Árduos são os tempos e os lugares que semeiam os finos arcos da poesia. A poesia a irromper nos dias que vivi na fadiga dos momentos, em que cresci devagar num canteiro de interrogações brutais e quiméricas. A busca da paz introduz-se em cada verso, livre de intenções ou de projetos. Em cada página, as palavras rodam entre luz e sombra, como um carrossel. E tudo coado por nuvens transparentes ou pesadas como uma chuva que não chega ao nosso olhar. Em cada página vibra uma torrente de memórias a soltarem-se, precipitadas e urgentes, em datas inesquecíveis, com os seus sentidos e os seus sentimentos a brotar como um rebento de minúsculo malmequer do campo. E tudo isto enleado nos dramas de uma sociedade lançada num pântano obscuro e, ao mesmo tempo, a penetrar em ideias edificadas sobre falhas que se julgam edénicas, de súbito. A poesia eclode como um sussurro incandescente, uma imagem do divino ausente ou enternecido, um verbo conjugado com a força de caminhos desconhecidos, mas prontos a serem trilhados. A poesia perfila-se como uma paz que tudo sustenta, vagarosa e sólida, que gira em torno de um real que se esconde e se descobre, sem eu ou tu, mas a espraiar-se no grande enigma de sermos nós.
Setembro de 2022
Teresa Ferrer Passos
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