quinta-feira, 14 de agosto de 2025

O MEU APELIDO FERRER

NÓTULA sobre o apelido Ferrer, recebido de minha saudosa mãe

Minha mãe nasceu em 25 de Dezembro de 1909. Seu pai, e meu avô, membro da Carbonária, era grande admirador de Francisco Ferrer (1). Querendo prestar-lhe homenagem pela sua condenação à morte por razões de ordem política, meu avô quis que a sua filha Natércia, que nasceria dois meses depois, tivesse no seu nome, ou seja, tivesse o apelido deste destacado pedagogo e anarquista espanhol. Foi este apelido que adotei, em 1995, como nome literário, substituindo o apelido Bernardino, apelido de meu pai, de quem não tenho uma boa memória.

(1) Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909) foi um pedagogo anarquista e revolucionário espanhol, conhecido por fundar a Escola Moderna em Barcelona. A escola tinha como objetivo promover uma educação laica e racionalista, buscando formar cidadãos críticos e conscientes. Ferrer foi acusado de envolvimento em atentados e revoltas, sendo preso e executado em 13 de Outubro de 1909, o que o transformou num símbolo da luta pela educação e liberdade de pensamento. 

14/agosto/2025

Teresa Ferrer Passos

sábado, 9 de agosto de 2025

No Aniversário da Teresa

TU E A TUA RUA

Há uma rua em Lisboa
Tão pacata e sossegada
Que quem lá passa supõe
Que ali não se passa nada.
Tudo nela é sopesar
Da morte e do seu mistério
Porque a rua desemboca
No jardim de um cemitério.
Mas a doçura da vida
Tem caminhos e segredos
Que fazem esquecer a morte
E o seu cortejo de medos.
E uma espada de luz
Rompeu as sombras da rua
No dia em que teve início
A vida que agora é tua.
E, muitos anos passados,
Eu que era qual moribundo,
Desposando a tua vida
Vi de um outro modo o mundo.

9/8/2025

                                   Fernando Henrique Passos


Comentário de Teresa Ferrer Passos in Facebook, 9/8/2025:
"Mesmo que fosse somente para conhecer a minha saudosa e santa mãe e para te conhecer, valeria sempre a pena ter nascido!"

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

 É uma felicidade ter amigos grandes, na alma e na palavra.

   4/8/2025                                                                                      T.F.P.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Um jardim, entre o matagal e o lixo

Aqui, na zona do Calhariz de Benfica, em Lisboa, o jardim "Calhariz novo" mandado fazer pelo presidente da câmara Fernando Medina, está votado ao abandono e as árvores, como uma grande figueira, e outras, cobrem-se de frutos que apodrecem ao lado do matagal e da lixeira em que o transformaram... Daqui desapareceram os jardineiros? Haverá jardins mais e jardins menos? Quantos casos como o do pessegueiro, da figueira, até de recém-cultivadas palmeiras e outros arbustos floridos, por esta Lisboa em que as varandas das janelas se floriam com profusão de vasos de cravos e malmequeres, há décadas atrás?! Em frente, no passeio, os caixotes do lixo raramente são despejados e mais lixo se atafulha ainda entre eles. Um espetáculo de degradação citadina, sem dúvida.
Há apenas dois dias, vi que o restante matagal tinha sido cortado. Até que enfim! 

Teresa Ferrer Passos, Facebook, 15 e 30 de Julho e 7 de Agosto de 2025

Ainda o bulling

 Na escola o bulling devia ser abolido. A escola devia sempre substituir os pais que também o praticam com os próprios filhos... A escola devia ser o lugar do exemplo, se, como acontece, a família se demitiu de defender os valores mais altos a que tem direito o ser humano. E as crianças, os velhos e as mulheres têm sido, e, continuam a ser, os mais desprezados, os mais atingidos. Também os humoristas de televisão e de rádio como a Joana Marques e o Ricardo Araújo Pereira, têm com frequência usado técnicas de bulling nos seus programas para ridicularizar as pessoas visadas pelos seus intentos, até à exaustão.

