1
– Como caçar um macaco
Ponha
um amendoim dentro de uma jaula que tenha as grades suficientemente apertadas
para que a mão do macaco passe à justa entre elas. Quando o macaco vir o
amendoim, irá meter a mão pelas grades para o agarrar, mas quando quiser tirar
a mão outra vez de dentro da jaula, o punho fechado não conseguirá passar e o
macaco ficará preso. Por estranho que pareça, o macaco não perceberá que se
largar o amendoim ficará de novo livre.
2
– O Tempo e a Eternidade
Penso
que quase todos nós imaginamos a vida eterna como qualquer coisa que vem depois da vida terrena, tal como o
emprego vem depois dos estudos, ou como a reforma vem depois dos anos de
trabalho. No entanto, esta forma de ver a eternidade coloca-a na categoria das
coisas temporais, o que não faz muito sentido.
É verdade que a nossa mente está
feita de tal modo que não conseguimos deixar de projectar a ideia de tempo em
tudo aquilo que imaginamos ou consideramos mas, mesmo assim, auxiliados pela
nossa capacidade de abstracção, devemos fazer um esforço para contrariar esta
tendência, e podemos até contornar a dificuldade combatendo o tempo com as suas
próprias armas.
Recorramos assim ao conceito temporal de simultaneidade, para
dizer que a eternidade não é anterior nem posterior à existência terrena, antes
lhe sendo simultânea. (Do mesmo modo, a jaula e a selva onde se pode ser livre
e feliz são duas possibilidades que se oferecem ao macaco em simultâneo, a cada
instante.)
Digamos
então que tempo e eternidade são apenas duas maneiras diferentes de ver a mesma
realidade, ou, talvez melhor, duas maneiras diferentes de a viver. Jesus Cristo veio explicar-nos
isto e dar-nos o segredo que permite optar pela maneira certa de viver a
realidade, embora a acção permanente do Espírito Santo, desde o princípio dos
tempos, já tivesse levado gente sábia de diversas culturas a intuições parciais
desta verdade.
A verdade é que é o nosso egoísmo que nos amarra ao tempo, o
nosso egoísmo traduzido na obsessão em nos sentirmos bem, traduzido na multidão
de medos e desejos mesquinhos pelos quais nos deixamos governar a cada
instante. E as leis da moral, na sua origem, propunham-se apenas serenar este
revolto mar interior que nos precipita no Tempo, que é o Tempo, mas que, uma vez serenado, se transforma no infinito mar
da própria Eternidade.
3
– Moral da história
As
leis morais não são o capricho de um Deus sádico, que se compraz em proibir-nos
as coisas que nos dão prazer. Pelo contrário, as leis morais são simplesmente
um “mapa do tesouro”, um caminho secreto para o Bem Supremo, uma pista que
conduz do Tempo à Eternidade. Por isso, se alguém nos vier dizer para não nos
preocuparmos mais com as velhas leis da moral, temos tanta razão para agradecer
como o macaco a quem foram dizer que não largasse o amendoim.
22/10/2014
Fernando
Henrique de Passos