Miguel Trigueiros |
Atei os meus braços com a tua Lei, Senhor,
E nunca os meus braços chegaram tão alto!
Ceguei os meus olhos com a tua Luz, Senhor,
E nunca os meus olhos viram tão longe!
Só desde que Te dei a minha alma, Senhor,
Ela é verdadeiramente minha.
Por isso, hei-de subir até à Vida,
Despedaçando o corpo na subida.
Por isso, hei-de gritar, de porta em porta,
A mentira das noites sem estrelas;
Hei-de fazer florir açucenas nos meus lábios;
Hei-de apertar a mão que me castiga;
Hei-de beijar a cinza dos escombros;
Hei-de esmagar a dor
E hei-de trazer, aqui, sobre os meus ombros,
A tua cruz, Senhor!
Miguel Trigueiros*
* Este poema foi publicado no livro com o mesmo título, em 1944, por Miguel Trigueiros (1918-1999), hoje um poeta desconhecido. Entre outros, foi autor de Resgate, livro de poemas publicado, em 1939 (Prémio Antero de Quental). Fez parte do grupo dos “Cadernos de Poesia” (1942-44) que procurou criar uma nova corrente poética na linha da Presença de José Régio (1927), chamada “Poesia Nova”, conforme ao ideal presente num grupo de jovens poetas colaboradores do Suplemento “Seiva Nova” do Notícias de Viana (anos de 42 e 43), em que se integrou ativamente o poeta Fernando de Paços (1923-2003). Este daria à estampa o livro de poemas Fuga (1944) na Coleção publicada pela “Poesia Nova” de que Miguel Trigueiros era o principal dinamizador, em Lisboa.
T.F.P.