Teresa Ferrer Passos in Facebook, 4 de Julho de 2025

sábado, 26 de julho de 2025

 A VELHICE, SUSTENTÁCULO DA ESPERANÇA

NO DIA DOS AVÓS invocamos a justa homenagem do Papa Francisco aos avós e aos idosos, transcrevendo uma passagem do meu romance inédito «S. Joaquim e Santa Ana ou a Oratória do amor» 

«O abastado pastor contraíra matrimónio com Ana, filha de Mathan, um sacerdote do templo cuja ascendência recuava ao rei David. O casamento fora marcado pelo amor, não pelas conveniências sociais, como era mais vulgar. Naquele dia, Rúben fitou Joaquim de um modo estranho e que lhe pareceu mesmo severo; falou-lhe com uma voz perpassada de secura, ainda antes de Joaquim ter tempo de lhe anunciar a oferta que trazia. Quando o informou da oferta que transportava, respondeu-lhe com palavras irritadas, rejeitando-a com o pretexto de não a poder receber porque Deus a recusaria. A estupefação de Joaquim, um venerável frequentador do santuário, transpareceu nas suas faces ruborizadas de espanto. Teve a sensação de estar a ser menosprezado, insultado mesmo, pela primeira vez na sua vida, e, precisamente, no lugar mais sagrado de Israel.»

Teresa Ferrer Passos, São Joaquim e Santa Ana ou a Oratória do amor (romance de fundo histórico, inédito).

domingo, 20 de julho de 2025

NAS MÃOS DE DEUS

     No 32º Aniversário do nosso conhecimento
 
Seria previsível
que a vida despontasse por acaso
num universo como o nosso?
Probabilidade quase nula,
a de uma ocorrência tão insólita,
segundo as leis da sorte e do azar.
 
Contudo
assim surgiu também,
na noite da alma que era a minha,
a tua luz, Teresa,
a abrir caminhos
que não deixei ainda de seguir.
 
Por trás dos dois clarões tão improváveis
pressente-se a mesma fonte de doçura,
a mesma irresistível força dócil,
o mesmo rasgar suave do destino,
a mesma tempestade de amor
do Cristo Rei!
 
20/7/2025

              Fernando Henrique de Passos

PRECISAMENTE NAQUELA TARDE

                                 
                                    Pequena memória do dia 20 de Julho de 1993


era uma tarde apagada. o sonho desfazia-se
num instante coberto da espuma nívea
das avenidas ao lado do grande jardim
em que as árvores se debruçavam sobre a canícula.
não me contive na derrota nem tão pouco me continha
agora nas suas sombras cheias de interrogações.
os ruídos do trânsito não desfaziam o meu silêncio esgotado
por um cansaço pintado pela imensidão  do sol. 
nada me afastava daquela realidade nefasta
a mostrar-se desavinda e imprevista.
sem quebra da espera nova avancei para o grande jardim.
aqui abriam-se portas que eu não via?
abriam-se janelas de par em par que eu tão pouco vislumbrava? 
as faces pálidas ocultava-as eu entre as mãos trémulas e suadas.
desci a escadaria para a biblioteca apressada.
queria eu saborear o tempo de a descer
antes de perder mais uma batalha?
a constância da dúvida acompanhava-me mesmo assim.
e foi precisamente naquela tarde infortunada que se juntou 
a tua afortunada chegada.

20/7/2025
                                             Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 18 de julho de 2025

 

A IMPOTÊNCIA DE UM OLHAR

 

GAZA, uma terra mártir.

crianças jovens e mulheres fogem para os não lugares.

a vingança estéril dos soldados israelitas é imparável

e alaga com sangue corpos a expirar.

as lágrimas de saudade esbarram no ser amado. imóvel.

e todo um povo espera com a loucura nas mãos espelhada.

a indiferença do mundo cresce.

o sofrimento incontido alastra.

o amor esmorece. os corações abatem-se.

e em todas aquelas gentes nasce um ruído atroador

como se todos já cantassem a hora da vitória.

18/7/2025

                                     Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 11 de julho de 2025

MANHÃ DE VERÃO

Enfermeira Natércia em 1948,
ano em que eu nasci.

