Aqui, um excerto deste longo poema inigualável:
(...) Gostaria de ter outra vez ao pé da minha vista só veleiros e barcos
[de madeira,
[de madeira,
De não saber doutra vida marítima que a antiga vida dos mares!
Porque os mares antigos são a Distância Absoluta,
O Puro Longe, liberto do pêso do Actual...
E ah, como aqui tudo me lembra essa vida melhor,
Esses mares, maiores, porque se navegava mais devagar.
Esses mares, misteriosos, porque se sabia menos dêles.
Todo o vapor ao longe é um barco de vela perto.
Todo o navio distante visto agora é um navio no passado visto
[próximo.
Todos os marinheiros invisíveis a bordo dos navios no horizonte
São os marinheiros visíveis do tempo dos velhos navios,
Da época lenta e veleira das navegações perigosas,
Da época de madeira e lona das viagens que duravam meses.
Toma-me pouco a pouco o delírio das coisas marítimas,
Penetram-me fisicamente o cais e a sua atmosfera,
O marulho do Tejo galga-me por cima dos sentidos,
E começo a sonhar, começo a envolver-me do sonho das águas (...)
In «Obras Completas de Fernando Pessoa», II vol. «Poesias de Álvaro de Campos»,
Edições Ática, Lisboa, 1944, pág.169.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixe aqui o seu comentário