suave, nunca antes pressentida.

que tarde imensa com a chuva sedosa a florescer

com pétalas violeta.

19 de Fevereiro de 2025

                        Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

 A desordem campeia quer entre países árabes quer entre países da União Europeia. As propostas de paz dos EUA à RÚSSIA, causam turbulência na União Europeia, área geográfica em que não se vislumbra um Representante credível que fale com autoridade em nome de um conjunto de povos. A solução guerra equaciona-se a cada momento em que a paz se afasta. A Globalização ergue-se com a "solução" Inteligência Artificial, um caminho mais certo para a guerra do que para a paz?

13/2/2025
Teresa Ferrer Passos


terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

 Mistérios negros escondem-se por trás da transparência veiculada pela enxurrada de palavras ditas no "podium" da comunicação social, televisiva e radiofónica. A Democracia o exige. A estrada para as Autocracias extremistas também. E uma propaganda a defender as prosperantes tecnologias, quase a reinar, irradia como se fosse solucionar, por magia, os problemas da humanidade. Como é abusivo o elogio acrítico e apresentado como salvador a Inteligência Artificial! A geração BETA, a que nos seguirá, dizem, está à nossa porta...

11/2/2025 Teresa Ferrer Passos

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

UM POEMA

CAOS HUMANO
 
tudo é confuso nas linhas do humano que defronto 
porque nada transparece nas horas
nem nos dias nem nos anos.
tudo é opaco, omisso, inconsequente. e o imprevisto
assoma como se fosse um jogo perverso,
abominável.
as palavras parecem ocas ressonâncias,
sem lógica ou verdade.
e os sons mais agudos parecem primitivas caixas
de ressonância a esfregarem-se
em pedras cheias de ângulos contumazes. perigosos.
as ideias, nulas de pensar, escasseiam nos corredores
de redes ou grupos sociais ávidos de ganharem
uma vida nova de que continuam ausentes nos vastos
momentos em que se exibem com frases mortas
por dentro pela sua imensa nulidade.
o que nos resta?!
se alguma coisa nos resta é regressar à terra nua e crua
com os fragmentos mais simples da nossa natureza humana
que não pára de ser ultrajada.

10/2/2025
                                   Teresa Ferrer Passos    

  



quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

 UM OLHAR SOBRE A REVISTA «A IDEIA» (Outono de 2024)



No artigo de abertura, António Cândido Franco debruça-se sobre os 50 anos do 25 de Abril. "Da revolução ao colapso" é o tom com que nos apresenta esta reflexão eivada de um forte lamento. O fator mais insidioso nesta análise é o sistema em que a revolução dos Cravos assentou: o poder alcançado pelos partidos políticos, após o golpe militar. O "monopólio total da vida política" foi para ACF o "erro capital de Abril". Contradições bizarras conduziram os caminhos de uma pátria que não tem sido escutada. Os caminhos de Abril perderam-se e os cravos murcharam, sem remissão. Os projetos falharam. Um "quadro de descalabro" envolve-nos 50 anos depois. Na perspectiva de ACF, resta, afinal, "o sonho dum sistema que tivesse sido capaz de superar as máquinas de guerra e de exclusão e que 50 anos depois dos Cravos assegurasse a representação da maioria da população portuguesa e da quase totalidade do eleitorado - um sistema que não fosse o embuste de raiz que este foi nem o desastre e a desilusão em que este se tornou".
As palavras de ACF podem abrir uma polémica necessária e contundente, quando passam 50 anos sobre a revolução de 1974. Uma revolução que acabou com a guerra colonial, mas que continua a não ver resolvidos os entraves maiores com que se defronta o povo português. O embate entre governantes e governados prolifera e não permite a vivência de um clima de paz e prosperidade, esse clima que deverá reger a vida de uma nação, e esta, a nossa, com quase nove séculos de História.