 

                          Memória do dia em que a minha mãe morreu


no meu olhar o teu olhar embaciado.
a visão assombrosa da partida apagava o sol intenso.
a viagem mais longa e a mais certa inscreve-te
num tempo último. não sinto a mais branda aragem.
no meu olhar ficam crateras
de um vulcão incandescente.
no teu olhar há um fogo fátuo inapagável. 
o dia não nos oferece senão
uma precária nuvem incerta
a respirar o ar escasso daquela manhã de verão.
era uma manhã dourada pela luz
a flamejar como se um nascimento
exaltado no choro
fosse um hino de glória
à magnífica ventura de nascer.
e o teu nascer - mistério imenso –
contracenava agora com o teu morrer –
delírio exorbitante
dos meus dias indistinguíveis do teus.
tudo parecia sem princípio nem fim.
tudo se eclipsava na tua memória
e toda a minha memória se cobria de sombras.
o teu olhar descia perturbado
até ao desconhecido e esvaziado sepulcro
onde a porta se me fechou. e te perdi de súbito.

11 de Julho de 2025
                                         Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 9 de julho de 2025

TEMPESTUOSO DESTINO


o destino corre no meu encalce.  
conheço-o desde a infância interrogativa
onde só vivia ingénuas imagens.
agora recordo-as a medo de as deixar escapar
da minha memória envelhecida por um tempo inclemente e audaz.
o destino corre ainda a apagar as minhas asas de pássaro
em busca de um caminho pleno de significados.
a sua presença foi invisível a cada momento da minha vida
essa vida incapaz de apagar as arenosas
escarpas dos seus desígnios torpes.
por isso me comparo à guardiã de uma terra
acossada pela bravura do mar.
fui perdendo as batalhas sucessivas e as suas feridas não sarei.
sinto que o destino tem mais força que as tempestades do mar.
os seus avatares são imprevisíveis
e ninguém alguma vez os conhecerá.

9/7/2025

                               Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Acerca da sociedade, dos humoristas e da sua arte do "bulling"

Ana Galvão afirma, em defesa de Joana Marques, que "rir não magoa". Não vê que, se isto fosse verdade, justificaria muito do bullying praticado nas escolas? Rir de alguém pode ser muito doloroso para esse alguém!
FHP

O que fazem mais do que rir, os jovens que praticam bulling nas escolas?! Rir de alguém para humilhar, desprezar, ridicularizar, é bulling!
TFP

Só referi as escolas porque em primeiro lugar devia ser na escola que o bulling devia ser abolido. A escola devia sempre substituir os pais que também o praticam com os próprios filhos... A escola devia ser o lugar do exemplo, se, como acontece, a família se demitiu de defender os valores mais altos a que tem direito o ser humano. E as crianças, os velhos e as mulheres têm sido, e, continuam a ser, os mais desprezados, os mais atingidos. Também os Humoristas de televisão e de rádio como a Joana Marques e o Ricardo Araújo Pereira, têm com frequência usado técnicas de bulling nos seus programas para ridicularizar as pessoas visadas pelos seus intentos, até à exaustão.
TFP

O bullying pode dar-se nas mais diversas situações. Mas se a função da escola é educar, devia ser na escola que devia começar o combate ao bullying.
FHP

Posts in Facebook, 2-4 de Julho de 2025

sábado, 28 de junho de 2025

UM POEMA


CAMINHO ERRÁTICO


malmequeres amarelos tombam na jarra
a transparecer de vida.
a sede murchou as pétalas pequeninas
a vibrarem ainda as raízes
perdidas de si pela bruteza dos segadores do campo.
um campo abandonado. olho-os sem palavras.
porque as palavras perdem-se no estremecer
da minha voz cansada de sonidos inaudíveis e fechados.
a minha voz recua como o coração
de uma criança submissa ao sol  que a contempla nos dias 
encurralados em nuvens de calor.
a minha voz comprime-se perante o sortilégio.
amortecida. sem firmeza. rouca
e ainda a prosseguir um caminho oculto. errático.
então como uma trovoada sem relâmpagos 
comparo-me a um penhasco perdido do fresco mar.
esse mar espelho de diáfana folhagem.
esse mar de memórias apagadas só a sobreviverem
nas esquinas das ruas onde se inscreve
o som de um nome que ninguém conhece.
 
