Uma imagem do martírio dos inocentes na Síria |
No círculo da dolorosa sensação
Nasce em mim outro círculo. E ouço o sino
repicar
anunciando uma nova dor à humanidade.
Tudo me parece envolver-se em margens de rios
com ossos a erguerem-se em montanhas de
titânio.
Num tempo de cinzas queimando como fogo,
há ossos amontoados em camas de hospitais.
Aí, os meus suspiros gemem tenebrosos.
invade-me como ondas de metal.
Os nervos danificados na parede da casa
alongam e encolhem, dando-me
a provar um sabor de grito amargo.
Vejo dias ávidos de sol. À noite, as sombras
do martírio de inocentes caem sonâmbulas.
Condenados sem saber,
sentem queimaduras nas mãos débeis.
Condenados sem juiz,
sofrem
a afronta cravada na sua mansidão.
Condenados desde o princípio da terra e do
céu,
um silêncio de choro revela-me a revolta
a sucumbir em olhos secos de lágrimas.
Aqui, vejo o pânico em bermas de restolho.
Mas, mesmo ao lado, indiferentes,
dançam jovens com máscaras afiveladas,
dançam ao som do rock e da fantasia,
dançam em busca da fama
e dão
gargalhadas pela glória de estar vivos.
Mais além, os aromas acres de guerra,
perturbam os intervalos da escassa paz.
E tenho sede das marés da esperança
ao ler a guerra em todos os lugares.
Só correm lágrimas a aconchegar as chagas.
Encontro as feridas da saudade, além e aqui,
indestrutíveis.
Nas cidades eternizadas pelo sofrimento,
descubro que, afinal, as gentes perderam
a batalha maior: a batalha da lucidez.
27 de Agosto de 2012
Teresa Ferrer Passos
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