22 de Janeiro de 2025
Teresa Ferrer Passos

terça-feira, 14 de janeiro de 2025



                          

ANIVERSÁRIO

                           No teu Natal

no tempo se inscrevem as brincadeiras da infância

essas torrentes de amáveis paraísos

que não reconhecemos mais senão

nos intervalos das ondas que nos cobrem

de interrogação e surpresa.

 

Na nossa via de tropeções imprevistos

crescem o trigo e o joio. Os caminhos da cólera

avançam como meteoritos e os socalcos da paz

desvanecem-se como se preferissem ser esquecidos

para sempre.

 

Só a nossa força interior domina o indominável,

o estranho, o irreconhecível muro da realidade

forrado de enigmas que não conseguimos

resolver. Apenas somos capazes de superar

como se o infinito nos habitasse desde o nascimento.

 14/1/2025

                                                     Teresa Ferrer Passos


quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

EÇA DE QUEIRÓS

Trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz (1845-1900) do cemitério de Santa Cruz de Baião (perto da Quinta de Tormes) para o Panteão Nacional, em Lisboa. 

Eça de Queirós em Tormes

Duvido que Eça de Queirós gostasse da ideia de sair "das suas serras", a sua querida Tormes, para entrar no Panteão da promíscua cidade, hoje já tão descolorida e descaracterizada (Lembro o seu romance A cidade e as serras).
8/1/2025
T.F.P.


terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Natércia Paz Ferrer (25 de Dezembro de 1909-11 de Julho de 1990) se chamou.
Neste Dia de Natal, na saudade e na lembrança do aniversário natalício de minha dedicada mãe, lhe presto hoje esta homenagem tão simples como o seu carinhoso coração.Natércia Paz Ferrer (25 de Dezembro de 1909-11 de Julho de 1990) se chamou.
Neste Dia de Natal, na saudade e na lembrança do aniversário natalício de minha dedicada mãe, lhe presto hoje esta homenagem tão simples como o seu carinhoso coração.
25/12/2024
Teresa Ferrer Passos

Foto: Na casa dos avós paternos em Alcantarilha, junto de minha mãe, no dia em que eu celebrava os meus quatro anos (1952).


***

E caminhemos para o Ano Novo, aqui tão perto de nós! Novos tempos, esperanças vivas, caminhos velhos com vias de novidade, avancemos com uma fé imensa dentro de nós, avancemos com o olhar luminoso, avancemos e um vasto sol nos iluminará.
Bom ano de 2025 para todos! 
O caminho é estreito, mas percorrê-lo sem ver como termina e onde termina, é a suprema dignidade da vida humana.
31/12/2024
T.F.P.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

DOSSIER NATAL / 2024



Cabana do presépio de Jesus



O presépio de Jesus, feito com todas as palavras das crianças, as mais puras entre os humanos. Numa sala da ALDEPA, uma Associação a dar os primeiros passos na construção de caminhos em que a cultura musical se cruza com a sabedoria da Palavra que Deus escreveria na Terra, com a chegada promissora do Salvador. A imagem da Justiça e do Amor em diálogo eterno.
T.F.P.
12/12/2024

                 

O SEGUNDO NATAL DE JESUS CRISTO

"Há de erguer-se povo contra povo e reino contra reino;
 haverá terramotos em vários lugares, haverá fome. Isto
apenas será o princípio das dores"
                                                                    Mc 13, 8



Bendito sejais.
Tudo à nossa volta nos fala tão alto
Do Vosso aguardado regresso
Que quase sentimos já a Vossa presença.
Do clamor das guerras, das doenças, das catástrofes
Nasce o anúncio do Vosso novo nascimento.
 
Que abençoada gruta Vos acolherá desta vez?
Que ditosos pastores Vos louvarão?
 
A Natureza, quase enlouquecida pelos nossos desvarios,
Anseia as Vossas doces palavras de conforto.
Os seres humanos parecem ter-Vos já esquecido
Ou ter-Vos reduzido ao ínfimo estatuto
De lenda bonita mas oca de sentido,
E já só têm por lei os caprichosos ditames dos seus egos.
 