28/6/2025

                            Teresa Ferrer Passos

sábado, 21 de junho de 2025

UM OUTRO POEMA:


ESTRELAS DESAVINDAS


na seiva dos lugares ardem crateras nas almas 
abertas sem ruído. À sombra da noite de sirenes imparáveis
incendeia-se o jogo das estrelas novas da guerra.  
como se confundem com as estrelas cintilantes
na lonjura de milénios.
caem mísseis desavindos e um povo esfaimado
delirante e sem relógio para medir o tempo
da espera, adormece. exausto.
a humilhante espera culmina nos dias
embalsamados no sol da planície a abafar
com as farpas de um calor enriquecido. 
incêndios vastos saem das estrelas da guerra
em movimento.
e a dor cresce para além da dor.
e os seres tornam-se simples
fragmentos em busca de destino 
sem vislumbrar um horizonte.
encerrados numa incerteza impiedosa sufocam as lágrimas
suspensas em gritos ensurdecidos até da própria pobreza.
palavras agitam-se insubmissas
sofridas até ao pôr-do-sol de cada dia.
os povos impotentes arrastam-se
aprisionados nas garras da intolerância.
e a tirania das armas arrebata das suas horas
as mínimas réstias de felicidade. 

21/6/2025

                                             Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Breve homenagem



 Teresa Rita Lopes - Imperdível Memória (1937-2025)


Uma grande especialista do enigmático Fernando Pessoa.
Professora universitária de relevo.
Uma memória à sua dádiva de literata cultora
do pormenor cheio de significado.
Uma memória de uma escritora recatada e sensível.
Continuemos as suas lições lendo as suas obras.
Uma presença continuada depois da morte, aos oitenta e sete anos.

PAZ à sua alma

18 de Junho de 2025
Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 18 de junho de 2025

 Ainda o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades portuguesas nas sábias linhas da obra «Os Lusíadas e a História» da autoria do historiador Jorge Borges de Macedo:

"A 'fala' do Velho do Restelo apresenta-se no Poema para enunciar a única interpretação alternativa possível, na época, em face da Grande Viagem que, pela mão dos Portugueses, abriu à Europa as portas do Índico e que o Poema celebra". (...)
"Não admira que o Poema, síntese arguta e criadora do nacional e do universal, do particular acontecido e do seu significado, junção do real com o metafórico, de modo a que este último possa referir o primeiro sem o eliminar, do histórico com o fantástico, sem afectar a verdade da narrativa, tem sempre irritado os ideólogos lineares, os 'recta-pronuncia' de todos os tempos; já irritou iluministas, cientistas e formalistas, antes de incomodar os dedutivistas dos nossos dias. É normal que isso aconteça com qualquer obra de génio."
"A grande obra, criação sempre única, sujeita evidentemente a condições, recria-se na persistência do seu significado, alcançando força junto de outro público: na nossa sociedade da agonia industrial, qualquer que seja o sistema jurídico em que funcione, continuamos a ler e a admirar «Os Lusíadas» ".
In Jorge Borges de Macedo, «Os Lusíadas e a História», pp. 85 e 260.

Cidade de Calicute, Índia, Atlas "Civitates orbis terrarum"
 (George Braun e
 Franz Hogenber,1572


quinta-feira, 29 de maio de 2025

Algumas passagens de um ensaio biográfico que acabo de publicar, a propósito do 1º centenário do nascimento do poeta e dramaturgo Fernando de Paços (1923-2003)



Fernando de Paços com 25 anos na casa de seus
pais em S. João d'Arga (Viana do Castelo)


