PAULO JORGE BRITO E ABREU
DIA DA IMACULADA CONCEIÇÃO
«Faz com que em nós, teus filhos, a graça prevaleça sobre o orgulho e possamos tornar-nos misericordiosos, como é misericordioso o nosso Pai celeste. Neste tempo que nos conduz à festa do Natal de Jesus, ensina-nos a andar contracorrente: a despojarmo-nos, a abraçarmo-nos, darmo-nos, a escutar, a fazer silêncio, a descentrarmo-nos de nós mesmos, para deixar espaço à beleza de Deus, fonte da verdadeira alegria. Ó Maria nossa Imaculada, ora por nós!»
Oração do Papa Francisco (diante da imagem da Imaculada Conceição na Praça de Espanha em Roma, no dia 8 de Dezembro de 2014)
O NATAL E A ÁRVORE DA VIDA
Era adolescente, quando me emprestaram um livro que contava a história da árvore de Natal. Existirão muitas versões, pois trata-se de tema avançado no imaginário popular. A que li referia-se simplesmente à iniciativa de uma família que em busca de algum ornamento para a sala de visitas saiu, neve afora, comovendo-se especialmente de um pinheirinho sobrevivente do rigoroso inverno e ainda mais lindo depois de acomodado no aconchego doméstico e acercado pelas embalagens coloridas dos presentes a serem trocados na noite do nascimento do menino Jesus.
Tão radiante ficou o arvoredo, que os vizinhos imitaram o gesto e, no Natal seguinte, já eram muitas as famílias que iniciaram a tradição, hoje, desgarrada de sua simplicidade original e transformada no luxo e na grandiosidade vistos todo ano nos shoppings do mundo inteiro, ostentação por vezes objeto de concursos promovidos por associações para distinguir as melhores decorações do comércio no contexto das “Boas Festas" e do Ano Novo.
Existiriam, no entanto, razões afetivas profundas para esse gosto que veio a constituir prática quase indispensável: nos lares, nos templos, nas instituições, no comércio e onde quer que se queira marcar uma ambientação natalina, rivalizando apenas com os não menos populares presépios. Ou seja, algo não entra para o imaginário coletivo e para duas de suas fortes marcas – diferença e repetição –, se não reunir elementos enraizadores cuja explicação recorre a fundamentos da Psicologia Social.
E foi justamente nas lides com a literatura acadêmica que vim a estabelecer uma correlação entre a força primordial da “árvore da vida”, uma das mais antigas manifestações arquetípicas da produção humana de símbolos, e este patrimônio imagético e fantástico que é a ‘nossa’ tão estimada árvore de Natal. Da tradição ainda mais antiga, originária, ao que tudo indica, da cultura indo-europeia, a principal característica – que deslizou para a heráldica e seus brasonários –, é a concorrência de elementos laterais para a homenagem de um terceiro, este, ao centro e ao alto. Exemplo típico, dois pombinhos, face a face, cujos bicos se tocam e cujos contornos formam um coração. A própria estrutura do caduceu comporta toda uma variedade de enlaces que adornam um cetro. Vejamos, no entanto, se o mesmo não acontece com a ‘nossa’ arvorezinha.
Ainda que se assemelhe a um triângulo, com a base para baixo, os dois lados da árvore de Natal convergem para o alto e, comumente, para uma estrela ao centro, homóloga à estrela dos Reis Magos. Triângulo, estrela, esferas e luzes combinam-se em tesouro ornamental, que tanto marca em diferença (em contraste com todas as outras árvores, ela é uma árvore sagrada) e em repetição: a eterna novidade, ao mesmo tempo antiga e renovada, simbolizando a vida, que também se renova, em gerações, significado e esperanças.
Luiz Martins da Silva*
* Luiz Martins da Silva, 64 anos, é poeta, jornalista e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, Brasil (UnB).
O CHORO DO MENINO JESUS
Apenas com oito dias,
lá estava Jesus, nos braços de sua Mãe.
Ao entrar no Templo, olhou, curioso, em redor.
Que pedras altas, altas...
Que pareciam elas, assim? Apenas, que estavam ali?
Ou escondiam alguma coisa?
E o Menino Jesus intrigado, pareceu-lhe ouvir dizer:
Há pouco tempo aqui esteve, como tu, outro menino.
Outro menino?! Outro menino igual a mim?
Não bem igual, é verdade, responderam...
O seu nome, digam-me, que pode ser que eu conheça!
João, João foi o que ouvimos...
Ah, gritou Jesus, já sei quem é.
Nasceu para preparar os meus caminhos,
esses caminhos com que quero romper os difíceis desertos...
E o que são esses desertos, que desconhecemos,
perguntaram as pedras.
São espaços cheios de gente que não o seguiu...
Ah, disseram as pedras, em uníssono,
mas a vós, Menino, a vós seguiram!
O Menino começou a chorar.
Porque choras, Menino, perguntaram, aflitas.
É que a mim também não...
16 de Dezembro de 2014