Vem.
Não nos faças mais esperar.
Todos precisamos de Te ver, de Te ouvir, de Te tocar.
Que regresse o vendaval de Amor que tudo sara.
Que regresse a tempestade de Fogo que tudo limpa.
 
Que se cumpra enfim a promessa da Tua Paixão de há 2000 anos,
Mas desta vez sem cruz, nem espinhos, nem chicotes,
E só com o jorrar do mel dessa nascente
Que outrora abriste com a Tua dor.
 
Bem-vindo sejais.

19-12-2024

Fernando Henrique de Passos




CORPUS CHRISTI


Num jardim, vejo as flores
a saltar da terra virgem. E um perfume forte
inebria um Corpo. O do Deus vivo.
Um Corpo que renasceu, depois de morrer.

Viveu na sabedoria, envolto em voz.
Junto dos corpos pôs fim ao sofrimento.
Junto das almas iluminou os pensamentos. 
Não acenou, soberbo, às multidões.
Não recebeu aplausos nem distinções.

Encheu de sentidos novos cada pessoa.
Cansado, sentiu a fadiga a curvá-lo.
Orando a cada instante, não adormeceu
ante os males de tanta gente.

O Corpus Christi oferecia a clemência
aos que se arrependiam, dava a alegria aos amargurados,
curava as dores dos mais flagelados.

O Corpo de Cristo respirava a contingência
e espargia o Amor do Pai. Sentia a beleza da
Virgem Maria, a Sua Mãe.

E transparecia toda a Palavra do Espírito,
a Sua essência.

Cristo, o Corpo de Deus aí está, a guardar-se ainda,
escondendo-se no Seu Coração sagrado e infinito.

Teresa Ferrer Passos in Memória de Paz, Hora de Ler, 2022, págs 36-37    
        



DIZER NATAL

Ainda a pergunta: dizer Natal é dizer ausência ou ausência que nos une?
Hoje, mais do que ontem, é-me absolutamente vital a infância do teu riso.

Facebook, 16/12/2024
Henrique Manuel Pereira




A LUZ ROMPEU A NOITE


Numa aridez da pedra, sombria,
cresciam filamentos a desprezar a vida,
a ignorá-la como se ela nada significasse.
Esquecia as mães a rejeitar a morte dos filhos perdidos
para sempre na batalha que não esperaram nunca.
Uma secura imensa atravessava a boca das mães,
ávidas de beijos nessa espera cheia de futuro.
Os filhos partiam em barcos atulhados de bagagens.
Viam-nos partir. E ficavam com os seus corações partidos,
incrédulos. Quanto desaforo, quanta impiedade. Sobre
o regresso, a incerteza. Quantos imprevistos,
quantas feridas por sarar. Ou a própria morte a ser resposta.
Ansiosas, as mães esperavam. O regresso. Esperavam
numa submissão de revolta atordoada.
Esperavam impotentes.
Esperavam no desespero de nada poder mudar. No silêncio. (...)

Excerto de um poema  de Teresa Ferrer Passos - escrito a propósito da comemoração do 50º aniversário da revolução de 25 de Abril de 1974 - para a revista de cultura libertária A Ideia, II série, vol XXVII, número triplo (104/105/106), Outono 2024.