« “Diário espiritual”, assim o designou, aos dezassete anos. Era o dia 9 de Abril de 1941. Assina-o pelo pseudónimo Fernando de Paços. É este diarista que, em simultâneo, enche folhas soltas de poemas. Uns, inspirados na natureza que respira na casa paterna (a família muda-se de Viana do Castelo para uma casa rural) em S. João d’Arga, outros nas tradições e na
religiosidade que insufla os seus pulmões desde o berço ainda na casa de Viana de Castelo onde nasceu e donde saiu por volta dos oito anos. O “Diário espiritual” do poeta e dramaturgo para a infância Fernando de Paços, distingue-se de uma autobiografia ou de um diário como aquele a que Miguel Torga chamou Diário, publicado ao longo de dezasseis volumes e iniciado já homem maduro. Cada volume era editado pelo próprio Torga à medida que o escrevia. Um diário a abrir-se de imediato ao público, um diário elaborado para ser apresentado ao leitor não eventual e distante ou até inexistente, mas para ser revelado em cima dos acontecimentos relatados. Um diário de um escritor que se queria expor aos juízos públicos. »

Teresa Ferrer Passos, Fernando de Paços - Do "Diário espiritual" inédito à Poesia Religiosa, Edições Carmelo, 2025, pág. 8.
in Facebook, 29/5/2025

***

No 22º aniversário do falecimento do meu Pai, não poderia fazer melhor homenagem do que reproduzir este excerto do livro da Teresa, a nora de quem ele tanto gostava!

«Fernando é alguém que sente como o sangue pode correr. E correr inutilmente. À beira do seu abismo maior, a própria vida. A vivê-la com a intensidade dos grandes que procura exceder. Dar-se todo no limite das suas forças, suportar a cruz até à queda serena pelos caminhos. 'A vocação!' exclama, atordoado de procura. E repete no diário, esse seu confessionário privilegiado: 'Abandona os livros e os formulários (…). Sobe!'. A subida até Deus para o ouvir é a meta do místico; sair de si, encontrar-se com o Deus vivo, viver Deus, como se não se distinguissem.»

Teresa Ferrer Passos, «Fernando de Paços - Do "Diário Espiritual" inédito à poesia religiosa», Edições Carmelo, Marco de Canaveses, 2025, p.78.
In Facebook, 18/5/2025

Comentário do Poeta Manuel Neto dos Santos na página de Fernando Henrique de Passos in Facebook (19/6/2025): "Magnífica obra; na essência e na abordagem."

***

sexta-feira, 23 de maio de 2025

 ESTRANHO POEMA


ao longe vejo as marés escavarem
com as suas mãos ondulantes
túneis desabitados. Ali a memória lia-se
num dia perdido de si e
em que o azul do céu se espelhava
no mar mais sereno
que alguma vez penetrara o meu olhar. 
eram tempos místicos
em que ninguém me olhava porque as marés
me escondiam nas dobras dos seus
corpos volúveis.
era o tempo em que as minhas mãos se enlaçavam
para se protegerem dos olhares indiscretos.
era o tempo de aprender a abraçar
a brandura dos sinos da igreja abandonada.
era o tempo em que os músicos não tocavam
ainda os acordes do magnífico órgão
a sugar as mãos
encapeladas de sons imensos, esses sons
que exaltavam o novo destino a vibrar alto
toda a preciosa beleza de um Deus de mãos
sôfregas de novas liturgias a apagar
o silêncio do nada.
nesse tempo eu escutava os murmúrios
piedosos da música
e escrevia nas minhas mãos poemas com
a brancura da espuma.
depois embrulhava-os no meu pequeno
quintal bordado de canteiros de jasmins
a florir e ainda a prometer-me
escrita de um  estranho poema.

22 de Maio de 2025

                           Teresa Ferrer Passos

domingo, 4 de maio de 2025

A Inteligência Artificial (IA) e o ser humano


A propaganda que programas de rádio e de televisão estão a fazer à IA, tem em vista desacreditar as expressões mais profundas do ser humano. Muitos ciber-cientistas tendem a construir uma máquina - a IA - que se apresente como sua implacável rival, capaz de ultrapassar os pontos mais altos do humano. Assim, os construtores da IA pensam conseguir provar que o humano não é mais do que uma máquina. Tentam desacreditar os humanos, procurando provar que os objetos se lhes equiparam, eles que são exclusivamente de caráter material.

