sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Deus

Miguel Trigueiros

Atei os meus braços com a tua Lei, Senhor,
E nunca os meus braços chegaram tão alto!
Ceguei os meus olhos com a tua Luz, Senhor,
E nunca os meus olhos viram tão longe!
Só desde que Te dei a minha alma, Senhor,
Ela é verdadeiramente minha.

Por isso, hei-de subir até à Vida,
Despedaçando o corpo na subida.
Por isso, hei-de gritar, de porta em porta,
A mentira das noites sem estrelas;
Hei-de fazer florir açucenas nos meus lábios;
Hei-de apertar a mão que me castiga;
Hei-de beijar a cinza dos escombros;
Hei-de esmagar a dor
E hei-de trazer, aqui, sobre os meus ombros,
A tua cruz, Senhor!

                                     Miguel Trigueiros*

* Este poema foi publicado no livro com o mesmo título, em 1944, por Miguel Trigueiros (1918-1999), hoje um poeta desconhecido. Entre outros, foi autor de Resgate, livro de poemas publicado, em 1939 (Prémio Antero de Quental). Fez parte do grupo dos “Cadernos de Poesia” (1942-44) que procurou criar uma nova corrente poética na linha da Presença de José Régio (1927), chamada “Poesia Nova”, conforme ao ideal presente num grupo de jovens poetas colaboradores do Suplemento “Seiva Nova” do Notícias de Viana (anos de 42 e 43), em que se integrou ativamente o poeta Fernando de Paços (1923-2003). Este daria à estampa o livro de poemas Fuga (1944) na Coleção publicada pela “Poesia Nova” de que Miguel Trigueiros era o principal dinamizador, em Lisboa.
                                                                    T.F.P.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Da Esquerda à Direita


Nos tempos que correm, Esquerda e Direita não são assim  tão diferentes: falam a mesma linguagem e formulam as mesmas perguntas, apenas lhes dando respostas diferentes. Por outras palavras, só se preocupam com problemas materiais.

27/8/2015

                                               Fernando Henrique de Passos

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Espírito de partilha, onde está?

Populações fugitivas amassadas num barco, a cruzar as águas do Mediterrâneo

A Europa deve decidir no mais breve espaço de tempo, as quotas a atribuir a cada país da União Europeia, para receber, finalmente, e com urgência, receber os milhares de refugiados migrantes.

Estão a chegar em catadupa às fronteiras da Europa do Sul, fugindo da aterradora miséria que os consome, das perseguições inclementes, da guerra devastadora e desenfreada que sacrifica crianças, jovens, mulheres e homens, populações inteiras do Norte e do Centro de África, do Próximo e do Médio Oriente.

Fogem rumo a uma terra de paz, em que ainda restam umas migalhas de pão e de esperança para a sua vida. Esperam, no seu desespero, pela solidariedade, pela boa vontade dos europeus, abonados pela sorte de tantos bens à sua disposição.

A força do espírito de partilha com os pobres, os mais pobres que, quase já sem norte, indagam uma pequena luz para sobreviver, se ainda for possível sobreviver, neste mundo onde nasceram.Isto é o mínimo que se deve oferecer a essas gentes para que vivam, e vivam com aquilo em que, talvez, já nem acreditem.

25 de Agosto de 2015

                     Teresa Ferrer Passos

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Visões


Não acredites se um dia te disserem
Que o horizonte não existe.
De facto não é uma ilusão
A sagrada união de Terra e Céu.
Ilusório, sim, é crer que não há Alto,
E que o espaço vazio é frio e desolado
E fechado sobre nós qual mausoléu.


11/5/2015

               Fernando Henrique de Passos

domingo, 23 de agosto de 2015

Peregrinação


Mergulha os pés no chão ao caminhar.

Deixa que a terra, as pedras, o caminho
Subam por ti até que apaguem
O incêndio de sombras que te agita
E te esconde dos outros quando falas
E te esconde de ti próprio quando olhas
E julgas ver-te ali onde não estás.

Mergulha os pés no chão ao caminhar
E a cidade antiga que procuras, 
Vê-la-ás nascer dentro de ti.

23/8/2015
                       Fernando Henrique de Passos

sábado, 15 de agosto de 2015

Assunção de Maria ao Céu



No coração todo puro de uma Mulher,

o Espírito Santo viu a Sua Casa.

A Casa era bela e ofereceu-A ao mundo.
O mundo que A desconhecia, entrou n'Ela.

E logo viu a Salvação
num pequenino, de nome Jesus,
todo divino e a nascer num tosco casebre.

Mas, ó maravilha inesperada!
O nascimento era numa mulher
de coração todo puro,
O seu nome, Maria.

15/Agosto/2015
                                 Teresa Ferrer Passos

domingo, 9 de agosto de 2015

Presente de Aniversário


Há estátuas de jade, de marfim,
De bronze, de mármore, de basalto;
Mas eu não queria dar-te nada assim,
Eu queria chegar muito mais alto!

Eu queria dar-te
No dia dos teus anos
Esta impensável obra de arte:

Uma escultura esculpida no amor!
Mas esses não eram os planos
Do nosso Criador.

E Ele, que tudo determina,
Determinou que este novíssimo escultor
Não desse formas à matéria-prima:
Recebe então intacto o meu amor…

9 de Agosto de 2015

                     Fernando Henrique de Passos

sábado, 1 de agosto de 2015

Fantasia para fim de tarde


Hipnotizo as chamas do poente
Quando horas vagas passeiam pelas ruas
Lançando sombras de recortes trémulos
Na cal rachada das paredes nuas.

As labaredas sabem o meu nome
E nunca sobem mais do que eu permito
Embora nasçam do ventre da Loucura
E se alimentem da luz do Infinito.

Guardo-as no bolso e volto para casa,
O fim de tarde como passadeira.
E nessas noites antes de dormirmos
Há mais magia no lume da lareira.

19/4/2015

Fernando Henrique de Passos

Educar crianças das favelas da capital do Bangladesh


«Foi um pouco a pensar no meu passado, que alguém me tinha ajudado e a diferença que isso tinha tido na minha vida. Pensei que se eu fizesse a mesma coisa pelas crianças de Daca (favelas) no Bangladesh, elas podiam chegar onde eu cheguei» diz Maria do Céu da Conceição que conta 37 anos. 

Maria da Conceição decidiu deixar a vida de hospedeira de bordo e dedicar-se às crianças pobres, desde que as viu nos bairros pobres de Daca. Criou, então, a Fundação Maria Cristina, cujo nome se deve à homenagem que quis fazer a sua mãe adotiva, Maria Cristina que sendo uma viúva, fazendo limpezas, com seis filhos a cargo, ainda deu casa e comida a uma sétima criança, a própria Maria da Conceição.

Para angariar fundos para a sua Fundação, criada por amor à educação das crianças, Maria da Conceição tem desenvolvido atividades desportivas, como a subida ao pico do monte Everest. Recentemente, Maria da Conceição lançou o livro Uma Mulher no topo do Mundo. Que o produto da sua venda ajude a Fundação Maria Cristina a salvar ainda muitas crianças da miséria que as condena à ignorância, uma pobreza a irradicar de todo o mundo.

1 de Agosto de 2015
Teresa Ferrer Passos