       

"SOU UM PASTOR DE ESTRELAS"

                                                    
À Teresa Ferrer e ao Fernando Henrique de Passos


Sou um pastor de estrelas. Como um nastro baboso na vereda, a mão (na lentidão dos caracóis) busca, do outro lado, os prados ressequidos. Palmilho os lombos e visto-me desse lume que apenas aos poetas é permitido envergar. Sou um pastor de estrelas pelos campos enxutos, o clarim de um pássaro assustado, a leveza pesada dos espaços. Agora, e sempre, o bebedouro dos versos gorgolejando nos ouvidos. Sou um pastor de estrelas, das searas e dos ventos (sem outra rosa que não seja a ressequida), dos ímpetos cogitados com o vagar das lesmas. Vou pelas hortas matinais espiolhar o tamanho dos frutos, a floração dos ramos. Sou um pastor de estrelas, desses desânimos tardios que me escancaram as portas da poética intimidade, a íntima idade na migração dos segundos, dos minutos, das horas, dos dias e dos anos. Tudo isso…aos pés do poema, no lava-pés da escrita. Sou um pastor de estrelas, quando a tarde se apazigua e o céu é todo um arraial colorido, uma sereia encantatória e o sol? A hóstia derradeira…antes que a noite se faça anunciar. Há, dentro de mim, uma ladainha, um susto suspenso nas ramadas, um sete - estrelo, o incenso suspenso, os ideais rastejantes, o campo de todas as batalhas…Cada poema é um susto, a custo, o busto que nos descreva; com o alvor da esteva, a negridão das gralhas.      

Facebook, 9/12/2024
Manuel Neto dos Santos






E O SALVADOR AQUI, MESMO ASSIM


Dentro do nosso coração, Jesus
é um grito quase infantil a balbuciar
mil silenciosas noites.
Sinto-o como se fosse fantásticos veios de água
a perfurar as horas dos muros 
entreabertos por agulhas de pinheiros
esfarrapados. Pressinto-o nas ondas da agreste visão.
Cadáveres desconhecidos abandonados
nas guerras infindáveis povoam mistérios humanos
que ninguém ainda conhece.
Perdidos nos pântanos que os oceanos
deixaram nas arribas,  
há apenas pequenos peixes que 
nenhum sol ilumina, mas acreditam que existe.
Com uma carapaça estranha no olhar, vou desvendando 
a alma dos sobreviventes aos sofismas
dos humanos escaravelhos a rondar desavindos
as casas escondidas em torres mais altas
que florestas tropicais. Poucos humanos visíveis.
Agora tudo se vai desmoronando. Sem um ruído
tenebroso, o tempo apaga-se dos mapas-mundi.
Que sons restam mais do que escassas palavras absurdas?
Vozes perdidas na solidão foram silenciadas.
Agora não vejo aves a esvoaçar o mais breve sentido do existir.
Anónimos e sem identidade são ainda muitos
os que se exibem em festivais de ídolos.
Felizes são? Como o podem saber?
Uma certeza resta-lhes. Têm uma vida inteira
para conquistar o fabuloso poder de ser eterno.
Veem-no já a parecer desmedido.
Imenso. Único. Não imaginam que
mora vazio nas suas icónicas mentes.
A IA engana-nos, despudoradamente.
E chega a dizer-nos que o Salvador,
nem com os mais largos horizontes do universo,
poderá alguma vez ser olhado. 

18/12/2024                                                   
                                                                    Teresa Ferrer Passos




CORAGEM DE VIVER

(...) «Quando o mundo nos abandona, a solidão é superável, mas quando eu própria sucumbo a esse abandono, a solidão fica incurável.
Por vezes, falta-nos a sabedoria. E para isso, urge ter coragem de enfrentar o espelho da alma, a fim de reconhecer os erros e fracassos e utilizá-los em próprio benefício, ou seja, munir-se de inteligência.
É necessário que sejamos livres de culpas, sobretudo do passado, aquelas em que nada podemos fazer. Também é preciso não nos preocuparmos em demasia com o amanhã, pois há poucas certezas.
Digo sempre que é preciso sonhar, mas sonhar em grande, pois se os sonhos são pequenos, a nossa visão será pequena, incapaz de suportar as tormentas da vida. Só os grandes sonhos regam a existência com sentido. A vida dá muitas voltas. Não podemos pensar que enganamos a vida ou fugimos das voltas que o mundo dá. Tudo muda numa questão de segundos, seja uma vida, uma história ou um pensamento. Basta uma palavra, um sinal ou uma acção para modificar por completo o que até então era considerado certo. (...)»