4/Maio/ 2025                                                Teresa Ferrer Passos


A MÁSCARA de Trump

Ai dos hipócritas! disse JESUS O CRISTO. O atrevimento de TRUMP ao envergar as vestes de Papa excede toda a possibilidade de lucidez. Só pode ser visto como o ato de um louco e um louco que governa precisamente a mais poderosa nação do mundo!!!!!
4/Maio/2025
TFP

DIA DA MÃE

Que dia, para quem já a perdeu do olhar, do olhar.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Quando as comunicações sociais se afundam e nos deixam no isolamento





O QUE UM GNÓSTICO DIRIA DO APAGÃO DE ANTEONTEM


O estado de apagão total (estado de ausência de todo e qualquer artefacto de origem humana) é o estado natural do mundo material ou mundo exterior, conforme lhe queiramos chamar, porque foi nesse estado que esse mundo foi criado pelo Diabo.

O ser humano nunca gostou da contingência e da precariedade da sua existência no mundo material e desde cedo tratou de o começar a melhorar por meio dos artefactos que ia inventando, até aos dias de hoje, em que o surgimento acidental de estado de apagão, mesmo que parcial, é uma autêntica tragédia.

No entanto, nada de essencial mudou. É verdade que passámos a ter sob o nosso controlo imensas coisas que não dependiam de nós, mas é também verdade que continuamos a sofrer e que continuamos a morrer. Onde falhámos?

A resposta foi-nos dada há dois mil anos por Jesus Cristo, o Filho de Deus, quando nos ensinou que o sofrimento e a morte são vencidos por meio de transformações, não no mundo exterior, mas sim no nosso mundo interior.

30/Abril/2025
Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 1 de maio de 2025



Ainda o Apagão: Tudo o que é exterior ao humano é contingente, é precário, não tem consistência para subsistir para além de uma certa duração. Ninguém devia ficar tão cheio de espanto perante os "apagões" que durante milénios atingiram a humanidade. Esta espera da felicidade material continua nos nossos dias a ter um alto preço, bem desnecessário.

30/4/2025
TFP

terça-feira, 29 de abril de 2025

A ditadura não vem só de pessoas. Não vem menos das fontes de energia. E a eletricidade é uma delas. Imprevisível. Pode aprisionar-nos sem que nos apercebamos do seu poder, quase mágico. Cuidado com a IA... e com ela o que aí vem...
TFP

quinta-feira, 24 de abril de 2025

MORREU O PAPA FRANCISCO (1936-2025)

 

REDIVIVO


manhã de domingo de Páscoa.
missa da ressurreição na televisão. ausente o Papa
Francisco. a ausência gela os corações.


súbito na janela surge o esfíngico contorno  
da sua face enrugada enterrada no olhar mortiço
desviado quase sem ver a multidão.
a boca apagada sem zunidos.
a cabeça inclinada. o fim do tempo. 
a tonalidade pétrea na pele insuflada
por lágrimas delidas. o vento brando 
sem vir do ocidente luminoso ou do oriente
de intermináveis assombros. eis a perda
de sentido do rosto de Francisco
a receber nas mãos trémulas as folhas
do discurso a entoar com o som
de uma voz imensa e sem se ouvir.
o esforço do coração não chega para tocar
a palavra que persiste no silêncio.
abominável silêncio em que insiste ainda.
e as folhas a apagarem-se na voz sufocada.
o pânico atravessa a vontade firme de servir.
como a morte se esconde altiva
soberba e quase inteira.

restam as mãos. Francisco junta as mãos
num adeus perdido e abundante.
um adeus na distância. um adeus a dizer Jesus.
"tudo está consumado". o impossível ato
abre-se na dor: o nada está na sua frente.

restam as mãos cheias de palavras vibrantes
coloridas de branco. com a plenitude
de um abraço do tamanho do mundo.
as mãos erguem-se num adeus repleto de voz 
perdida de si e ao encontro dos outros.

restam as mãos com a visibilidade
de uma manhã a arder de sol.
e a alma transida de amor cresce
até um céu desenhado pelas pontas
dos dedos a construírem um adeus.

restam as mãos de Francisco.
são elas a voz que
oferece um sacro hino. inesquecível vibração.
de tanta memória.

