segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Um poema do livro de Teresa Ferrer Passos, MEMÓRIA DE PAZ, Hora de Ler, Leiria, pp. 9-10:


RÉSTIA DE PAZ

As estevas brancas e o joio
cresciam lado a lado.
Entre amores-perfeitos e estrelas-do-egipto
nada se distinguia com nitidez.
De mãos entrelaçadas, esperávamos
as horas silenciosas do crepúsculo.
Inflamados pelas cores azuladas das alcachofras,
esperávamos a hora nova ou do nunca.
Depois, pela janela larga e debruçada da casinha
enquadrada na serra enevoada,
víamos crescer o sol,
de cansaço prostrado aos nossos pés.
Abismados, os nossos olhos sucumbiam naquela visão
procurando ainda uma réstia de paz.
Firme como no primeiro dia,
vimos o sol brincar às escondidas
com os contorcidos troncos
e as folhinhas da velha oliveira.
Como a sorver uma grande paz,
desvendámos aqui o segredo da vida:
verdes rebentos brotavam, com audácia,
da sua escavada carcaça,
inquebrantáveis de força!

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