Excerto de um texto de Graziela Veiga, colaboradora do Diário Insular - jornal da ilha Terceira, Açores. Publicado no Facebook em 16/12/2024.




O GRANDE MAGO INFINITO 


Presépio miniatura da exposição de Luís Figueiredo
no Núcleo Museológico de Santa Comba Dão (divulgado
por Elsa Amaral no Facebook)


Uma estrela tão brilhante na noite escura,
viram os magos do Oriente,
esses que num zigurate da velha  Assíria, estudavam,
havia muito, o sentido do destino.
na noite escura procuram; na noite, não no dia, 
em que a luz excessiva os cegava.
de dia nada desvendavam. nada entreviam.
do destino não sabiam nada.
ora, naquela noite escura demais, uma estrela pequenina
levou-os a uma casa pobre em Belém, no deserto.
aí teriam a resposta ao que procuravam.
a verdade, que magia, que saber imenso, iam conhecer
num instante nunca visto!
o Natal do Menino tinha no seu corpinho franzino
a mensagem de um além bendito,
de um mago como eles, mas um Mago Maior, 
um Mago todo ele Infinito.

24/12/2024
                                                     Teresa Ferrer Passos


***


PRESÉPIO
 no Presbitério da Basílica da Santíssima
Trindade em Fátima. Autoria da escultura Clara Menéres.



                              A  TODOS UM BOM NATAL,

                              UMA SERENA NOITE DE NATAL!


quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Passagem de «Planeta Joyce 8»

 «como Comando do Centro Superior de Vigilância do Império Global, lembrem-se, não posso ceder a estratagemas, a ardilosas maquinações ou a falsos argumentos que parecem ter em vista, antes de qualquer outra coisa, destruir os países que integram o Império da Globalidade e, assim, impor a ordem dos nacionalismos radicais dos estados da revolta unitária! (...) Já quase não tenho dúvidas sobre a vossa incúria e baixo nível tecnológico-científico ... e também vejo que a vossa incompetência só traz prejuízos aos interesses do Império do Sol Poente, a maior potência, alguma vez a dominar, o planeta Terra»

Teresa Ferrer Passos, Planeta Joyce 8 (Romance fantástico), Harmonia do Mundo, 2007, p. 79.

sábado, 7 de dezembro de 2024

A CATEDRAL incendiada em 2019, vive de novo em 2024

 "Os grandes edifícios, como as grandes montanhas, são a obra dos séculos (...) Com certeza há aí matéria para bem grossos volumes e muitas vezes história universal da humanidade, nestas soldaduras sucessivas de várias artes, em várias alturas, sobre o mesmo monumento. O homem, o artista, o indivíduo desaparecem sobre essas grandes massas sem nome de autor; a inteligência humana resume-se e totaliza-se aí. O tempo é o arquitecto, o povo é o operário".

Victor Hugo, Nossa Senhora de Paris (1ª edição francesa, 1831), 1º volume, Livraria Chardron, Lelo & Irmão, Porto, s/d, p.137.

domingo, 1 de dezembro de 2024

Um poema inédito

 REFLEXOS NO INTERIOR DE UMA CLEPSIDRA


Oh vitrais virtuais das catedrais elétricas
Que encerrais os sonhos devastados de meu pai
Nas vastas galerias geométricas
Onde o sopro do espírito se esvai:
− Devolvei-me o vosso prisioneiro!
Oh lírio com medo de crescer
Que buscavas a sombra de um convento
E me deixaste a luz do querer crer
A mim, teu filho, como em testamento:
− Saberei merecer ser teu herdeiro!
Oh "sonhos não sonhados" de Pessanha,
Cores avistadas num país perdido,
Guardadas na ala mais estranha
Do museu dos monstros sem sentido:
− Resgatar-vos-ei do cativeiro!