24/Abril/2025

                         Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 11 de abril de 2025

PÁSCOA/2025


Senhor dos Passos, Igreja Matriz de Alcantarilha


PÁSCOA PARA UM PEQUENO RIBEIRO


certo dia...
malmequeres amarelos entre papoilas
vi num campo largo e sem sombras.
lá sonhava tantas vezes com os silêncios eloquentes
do pequeno leito de água a correr
num estreito e triste ribeiro.
como eu gostava desse pobre fio de água
que transparecia tanta bonomia.
às vezes perguntava ao vento se o coração
aberto de um ribeiro podia ter pecado.
só que ele não respondia.
nessas horas apagadas via-o atónito
e a olhar-me assombrado.
vendo o seu espanto dizia-lhe baixinho: sou Jesus.
vim ao mundo também para ti, bom ribeiro.
mas ele nada dizia. e eu pensava
que não me conhecia. não sabia que eu era
o Deus encarnado. ah, se ele o soubesse...
senti-me desamparado, simples mendigo me vi.
em que deserto eu entrara, em que mundo tão bizarro.
eu proclamava o amor. mas quem me queria escutar?!
nem um ribeiro desprezado...

certo dia...
fui levado para o pretório e julgado.
o juiz foi a dura populaça.
arrastei a cruz pesada. enorme.
depois nela fui pendurado. sem piedade.
o tempo trouxe-me a morte.
numa sepulcral pedra fiquei deitado.
soldados vigiavam-me. temiam-me?!
oh desgraçados!

ao terceiro dia, a morte venci:
soltei os meus pés e à vida regressei.
pelo campo caminhei com a vitória no espírito
e logo me recordei do pequeno ribeiro.
apressado visitei-o.
a água deslizava mansa.
transparente como antes.
toquei-lhe com as mãos ao de leve.
e vi-o solitário, seco, pedregoso,
como o conhecera antes.
naquela hora ofereci-lhe toda
a minha divindade!

Páscoa, 2025

                    Teresa Ferrer Passos


***


Pintura alusiva ao encontro de Jesus com
Verónica, exposta numa rua de passagem
da procissão do Senhor dos Passos
em Alcantarilha


***




Jesus é pregado na cruz


A morte é a pedra onde não corre a água.
A vida é o espírito em que a água corre sem parar.  

                                                                                                  T.F.P. 


***


BREVE REFLEXÃO PASCAL:

«Sentir ou contemplar uma Presença remete-nos para a metáfora do centro. E, de facto, a palavra contemplar vem de "templo", e significa olhar a partir de um templo. Este "templo" é o lugar da presença de Deus, é o nosso próprio corpo: "O vosso corpo é templo do Espírito" recorda-nos S. Paulo (I Cor, 6,19).

Na viagem interior através deste "templo", o importante é chegar ao centro. Ao centro da alma. Porque nesse centro já está o céu antecipado, o paraíso, o jardim do Éden: "O céu é onde está Deus" escreveu Santa Teresa (de Ávila). Céu, Deus e amor são a mesma coisa».

      Juan Antonio Marcos, "A Experiência pré-contemplativa. Um luxo e um privilégio", Revista de Espiritualidade, nº 128, Outubro-Dezembro 2024, pág.340.


***




JESUS MORRE NA CRUZ



O SINAL. A CRUZ.


