Santa Teresinha do Menino Jesus |
«A sua obra não deixa de inspirar historiadores, teólogos e filósofos, ávidos de decifrarem a sua personalidade e de explicarem a sua fulgurante popularidade. A pequena teoria do Amor mereceu longas referências de quase todos os Papas do século XX e dos princípios do XXI. Vários motivos poderão explicar a actualidade inquestionável de Santa Teresa de Lisieux.
Lembramos ainda que ela condenou as práticas das pesadas penitências, dos castigos corporais infligidos pelos monges e recusou ver em Deus um Deus castigador onde existia só um Deus de misericórdia; com Jesus, Deus é um Pai que ama e que só se quer ver amado no rosto dos outros, nos rostos daqueles que sofrem, que foram abandonados, que são perseguidos porque são fiéis à verdade, à pureza, à humildade.
Com Teresa nascia toda uma doutrina de vida para a conquista da santidade; relevamos nela a espantosa acessibilidade ao delinear-se com pensamentos profundos, mas expressos com as mais simples palavras. Talvez por essa razão, Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, esteve sempre muito atento, seguindo-a, igualmente, com o seu sorriso e abnegação nos sofrimentos da grave doença que o levaria à morte.
A revelá-lo, a Homilia de 19 de Outubro de 1997 (1), em que Wojtyla atribuiu a Santa Teresa de Lisieux o título de Doutora da Igreja com uma vasta argumentação: «Ela fez resplandecer no nosso tempo o fascínio do Evangelho»; «Tornou-se um ícone vivo daquele Deus que mostra o seu poder sobretudo no perdão e na misericórdia»; «Fez ver a importância que as fontes bíblicas têm na vida espiritual»; «Pôs em evidência a originalidade e o vigor do Evangelho». Neste longo texto sobre a actualidade de Teresa, salientava João Paulo II este seu pensamento lapidar: «Compreendi que só o amor fazia actuar os membros da igreja e que se o amor viesse a extinguir-se, nem os Apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho, nem os mártires a derramar o seu sangue»(2)
Na «Pequena doutrina», como lhe chamava, Teresa inscrevia a «CIÊNCIA do AMOR», a ciência que a nenhuma outra se equipara. Não escrevia ela que a Jesus bastava «lançar flores, não deixar escapar um pequeno sacrifício, nenhum olhar, nenhuma palavra, e valer-se de todas as pequenas coisas e fazê-las por amor»(3) Não eram esses pequenos caminhos − na aparência, tão pobres para oferecer ao Criador do Universo − que Jesus, o Deus encarnado, mais apreciava?»*
Teresa Ferrer Passos
(1) João Paulo II, Carta Apostólica Divini
Amoris Scientia, 1997.
(2) O Papa Pio X considerou-a «a
maior santa dos tempos modernos». O sucessor de João Paulo II, Bento XVI, diria
sobre Teresa de Lisieux que ela «louvou a ciência das realidades divinas para
ensinar aos outros a via da salvação». No dia 6 de Abril de 2011, Bento XVI
dedicava-lhe, quase na íntegra, a sua Audiência
Geral: «Confiança e amor são o ponto final da narração da sua vida, duas
palavras que como faróis iluminaram todo o seu caminho de santidade para poder
guiar os outros pela sua mesma pequena via de confiança e de amor». Na Catequese sobre Santa Teresa do Menino
Jesus, em 6 de Abril de 2011, o
Papa Bento XVI diria: «Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, que viveu neste
mundo somente 24 anos, no final do século XIX, conduzindo uma vida muito
simples e escondida, mas que, após a morte e a publicação dos seus escritos,
tornou-se uma das santas mais conhecidas e amadas» . Na carta para o dia 11 de
Fevereiro (Dia Mundial do Doente) de 2013, Joseph Ratzinger − no dia em que
renunciou às funções pontifícias − referiu-se a Santa Teresa de Lisieux como
uma santa que vivera «em profunda união com o Paixão de Jesus a doença que a
levou à morte no meio de grandes sofrimentos», e, apontava «o exemplo de Santa
Teresa do Menino Jesus para se encontrar o sentido do sofrimento». Advertia
ainda que «alguns santos, incluindo Santa Teresa, servem de exemplo e de
estímulo às pessoas doentes para aceitarem o sofrimento do ponto de vista humano
e espiritual».
(3) Manuscrito B, f.4.
* Excerto da palestra proferida pela autora no Círculo de Espiritualidade e Cultura e na igreja de S. João de Deus em Lisboa, respectivamente em 17 e 19 de Fevereiro de 2014.
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