18/4/2016

Fernando Henrique de Passos


Um poema inédito do Fernando publicado no Facebook com os seguintes Comentários:

"A candura das paredes de um mosteiro aberto nas nossas almas, é poesia".
"A beleza da poesia nasce precisamente no silencioso mosteiro que é a alma dos Poetas com maiúscula..."
Teresa Ferrer Passos

"BELO POEMA, DE PROFUNDA RESSONÂNCIA"
                                                                            TERESA RITA LOPES




sábado, 30 de novembro de 2024

No dia da morte de Fernando Pessoa

Memória breve

Óculos pediu para ver melhor o infinito a penetrá-lo sob um nevoeiro espesso demais para os seus olhos a apagarem-se, enfim.
30/11/2024
Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

IMPROVÁVEL



Em Lisboa, nesta manhã indolente e a espreguiçar-se no Tejo, havia uma temperatura amena, sem vento e um nevoeiro leve que pareceu augurar a chegada enfim, de um certo D. Sebastião, sempre esperado, ou sempre talvez pronto a chegar e tantos à espera que ele seja aquele que salva o que ainda pode ser salvo. Os melhores Portugueses ainda não desesperaram, continuam perseverantes, indómitos, apesar do tempo passar sôfrego e inclemente, sem saber bem o que fazer com o pouco que ainda resta.

29/11/2024
Teresa Ferrer Passos

sábado, 23 de novembro de 2024

O PESO DO MUNDO OU A VERGONHA


ao abismo de uma lei injusta em que caíram
os prisioneiros de um país chamado Salvador


numa interrogação oblíqua vejo os corpos prostrados
quais animais empoleirados na jaula de grades longas. 
olhares entrelaçados de um brilho escasso buscam
um sentido que não encontram na sua existência
obscura na noite caluniosa e perturbante
a única noite que conhecem e que não tem linhas
de qualquer horizonte de solar encontro.
culpados e inocentes chocam-se nos degraus
sobrepostos e apinhados
num absurdo de vida de perpétua prisão
sem um farol de esperança
desde crimes tremendos a simples tatuagens
no corpo passivo e indolente.
E nada move os legisladores
a desobedecer ao ditador repelente
impante de uma soberba inadmissível
num estado de direito.
assim se move um governo eleito pelo voto popular
assim se instaura uma ditadura num regime democrático
a traçar calvários todos os dias
para os seres mais frágeis do mundo.
os condenados o conhecem. nós nem o imaginamos!
eles caminham por espaços ridículos
a que o tirano chama justiça.
eles enterram os seus pés as suas mãos
os seus gritos delirantes num silêncio ensurdecedor
só a ecoar na conjugação do flagelo.
isto é filmado na câmara da tortura e da morte em  El Salvador.
El Salvador! O país daquele que reina com os votos do seu povo!
 esse tirano que o mundo parece respeitar e idolatrar
mesmo assim..

.23/11/2024

                                                     Teresa Ferrer Passos






"Sabemos governar a nossa tendência a sermos continuamente procurados e aprovados, ou fazemos tudo para sermos estimados pelos outros? No que fazemos, particularmente no nosso compromisso cristão, o que conta? Contam os aplausos ou conta o serviço?"
                                                                                   Papa Francisco, Angelus, 21/11/2021

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

 A desistência é a perda de um tempo novo.

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Um poema é o verbo inteiro que me oferece um mundo a respirar num dia tão claro como uma sombra de  eternidade.

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O paradoxo está presente em cada pensamento que ilumina a poesia até ao limiar da dúvida.

21/11/2024

                                   Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

A bondade no século XXI é apenas a oscilação de uma simplicidade humana cada vez mais rara e preciosa.

Joaquim Cardoso Dias (in Facebook, 13/11/2024)


A bondade não está em moda. E como hoje é difícil não seguir o que é moda...

Teresa Ferrer Passos (in página de Joaquim Cardoso Dias, Facebook, 13/11/2024)