Jesus é o corpo precário, qual folha
a tombar da grande árvore.
na hora única o olhar de Jesus fecha-se como
uma vela a apagar-se. devagar. o corpo exausto chora
sem se ouvir. o desalento é um enorme silêncio.
só o seu Espírito espera abrir o céu do amor.
o céu do Pai que está no Filho aqui, na terra do demo.
Presente e Presença no espaço do mal perdido do bem.
a liberdade de Deus parecia transmutar-se em derrota.
o corpo do Filho que era o próprio corpo do Pai
expirava na cruz, na cruz de tudo o que é sórdido
e repelente.
a conspiração tétrica fez nascer o ódio e a salvação
surgiu como um lugar de engano, de descrença.
o corpo morto de Jesus provocava
todos os atos infames e exaltava-os.
a chuva começava a cair desesperada. 
a hora da morte respirou a hora do nada. a hora em que
só Deus vivia na Casa do Homem, do Homem sem fé
no seu poder, sem esperança no seu Amor,
sem vislumbre de descobrir uma salvação.
de tudo isto ficou um sinal.
ontem como hoje,
a imagem de uma cruz.
o sinal. sem fim.

Sexta-feira Santa, 2025

                              Teresa Ferrer Passos


***


E flores brancas surgiram
nos ramos...


«Que saibamos ressuscitar em cada dia.»

                                                          Henrique Manuel Pereira


***


Jesus Ressuscitado
(Igreja de Cerva, Alto Tâmega)



















A SEGUNDA PÁSCOA 


Por toda a parte se multiplicam os sinais por Ele anunciados:
eis que se aproxima a Nova Vinda de Cristo.

Mas o poeta ensurdeceu
e já não consegue escutar
a poesia que os anjos lhe segredam ao ouvido
para depois a poder reproduzir.

E então um grande silêncio alastra
pela folha de papel em branco
como se fosse o som de mil trombetas mudas,
de mil profetas calados,
de mil oradores paralisados
por um medo do palco inesperado.

E deste uníssono de nadas
nasce a voz de uma pergunta
que apenas um herege se atreveria antigamente a formular
mas que o poeta agora lê na própria boca desses anjos
que ele deixou de conseguir ouvir:
o que faltou há dois mil anos?

E a resposta surge prontamente,
como se fizesse parte da pergunta:
faltaste tu,
faltou a tua conversão;
sim, tu já lá estavas nessa altura,
mas tu ajudaste a pregar Cristo no madeiro;
com as tuas dúvidas,
com a tua soberba,
com os teus medos,
com os teus desejos.

O poeta ouve sem uma palavra a voz do silêncio
a martelar-lhe a consciência,
e compreende o seu papel,
o papel da humanidade,
na preparação da Nova Páscoa.

Desligar a cavilha que liga a nossa vontade
à vontade do mundo
e ligá-la de seguida à Vontade de Deus
é tudo o que é preciso para que a Nova Páscoa
seja uma Páscoa sem Cruz
deixando livres as mãos de Jesus Cristo
para que com elas pegue nas nossas mãos
e nos conduza até à Terra Prometida,
até ao Reino de Seu Pai.

Domingo de Páscoa de 2025

                    Fernando Henrique de Passos


***


E QUE OS CORAÇÕES CANTEM UMA NOVA PÁSCOA.

BOA PÁSCOA!







                

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Acerca de um comentário, no Facebook, de Nuno Campos Inácio, em 9 de Abril de 2025


O comentário do historiador Nuno Campos Inácio sobre o estado degradado da bela Sé Catedral de Silves é de grande importância não só regional, mas também nacional. A preservação do património histórico tem sido demasiadas vezes esquecida nas brumas da história. Uma chamada de atenção às autoridades - cujas funções são precisamente defender esse insubstituível património cultural - é sempre bem vinda e motivo de aplauso! É fundamental chamar a atenção para a ausência de cuidado com aquilo que é mais importante num país: os seus altos valores culturais!

                                                                                              Teresa Ferrer Passos

sábado, 5 de abril de 2025

DIGRESSÃO NA ALEMANHA DE LÍDIA JORGE



"Misericórdia", uma obra que desenha uma das mais insensatas realidades da sociedade contemporânea. O cenário é um lar para a terceira idade. O romance oferece ao leitor uma das mais vergonhosas situações a que é exposto o idoso nos últimos anos da sua vida. O livro é apresentado na Alemanha. Uma justa homenagem à grande escritora Lídia Jorge.

5/4/2025
                                                                    Teresa Ferrer Passos