Físico Peter Higgs (1929-) |
Ora, se a descoberta do bosão de Higgs provasse alguma coisa (o que não prova, nem, de resto, poderia provar) seria a não existência de Deus. O equívoco gerado em torno desta partícula deriva em grande parte, quanto a mim, de um erro de tradução: traduziu-se em português “God particle” (o que, já de si, é apenas uma brincadeira) por “partícula de Deus”, quando o correcto seria “partícula Deus”, porque é uma partícula que, em certo sentido, se substitui a Deus no seu papel de criador da matéria. Mas também aqui convém ser mais preciso: não se trata de uma partícula que existe antes das outras e depois lhes dá origem; também não se trata de uma partícula que surge após a existência prévia de partículas sem massa (e, portanto, “imateriais”) e que lhes vem conferir essa massa. Nada disso: o bosão de Higgs e as restantes partículas existem “ao mesmo tempo”. O que se passa é que, de acordo com a teoria, se não existisse o bosão de Higgs as restantes partículas não teriam massa, permitindo no entanto a mesma teoria deduzir que as restantes partículas têm massa se, juntamente com elas, existir também o bosão de Higgs.
Mas, mais importante, se o bosão de Higgs explica a “materialidade” das restantes partículas, fica ainda por explicar por que razão existem de todo partículas, sejam elas quais forem. O crente poderá sempre argumentar que alguém teve de as criar. (Também é verdade que o não crente perguntará sempre: “se Deus pode existir sem ter sido criado, porque não se pode dar o mesmo com as partículas, e com tudo o resto, dispensando assim a ideia de Deus?”)
Já agora, um aparte sobre as relações entre ciência e religião. Foi posta a circular pela Igreja (a mesma Igreja de que eu faço parte, saliente-se de novo) a ideia de que a ciência e a religião não se contradizem porque dizem respeito a esferas diferentes. Não é verdade. Só existe uma realidade, e a religião e a ciência falam ambas acerca dessa mesma e única realidade, logo alguma relação tem de haver entre as afirmações de uma e outra. O que acontece é que as afirmações da religião não podem ser postas à prova pela experiência, ao contrário das afirmações da ciência, e é apenas devido a este facto que nunca poderá haver contradição entre umas e outras. Mas acrescente-se que uma afirmação que pode ser posta à prova pela experiência pode também ser relativamente desinteressante (ou mesmo completamente desinteressante) do ponto de vista do ser humano e das suas aspirações, enquanto, pelo contrário, uma afirmação não submetível à prova da experiência pode mesmo assim ser verdadeira e, além disso, altamente significativa para o ser humano e para as suas aspirações.
4/7/2012
4/7/2012
Fernando Henrique de Passos
É mais simples: este nome tonto surgiu apenas como manobra de marketing, ao substituir o título original de um livro do físico Leon Lederman, "The Goddamn particle".
ResponderEliminarQuanto a isso da dualidade ciência/religião, tenha-se em conta que mais de 90% dos físicos são ateus; isto deve querer dizer algo. Mas, de qualquer forma, não vejo qualquer razão para a Ciência, num futuro imaginável, não conseguir provar ou invalidar a própria existência de Deus... Se esta divindade actua regularmente sobre o nosso mundo material, de alguma forma palpável e detectável o fará; se não actua, é como se não existisse.
1) Poderia responder que no tempo de Galileu mais de noventa por cento dos físicos eram crentes, mas a verdade não se decide por sufrágio.
Eliminar2) A ciência não pode provar nada acerca de Deus porque, por definição, Deus pertence ao domínio do transcendente, ou seja, do que nos é inacessível.
Fernando Henrique de Passos
1. “mais de 90% dos físicos são ateus”:
EliminarO conceito de percentagem em termos de religião é completamente falacioso porque a religião muçulmana tem muitos mais crentes do que a cristã e isto não valida mais, por esse facto percentual, a religião muçulmana. Por sua vez, a religião budista, porque percentualmente é minoritária, não pode ser considerada menos verdadeira do que a cristã ou do que a muçulmana, em termos percentuais. E assim sucessivamente…
2. “deve querer dizer algo”:
Algo significa alguma coisa e não significa tudo.
3. “de alguma forma palpável e detectável o fará”:
Ora, esse Ser com poder superior ao Homem (Deus) já o fez “de alguma forma palpável e detectável”, como sugere. Jesus é o Espírito Santo (Deus) que encarnou sob a forma humana para poder falar aos seres humanos, para lhes poder assim ensinar a viver de acordo com o Bem que integra em si mesmo o Amor, de que esse Espírito Santo (Deus) é o símbolo absoluto. E, em consequência, a Boa Nova de Jesus será para o ser humano que o quiser seguir. Aproxima-se assim, o ser humano, de tal modo do Espírito Santo (Deus), que dele não se distinguirá e, por isso, alcançará, em espírito-para-além-do-mundo-material que conhecemos, a vida eterna. O Espírito Santo (Deus) para se dar a conhecer à humanidade só o podia fazer através de uma encarnação humana.
4. “se não actua, é como se não existisse”:
Mesmo que Jesus não fosse a sua intervenção no mundo material, tal não implicava necessariamente que Deus não existisse. Porque “é como se” quer dizer que apenas parece que não existe, e não que não existe.
Teresa Ferrer Passos